segunda-feira, janeiro 15, 2007

As chinesices de Cavaco Silva

Cavaco apoia avanço da flexisegurança

Jornal de Notícias - 15 de Janeiro de 2007

Cavaco Silva afirmou-se ontem claramente favorável à flexisegurança. O presidente da República, que se encontra de visita oficial à Índia, sustentou que os governos "devem adoptar políticas que protejam os trabalhadores e promovam a mobilidade, investindo mais na qualificação dos recursos humanos".

Cavaco explicou que a sua observação corresponde às "ideias modernas", que fazem curso na Europa. A saber "Flexisegurança - ser flexível e ao mesmo tempo assegurar a segurança, criando redes de protecção social àqueles que são afectados pela globalização". Os efeitos, positivos e negativos, do processo de globalização, constituíram precisamente o tema da alocução.


A posição vanguardista de Cavaco é oposta à de outro economista:

Jeremy Rifkin - auto do livro: O Fim do Emprego (1995):

"Estamos a entrar numa nova era de mercados globais e de produção automatizada. O caminho para uma economia quase sem trabalhadores está à vista. Se este caminho conduz a um porto seguro ou a um terrível abismo, dependerá da forma como a civilização se preparar para a era pós-mercado que virá logo após a terceira revolução industrial. O fim do trabalho poderá significar a sentença de morte para a civilização, tal como a conhecemos. O fim do trabalho poderá também assinalar uma grande transformação social, um renascimento do espírito humano. O futuro está nas nossas mãos".

Numa entrevista em Outubro de 2006 o economista Jeremy Rifkins referiu que deveria ter sido mais pessimista. "Fui muito conservador", afirma. Na altura em que a primeira versão saiu, Rifkin não calculava que hoje o mundo teria mil milhões de desempregados e subempregados. Agora a editora M. Books relança o livro em cuja introdução Rifkin esmiúça o desemprego no mundo. Fala da produção com menos emprego e da queda dos salários. Com mais de 17 livros publicados, Rifkin é considerado um dos 150 pensadores que mais influenciam a política dos Estados Unidos.


Comentário:

Falta a Cavaco Silva explicar donde virão as verbas para a rede de segurança da multidão de desempregados que se avoluma diariamente no nosso país. Quanto à flexibilidade, num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, será do tipo oriental: 30 cêntimos à hora, 14 horas por dia, 7 dias por semana, 125 Euros por mês. Isto, evidentemente, para os felizardos que conseguirem trabalho.

12 comentários:

inominável disse...

O fim do trabalho... crónica de uma morte anunciada ou intermitências da morte certa? custa-me a aceitar qualquer uma das posições... não é que o trabalho liberte, como lá diziam os nazis, mas acredito que o trabalho nos preenche e realiza como pessoas...

xatoo disse...

"o fim do trabalho" é mais um embuste - enquanto se deslocaliza a luta de classes para os trabalhadores da China - Não sei se já repararam: mas o que o imperialismo americano afinal está a fazer é a colocar a decisão sobre o que será o nosso futuro nas mãos do Partido Comunista Chinês
(por acaso coincidiu o meu post de hoje tb ser sobre a China, embora visto de outra perspectiva, as conclusões são as mesmas - não se augura nada de bom com as politicas destes facinoras nos governos do Ocidente)

Anónimo disse...

Calma, não vai ser o fim do trabalho. Vai apenas ser o fim do trabalho remunerado.

Diogo disse...

Xatoo,

Julgo que de facto a tecnologia está a substituir o homem na produção. O hardware e o software estão a evoluir a velocidades exponenciais. Os empregos no Ocidente estão agora sob dois fogos: a tecnologia (trabalho executado por máquinas) e a deslocalização.(trabalho escravo feito no terceiro mundo). Mas a tecnologia vai também acabar com o segundo (felizmente).

Este novo paradigma vai acabar com a produção para venda porque não haverá compradores. E sem vendas não há lucro. E sem lucro não há capitalismo.

Diogo disse...

Estou de acordo com o Veliberalino. Vai apenas ser o fim do trabalho remunerado. Vamos recomeçar a trabalhar para nós próprios como fazíamos antes das sociedades industriais. Será um faça você mesmo numa base tecnológica inteiramente nova.

xatoo disse...

