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segunda-feira, novembro 06, 2017

Quadratura do Círculo [19-10-2017] - Pacheco Pereira: “Eu quero saber o que é que criou 500 fogos [no dia 15 de Outubro] naqueles concelhos.”

Quadratura do Círculo [19-10-2017] - Pacheco Pereira: "Eu, por exemplo, gostava de saber, gostava que fosse feito um inquérito ao que aconteceu nestes dias. Porque há cada vez mais uma tese conspirativa sobre os fogos… Eu não estou certo de que essa tese conspirativa de alguma maneira tenha sentido, mas gostava de saber mais sobre o que aconteceu. Porque, há aqui também um aspecto que não está esclarecido… Eu quero saber o que é que criou 500 fogos naqueles concelhos." [46:27 m – 49:00 m]




http://sicnoticias.sapo.pt/programas/quadratura/2017-10-20-Quadratura-do-Circulo-19-10-2017

quarta-feira, junho 12, 2013

Pacheco Pereira - É porque o Governo quer esconder as diferenças inaceitáveis que assume agora uma espécie de igualitarismo para os imbecis





"Eles" (os funcionários públicos) são uma parte de "nós"

José Pacheco Pereira - Jornal Público


Se há um princípio cívico de moralidade, o que está a acontecer aos funcionários públicos deveria fazer soar todos os sinais de alarme.

O que se passa na actual ofensiva do Governo contra a função pública está muito para além da condição de se ser "funcionário público". O discurso do Governo — mais uma vez um discurso de divisão entre os portugueses, a que chamei e chamo "guerra civil" — pretende legitimar as suas acções como tendo a ver com aquilo que apresenta como "privilégios" dessa condição profissional. Os corolários são sempre os mesmos; está-se a atacar privilegiados, cujos privilégios são pagos pelos dinheiros dos contribuintes, em nome da "equidade". Se temos impostos altos é porque esta gente "do Estado" tem o emprego garantido, ganha mais do que os trabalhadores do sector privado, tem maiores reformas. Tudo em parte verdade, tudo em absoluto mentira.

Este discurso colhe, porque as sementes da cizânia pegam sempre em momentos de empobrecimento, em que a mais fácil das cegueiras é olhar para o lado e ver que o vizinho tem mais uns tostões do que eu e ficar fixado nessa socialização da inveja entre os de baixo, muito próximos em condição e dificuldades, em vez de olhar para outro lado, para o lado de onde vem a minha miséria e a do meu vizinho. Para o lado de cima.

O que se passa com a função pública é relevante para todos nós, como método, como sinal, e, infelizmente, como imoralidade social, rompendo um contrato social que é suposto ser o tecido da nossa sociedade em democracia, em que existem diferenças e diferenciações aceitáveis e outras inaceitáveis. É porque o Governo quer esconder as inaceitáveis que assume agora uma espécie de igualitarismo para os imbecis, proclamando-se de uma rasoira igualitária que serve para violar contratos e garantias, direitos e condições, em nome de um "dinheiro" que não há nestes casos e que parece haver sempre nos outros. Alguém disse esta semana, e bem, que nunca ouviu o Governo responder que "não havia dinheiro" para as PPP, nem para os contratos swap, nem para a banca, só para os trabalhadores e para os reformados.

É por isso que o que o Governo está a fazer aos funcionários públicos tem um significado social muito mais vasto do que as peculiaridades do seu estatuto social e profissional. E o invólucro de uma pseudo-"reforma do Estado" é apenas a expressão orwelliana para mais um corte cego nos serviços públicos, sem nexo, sem consistência, nem sustentação, sem sequer corresponder a qualquer poupança estrutural, porque os custos das coisas mal feitas são muito maiores do que a poupança orçamental obtida a curto prazo.

Um dos aspectos mais inaceitáveis deste processo é o grau de dolo e fraude em que ele é feito. Repito-me, mas este é um dos aspectos mais repulsivos da actual governação. Todos os governantes juraram várias vezes, há dois anos, e há dois meses, que nunca haveria despedimentos na função pública, nunca haveria "mobilidade especial" para os professores, e que apenas quem quiser sair teria abertas as portas a "rescisões amigáveis". O que ofende mais a consciência comum é que as mesmas pessoas que usaram o "nunca", várias vezes e em contextos que não permitiam a ambiguidade, estão hoje na vanguarda de piruetas verbais mais obscenas para se desdizerem, parecendo aliás muito pouco preocupados com o valor da sua palavra.

