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quinta-feira, novembro 20, 2014

Alguns podres da ortografia portuguesa




A 15 Setembro de 2014, no blogue «A Biblioteca do Jacinto», Maria Clara Assunção (na foto supra), decididamente contrária ao Acordo Ortográfico, escreveu um post com um diálogo imaginário onde pretende espetar uns pregos no Acordo Ortográfico, como se a actual ortografia portuguesa fosse uma coisa sacra, divinamente concebida e absolutamente lógica e explícita (que o Acordo Ortográfico, supostamente, quer desmantelar).


Diálogo imaginário

- Escreveste "concepção" e o acordo ortográfico diz que é "conceção".

- Mas o acordo ortográfico também diz que se escreve como se pronuncia e eu pronuncio "concepção".

- Pronuncias mal. Com o acordo ortográfico não tem "p".

- Mas antes tinha e eu sempre pronunciei.

- Por isso é que fizeram o acordo ortográfico. Para as pessoas saberem como se pronuncia.

- Mas assim eu pronuncio "conc'ção" como em "concessão".

- Pronuncias mal. Com o acordo ortográfico pronuncia-se "concéção".

- Mas eu aprendi a ler todas as vogais fechadas excepto...

- Exceto.

- ?...

- Agora diz-se "exceto".

- ... "exceto" quando são a silaba tónica ou são seguidas pela consoantes "pt", "ct" ou "pç".

- Esquece tudo o que aprendeste. Agora quem manda é o acordo ortográfico. Senta-te direito e come a sopa de letras.


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Anaísa Gordino (foi Investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e é, presentemente, Formadora e Consultora de Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), no CIBERDÚVIDAS da Língua Portuguesa, aponta alguns dos podres da ortografia portuguesa:


Sobre o alegado papel das consoantes mudas na abertura das vogais que as precedem.

Em primeiro lugar, quanto à questão da dupla grafia, é preciso referir que existem duas situações:

a) Dupla grafia em espaços geográficos diferentes, dado as diferentes variantes do português apresentarem, para uma mesma palavra, pronúncias distintas; neste caso, distingue-se a variante luso-africana da variante brasileira, apresentando cada uma destas variantes a sua grafia própria para a palavra. É exemplo deste tipo de situação a dupla grafia da palavra facto/fato, que é grafada como facto em Portugal (ou seja, o "c" tem de ser mantido, pois é pronunciado) e fato no Brasil (o "c" não se pronuncia na variante brasileira, logo, foi eliminado);

b) Dupla grafia no mesmo espaço geográfico, dado os falantes apresentarem oscilações de pronúncia dentro de uma mesma variante, neste caso, a portuguesa; é neste tipo de situação que se inscreve espectador/espetador, um caso de dupla grafia dentro da nossa variante, o que, na prática, significa que, em Portugal, os falantes poderão escrever a palavra com ou sem "c", consoante o pronunciem ou não.


Em segundo lugar, quanto à questão da necessidade da manutenção das consoantes mudas ("c" ou "p") para abrir a vogal anterior, muitos de nós aprenderam, «corretamente ou não», que estas consoantes mudas serviam para abrir as vogais anteriores. Ora, diria que aprendemos «incorretamente» e que não existe uma regra ou uma correlação direta entre a presença de uma consoante muda e a abertura da vogal anterior (e, consequentemente, entre a queda dessa consoante muda e uma qualquer alteração na pronúncia da vogal), o que fica claro se olharmos para os dados.

Assim, esta questão tem também de ter em conta duas vertentes.

1. Da (alegada) relação causa-efeito entre a presença das consoantes mudas e a manutenção da abertura da vogal

Não há uma regra ou correlação direta entre a presença das consoantes mudas e a abertura da vogal anterior, seja em sílaba tónica ou em sílaba átona, o que fica patente se pensarmos nos dados do português e nas palavras que até agora mantinham estas consoantes mudas:

i) Por um lado, há palavras com consoante muda antes de uma vogal em sílaba átona em que a vogal é fechada, apesar da presença dessa consoante, a qual, a acreditarmos numa pretensa regra, deveria abrir a vogal (vejam-se casos como actual, actualidade, actividade), ao mesmo tempo que, noutras palavras, a vogal se mantém aberta (activa, afectivo, espectador); se existisse uma regra, tendo as consoantes mudas essa função específica de abertura das vogais, por que razão ela se aplicaria nuns casos e não noutros?

