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quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Um colunista idiota avalia uma ideia um bocado parva...

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Uma ideia um bocado parva...

E a canção dos Deolinda chegou ao Parlamento – como se a geração dos recibos verdes e a precariedade do emprego tivessem sido reveladas aos primeiros acordes de "Parva que sou".

A antiga ministra da Educação, Maria Lurdes Rodrigues, ainda tentou colocar alguma sensatez na discussão quando afirmou que a ideia de que "para ser escravo é preciso estudar" é um "desincentivo para os jovens". Óbvio. Mas, como em todos os modismos, o bom senso não é para aqui chamado. O sempre diligente e "bué de fixe" Bloco de Esquerda aproveitou a onda e acha que o país deve acabar com os estágios não remunerados. A ideia significa, no actual contexto, que um número significativo de jovens deixará de ter um primeiro contacto com a vida empresarial - já que, noutras circunstâncias, as empresas não aceitarão esses estágios. O mais grave, porém, desta ideia um bocado parva do Bloco de Esquerda é que a entrada no mercado de trabalho é um direito adquirido que não implica sacrifícios, esforço ou mérito. Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados mas a sua existência, circunscrita a um prazo determinado, é uma porta de entrada no mundo do trabalho que, de outra forma, simplesmente não existiria. Mas, como o país está um bocado parvo e desajustado da realidade, estas ideias, um bocado parvas, acontecem.



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Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados Miguel Coutinho? Tem a certeza disso quando é gritante a crescente disparidade entre as ofertas de emprego por um lado e candidatos a emprego por outro? Tudo isto num universo em que o emprego está inexoravelmente destinado a desaparecer? Ouça (e aprenda) o que tem para lhe dizer o jornalista e escritor Fernando Dacosta que já segue o assunto há um bom par de anos:


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Resposta de Fernando Dacosta

Publicado na revista Visão nº 625 de 24.02.05 (seis anos antes do artigo supra)


Prevê-se que em cada cinco crianças nascidas hoje, três jamais arranjarão emprego estável. Corrompida, a liberdade imergiu-as em novas (outras) desigualdades, indignidades, como as do crescente, insaciável «triângulo negro» da precarização, escravização, exclusão. Direitos penosamente conquistados (na saúde, na assistência, no trabalho, no ensino, no lazer, na cultura) estão a ser dissolvidos em cascatas de perfumado cinismo light. Os jovens que entram no mundo do emprego fazem-no a prazo, a contrato volátil, vendo-se, sem a mínima segurança, impedidos de construir uma vida própria, entre zappings de subtarefas e de pós-formações ludibriadoras.

O problema não tem no sistema vigente, o que poucos ousam admitir, solução visível. Enquanto isso há quem, para se confundir (confundir), culpabilize por ele a baixa taxa de natalidade e, lestamente, se proponha incentivá-la – incentivá-la para aumentar o número de crianças abandonadas?, para disparar a percentagem de jovens sem ocupação?, para renovar de carne fresca e farta os canhões, as camas, os catecismos, os esclavagismos? Prevê-se, com efeito, que em cada cinco crianças nascidas hoje em Portugal, três jamais arranjarão emprego estável.

A queda, por exemplo, de descontos para a Previdência (que tanta ondulação provoca) não advém da falta de trabalhadores com vontade de fazê-los – aos descontos; advém, sim, da falta de trabalho para serem feitos. Há já mais de 600 mil desempregados «seniores» e de 80 mil jovens à procura do primeiro emprego (40 mil licenciados), sem que ninguém, ao que se observa, se dinamize com isso. Nesta fase, as teses «coelheiras» só iriam agravar, não resolver, os problemas demográficos existentes.

Subir a idade da reforma para os 70 anos (aos 50 um trabalhador começa a ser tratado pelos superiores e colegas como um estorvo), aumentar os horários laborais (a produção tornou-se não insuficiente mas excessiva para o mercado), congelar os salários líquidos (enquanto a inflação os baixa) como defendem certos especialistas (que preservam, no entanto, para si retribuições e reformas milionárias) apenas desarticulará o mecanismo social que a humanidade vem, penosamente, construindo no sentido de tornar a existência mais digna e solidária.

As velhas gerações , a sair de cena, agarram-se às influências que julgam, julgavam, manter, merecer. Disfarçando desesperos, socalcam sem resultados patéticas vias sacras de cunhas, súplicas, empenhos, hipotecas, tráficos. As crispações que não sentiram quando, décadas atrás, iniciaram as suas carreiras (eram de outro tipo as, então, sofridas) experimentam-nas agora em relação à insegurança inquietante dos filhos e netos. Ingénuas, acreditaram que bastava, como no seu tempo, um curso superior para se ficar protegido, promovido. Fizeram os seus tirá-lo sem reparar que as universidades se transformaram de clubes VIP em fábricas massificadoras, cada vez mais vazias de elitismos internos e poderes externos.