Quando se justificaram, no passado próximo, muitas medidas de cortes salariais na função pública com o argumento de que podiam ser mais gravosas para os funcionários públicos, visto que eles tinham "a garantia do emprego", o que se estava a fazer era mentir a todos, como método de actuação. O mesmo dolo foi a "mobilidade especial" e agora a "requalificação" que não são mais do que classificações enganosas em burocratês para os despedimentos. O despedimento de funcionários públicos estava inscrito no código genético desta governação desde o primeiro dia. Escrevi-o na altura com absoluta certeza de que iria ser assim. E foi.

Tudo isto nos diz respeito, funcionários ou trabalhadores do sector privado, porque ninguém tenha dúvidas de que se o Governo pudesse fazer a todos os trabalhadores portugueses o mesmo que está a fazer aos funcionários públicos, fá-lo-ia sem hesitar. Se, por despacho ou lei ordinária, em muitos casos sem sequer ir à Assembleia da República, fosse possível aumentar o horário de trabalho, permitir despedimentos discricionários por decisão unilateral do patrão ou do capataz, individuais e colectivos, sem qualquer enquadramento legal que proteja a parte mais fraca, nem simulacros de leis laborais seriam precisas.

E tudo isto nos diz respeito, porque é o medo o lubrificante do discurso de guerra civil do Governo. Sim, o medo das pessoas normais, que sabem que ninguém as defende, que não confiam na força dos sindicatos, que sabem que o silêncio cúmplice de Seguro não destoa dos actos de Passos Coelho, que sabem que se escorregarem ainda mais no plano inclinado da pobreza, cujo grande salto é o despedimento, terão uma vida infernal, difícil e envergonhada. E por isso hesitam, temem, retraem-se, têm a ilusão de que podem passar despercebidos ao olhar do chefe que vai escolher quem vai para a "mobilidade especial", ou para a "requalificação", ou seja, quem vai ser despedido.

A razão pela qual o povo português parece ser mais "paciente" resulta muito simplesmente de que muitos têm medo de perder ainda mais do que o que já estão a perder. E como o discurso da divisão deixa cada um sozinho na sua fábrica, na sua escola, na sua repartição, o medo ainda é eficaz. Mas o medo é destrutivo da sociedade e da democracia, e dá saída apenas para o desespero, o momento em que as pessoas percebem que já não há mais a perder. E nessa altura o seu desespero não se verá em manifestações da CGTP ou dos "indignados".

Soares apelou às esquerdas, mas com idêntico impulso crítico podia-se apelar às direitas, no mesmo sentido de acção contra este Governo. Quem tiver um mínimo senso patriótico e nacional, mesmo aceitando-se o lugar-comum de que é à direita que esse sentimento de patriotismo é mais agudo, não pode deixar de se preocupar e muito com a obra de destruição de Portugal e do tecido que uniu até hoje os portugueses.

O enorme falhanço da esquerda e da direita está em querer traduzir numa linguagem estereotipada e sectária uma realidade de devastação que em muito ultrapassa o discurso político tradicional. Os partidos políticos que assentam em termos programáticos numa ideia de cidadania (como o PS) ou de "pessoa humana" (como o PSD e o CDS) estariam à partida vocacionados para, pelo menos, compreender o que se está a passar e travar esta forma miserável de luta de uns contra os outros que não ousa dizer o nome, mas que é muito parecida com a "luta de classes". Mas cada um ao seu modo, nas suas lideranças, traiu os seus programas e, por isso, está a estragar Portugal e a democracia.

Não é irrelevante o que se está a passar, para quem seja "justo", para quem não seja indiferente ao tónus moral e cívico de uma sociedade, com todos os piores instintos a ser despertados e alimentados, para garantir um terreno favorável a um projecto de engenharia política que hoje está em decadência, mas que envenena a terra em que está a apodrecer. Se há um princípio cívico de moralidade — e é um cínico e um relutante defensor de argumentos morais em política que escreve isto — o que está a acontecer aos funcionários públicos deveria fazer soar todos os sinais de alarme.

