domingo, julho 31, 2005

Afinal a coisa não tem nada que saber

O Departamento de Justiça norte-americano está a ser violentamente criticado por ter colocado um manual de treino da Al-Qaeda no seu website. O manual está dividido em 18 capítulos.




O site do Departamento de Justiça:




Comentário:

Foi, seguramente, com a melhor das intenções que Alberto Gonzales, o ministro da justiça dos EUA, colocou um manual, bastante detalhado, que ensina a executar atentados terroristas.

A instrução é um direito fundamental, assim como o é a livre iniciativa no domínio da segurança ou a guerra preemptiva.

Paradoxalmente tanto ficam a ganhar o terrorismo como a agenda anti-terrorista. Esta última bastante proveitosa por sinal.

sábado, julho 30, 2005

Soares tira o socialismo da gaveta



Pacheco Pereira no blog Abrupto e no Público de 28-7-2005:

...ainda mais o motiva (Mários Soares) poder pôr na ordem o PS e encaminha-lo para uma esquerda mais radical, “social” no sentido anti-capitalista, anti-globalizadora, anti-americana e gaullista-europeista extremada, que é o núcleo duro do seu pensamento actual. Ironicamente, para quem meteu o socialismo na “gaveta”, o seu pensamento económico, ou melhor, a sua ideologia económica, é hoje claramente anti-capitalista e o apoio que dá aos movimentos anti-globalização, simbolizados no fórum de Porto Alegre, e que representam hoje o “socialismo terceiro-mundista” que combateu no passado, tem poucas nuances. Soares é hostil às políticas de liberalização da OMC, combateria aquilo a que chama “capitalismo selvagem” e a “dominação” do globo pelo “pensamento único”, pelo “neo-liberalismo”, ou seja, a mundialização da economia de mercado que o fim do “socialismo real” permitiu.

Soares apoiaria um eixo Paris-Berlim-Moscovo e deseja uma Europa federada, uns Estados Unidos da Europa mesmo que sem este nome, uma Europa que se dotasse dos meios de defesa e intervenção que lhe dessem capacidade para se medir com a super potência americana. O seu ideal seria uma Europa armada que substituiria o lugar da URSS como a outra super potência, e com uma política externa essencialmente de contenção anti-americana. Faria tudo para combater o “império”, ou seja os EUA, e para o isolar e condenar sob todas as formas nas instituições internacionais, apoiaria a retirada imediata ou quase das tropas da coligação e da NATO do Afeganistão e no Iraque. Por aí adiante.

Ora, quem tem este programa em Portugal é o Bloco de Esquerda e não o PS e se isso não soa o alarme no governo, é porque perderam qualquer capacidade analítica e não têm ouvido e lido Mário Soares nos últimos anos.



Comentário:

Quem diria que Soares, com ar de quem não faz mal a uma mosca, era um anti-democrata desta envergadura?

Tony Blair felicita IRA pelo abandono da luta armada


No Público - 28.07.2005

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, congratulou-se hoje com a decisão do IRA de abandonar a luta armada, que classificou como um "passo de uma amplitude jamais vista", um dia "em que a paz substitui a guerra".

"(...) felicito o reconhecimento de que o único caminho para a mudança política reside exclusivamente nos métodos pacíficos e democráticos", afirmou Blair.

"É um passo de uma amplitude jamais vista na história recente da Irlanda do Norte", declarou. "Este pode ser o dia em que, após falsas esperanças [...], a paz substitui a guerra e a política substitui o terrorismo na ilha da Irlanda", acrescentou ainda o chefe do Executivo britânico.



Comentário:

sexta-feira, julho 29, 2005

O Negócio Vai Mal

O dinheiro que era suposto ser investido no Iraque em programas de reconstrução está a ser desviado para sustentar a guerra.