ii) Por outro lado, quando temos consoantes mudas antes de vogais que se encontram em sílaba tónica em palavras graves, o facto de haver palavras com sílaba tónica na mesma posição (ou seja, na penúltima sílaba), umas com consoante, outras sem qualquer consoante muda, em ambos os casos com uma vogal aberta, demonstra bem que não é a consoante muda que nos indica qual o timbre da vogal (tal deriva de regras fonológicas e de questões lexicais, não da presença de uma consoante muda) – veja-se completo (que nunca teve consoante muda) versus tecto ou dialecto, ou contrato (de trabalho), que já teve consoante muda "c" e a perdeu, mantendo, naturalmente, a abertura da vogal tónica, da mesma forma como deverá acontecer com exacto;

iii) por fim, no caso de palavras esdrúxulas, com a consoante muda a seguir à vogal tónica, é óbvio que a presença da consoante é redundante, pois o acento gráfico destas palavras cumpre a dupla função de indicar a sílaba tónica e de dar informação sobre o timbre da vogal (veja-se didáctica, eléctrico, óptimo); note-se ainda, como curiosidade, que o Acordo de 1945 já tinha eliminado as consoantes mudas de palavras como práctico/a, mas manteve-as em palavras como didáctico/a.


Tendo em conta os argumentos anteriores e ao analisarmos alguns exemplos de palavras podemos, de facto, perceber que não existe uma regra ou um processo linguístico subjacente à presença de consoantes mudas e à abertura das vogais que as precedem. Se assim fosse, como explicar as assimetrias em palavras que, inclusivamente, apresentam uma relação morfológica, mas que têm diferentes comportamentos? Como explicar, por exemplo, que em exacto/exactidão/exactamente, a vogal seja ora aberta, ora fechada, do ponto de vista da presença da consoante muda?

Claramente, não é a presença das consoantes mudas que determina a abertura ou não das vogais, o que nos leva a perceber que o que aqui está em causa são processos fonéticos, fonológicos e morfofonológicos, em alguns casos, mas também questões lexicais, noutros casos. São essas as verdadeiras razões para a manutenção da abertura das vogais, sobretudo das vogais átonas (já que, nas vogais tónicas, a abertura da vogal é algo natural, digamos assim) e, em particular, para a abertura das vogais nestes casos de (queda das) consoantes mudas.


2. Das verdadeiras razões para a não aplicação da regra do vocalismo átono/contextos que propiciam a não aplicação do vocalismo átono (permitindo a manutenção da abertura da vogal)

Há uma série de exceções à aplicação da regra do vocalismo átono, algumas das quais são regulares, outras das quais não podem ser explicadas através de regras, sendo marcadas no léxico, sem que haja uma regra possível para as descrever ou explicar, ou um contexto específico que possamos identificar sincronicamente (isto é, actualmente, já que alguns podem ser explicados diacronicamente, olhando para a história da língua).

(i) Casos regulares (como a própria designação indica, trata-se de contextos em que a manutenção da abertura da vogal átona apresenta uma regularidade):

a) Vogais em sílabas átonas terminadas pela consoante "l"

Exs.: salgado, relvado;


b) Vogais em sílabas átonas que têm um ditongo decrescente

Exs.: gaiteiro, pautado, endeusar, boiar;


c) Vogais átonas em contexto inicial de palavra

Exs.: operário, obreiro, olhar;


d) Vogais em sílaba átona em palavras formadas por derivação com os chamados sufixos z-avaliativos (-zinho, -zito, -zão) e com o sufixo -mente (aquilo que se designa como a presença de acento secundário)

Exs.: pobrezinho, chazinho, sozinho, belamente, rapidamente (aqui se inclui uma palavra como exatamente).