Face a esta situação, precisávamos de gente como Thomas Paine que nos ensinasse que a "moderação no Bem" não é uma coisa boa. E que se a "moderação no temperamento é sempre uma virtude, a moderação nos princípios é sempre um vício". Há momentos em que é precisa esta intransigência.


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Let’s do it, before he and his government destroy us

segunda-feira, maio 19, 2008

Pacheco Pereira - A relevância do Terrorismo na imensa irrelevância mediática



Ut humiliter opinor

Pacheco Pereira: «Algures, perto de si, acabará por explodir uma bomba, flutuar uma doença, fluir um veneno


Excerto de um artigo de José Pacheco Pereira no Blogue Abrupto e no jornal Público - 17 de Maio de 2008:

FUTEBOL, FUTEBOL,
FUTEBOL
, FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, FUTEBOL, ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, FUTEBOL, FUTEBOL, DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, FUTEBOL, OS PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, FUTEBOL, TENHO UM CANCRO - TIVE UM CANCRO - VOU TER UM CANCRO, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL
.

«Este título podia continuar por todas as páginas do Público. Se o Público fosse feito como um "noticiário" televisivo, o que felizmente não é, todas as suas páginas seriam variantes disto, com mais de mil futebóis e mais crimes, doenças e acidentes. Na página 15, haveria uma pequena coluna com os números trágicos da nossa economia; na página 24, uma faixa minúscula, como a publicidade mais barata, num fundo de página, diria que morreram na China 50.000 pessoas num terramoto; na página 40, perdida numa notícia de página inteira de um treino do Vitória de Guimarães (…)»

«(…) O sítio do noticiário político são os programas de humor, o sítio de "sociedade" são os programas da manhã e os do jet set, o sítio da economia é o Preço Certo (…).»

«(…) [Isto] É um sinal de descontrolo cívico, de atraso político e social, de retrocesso da nossa democracia e da nossa vida pública. Não é só na economia que estamos a andar par atrás, é na cabeça. A cultura da irrelevância está a crescer exponencialmente e todos já esperam que o mesmo aconteça nos próximos meses, em que mais uma vez o país vai parar porque há um Campeonato.»

«(…) Mas não é só as vezes em que directos do futebol são o telejornal, é que durante três, quatro dias não nos conseguimos ver livres daquilo. Até aparecer outro directo mais saboroso, temos que assistir a "noticiários" que repetem ad nauseam as mesmas imagens, as mesmas declarações, seguidas por milhões de palavras "escalpelizando" os "factos", em tudo o que é programa de actualidade pela noite fora. O circo está montado na nossa cabeça e nele fazemos o papel do urso amestrado ou dos macaquinhos. Nem sequer o do palhaço pobre.»

«Mas não é só o futebol, é tudo o resto. É o mundo das telenovelas, com o seu sangue, suor e lágrimas, transformado em "casos", o caso Maddie, uma coisa abstracta e virtual, sem corpo real, já sem a violência do crime, já transformado numa soap opera de plástico, o caso Esmeralda, uma competição absurda à volta de uma menina imaterial, tão abstracta e morta na virtualidade como a "pequena Maddie" (…)»

«A cultura da irrelevância está impante como nunca, espectáculo e pathos brilham no sítio que anteriormente ainda era frequentado, de vez em quando, pela razão, pelo bom senso, pela virtude. Esta é, obviamente, a melhor comunicação social, a melhor televisão para os governos, e o actual cuida bem que não lhe falte dinheiro para as suas quinhentas horas de futebol. Compreende-se: a bola não pensa, é para ser chutada



Queixa-se, com razão, Pacheco Pereira, da total irrelevância da "informação" que nos é facultada pelos media: Futebol, a pequena Esmeralda, Futebol, fumei no avião, Futebol, a pequena Maddie, Futebol, acidente na A1, Futebol, Futebol e Futebol.