O jornal norte americano Las Vegas Sun revela que a guerra, afinal de contas, não está a ser um bom negócio para as empresas americanas, pelo menos para aquelas que não se dedicam a fazer a guerra. O jornal cita um recente relatório do Government Accountability Office, onde se pode ler que a resistência islâmica está a causar mais problemas do que os inicialmente previstos: a produção petrolífera está, hoje, abaixo dos índices de antes da invasão americana, assim como a produção de energia.
Os combatentes islâmicos têm efectuado ataques bem sucedidos contra infra-estruturas ligadas à exploração petrolífera, produção eléctrica e distribuição de água potável. As acções militares da resistência estão a paralisar as empreitadas de construção civil, os trabalhadores fogem com medo das represálias e os transportes rodoviários de materiais estão comprometidos pela insegurança nas estradas.
O referido relatório confirma que a recuperação e manutenção da produção petrolífera iraquiana tem sido mais lenta do que o previsto, assim como a produção de electricidade também está abaixo do esperado. Boa parte dos 24 mil milhões de dólares disponibilizados pelo governo dos EUA para programas de reconstrução está, assim, a ser desviado para reforçar a segurança das empresas americanas, dos seus funcionários e dos locais onde trabalham. Não ganham uns, ganham outros. São as maravilhas do capitalismo.
A guerra foi feita para garantir o acesso dos EUA às reservas petrolíferas iraquianas. Se esse objectivo não for alcançado, a guerra estará duplamente perdida, militarmente e economicamente. Os nacionalistas iraquianos sabem isso e, creio, esse é o seu principal objectivo militar. Tudo o resto são cortinas de fumo e diversão táctica.
Curioso é reparar que os americanos contabilizam tudo: o que investem, o lucro, os custos, money, money, money. Mas não querem nem saber do custo em vidas e sofrimento dos que suportam, verdadeiramente, esta guerra: o povo iraquiano.

Palavras leva-as o vento




A família do homem brasileiro morto a tiro por atiradores que o confundiram com um bombista suicida revelou ontem à noite como a polícia alterou a versão do incidente.

Uma prima de Menezes, afirmou que altos graduados da Scotland Yard desdizeram-se quanto ao facto de que o electricista brasileiro estava a actuar de forma suspeita, e que, portanto, os agentes não tiveram outra opção senão atirar.

Vivien Figueiredo declarou que a polícia lhe tinha dito que ele estava a usar um casaco leve e não um casaco volumoso capaz de esconder explosivos por baixo. Os agentes também afirmaram, imediatamente após o tiroteio, que Menezes não tinha ligado aos avisos da polícia e tinha saltado por cima da grade da bilheteira na estação de metropolitano de Stockwell.

Agora a polícia já diz que ele usou o seu bilhete para entrar na estação. A Sra. Figueiredo afirmou: “Eles estão a dizer que ele não fez nada de errado quando foi morto, portanto porque é que não dizem isto publicamente?”

A polícia disparou sete vezes na cabeça e uma vez no ombro à queima-roupa.

A Sra. Figueiredo expressou também a sua revolta pela notícia de que um dos agentes envolvidos no tiroteio fatal foi de férias com a família.



Comentário:

Eliminar, com oito tiros à queima-roupa, suspeitos que não agem como tal e que não se parecem como tal, é, muito provavelmente, das situações mais stressantes que se podem deparar a um agente de Blair.

As férias são por isso inteiramente merecidas. Pobre homem, esperemos que consiga recuperar do trauma e retornar rapidamente ao activo. A guerra ao terrorismo continua a contar com ele.

quinta-feira, julho 28, 2005

Até que ponto é que Roosevelt sabia?


Pearl Harbor foi sempre retratado como um ataque surpresa de uma nação insuspeita. E isso era em grande medida verdade. A atenção do povo americano estava centrada na guerra na Europa, receoso de ser arrastado para ela. Nessa altura já Roosevelt apoiava a Grã-Bretanha contra Hitler fornecendo ao Reino Unido armas sob o acordo (Lend-Lease Act) de Março de 1941. Os carregamentos americanos por barco estavam em perigo devido aos ataques dos submarinos alemães. Poucos americanos estavam preocupados com a guerra Sino-Japonesa que já lavrava desde 1937.

