Uma ideia um bocado parva...
E a canção dos Deolinda chegou ao Parlamento – como se a geração dos recibos verdes e a precariedade do emprego tivessem sido reveladas aos primeiros acordes de "Parva que sou".
A antiga ministra da Educação, Maria Lurdes Rodrigues, ainda tentou colocar alguma sensatez na discussão quando afirmou que a ideia de que "para ser escravo é preciso estudar" é um "desincentivo para os jovens". Óbvio. Mas, como em todos os modismos, o bom senso não é para aqui chamado. O sempre diligente e "bué de fixe" Bloco de Esquerda aproveitou a onda e acha que o país deve acabar com os estágios não remunerados. A ideia significa, no actual contexto, que um número significativo de jovens deixará de ter um primeiro contacto com a vida empresarial - já que, noutras circunstâncias, as empresas não aceitarão esses estágios. O mais grave, porém, desta ideia um bocado parva do Bloco de Esquerda é que a entrada no mercado de trabalho é um direito adquirido que não implica sacrifícios, esforço ou mérito. Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados mas a sua existência, circunscrita a um prazo determinado, é uma porta de entrada no mundo do trabalho que, de outra forma, simplesmente não existiria. Mas, como o país está um bocado parvo e desajustado da realidade, estas ideias, um bocado parvas, acontecem.
A antiga ministra da Educação, Maria Lurdes Rodrigues, ainda tentou colocar alguma sensatez na discussão quando afirmou que a ideia de que "para ser escravo é preciso estudar" é um "desincentivo para os jovens". Óbvio. Mas, como em todos os modismos, o bom senso não é para aqui chamado. O sempre diligente e "bué de fixe" Bloco de Esquerda aproveitou a onda e acha que o país deve acabar com os estágios não remunerados. A ideia significa, no actual contexto, que um número significativo de jovens deixará de ter um primeiro contacto com a vida empresarial - já que, noutras circunstâncias, as empresas não aceitarão esses estágios. O mais grave, porém, desta ideia um bocado parva do Bloco de Esquerda é que a entrada no mercado de trabalho é um direito adquirido que não implica sacrifícios, esforço ou mérito. Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados mas a sua existência, circunscrita a um prazo determinado, é uma porta de entrada no mundo do trabalho que, de outra forma, simplesmente não existiria. Mas, como o país está um bocado parvo e desajustado da realidade, estas ideias, um bocado parvas, acontecem.
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Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados Miguel Coutinho? Tem a certeza disso quando é gritante a crescente disparidade entre as ofertas de emprego por um lado e candidatos a emprego por outro? Tudo isto num universo em que o emprego está inexoravelmente destinado a desaparecer? Ouça (e aprenda) o que tem para lhe dizer o jornalista e escritor Fernando Dacosta que já segue o assunto há um bom par de anos:
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Resposta de Fernando Dacosta
Publicado na revista Visão nº 625 de 24.02.05 (seis anos antes do artigo supra)
Resposta de Fernando Dacosta
Publicado na revista Visão nº 625 de 24.02.05 (seis anos antes do artigo supra)

O problema não tem no sistema vigente, o que poucos ousam admitir, solução visível. Enquanto isso há quem, para se confundir (confundir), culpabilize por ele a baixa taxa de natalidade e, lestamente, se proponha incentivá-la – incentivá-la para aumentar o número de crianças abandonadas?, para disparar a percentagem de jovens sem ocupação?, para renovar de carne fresca e farta os canhões, as camas, os catecismos, os esclavagismos? Prevê-se, com efeito, que em cada cinco crianças nascidas hoje em Portugal, três jamais arranjarão emprego estável.
A queda, por exemplo, de descontos para a Previdência (que tanta ondulação provoca) não advém da falta de trabalhadores com vontade de fazê-los – aos descontos; advém, sim, da falta de trabalho para serem feitos. Há já mais de 600 mil desempregados «seniores» e de 80 mil jovens à procura do primeiro emprego (40 mil licenciados), sem que ninguém, ao que se observa, se dinamize com isso. Nesta fase, as teses «coelheiras» só iriam agravar, não resolver, os problemas demográficos existentes.
Subir a idade da reforma para os 70 anos (aos 50 um trabalhador começa a ser tratado pelos superiores e colegas como um estorvo), aumentar os horários laborais (a produção tornou-se não insuficiente mas excessiva para o mercado), congelar os salários líquidos (enquanto a inflação os baixa) como defendem certos especialistas (que preservam, no entanto, para si retribuições e reformas milionárias) apenas desarticulará o mecanismo social que a humanidade vem, penosamente, construindo no sentido de tornar a existência mais digna e solidária.
As velhas gerações , a sair de cena, agarram-se às influências que julgam, julgavam, manter, merecer. Disfarçando desesperos, socalcam sem resultados patéticas vias sacras de cunhas, súplicas, empenhos, hipotecas, tráficos. As crispações que não sentiram quando, décadas atrás, iniciaram as suas carreiras (eram de outro tipo as, então, sofridas) experimentam-nas agora em relação à insegurança inquietante dos filhos e netos. Ingénuas, acreditaram que bastava, como no seu tempo, um curso superior para se ficar protegido, promovido. Fizeram os seus tirá-lo sem reparar que as universidades se transformaram de clubes VIP em fábricas massificadoras, cada vez mais vazias de elitismos internos e poderes externos.
Só os filhos-família de famílias dominantes (na direita, no centro e na esquerda, na economia, na política e nos lobbies) dispõem de privilégios garantidos, defendidos.
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