Mas, nesta lista, Pacheco esquece um tópico recente que nos tem sido martelado até à medula nos últimos sete anos: o Terrorismo. Eis as parangonas diárias nos jornais e televisões:

«20 Jan 2008 ... José Sócrates admite que ameaça terrorista é para levar a sério».

«A Comissão Executiva da União Europeia aconselhou o aumento do controle nos aeroportos, após o alarme de atentados terroristas em voos entre a Inglaterra».

«As autoridades suíças e austríacas estão sob alerta perante a ameaça de eventuais atentados terroristas durante o Euro 2008».

«11 Jan 2008 ... Os controladores aéreos portugueses interceptaram uma conversa onde foi detectada uma ameaça terrorista contra a Torre Eiffel».

«09 de Fevereiro de 2007 - Portimão debate impacto da ameaça terrorista no turismo».

Et Cetera...


Embora Pacheco Pereira tenha cuidadosamente evitado referir a lavagem cerebral «terrorista», que é diariamente notícia de primeira página dos jornais e televisões, Pacheco abraça-a com paixão e martela-a com o mesmo entusiasmo de um jornalista imberme ao escrever um artigo de página inteira sobre um treino do Vitória de Guimarães.

Excerto de um texto de Pacheco Pereira sobre a ameaça terrorista no seu blogue Abrupto - 15/7/2005:

«Algures, perto de si, acabará por explodir uma bomba, flutuar uma doença, fluir um veneno

«É por isso que não basta bater no peito e dizer que “somos todos londrinos” e na volta da esquina já estar a discutir as tenebrosas propostas do Sr. Blair para limitar direitos de privacidade das mensagens porque isso facilita a vida aos terroristas. Na volta da memória, escarnecer o Patriot Act, essa “fascização da América” como já lhe ouvi falar, atacada por tudo que é burocracia bruxelense e suas extensões nacionais, como se, sobre a dupla pressão dos autocarros que explodem, e da insegurança popular, não se tenha também que ir por aí, com a prudência e as cautelas que as democracias têm que ter por tal caminho.»

«É também por isso que poucas vezes como nos dias de hoje se vê o grau de demissão do pensamento ocidental como nestes momentos. Mário Soares é entre nós o principal “justificador”, introduzindo com displicência, dele, e complacência de muitos, todos os temas dessa culpa auto-punitiva e demissionista.»

«As únicas explicações que me interessavam, as únicas “causas” que eu queria perceber, eram aquelas que me permitiam derrotá-lo funcionalmente, as que eram instrumentais para acabar com ele e com os seus

«É importante perceber que, mesmo nas questões onde o meu pensamento lhe admitia “razão”, essa razão só pode ser defrontada depois da eliminação dele - válido para Hitler, ou Estaline, ou Bin Laden.»

«Voltemos à questão da guerra. Eu bem sei que há quem ache que não está em guerra, e que a expressão “guerra” para caracterizar o que se está passar é enganadora. Talvez valha a pena discutir a terminologia, porque ela tem claras desadequações, como aliás, o quadro legal no direito internacional da guerra, para defrontar este tipo de combate. Mas a mim não me choca chamar guerra a um conflito que tem as características de ser global, da Indonésia, à Índia, á China, às antigas republicas soviéticas da Ásia Central, da Europa toda, aos EUA, que tem objectivos “não negociáveis” por incompatibilidade total de visões do mundo culturais e civilizacionais

«Acima de tudo, não compreendo porque razão um terrorismo apocalíptico, que tenta por todos os meios ter as armas mais pesadas, nucleares, químicas e bacteriológicas, para garantir o seu Armagedão sacrificial, que tem como objectivo a guerra total, ou seja a aniquilação de milhões dos seus adversários, haja os meios para isso, não tem que ser combatido com tudo o que tenho à mão: tropas, polícias, agentes de informações, à dentada diria um velho inglês da Home Guard, daqueles que esperava a invasão da sua ilha e achava que sempre podia levar um “boche” consigo. E aí o “não se limpam armas”, é de um simplicidade brutal. Ou nós ou eles