Agora se a administração Americana ficou surpreendida pelo ataque a Pearl Harbor, isso já é um assunto completamente diferente. Existem fortes indícios de que o governo americano sabia dos planos japoneses, ou deveria saber. Existiam claras indicações nesse sentido.

Os serviços de espionagem norte americanos já tinham decifrado todos os códigos japoneses. A 24 de Setembro de 1941, uma mensagem do quartel general dos serviços secretos em Tóquio para o cônsul geral japonês em Honolulu foi decifrada. Solicitava a localização exacta de todos os navios americanos em Pearl Harbor. Uma informação tão detalhada só poderia ser pedida se os japoneses estivessem a planear um ataque aos navios no local onde estavam fundeados. Em Novembro, outra mensagem foi interceptada ordenando mais exercícios simulando ataques a importantes navios ancorados como preparação para “um ataque de surpresa e a completa destruição do inimigo americano”. A única esquadra americana que estava ao alcance era a de Pearl Harbor.

A 25 de Novembro, uma mensagem via rádio do almirante Yamamoto dando indicações a uma força japonesa para atacar a esquadra americana no Havai foi interceptada. No entanto, nesse mesmo dia, o secretário da defesa norte americano, Henry Stimson, escreveu no seu diário:

“Franklin D. Roosevelt afirmou que é muito provável que sejamos atacados já na próxima segunda-feira. Roosevelt interrogou-se: “a questão está na forma de os manobrar de forma a que sejam eles a dar o primeiro tiro sem que isso constitua um perigo demasiado para nós. Não obstante o risco envolvido, contudo, em deixar os japoneses dar o primeiro tiro, chegámos à conclusão que para termos o total apoio do povo americano é desejável que asseguremos que sejam os japoneses a fazê-lo de forma que não restem quaisquer dúvidas no espírito de ninguém de quem foram os agressores”.

A 29 de Novembro, o secretário de estado Americano Cordell Hull mostrou a um repórter do New York Times uma mensagem que dizia que Pearl Harbor ia ser atacada a 7 de Dezembro. À medida que o ataque se aproximava, o governo americano recebeu informação de numerosas fontes que o 7 de Dezembro seria o dia escolhido. A 1 de Dezembro, os serviços de espionagem da marinha em São Francisco souberam através de novos relatórios e outros sinais recolhidos por companhias marítimas que a esquadra japonesa que tinha desaparecido das águas japonesas estava então a oeste do Havai. Aqueles que acreditam que Roosevelt tinha conhecimento do ataque desde o princípio defendem que há muitos outros relatórios a afirmar que os japoneses iam atacar Pearl Harbor mas que ainda hoje não foram desclassificados.

Depois do ataque, é claro que a informação que indicava que os japoneses iam atacar Pearl Harbor estava lá. Mas é muito grave afirmar que o presidente Roosevelt tinha conhecimento de quando e onde é que o ataque ia ter lugar e não tenha tomado nenhuma medida. É, de facto, acusá-lo de traição. Contudo, o ataque japonês serviu perfeitamente os seus propósitos.

Desde a queda da França em Junho de 1940, Roosevelt acreditava que a América teria de entrar na guerra contra Hitler. Em Agosto de 1941, quando Roosevelt e Churchill tiveram um encontro num navio de guerra no Atlântico, Churchill reparou no “intensíssimo desejo de Roosevelt de entrar na guerra”. Mas o povo americano não queria envolver-se numa guerra europeia. Até Roosevelt admitiu que o povo americano nunca concordaria em entrar na guerra na Europa a não ser que fossem atacados dentro das suas próprias fronteiras”.

Roosevelt tinha razão. Após o ataque a Pearl Harbor, o povo Americano estava desejoso, senão mesmo impaciente, de ir para a guerra. Logo que os Estados Unidos declararam guerra ao Japão, segundo as disposições do pacto tripartido assinado pela Alemanha, Itália e Japão em Setembro de 1940, Hitler declarou guerra aos Estados Unidos. Na conferência Atlântica Roosevelt já tinha concordado com Churchill que a prioridade era vencer Hitler, antes de acabar com o Japão.