(ii) Exceções marcadas no léxico:

Aqui se inscreve o caso de espectador/espetador, no qual não podemos explicar a manutenção da abertura da vogal nem através do contexto, nem pela aplicação de uma regra, seja ela puramente fonológica ou morfofonológica. Aquilo que se defende é que há uma marcação no item lexical que determina que a vogal é aberta e que não sofre aplicação da regra do vocalismo átono. Colocando a questão de uma forma simples, as palavras vêm do léxico com um conjunto de informações (como se de um BI ou cartão do cidadão se tratasse) e esta é uma das informações que qualquer palavra traz; a abertura da vogal átona é, por isso, independente da presença ou não de uma consoante muda. Mateus et alii, em Fonética e Fonologia do Português (uma obra alheia às questões do Acordo Ortográfico) reforçam a ideia de que tal se trata de uma mera convenção ortográfica, derivada da etimologia:

"A não redução das vogais átonas nestes casos é por vezes indicada ortograficamente com uma consoante etimológica. Esse aspecto é exclusivamente ortográfico, visto que há palavras com as mesmas características que não têm indicação ortográfica, como se pode ver nos exemplos incluídos em (12) [que aqui retomo]; nas palavras de (12b) as vogais átonas têm origem histórica em duas vogais seguidas que se fundiram, ou seja, que sofreram uma crase."

12) - (a) dilação, invasor, protecção, absorver, baptismo, [espectador]

(b) mestrado, pregar [um sermão], corar, aquecer

Na palavra espectador/espetador (segundo a nossa pronúncia da consoante), a verdadeira razão, do ponto de vista linguístico, para a abertura da vogal é, então, a marcação no léxico desse aspecto, ou seja, a informação que a palavra traz do léxico de que aquela vogal é aberta e não será sujeita à aplicação da regra do vocalismo átono, mantendo-se por isso aberta num contexto em que, de outra forma, tal não seria esperado.

Assim, quer mantenhamos ou eliminemos o "c" de uma palavra como espectador, a pronúncia da vogal manter-se-á inalterada, à semelhança de todas as outras palavras que sofrerão a queda das consoantes mudas.

segunda-feira, novembro 17, 2014

Para reformular e simplificar significativamente a ortografia portuguesa


Proposta de simplificação da Ortografia Portuguesa



Para que este tipo de «escrita» se torne cada vez menos frequente


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Excerto de um texto de Miguel Esteves Cardoso:

«Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.»


E agora, exactamente o mesmo texto com a nova proposta de simplificação ortográfica:

«Ux amigux nüca säu para ax ocaziöix. Säu para sëpre. A idaia utilitária da amizáde, comu ëtreajuda, prötu-sucorru mútuu, tróca de favorex, depózitu de cöfiäsa, sosiedáde de dezabáfux, méte noju. A amizáde é puru prazêr. Näu se póde cötaminár cö favorex i ajudax, laia-se dívidax. Péde-se, dá-se, recébe-se, excése-se i näu se fála maix nisu.»



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As diferenças nas regras ortográficas vão muito mais além do que seria necessário pelas diferenças entre os sons das diferentes línguas. E muito menos justificação existe para as regras, no interior da mesma língua, não serem nem sistemáticas nem coerentes.

Um tipo de incoerência é que numa mesma língua um mesmo som ou fonema se represente com grafias diferentes segundo os casos. É o caso das palavras homófonas - pronunciam-se de forma idêntica, mas escrevem-se de forma diferente: a) Ela vai coser roupa / b) A carne está a cozer.

A incongruência é ainda maior quando com uma mesma letra ou combinação de letras se representam sons diferentes. É o caso das palavras homógrafas – escrevem-se do mesmo modo, mas pronunciam-se de forma diferente: a) Uma colher de sopa / b) Ele foi colher maçãs.

A primeira consequência destas incongruências é que frequentemente quando ouvimos uma palavra não temos a certeza de como se escreve correctamente e, por outro lado, quando vemos uma palavra escrita nem sempre sabemos como se pronuncia.

Estas incoerências do sistema ortográfico dificultam a aquisição da língua escrita (quanto tempo e quanta energia se têm de dedicar a uma tarefa que começa na primeira infância e nunca se pode considerar terminada).



