quarta-feira, setembro 28, 2005

Economias fervilhantes



Expresso - 24.09.2005

Parte de um artigo do «inenarrável» João Carlos Espada


O prof. Adriano Moreira sublinhou a importância da dignificação da carreira militar, quer no plano simbólico quer no material. E a verdade é que a tendência dominante nas democracias europeias, com a parcial excepção da Inglaterra, não tem sido essa. O eleitoralismo e o igualitarismo levaram sucessivos governos europeus a cortar nos orçamentos militares. Sabemos que isso conduziu a Europa à quase irrelevância militar, confortavelmente protegida pelo sentido de responsabilidade dos EUA.

Um problema europeu: O motivo dos sucessivos cortes nos orçamentos das Forças Armadas europeias não é o controlo da despesa pública. Esta vem aumentando quase ininterruptamente desde, pelo menos, a II Guerra. O verdadeiro motivo é que é mais fácil cortar nas Forças Armadas, que representam um eleitorado diminuto, para depois esbanjar em gigantescos aparelhos burocráticos que geram muito mais votos. Os casos dos sistemas nacionais de saúde e de ensino, a par da administração pública central e local, são os mais gritantes.

Seria caso para dizer que um eleitorado adulto não devia aceitar este negócio.

Alemães envelhecidos: Mas o termo «eleitorado adulto» tem de ser qualificado na Europa. Nas recentes eleições alemãs, o eleitorado revelou-se mais do que adulto: revelou-se envelhecido.

Uma impressionante reportagem da CNN à boca das urnas mostrava eleitores cansados, condenando os lucros das grandes empresas e regateando mais «apoios do Estado aos cidadãos». Era um espectáculo curioso de dissonância cognitiva. Enquanto a América e o Oriente fervilham de iniciativa económica, os alemães imaginam que o mundo vai ficar parado à espera deles. Não vai.



Comentário:

Defendo, tal como João Carlos Espada, que não se deve cortar nas Forças Armadas, para depois esbanjar em sistemas nacionais de saúde e de ensino.

Ponham os olhos no sistema americano que «fervilha de iniciativa económica»:

O número de americanos sem seguro de saúde é de cerca de 50 milhões de pessoas, que representam 16% da população.

Em 2003, 27 milhões de trabalhadores não estavam segurados porque nem todas as empresas oferecem seguro de saúde, nem todos os trabalhadores têm direito ao seguro e muitos outros não podem pagar o prémio do seguro.

O número de crianças sem seguro de saúde era, em 2003, 8,4 milhões. Nos jovens adultos (entre os 18 e os 24 anos), a percentagem atingia os 30,2%

Em compensação, o orçamento da Defesa para 2006 é de 442 mil milhões de dólares.

Que importância tem o facto de uma boa parte da população adoecer sem qualquer apoio, quando as forças armadas fervilham de saúde? Não devemos ser mesquinhos nestas coisas.

Com esta política, esta administração americana demonstra que prefere tratar da saúde a cidadãos estrangeiros (de preferência árabes), a cuidar dos nacionais. São opções. Há que respeitá-las.

3 comentários:

Anónimo disse...

O teu comentário também me parece "um espectáculo curioso de dissonância cognitiva".

Diogo disse...

E o teu comentário, VouNaBroa, parece-me um espectáculo curioso de desproporção perceptiva.

Anónimo disse...

Excellent, love it! »