Portanto o ataque a Pearl Harbor permitiu a Roosevelt trazer a América para a guerra contra a Alemanha “por portas travessas”. É difícil imaginar como é que isto poderia ter sido conseguido de outra forma e existe quem defenda que o plano de Roosevelt de levar a América para a guerra contra a vontade do seu povo foi a “mãe de todas as conspirações”. Mantêm que Roosevelt movimentou a esquadra do Pacífico da costa ocidental para o Havai contra o parecer de todos os seus comandantes não para ameaçar os japoneses, mas para servir como isco.


Sessenta anos depois:

Em Setembro de 2000, poucos meses antes do acesso de George W. Bush à Casa Branca, o “Project for a New American Century” (PNAC) publicou o seu projecto para a dominação global sob o título: "Reconstruindo as defesas da América" ("Rebuilding American Defenses" pág 51).

Um ano antes do 11 de Setembro, o PNAC fazia apelo a "algum evento catastrófico e catalisador, como um novo Pearl Harbor", o qual serviria para galvanizar a opinião pública americana em apoio a uma agenda de guerra".



Comentário:

Afirmar que o plano de Roosevelt de levar a América para a guerra contra a vontade do seu povo foi a “mãe de todas as conspirações", é uma injustiça tremenda!

Roosevelt tinha japoneses para manipular. Bush teve de fazer tudo sozinho.

quarta-feira, julho 27, 2005

E se dois e dois não fizessem quatro mas vinte e dois...

Recebi um texto de um amigo internauta que merece ser publicado:

Porque eles abriram as portas do inferno, que não são quatro mas vinte e duas, como toda a gente sabe: Paris (fez agora mesmo dez anos), Nova Iorque há quase quatro anos, Cabul, Bagdad, Grozny, Nairobi, Djerba, Moscovo, Casablanca, Bali, Madrid, Londres, Charm El-Cheykh, etc., etc e tal, contem bem... Dá pelo menos vinte e dois. Sem contar Stalingrad e Leningrad, Hiroshima e Nagasaki, Dresde, le Havre e Caen, Sarajevo e Belgrado e o raio que os parta a todos, os terroristas que se fazem explodir e os terroristas que bombardeiam confortavelmente instalados na carlinga dos seus aviões e os terroristas que lhes dão as ordens para eles irem bombardear os insectos que somos, vistos lã de cima... E soma e segue.

Em breve serão quarenta e quatro ou oitenta e oito portas do inferno, abertas, escancaradas para o que der e vier. De mãos dadas, a CIA , tal Frankenstein, criando os talibans contra os ímpios soviéticos da altura, a Mossad sustentando o Hamas contra a OLP, e outros pequenos ou grandes serviços mais ou menos secretos, franceses, ingleses, italianos, espanhóis, marcianos, lunáticos, acendendo fósforos por aqui e por ali, para que a chama continue a alimentar a insegurança que vai permitir novas ofensivas, em nome da liberdade, contra, precisamente, a liberdade.

E a democracia. Ao beneficio duma economia cada vez menos politica, no sentido inicial e nobre do termo, isto é, ao serviço do cidadão da "polis" e condicionada, portanto, a satisfazer os apetites sem limites de, por exemplo, certas "pension funds" e outras estruturas de tipo canibal que sugam tudo o que lhes passa à mão de semear.

Evidentemente, tudo isto se paga. Por exemplo, com oito balas na cabeça, porque essa cabeça não corresponde exactamente à norma ("tipicamente british", branca e loira, ou ruiva - desapareceu o risco irlandês? - , de olhos azuis...), portanto altamente suspeita, porque se chama , que esquisito, jean-Charles (Ah!, la vieille mésentente cordiale entre l'Angleterre et la France) se bem que brasileiro, e ainda por cima de Menezes, que soa português, o que o torna ainda mais suspeito dado o enorme deficit de 6,70% que põe em perigo o equilíbrio da velha Europa (dixit um certo Rumsfeld e/ou Wolfovitz).