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A 14 Agosto 2009, no blogue «A Biblioteca do Jacinto», Maria Clara Assunção (MCA), na foto, decididamente contrária ao Acordo Ortográfico, escreveu um post muito bem conseguido de nome «O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa», onde ironiza simplificações da ortografia portuguesa.

Afirmou Maria Clara Assunção (MCA): «Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.»

Acontece que eu considerei muitas das propostas da Maria Clara Assunção para a simplificação da ortografia portuguesa bastante inteligentes e plausíveis, de tal forma que decidi juntar mais umas quantas propostas da minha lavra e compilar um conjunto de regras, nada complicadas, que, em minha opinião, simplificariam bastante a ortografia portuguesa e evitariam as ambiguidades que levam as nossas pobres crianças a dar tantos erros e a perder tanto tempo inútil na aprendizagem da escrita.



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As novas regras da Ortografia Portuguesa


Em termos de timbre e fonética o som das vogais pode ser: "Aberto", "Neutro", "Fechado" e "Nasal". O termo que eu utilizo "Neutro" é também chamado "Reduzido" e "Átono".

No entanto, nem todas as vogais possuem estas quatro características. Todas podem ser abertas ou nasais, mas nem todas podem ser neutras ou fechadas.

Assim sendo, pode-se convencionar o seguinte:


Regra nº 1: Como todas as vogais podem ser abertas, estabelece-se que o "a", o "e" e o "o" são sempre acentuadas com o acento agudo ("á", "é" e "ó") quando forem abertas. Exemplos:

Alto passa a escrever-se álto (...) aberto passa a escrever-se abérto (...) farol passa a escrever-se faról.

As letras "i" e "u" são um caso à parte.



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Regra nº 2: Todas as vogais neutras não levam acento. Exemplos:

Na letra "a" como nas palavras: "da", "costa" ou nos dois "as" da palavra "cabeça".

Na letra "e" como nas palavras: "vinte", "cidade" ou nos dois "es" da palavra "veneziano".



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Regra nº 3: A vogal fechada "e" leva sempre o acento circunflexo "^" como nas palavras: "pêra", "acêsa" ou "mêsa".

A outra vogal que pode ser fechada, a letra "o" nunca leva acento circunflexo, como nas palavras: "boda" ou "favor".



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Regra nº 4: Todas as vogais nasais levam o acento trema:

O som "an", "am" e "ã" passa a escrever-se ä.

O som "en" ou "em" passa a escrever-se ë.

O som "in" ou "im" passa a escrever-se ï.

O som "on", "om" e "õ" passa a escrever-se ö.

O som "un" e "um" passa a escrever-se ü.



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Regra nº 5: Quando uma vogal se lê com o som de outra vogal, o que se escreve é a outra vogal.



A frase «O cão "e" o gato» passa a escrever-se «U cãu "i" u gátu».



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As novas regras para as cinco vogais


Letra "A" -» O som da letra "a" pode ser aberto, neutro e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "a" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "mar", "mudado" e "votar". Como as vogais abertas "a" e "e" levam sempre acento agudo, as palavras "mar", "mudado" e "votar", passam a escrever-se: "már", "mudádu" e "vutár".


O som da letra "a" pode ser neutro, tal como se lê nas palavras: "cama", "da", "vela" e "Anabela". Como todas as vogais neutras não levam acento, as palavras "cama", "da", "vela" e "Anabela" passam a escrever-se: "cama", "da", "véla" e "Anabéla".


O som da letra "a" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "rã", "antigo", "ângulo", "amputar" e "âmbito". Como todas as vogais nasais levam o acento trema: "ä", "ë", "ï", "ö" e "ü".

As palavras "rã", "antigo", "ângulo", "amputar" e "âmbito" passam a escrever-se: "rä", "ätigu", "ägulu", "äputár" e "äbitu"


Em suma, e juntando as novas regras, a palavra "sandália" passa a escrever-se "sädália", a palavra "candidata" passa a escrever-se "cädidáta", etc.


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Letra "E" -» O som da letra "e" pode ser aberto, neutro, fechado e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "e" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "Alberto", "certo" e "correto ". Como as vogais abertas "a" e "e" levam sempre acento agudo.