O que Pacheco Pereira critica na cultura da irrelevância jornalística, não critica na cultura da propaganda. E esta propaganda, arquitectada para justificar guerras genocidas pelo controlo do petróleo e coarctar direitos civis, é infinitamente mais maligna do que uma entrevista de três páginas ao treinador do Trofense. Porque, na realidade, os títulos dos nossos meios de comunicação assemelham-se mais a isto:

FUTEBOL, TERRORISMO,
FUTEBOL, FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, AMEAÇA TERRORISTA, ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, BIN LADEN, FUTEBOL, DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, AL ZAWIRI, OS PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, ATENTADO TERRORISTA, TENHO UM CANCRO - TIVE UM CANCRO - VOU TER UM CANCRO, FUTEBOL, BOMBISTA SUICIDA, FUTEBOL, ISLAMOFASCISMO, FUTEBOL, TERRORISMO
.


É compreensível. Para Pacheco o terrorismo não é para ser pensado, é para ser entranhado. Nem que seja «à dentada»!
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quarta-feira, abril 02, 2008

Iraque - a incorrigível ingenuidade de Pacheco Pereira



Miguel Sousa Tavares - Expresso 29/3/2008

Reescrevendo a história

Faz hoje oito dias, José Pacheco Pereira escreveu no ‘Público’ o primeiro de dois anunciados artigos onde procede à sua defesa, do director do ‘Público’ e de outros mais que caíram na esparrela montada pela Administração Bush no Iraque, cinco anos atrás. Por causa da amizade e admiração que sempre tive pelo José Pacheco Pereira, não vou deixar em claro aquilo que chega a ser uma indecente alteração das coisas e um notável exercício de transferência de responsabilidades autorais. Servido pelo seu habitual brilhantismo, o veredicto que ele extrai é capaz de impressionar esquecidas gentes: eles, os defensores da invasão do Iraque pelos «marines», são perseguidos, por “delito de opinião”, por uma “pequena turba, alimentada pelo silêncio de muitos” que exige contra aqueles “punição, censura, opróbio, confissão pública de crime”. E é a essa maioria silenciosa que Pacheco Pereira apela para que percebam que os que não viram na invasão do Iraque um momento empolgante da luta pela liberdade é porque foram movidos “pelo antiamericanismo militante, por razões puramente ideológicas e, acima de tudo, por uma ignorância militante” que os leva a achar que “os factos contam pouco” e são facilmente substituídos por “meias verdades e muitas falsidades”. Comecemos então pelos factos e pelas verdades indesmentíveis e passemos depois à ignorância.

Os factos são que, a seguir ao Vietname, o Iraque é já a segunda guerra mais longa de todo o longo cadastro de guerras travadas pelos Estados Unidos no estrangeiro, e não se vê o fim para ela - pela razão simples e elementar de que não se sabe e nunca se soube qual era o fim pretendido para a guerra, fora os pretextos inventados e fabricados para a desencadear. Facto é que morreram já quatro mil americanos e 200.000 civis no Iraque. Facto é que a economia do Iraque está arruinada e que o país produz hoje 20% da sua capacidade extractiva de petróleo, o que contribuiu para que o preço do barril de crude passasse em cinco anos de 35 para mais de cem dólares. Facto é que, apesar do derrube da ditadura de Saddam e da realização de eleições vagamente democráticas (as primeiras e provavelmente últimas por muitos e bons anos), o Iraque não consegue estabelecer um poder civil credível e capaz e é virtualmente ingovernável - no dia em que os americanos se retirarem, o Irão abocanhará a parte xiita, a Turquia a parte curda e o resto do país será resolvido pelas armas entre as três etnias principais. Nem Pacheco Pereira é capaz de dizer o que podem os Estados Unidos fazer agora no Iraque.