Eles chamam-se Bush, Blair, Aznar, Bin Laden, Berlusconi, Sharon, Putin ou mesmo Chirac e até um certo Durão Barroso, que é pequenino mas pretende fazer figura de grande, todos estes e muitos outros, abriram ou ajudaram a abrir as portas do inferno e para lá estamos a ir todos como um só homem. Sem esquecer as mulheres. E as crianças, femininas e masculinas. E os gatos e os cães e as tartarugas e os coelhos e os ratos e os peixinhos vermelhos e as plantas tropicais e Jacques Prévert et son raton laveur and Alice and the Beatles and the Rolling Stones and my taylor who was rich but is not anymore, and so on, and so on.

Bom, desculpem lá, enervei-me com isto tudo e, palavra puxa imprecaução, deixei-me invadir pela ira que nos esta a devorar os fígados a todos.

Prometo que da próxima vez, faço um desenho. Talvez, assim a mensagem seja mais imediatamente compreensível, como diria o McLuhan.

Cordialmente,

Brito



Comentário:

A verdade é que este estado de coisas, mais cedo ou mais tarde, tem de acabar.

terça-feira, julho 26, 2005

Mossad, a "nova" aquisição da «Al-Qaeda»


Artigo em "A Capital" – 26 de Julho de 2005, assinado por Gonçalo Motta.

"Secreta israelita sob suspeita"

A hipótese de os serviços secretos israelitas estarem envolvidos nos atentados de 6ª feira está a ganhar peso junto dos especialistas em segurança egípcios

As autoridades egípcias lançaram-se numa investigação frenética depois dos ataques na passada 6ª feira terem vitimado 88 pessoas e ferido 200 no dia em que se celebrava o 53º aniversário da independência do Egipto.

Segundo peritos em segurança e alguns analistas políticos locais, existe a hipótese de os serviços secretos de Israel, a Mossad, estar envolvida nos atentados. Responsáveis egípcios afirmam que pelo menos uma das viaturas utilizadas no atentado de 6ª feira tinha matrícula israelita, proveniente de Taba, na fronteira com Israel, na península do Sinai.

Estas alegações são consubstanciadas pela suspeita de este atentado em Sharm el-Sheik estar relacionado com o atentado em Taba, em Outubro de 2004. Segundo um general egípcio na reserva, Fuad Allam, o ataque em Taba, que vitimou 34 pessoas, foi levado a cabo por um palestiniano "aparentemente ligado às forças de segurança israelitas".

Esta opinião é partilhada pelo analista político, Dia Rashwan, que afirma: "Estamos a dar demasiada importância à al-Qaeda. O que se passou aqui nega a possibilidade de os ataques terem sido efectuados por elementos vulgares. Esta é a obra de um elemento extraordinário que beneficia com tais ataques. Todos os detalhes disponíveis até ao momento indicam que apenas os israelitas poderiam ter feito isto".


Estas alegações abrem novas perspectivas para os investigadores egípcios, que, desde sábado passado, buscam provas por entre os destroços das explosões de 6ª feira, na baía de Naaram. (...)



Comentário:

Ninguém me tira da cabeça que foi a Al-Qaeda a responsável pelo atentado de Sharm el-Sheik, no Egipto, que vitimou 88 pessoas.

Agora, se a Mossad é parte integrante da Al-Qaeda, isso é outra história.

O importante é que o «Choque de Civilizações», de Samuel Huntington, suba a um novo patamar de violência.

segunda-feira, julho 25, 2005

Duas pérolas do arquitecto Saraiva


António Saraiva, director do Expresso – 20 de Março de 2004

A PERGUNTA parece idiota.

Pois não foi a Al-Qaeda a autora dos grandes atentados da história recente, desde o 11 de Setembro em Nova Iorque ao 11 de Março em Madrid?