As palavras "Alberto", "certo" e "correto" passam a escrever-se: "Álbértu", "sértu" e "currétu".


O som da letra "e" também pode ser neutro, tal como se lê nas palavras: "de", "caridade" e "feliz". Como as vogais neutras não levam acento, as palavras "de", "caridade" e "feliz" passam a escrever-se: "de", "caridáde" e "felix".


O som da letra "e" também pode ser fechado, tal como se lê nas palavras: "ter", "fazer" e "quê". Como as vogais fechadas (excepto o "o") levam o acento circunflexo como em "ê".

A palavra "ter" passa a escrever-se "têr", a palavra "fazer" passa a escrever-se "fazêr" e a palavra "quê" passa a escrever-se "cê".


O som da letra "e" também pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "entorna" ou "emplastro". Como todas as vogais nasais levam o acento trema como em "ë".

A palavra "entorna" passa a escrever-se "ëtórna" e a palavra "emplastro" passa a escrever-se "ëpláxtru".



Quando o "e" se lê "i", deverá ser substituído pelo "i" = o homem e a vida -» u ómëi i a vida.

Quando o "e" se lê "a", deverá ser substituído pelo "a" = "canteiro -» cätairu.

Quando o "o" se lê "u", deverá ser substituído pelo "u" = o carro -» u cárru.


Têm passa a escrever-se täiäi -» T + an + i + an + i = T + ä + i + ä + i

Vêem passa a escrever-se vêäi -» vê + an + i = vê + ä + i

Vêm passa a escrever-se väiäi -» v + an + i + an + i = v + än + i + ä + i





«O Manuel e a Maria apanharam um valente aguaceiro e tiveram de se refugiar no celeiro».

«U Manuél i a Maria apanháräu ü valëte águasairu i tivéräu de se refujiár nu selairu».



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Letra "I" -» O som da letra "i" só pode ser aberto ou nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "i" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "inerte", "início" e "ir". A palavra "inerte" continua a escrever-se "inerte", a palavra "início" passa a escrever-se "iniciu" (porque o 2º "i" é aberto e portanto não leva acento, e a palavra "ir" continua a escrever-se "ir".

O som da letra "i" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "infante" e "importante". A palavra "infante" passa a escrever-se "ïfäte" e a palavra "importante" passa a escrever-se "ïpurtäte".

Na Letra "i", se a sílaba tónica não é nasal então leva acento agudo: Em "íntimo" (de pessoal) e "intimo" (do verbo intimar), ambas as palavras têm mais do que um "i". Na primeira palavra o "i" tónico é o primeiro "ín". Mas como é nasal não leva acento agudo, mas um trema: "ï", como todas as vogais nasais:  ïtimu. Na segunda palavra, "intimo" (do verbo intimar), o segundo "i" tem a carga tónica e, portanto, leva acento agudo: ïtímu.

Em "dízima" (de décima) e "dizima" (do verbo dizimar), ambas as palavras têm mais do que um "i". Na primeira palavra o "i" tónico é o primeiro. E como não é nasal leva acento agudo (dízima). Na segunda palavra "dizima" os dois "is" não são tónicos e, portanto, nenhum leva acento agudo (dizima).



«O infante, lá no seu íntimo pensou: antes a morte honrosa que o cativeiro indigno sob o jugo de infiéis que adoram ídolos pagãos»

«U ïfäte, lá nu sêu ïntimu pësou: ätex a mórte öróza ce u cativairu ïndignu sob u jugu de ïfiaix ce adóräu ídulox pagäux »


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Letra "O" -» O som da letra "o" pode ser aberto, fechado e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

Quando o som da letra "o" é aberto leva sempre o acento agudo, tal como se lê nas palavras: "amora", "embora" e "hora". Estas palavras passam a escrever-se "amóra", "ëbóra" e "óra".

Quando o som da letra "o" é fechado, tal como se lê nas palavras: "avô", "dador" e "pôr", passam a escrever-se sem acento circunflexo: "avo", "dador" e "por". A palavra "por" em «e por isso» passa a escrever-se «i pur isu»

O som da letra "o" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "dom", "ontem" e "põe"; A palavra "dom" passa a escrever-se "" e o mesmo para a palavra "ontem" que passa a escrever-se "ötëi" e a palavra "põe" que passa a escrever-se "pöi".