Isso coincide com a visão do Agostinho da Silva que falava de um "mundo gratuito" mas,
por enquanto há que indagar o porquê do ascendente controlo dos monopólios do Estado sobre os factores fundamentais que condicionam a Produção - Energia,Telecomunicações, Armamento, Petróleo,Industria aeroespacial, recursos Hidricos, etc
Será que a classe burguesa transnacional que detém o controlo politico-económico das multinacionais que regem todos estes sectores vão desistir de enviar facturas aos consumidores assim às boas?
Ou o "consumidor" é o novo servo de gleba de uma nova idade das Trevas? em que quem consegue ter rendimentos de trabalho (ou outros) é um privilegiado que até tem a subida honra de servir tão nobre Aristocracia imperial?

Diogo disse...

Não conheço o pensamento de Agostinho da Silva mas concordo com essa visão de "mundo gratuito”. A classe burguesa transnacional já não poderá tirar nada do cidadão do planeta porque este não terá nada para lhe dar. Nem trabalho, nem dinheiro, nem subserviência.

Anónimo disse...

O que vale é que "estas modenidades" do Cavaco e Sócrates, que também é muito moderno, nos estão a conduzir a alta velocidade para o inicio da revolução industrial. Vamos lá a ver se ficam contentes com essa época ou se ainda querem ir mais para trás um bocadinho.
Em resumo, é a exploração desenfreada!

Anónimo disse...

Falta a Cavaco Silva explicar donde virão as verbas para a rede de segurança da multidão de desempregados que se avoluma diariamente no nosso país. Quanto à flexibilidade, num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, será do tipo oriental: 30 cêntimos à hora, 14 horas por dia, 7 dias por semana, 125 Euros por mês. Isto, evidentemente, para os felizardos que conseguirem trabalho.

Tretas vulgaris como sempre Sofocleto.
Será que nunca pensou no facto de que se não houver pessoas empregados e a receber salários não haverá consumo, portanto, a economia estagnaria ?
Você é mesmo idiota. Já agora, não quer mesmo comparar as nossas taxas de desemprego às taxas de desemprego pelo qual já passaram países que hoje estão bem mais prósperos que nós ? Pode começar pelos países nórdicos ... Se quer que lhe diga, o problema de Portugal é não passar por choques de desemprego como muitos outros países passaram. Porque em Portugal estão meio milhão de pessoas encostadas à função pública com emprego vitalício.
A nossa vizinha Espanha por exemplo. Andou quase uma década com taxas de desemprego na ordem dos 20/25%, ou seja, 3 vezes mais do que Portugal. E curiosamente foi na sequência dessa "cura" de desemprego que o país explodiu em crescimento económico....

A propósito, o desemprego, para grande estupefacção sua, está, mesmo que ligeiramente, a diminuir... pelas suas análises, deveria estar sempre a aumentar !

Diogo disse...

Anonymous idiota: «Será que nunca pensou no facto de que se não houver pessoas empregados e a receber salários não haverá consumo, portanto, a economia estagnaria?»


Precisamente imbecil. Se não houver salários, a economia, tal como está organizada, não só estagna como se desintegra. Portanto é necessária uma nova organização económica. Uma organização já não dependente do trabalho assalariado. A tecnologia está a dispensar o operário, o contabilista, o desenhador, o engenheiro, o gestor e prepara-se para dispensar o patrão.

Todo esse palavreado acerca dos choques de desemprego (para estimular a economia) e do problema da função pública (que vive refastelada à sombra do Estado), é conversa fiada. O desemprego está a subir em todo o lado. O «crescimento económico» é apenas o crescimento especulativo financeiro de economias de casino. «Produz-se» 10 vezes mais a jogar poker do que a cozer pão.

Toda essa conversa sobre as economias pujantes com baixas taxas de desemprego é falsa. Esse «emprego» esconde a população encarcerada, a população que já desisiu de procurar emprego, os que trabalham meia dúzia de dias por mês, o trabalho precarizado e o trabalho escravo. O desemprego verdadeiro e a miséria estão a aumentar por todo o lado. Capice?

Biranta disse...

Mas eu também sou pela flexissegurança... Para os políticos e titulares de cargos públicos, com a valoração da abstenção.
E como eu adoraria vê-los a serem corridos por obsoletos

AJB - martelo disse...

Tal como a globalização a flexisegurança ( conceito ridículo...)são uma moda que passa na passerelle do quotidiano.Experiências que vão estoirando com a vida de cada um...