E, no entanto, essa Al-Qaeda de que toda a gente fala com a maior familiaridade ninguém sabe ao certo o que é.

Para começar, o suposto chefe - Bin Laden - não pode comandar coisa nenhuma.

Saltitando de gruta em gruta, algures entre o Afeganistão e o Paquistão, não tem condições para pastorear um rebanho de cabras quanto mais para liderar uma organização terrorista actuando à escala mundial.

O terrorismo exige comunicações fáceis e informação actualizada - e Bin Laden nem sequer pode usar um telemóvel pois seria rapidamente localizado, como aconteceu com Saddam.

Bin Laden é hoje um fantasma - não é um chefe terrorista.

Além disso, nada se sabe sobre a estrutura da organização.

As organizações clandestinas são como os polvos: têm uma cabeça - que centraliza as informações, planeia o trabalho e dá as ordens - e vários braços que não se relacionam entre si para que a localização de um deles pela polícia não conduza à descoberta dos outros.

A ETA, em Espanha, o IRA, na Irlanda, o Baader-Meinhof, na Alemanha, as Brigadas Vermelhas, em Itália, estão (ou estavam) estruturadas deste modo.

Ora ninguém sabe como a Al-Qaeda está organizada.

Não se sabe se tem ou não um comando central.

Não se sabe onde esse comando, a existir, está sedeado.

Não se sabe se os núcleos operacionais espalhados por vários países actuam às ordens desse comando central ou agem com grande autonomia.

Não se sabe se esses núcleos funcionam isolados ou em colaboração com organizações terroristas locais.

Com a Al-Qaeda, tudo passou a ser uma incógnita.

O desconhecimento do chefe, da organização e dos objectivos.

Tudo isso faz da Al-Qaeda uma entidade mítica, omnipresente porque actua em toda a parte, quase imaterial porque não se vê, mas ao mesmo tempo bem real, porque mata.



Uma semana depois, o mesmíssimo Saraiva:

Expresso – 27 de Março de 2004

O FACTO de George W. Bush ter assumido a liderança da luta contra o terrorismo deixou a esquerda numa situação difícil.

É claro que a seguir ao 11 de Setembro o mundo inteiro gritou «Somos todos americanos» - e, nessa altura, todos estariam a ser sinceros.

Mas as emoções passam.

Um mês depois, quando Bush decide invadir o Afeganistão sob o pretexto de que é um campo de treino de terroristas, já nem todos aprovam.

Parte da esquerda começa a sentir-se no fio da navalha: não quer aparecer associada ao fundamentalismo islâmico mas também não gosta de estar ao lado das tropas americanas.

Embora poucos condenem frontalmente a invasão, ouvem-se críticas em surdina.

Considera-se que a América não pode ser a «Polícia do mundo» e que os atentados contra as torres gémeas, pese embora a sua brutalidade, não justificam tudo.

Quando se coloca a hipótese de invadir o Iraque, a opinião pública já está abertamente dividida.

Há os que continuam a apoiar Bush - convencidos de que o combate ao terrorismo exige a destruição de regimes como o de Saddam Hussein e a alteração dos equilíbrios na região - e os que rejeitam veementemente a intervenção militar, decidida de forma unilateral e sem a cobertura da ONU.

E aqui é que bate o ponto.

A partir desta altura, os Estados Unidos passam a constituir a referência em relação à qual todos se situam.

De um lado fica a América de Bush e os seus acompanhantes - do outro aqueles que se opõem à política americana.

O mundo divide-se em dois.

E, por muito que custe escrever isto, os terroristas estão do lado dos que combatem Bush, sendo objectivamente seus aliados.

Não foi por acaso que certa esquerda chorou lágrimas de crocodilo pela morte de Sérgio Vieira de Melo: essa esquerda percebeu que a morte do diplomata era um libelo contra a política de Washington.