Quando o "o" se lê "u", deverá ser substituído pelo "u". Em português, as palavras "o", "dado", "Mário" e "João" passam a escrever-se "u", "dádu", "Máriu" e "Juäu".

A frase: «O Mário e o João foram ao teatro» passa a escrever-se: «U Máriu i u Juäu foräu áu teátru».



Na Roménia, a palavra «Telejornal» escreve-se «Telejurnal»



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Letra "U" -» O som da letra "u" pode ser aberto e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "u" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "alucinado", "lúcio" e "luz"; A palavra "alucinado" continua a escrever-se "alusinádu", a palavra "lúcio" passa a escrever-se "lúsiu" e a palavra "luz" passa a escrever-se "lúx".

O som da letra "u" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "umbilical" e "untar". A palavra "umbilical" passa a escrever-se "übilicál" e a palavra "untar" passa a escrever-se "ütár".
Na letra "u", se a letra é tónica e não é nasal então leva acento agudo:

Em "último" (de derradeiro), o "u" tónico é o primeiro "u" e portanto leva acento agudo (últimoúltimu). Em "ultimo" (do verbo ultimar), nenhum dos "us" são tónicos e portanto nenhum leva acento(ultimoultímu).


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Regra nº 6: Todas as vogais e consoantes mudas (que não se lêem) são eliminadas da escrita já que não existem na oralidade. As chamadas consoantes mudas c e p nas sequências interiores: cc, cç, ct, pt, pc e pç, (cc -» c; cç -» ç; ct -» t; pt -» t; pc -» c; pc -» c e pç -» ç) que não sejam proferidas são apagadas.

A vogal «u» quando é muda, não se escreve: «que» passa a escrever-se «qe» / «guetu» passa a escrever-se «getu»;


Exemplos de consoantes que são eliminadas quando são mudas:

«haver» deve escrever-se «aver». O "h" é eliminado -» avêr.

«accionista» deve escrever-se «acionista». O "c" é eliminado -» ásiunixta.

«acção» deve escrever-se «ação». O "c" é eliminado -» ásäu.

«espectador» deve escrever-se «espetador». O "c" é eliminado -» expétador.

«baptismo» deve escrever-se «batismo». O "p" é eliminado  -» bátixmu.

«decepcionar» deve escrever-se «dececionar». O "p" é eliminado  -» desésiunár.

«recepção» deve escrever-se «receção». O "p" é eliminado  -» resésäu.


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Regra nº 7: A cada letra é atribuído um único som. Deixa de haver leitura igual que se faz de letras diferentes e de leituras diferentes que pode ter a mesma letra:

a) Porque é que a palavra "assunção" se escreve com "ss" e depois com "ç", e "tensão" se escreve apenas com "s"?

Seria muito mais fácil atribuir um som único a cada letra até porque, quando aprendemos o alfabeto, é-lhes atribuída um único nome.

Assim, tanto a dupla "ss" como a letra "ç" são eliminadas e substituídas por um simples "s", o qual passará a ter um único som de "ç".

Desta forma, a palavra "assunção" passará a escrever-se "asüsãu".




b) E na palavra "usar", se o "s" tem o som "z" passará a ser sempre representado por um "z". A palavra "usar" escrever-se-á com "z" -» "uzár".

Deixa de haver "coser" (de costura) e "cozer" (de cozinhar). Em ambos os casos utilizar-se-á apenas a palavra "cozer". O significado dependerá apenas do contexto onde está inserida a palavra.


c) Nos plurais, o "s" final não se lê "ç" mas "x". Na palavra bolas, o "s" final não se lê "ç" mas "x" -» bólax.

Outros exemplos: "finais" -» "fináix" / "melros" -» "mélrux" / "carros" -» "cárrux".


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Quanto à letra "c" ler-se-á sempre como nas palavras «caro» ou «concordo» e nunca como nas palavras «centro» ou «cima». Estas palavras passam a escrever-se com "s" -» «sëtru» e «sima».