Só os filhos-família de famílias dominantes (na direita, no centro e na esquerda, na economia, na política e nos lobbies) dispõem de privilégios garantidos, defendidos.
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segunda-feira, julho 19, 2010

Resposta minha a um economista comentador do Diário Económico a propósito da contrafacção monetária praticada pelos bancos comerciais

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Na sequência do meu post anterior - «Como os bancos comerciais perpetram diariamente um roubo de proporções inimagináveis às famílias, às empresas e ao Estado» - uma crítica a um excerto do livro - «Política Monetária e Mercados Financeiros» - dos autores Emanuel Reis Leão, Sérgio Chilra Lagoa e Pedro Reis Leão, recebi uma resposta de um comentador do Diário Económico.


Comentador do Diário Económico - No essencial é mesmo assim que a coisa funciona.

Diogo – Estamos de acordo.


Comentador do Diário Económico - Do ponto de vista do cliente, notar que o cliente não é roubado, no sentido em que paga pela utilização de um capital que não tinha, ou seja remunera o banco por passar a usar algo a que antes não tinha acesso.

Diogo – Como muito bem afirmou Murray N. Rothbard - "os bancos criam depósitos a partir do nada [out of thin air]. Essencialmente, são contrafactores de falsos recibos de depósitos de activos líquidos ou dinheiro padrão, que circulam como se fossem genuínos, como as notas ou contas de cheques completamente assegurados."

"Os bancos criam dinheiro literalmente a partir do nada, hoje em dia exclusivamente depósitos em vez de notas de banco. Este tipo de fraude ou contrafacção é dignificado pelo termo reservas mínimas bancárias [fractional-reserve banking], o que significa que os depósitos bancários são sustentados apenas por uma pequena fracção de activos líquidos que prometem ter à mão para redimir os seus depósitos."

Quando lhes é pedido um empréstimo, os bancos criam dinheiro (hoje, essencialmente um símbolo – uma abstracção) a partir do nada sob a forma de depósitos bancários, e cobram juros desse «dinheiro» que possui uma existência apenas contabilística. Os clientes pagam juros de dinheiro contrafeito, criado fraudulentamente, donde resulta que os clientes estão a ser roubados.

Estas «operações» são tornadas possíveis porque os bancos comerciais funcionam em circuito fechado - o dinheiro levantado num banco é depositado noutro.


Comentador do Diário Económico - Sim o banco alavanca os depósitos que tem (faltou dizer no exemplo que a posição inicial do banco não é zero).

Diogo – "Alavanca" é um eufemismo muito simpático para contrafacção ou falsificação de dinheiro, e que atinge valores na ordem dos noventa e muitos por cento do total do "empréstimo".



Comentador do Diário Económico - A família pede 100 mil euros e gasta-os logo (é o que acontece com um empréstimo, tipicamente), pelo que o dinheiro não é inventado, ele está lá. O que acontece é um fenómeno de alavancagem dos depósitos. Concordo que o grau de alavancagem é elevado e isso está a ser corrigido - ver em http://www.imf.pt/_content/pdf/Outlooks/2010/OutlookJul2010.pdf. Note-se que está a ser corrigido à força, o que torna a economia ainda mais bela (e justa).

DiogoO dinheiro não está lá. É inventado, falsificado, contrafeito no momento do "empréstimo". A economia está a ser vampirizada por parasitas gigantescos que dão pelo nome de bancos comerciais.


Comentador do Diário Económico - Evasões à parte, a alavancagem de depósitos:

a) Paga impostos, quer no processo de alavancagem, quer nos lucros da banca.

b) Gera emprego.

c) ANTECIPA RECEITAS FUTURAS, acelerando o ciclo de bem-estar e produção de empresas e famílias. Doutra forma, como poderia eu ter comprado um apartamento (e respectivo bem estar) aos 30 anos?


Diogo:

a) Os impostos pagos pelos bancos, fruto da "alavancagem" que praticam e do lucro que obtêm, constituem uma ínfima parte do dinheiro roubado, sob a forma de juros, às Famílias, às Empresas e ao Estado, pelos empréstimos de "dinheiro" que os bancos criaram a partir do nada.

b) Pode gerar algum emprego. Mas se as Famílias, as Empresas e o Estado não tivessem de pagar juros de dinheiro falsificado, a quantidade de dinheiro disponível seria muito mais vasta e a criação de empregos e riqueza infinitamente maior.

c) As Empresas e Famílias poderiam ter pedido emprestado a um banco do Estado que não teria de lhes cobrar quaisquer juros (o cliente pagaria apenas uma pequena taxa mensal para suportar as despesas correntes do banco).



O Dinheiro é Dívida, inventado no momento do empréstimo
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