Não foi por acaso que certa esquerda acreditou desde o princípio que os atentados em Espanha não eram obra da ETA mas da Al-Qaeda: essa esquerda percebeu que os 200 mortos de Madrid poderiam ser outros tantos pesos na consciência dos americanos e dos seus aliados.

E, além disso, constituiriam um aviso sério para os que teimavam em apoiar George W. Bush: «Vejam lá o resultado que dá apoiar os americanos».

Quando Mário Soares diz que é preciso entender os terroristas e negociar com eles não o faz por acaso - fá-lo porque é esse o corolário natural das posições anti-americanas.

Se Soares não quer estar ao lado de Bush, se rejeita a política de Bush de dar caça aos terroristas - então a única alternativa é procurar percebê-los e tentar negociar com eles.

Soares, aqui - apesar das críticas que ouviu -, não está isolado.

Há muito tempo que o Bloco de Esquerda, por exemplo, percebeu que não lhe convém condenar liminarmente o terrorismo.

Sendo o terrorismo uma ameaça aos poderes instalados no Ocidente capitalista, não convém a certa esquerda combatê-lo - mas antes dizer que é preciso compreendê-lo, perceber as suas raízes, estudar as condições concretas em que surge.

No fundo, também foi isso o que Mário Soares quis dizer: não procuremos combater os terroristas cega e estupidamente, como faz Bush, procuremos combatê-los com as armas da inteligência e da democracia, compreendendo-os e mesmo negociando com eles.

É esta a situação.

Ao contrário do que muitos pensam, a divisão não é hoje entre o mundo civilizado e o terrorismo.

A partir do momento em que George W. Bush empunhou o facho da luta antiterrorista, a luta é entre Bush e os terroristas.

Ora aqueles que não querem seguir Bush o que hão-de fazer?

Recusando participar na cruzada «yankee» resta-lhes dizer que não é possível combater o terrorismo sem perceber aquilo que o motiva.

E sem dialogar com os terroristas.

Foi aquilo que Soares disse.




Comentário:

O pateta do Soares!

Desejar dialogar com Bin Laden, que nas palavras de Saraiva, não pode comandar coisa nenhuma. Que não tem condições para pastorear um rebanho de cabras, quanto mais para liderar uma organização terrorista actuando à escala mundial. Que nem sequer pode usar um telemóvel pois seria rapidamente localizado. Que é hoje um fantasma e não um chefe terrorista.

E querer perceber a Al-Qaeda, de cuja estrutura, como afirma Saraiva, nada se sabe. Que não se conhece como está organizada. Que não se sabe se tem ou não um comando central. Que não se sabe onde esse comando, a existir, está sedeado. Da qual não se conhece o chefe, a organização e os objectivos. Que é uma entidade mítica, omnipresente porque actua em toda a parte, e quase imaterial porque não se vê.

Como quer Soares dialogar com um ente do qual nada se sabe?

Com uma entidade mítica, não se dialoga, ataca-se! Invade-se o Afeganistão sob o pretexto de que é um campo de treino de terroristas. Invade-se o Iraque, de forma unilateral e sem a cobertura da ONU, e bombardeia-se, arrasa-se!

Contra o imaterial não há conversa! Há o assalto, há o ataque, há a arremetida!

Foi aquilo que Saraiva disse.

Não É Um Filme De Hollywood

A Guerra Contra o Terrorismo levada a cabo pelo governo de George W.Bush está a fazer do mundo inteiro vítima dessa sanha agressora, militarista e expansionista. Para os soldados americanos, o Iraque já se transformou num outro Vietname. O cenário é idêntico: uma resistência popular organizada em guerrilha, um exército convencional poderoso mas incapaz de matar moscas com mísseis Tomohawk. Quando os americanos finalmente se retiraram do Vietname deixaram um país destruído e com o Iraque vai acontecer o mesmo, apesar da falácia do programa de reconstrução adjudicado a inúmeras empresas americanas...

