sexta-feira, dezembro 01, 2006

Henrique Monteiro do Expresso – o Papa dar o dito por não dito é uma questão de transcendência

Jornal Expresso – 1 de Dezembro de 2006

Ratzinger e o Papa

«Quem defendeu que a Turquia não deve entrar na UE não foi o Papa, foi Ratzinger. Mas quem foi à Turquia e disse que era a favor da entrada daquele país na Europa, foi o Papa. A pessoa é a mesma, mas as responsabilidades são diferentes. Não é uma questão de coerência, é uma questão de transcendência. O chefe da Igreja Católica não é um indivíduo, nem é um político, é um representante. Pôde, por isso, dar o dito por não dito com elegância.»


Na mesma edição do Expresso, Miguel Sousa Tavares, aborda esta questão da "transcendência", dando como exemplo os "pareceres" dos mestres de Direito:

«... Era impensável que um mestre se pronunciasse sobre coisas fora da sua alçada, contrárias à sua opinião e, menos ainda - o que seria até um pedido ofensivo - opostas à doutrina por ele publicamente exposta relativamente à matéria em causa

«Isso era dantes. Agora, os mestres pronunciam-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente que lhes paga. Foi assim que até já vi um ilustre professor de Direito juntar em tribunal um parecer onde defendia exactamente o oposto do que ensinava no manual de sua autoria que era de leitura obrigatória nas Faculdades de Direito. E, do lado contrário, estava outro parecer de outro ilustre professor, que, bem a propósito, se socorria da doutrina do primeiro... contra o próprio!»


Comentário:

Não há nada de transcendente no facto de Henrique Monteiro considerar a defesa simultânea de uma coisa e do seu contrário, uma "transcendência". Monteiro é um caso conhecido de vocação falhada. Se tivesse seguido jurisprudência, teríamos hoje um bom mestre de Direito a "pronunciar-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente". Assim, infelizmente, temos um jornalista medíocre a "pronunciar-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente". Perde o Direito, perde o Jornalismo, perde o Cliente e perdemos nós.

8 comentários:

Mário Costa disse...

Como é que uma pessoa tão estúpida pode ser director de um jornal de referência?

Anónimo disse...

Você leu o discurso do Papa? Eu li e ele critica tanto o cristianismo como o islamismo pela falta de entendimento e infelizmente parece que a reacção do mundo muçulmano apenas reforça a imagem de pessoas incapazes do diálogo Este Papa quer um comprometimento dos muçulmanos para lá dos gestos simbólicos conseguidos pelo Papa anterior e forçá-los a um diálogo efectivo. Acha que é má ideia?

Anónimo disse...

O Papa apenas citou um texto usado por outros para descrever o Islão e como este se difundiu pela espada e como é corrupto e violento.

Portanto o que é que fazem os muçulmanos? Provaram que o Papa tinha razão com os ataques que fizeram às igrejas, matando freiras e queimando retratos do Papa e juras de morte que se espalharam por todo o mundo islâmico.

contradicoes disse...

Mas este tipo de procedimento, de se
pronunciarem sobre todas as matérias já começa a ser um pouco lugar comum na classe dos jornalistas, sem se aperceberam do ridículo em que caem
Com um abraço do Raul

inominável disse...

Pessoalmente, não creio que o comentário de Henrique Monteiro seja assim tão estranho ou idiota. Lamento. Parece-me que ele usa o termo "transcendência" num contexto bastante irónico e penso que o faz de forma inequívoca, a ilustrar o ridículo de quem dá o dito por não dito. E penso mesmo que se trata de ironia porque "transcendência" implica uma visão de fé que justifica a "elegância" da marcha-atrás do Papa: como a santíssima trindade que são três em um, o Papa tem toda a legitimidade para ser dois em um e ninguém se ralar com as suas incoerências.

E nesse sentido, o texto do M. S. Tavares não é contraditório em relação ao texto do editor, antes corrobora a sua perspectiva.

Anónimo disse...

Quanto a mim há muita hipocrisia por esse mundo fora. E o Rat não deixa de ser um hipócrita quanto à Turquia!...

Anónimo disse...

Afinal tudo não passa de Realpolitik como qualquer político a concebe, não é verdade?

Depois de tudo o que aconteceu com Herr Ratzinger, ir Bento XVI à Turquia e não só não ser recebido pelo Erdogan, como esteve eminente até à véspera, como ainda se arriscar a manifestações diárias de hostilidade, mais vale entrar pragmaticamente num 'acordo de cavalheiros': a horse, a horse, my kingdom for a horse.

É isto a transcendência. Entrar em todas as estações. Como qualquer político.

Maria RHenriques disse...

Henrique monteiro:-
"Por mim, contei o que sei."
-Não senhor; limitou-se a contar do que viu através do tal buraco .

http://bit.ly/9137bn