As palavras «quadro» ou «quebrar» devem ser escritas «cuádro» e «cebrár». E dispensa-se a letra "q".





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O som "ch" passa a ser representado pela letra "x". Tal como o «ph» das antigas (ph)armácias desapareceu sem deixar saudades a ninguém, também o «ch» pode passar à história por não fazer falta nenhuma. Quantas vezes não ouvimos já a pergunta: "esta palavra escreve-se com x ou com ch?".

Também as palavras "simplex" ou "códex" devem ser escritas "simplécs" e "códécs". Neste caso, o som "x" passa a ser escrito com "cs" o que é muito mais conforme à leitura natural.


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Quanto ao caso do som "j". Umas vezes escrevemos este som com "j" outras vezes com "g". Para quê complicar?

Geleia, gente e gigante passam a escrever-se jelaia, jëte e jigäte.

Se usarmos sempre o "j" para o som "j" não precisamos do "u" a seguir à letra "g" pois esta terá, sempre, o som "g" e nunca o som "j". Mais uma letra muda "g" que eliminamos.


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Como se pode ver, eliminaram-se as letras inúteis: "q" e "ç";

Também as letras: "p", "c", "u" "h" e "g", quando não se lêem, são eliminados - (concepção -» conceção / carácter -» caráter / quero -» qero / hei-de -» ei-de / gesto -» jesto).

Também se eliminaram as duplas "ss" e "ch" – (assado -» asado e chaves -» xaves);

Eliminou-se a tripla leitura da letra "s" - (caso "z" -» cazo; casto "x" » caxto);

E eliminou-se a tripla leitura da letra "x" - (córtex -» córteqs; axioma -» acsioma; exemplo -» ezemplo).


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Em Suma




Texto de Miguel Esteves Cardoso, em «Explicações de Português»

Taxtu de Migél Extêvex Cardosu, äi «Êxplicasöix de Purtugêx»



Os Amigos Nunca São para as Ocasiões - Ux Amigux Nüca Säu para ax Ocaziöix



Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

Ux amigux nüca säu para ax ocaziöix. Säu para sëpre. A idaia utilitária da amizáde, comu ëtreajuda, prötu-sucorru mútuu, tróca de favorex, depózitu de cöfiäsa, sosiedáde de dezabáfux, méte noju. A amizáde é puru prazer. Näu se póde cötaminár cö favorex i ajudax, laia-se dívidax. Péde-se, dá-se, recébe-se, excése-se i näu se fála maix nisu.


A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito.

A decadësia da amizáde ëtre nóx déve-se á ïxtrumëtalizasäu qe täi vïdu a sufrêr. Träxfurmou-se numa expésie de masonaria, uma sëtral de cunhax, palavrinhax, cüplicidádex i cöpadriux. É por iso ce ax amizádex se fázëi i dexfázëi comu se fosäi lásux pulíticux ou comersiaix. Se álgëi «fálta» ou «näu correxpöde», se näu cüpre ax obrigasöix cötratuaix, é lógu cödenádu comu «máu» amigu i sumáriamëte pruxcritu.


Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.

Extá tudu doidu. Só uma mizéria déxtax obriga a dizêr u óbviu: ux amigux säu ax pesoax de ce nóx guxtamux i cö cäie extamux de vêx ëi cuädu. Pudemux näi secér dármu-nux muitu, ou bäi, cö élax. Ou guxtár máix délax du ce élax de nóx. Näu ïterésa. A amizáde é ü goxtu êgoíxta, ou inevitabilidade, u caminhu de ü curasäu äi róda-livre.


Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.
A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.

Ux amigux täiäi de sêr inútaix. Ixtu é, baxtáräi só pur êzixtir i, maravilhózamëte, sobráräi-nux na álma só pur cäi i comu säu. U purcê, u öde i u cuädu näu ïterésäu. A amizade näu täi pötu de partida, näi percursu, näi objétivu. É ïpusívél lëbrármu-nux de comu é ce nux turnámux amigux de álgëi ou pësármux nu futuru ce vamux têr. A glória da amizade é sêr apênax presëte. É pur isu ce dura para sëpre; purce näu cötäi expétativax näi planux näi äsiedáde.