Já ninguém duvida das mentiras que levaram a esta agressão contra o Iraque. Já nem o próprio mentiroso se atreve a repeti-las mais vezes. Se houvesse algum tipo de justiça, Bush e Blair não se safavam de um qualquer tribunal penal internacional. Esses dois vão ficar para a História como responsáveis por centenas de milhar de mortes, talvez mesmo milhões se levarmos em linha de conta os “danos colaterais”: as doenças que poderiam ter sido combatidas se os hospitais não tivessem sido destruídos, os que morreram de desespero, os que morreram de fome…
Desde Março de 2003, o Oxford Research Group concluiu que, pelo menos, 25 mil iraquianos já morreram vítimas da violência gerada pela invasão norte-americana e que, pelo menos, 45 mil iraquianos foram feridos pelos mesmos motivos. Segundo o mesmo estudo, as tropas americanas foram responsáveis por quatro vezes mais mortes que os ataques da resistência islâmica. Mas estes números mal contam a história toda… porque, um outro estudo patrocinado por um jornal médico inglês, The Lancet, há cerca de seis meses, apontava para um número de mortos próximo dos 100 mil.
Cem mil mortos… não é uma loucura? Esses filhos da puta, sentados lá na sala oval, já alguma vez terão visto um tipo rebentado por uma bala?
Já alguma vez terão sentido o cheiro dos cadáveres putrefactos? Já alguma vez terão ouvido os gemidos dos que sofrem? Já alguma vez terão sentido um arrepio de desespero? Já alguma vez terão parado para pensar que a vida não é um filme de Hollywood? Terão eles consciência da merda que andam a fazer? Dormirão de noite?... Conseguirão eles ter tesão para amar as benditas esposas?
Desde que essa guerra começou que tudo mudou, para pior. A segurança no Médio Oriente não melhorou, embora os Palestinianos pareçam estar à beira de conseguir um Estado reconhecido pelo governo norte-americano. O Irão está, na prática, em alerta máximo contra a possibilidade de um ataque ordenado por Washington. O mesmo se passa na Síria. Não é por acaso que Israel enveredou por um política de maior diplomacia e menos músculo. Se houver uma guerra generalizada na região, o país dificilmente escapará da destruição. E na Europa, estamos nós melhor, agora? Estamos… os espanhóis que o digam, os ingleses também sabem responder. Os atentados terroristas, cegos e indiscriminados, são intoleráveis? São, sim senhor, sem dúvida. Mas são a resposta possível contra as super-potências deste Mundo, isso também é inegável. E não serão igualmente intoleráveis os bombardeamentos cirúrgicos dos B-2 a 10 mil metros de altitude?
Esta guerra já trouxe à luz do dia alguma evidência de que os terroristas que se imolaram contra as Torres Gémeas estavam às ordens de Saddam Hussein? Não… eles eram, de resto, na grande maioria, cidadãos sauditas…
O preço do petróleo baixou, desde que os americanos atacaram? Em Março de 2003 pagavamos a gasolina a… metade do preço de hoje…
O pior é que não se vê o fim desta história. Uma recente decisão tomada em Capitol Hill estipula que os 160 mil soldados norte-americanos só poderão retirar do Iraque quando os desígnios da nação americana forem alcançados… e as baixas sofridas até agora pelas tropa americana foram consideradas insignificantes perante o que está em jogo.
Os políticos querem lá saber se os índices de suicídios entre os seus soldados no Iraque aumentaram alarmantemente, querem lá saber se a moral deles está enterrada algures no deserto iraquiano, querem lá saber se boa parte do Mundo olha com desprezo para a América, que já foi símbolo da liberdade, de sonhos felizes, mas já não é mais.
Na frente interna, Bush também soma problemas. É cada vez maior o número de cidadãos americanos que considera que o país está hoje menos seguro que antes da guerra. E há cada vez menos gente que continua a acreditar que a América é alvo de terroristas invejosos e despeitados por causa da riqueza e bem estar dos yankees.
Não há nada que possa justificar a destruição de um país. Não há nada que possa justificar a destruição do Iraque. Nem mesmo a urgência em depor um ditador.