sábado, março 12, 2005

Olha se fosse hoje!

A operação Northwoods (elaborado pelos generais Lemnitzer, Walker e William Craig do Estado-Maior Interarmas em 1962), visava convencer a comunidade internacional de que Fidel Castro era irresponsável ao ponto de representar um perigo para a paz do Ocidente. A fim de tal coisa conseguir, estava previsto orquestrarem-se, imputando-os depois a Cuba, graves danos nos Estados Unidos. Eis algumas das provocações projectadas:

- Atacar a base americana de Guantanamo. A operação teria sido conduzida por mercenários cubanos com uniformes das forças castristas, teria incluído diversas sabotagens e a explosão do paiol de munições, a qual, necessariamente, provocaria perdas humanas e materiais consideráveis.

- Fazer explodir um navio americano em águas territoriais cubanas de maneira a acordar nas memórias a destruição do Maine, em 1898 (266 mortos), que provocou a intervenção americana contra a Espanha. O barco estaria na realidade vazio e seria telecomandado. A explosão deveria ser visível em Havana ou em Santiago para que houvessem testemunhas. As operações de socorro teriam sido conduzidas de forma a dar credibilidade às perdas. A lista das vítimas seria publicada na imprensa e ter-se-iam organizado falsas exéquias para suscitar a indignação. A operação teria sido desencadeada quando navios e aviões cubanos se encontrassem na zona, para lhes poder imputar o ataque.

- Aterrorizar os exilados cubanos organizando alguns atentados contra eles em Miami, na Florida, e mesmo em Washington. Falsos agentes cubanos seriam detidos para dispor de algumas confissões. Falsos documentos comprometedores, elaborados antecipadamente, iram ser capturados e distribuídos à imprensa.

- Mobilizar os Estados vizinhos de Cuba, fazendo-os acreditar numa ameaça de invasão. Um falso avião cubano bombardearia durante a noite a República Dominicana, ou outro Estado da região. As bombas utilizadas teriam sido, evidentemente, de fabrico soviético.

- Mobilizar a opinião pública internacional destruindo um voo espacial tripulado. Para atingir todos os espíritos, a vítima teria sido John Glenn, o primeiro americano a ter percorrido uma órbita completa em redor da Terra (voo Mercury).

Uma das provocações fora estudada em maior detalhe: É possível criar um incidente que demonstre de forma convincente que um avião cubano atacou e abateu um voo comercial civil que se dirigia para os Estados Unidos, a Jamaica, a Guatemala, o Panamá ou a Venezuela.

Um grupo de passageiros cúmplices, por exemplo estudantes, tomaria um voo charter de uma companhia mantida sub-repticiamente pela CIA. Ao largo da Florida, o avião cruzar-se-ia com uma réplica, na verdade um avião em tudo idêntico mas vazio e transformado em drone. Os passageiros cúmplices regressariam a uma base da CIA, ao passo que o drone prosseguiria aparentemente o seu trajecto. O aparelho emitiria mensagens de socorro indicando que estava a ser atacado por aviões de caça cubanos e explodiria em pleno voo.

A concretização destas operações implica necessariamente a morte de numerosos cidadãos americanos, civis e militares. Mas são precisamente os custos humanos que fazem delas acções eficazes de manipulação.

Para John F. Kennedy, Lemnitzer é um anticomunista histérico apoiado por multinacionais sem escrúpulos. O novo presidente compreende o sentido do aviso lançado pelo seu antecessor, o presidente Eisenhower, um ano antes, no discurso de final de mandato:

"Nos conselhos do governo, devemos precaver-nos contra a aquisição de uma influência ilegítima, quer ela seja ou não procurada pelo complexo militar-industrial. O risco de desenvolvimentos desastrosos por parte de um poder usurpado existe e continuará a existir. Nunca deveremos permitir que o peso desta conjuntura ameace as nossas liberdades ou os processos democráticos. Não devemos dar nada por adquirido. Somente a vigilância e a consciência cívica poderão garantir o equilíbrio entre a influência da gigantesca maquinaria industrial e militar de defesa e os nossos métodos e objectivos pacíficos, por forma a que a segurança e a liberdade possam crescer lado a lado."

John F. Kennedy resiste em definitivo aos generais Walker, Lemnitzer e seus amigos, e recusa empenhar mais a América numa guerra ultramarina contra o comunismo, seja em Cuba, no Laos, no Vietname ou noutro local. É assassinado a 22 de Novembro de 1963.

Este precedente histórico recorda-nos que uma conjura interna nos Estados Unidos, prevendo o sacrifício de cidadãos americanos no âmbito de uma campanha terrorista, não é, infelizmente, impossível. Em 1962, John Kennedy resistiu ao delírio do seu Estado-Maior. Provavelmente terá pago isso com a vida



Bolas! Anda bem que esta Junta de Chefes de Estado Maior já não está em funções. Senão, com a tecnologia que existe hoje, sabe Deus o que é que poderia acontecer!

1 comentário:

Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! »