Ora, isto aconteceu justamente devido à ignorância e à ganância. A ganância dos que forneceram e armaram os destruidores do Iraque e dos que vieram atrás para a “reconstrução” - empresas como a General Dynamics, a Grumman, a McDonnell/Douglas, a Halliburton, etc., cujos lucros dispararam entre 50 a 200% desde que a guerra começou. E a total ignorância de um «comander-in-chief» (George W. Bush), célebre, entre outras coisas, por julgar que o Kosovo ficava na Ásia e que o Brasil não tinha negros. Não deixa de ser surpreendente que alguém tão preocupado com a manipulação das informações e da opinião pública, como Pacheco Pereira, não tenha tido a serenidade de espírito suficiente para perceber a operação de manipulação montada por Bush - e que não era assim tão difícil de perceber. Basta conhecer um pouco da forma como funciona o marketing político americano e de como se forma uma opinião pública movida por raciocínios maniqueístas primários, para entender qual a íntima razão que levou Bush para o Iraque: porque ele queria absolutamente comprar uma guerra, uma guerra que lhe desse a ele, falhado em tudo - na carreira académica, militar e nos negócios - a vaidade de poder proclamar “sou um Presidente em guerra”. E, nessas coisas, os americanos obedecem cegamente a uma regra de patriotismo idiota: “pelo meu país, com razão ou sem ela”. Basta que um Presidente se anuncie em guerra para que todos cerrem fileiras atrás, mesmo que o seu gesto mais corajoso seja o de aparecer de surpresa às tropas em guerra no «Thank’s giving», carregando ao alto um peru de doze quilos… que depois se descobre ser de plástico.

Claro que pessoas que embarcaram nisto, como Pacheco Pereira, podem sempre usar o eterno argumento do “não sabíamos”. Não sabiam que para justificar a «casus belli», Bush e Blair chegaram ao despudor de fabricar supostas provas de que Saddam apoiava a Al-Qaeda e escondia um poderoso arsenal de armas de destruição maciça... Bem, alguns não saberiam, outros talvez: Durão Barroso jurou ter visto “provas” das armas de Saddam, mas a prova de que não viu provas é que as armas não existiam - logo, ou se deixou enganar como um papalvo ou mentiu quando disse isso. Mas Pacheco Pereira deixou-se enganar porquê? Porque quis. Talvez por americanismo primário militante.

Quando Colin Powell mostrou na reunião decisiva do Conselho de Segurança fotografias e documentos que atestariam a construção de depósitos de armas nucleares e químicas no Iraque e a presença de elementos da Al-Qaeda, Dominique de Villepin, então ministro dos Estrangeiros da França, respondeu-lhe tranquilamente que essas “provas” eram velhas e tinham já sido cabalmente denunciadas como “falsificação grosseira”. E Powell calou-se, incomodado (mais tarde veio dizer que também ele fora enganado pela Casa Branca e pelo Pentágono). E quando El Baradei, presidente da Agência Internacional de Energia Nuclear, e Hans Blix, encarregado da ONU para o desarmamento do Iraque, vieram dizer que não tinham encontrado nada e precisavam de mais umas semanas para confirmar se existiam ou não armas e, mesmo assim, Bush forçou a invasão sem esperar, sem mandato da ONU e sem apoio dos Aliados, à excepção de Blair, Barroso, Berlusconi e Aznar, Pacheco Pereira também não desconfiou de nada? A guerra era assim tão urgente que não podia esperar duas ou três semanas?

Tudo isto tem a importância que tem e que se lhe quiser atribuir. Eu não atribuo uma importância por aí além ao facto de ter feito parte da “pequena turba” que a tempo previu o desastre que se preparava no Iraque. Mas, já que José Pacheco Pereira parece viver tão incomodado com o seu erro de análise ao ponto de pretender reescrever a história, então convém lembrar que o mundo é hoje infinitamente pior do que era antes da invasão do Iraque e por causa dela; que o terrorismo islâmico é hoje uma causa alimentada pela invasão do Iraque e com muitos mais militantes; que a razão profunda para tal - a questão palestiniana - está agora muito mais longe de uma solução do que então; que morreram 200.000 iraquianos e quatro mil soldados americanos convocados pelo seu Presidente para combater uma ameaça que ele sabia não existir; e que tão cedo nenhuma opinião pública estará disposta a ver morrer soldados para enfrentar uma outra ameaça, essa sim real.

Deus me livre de querer a ‘punição’ ou a ‘censura’ de Pacheco Pereira. Mas, já que fala nisso, também não acho que aqueles que, fazendo opinião, ajudam a formar as dos outros, possam passar por cima de tudo o que escrevem com a insustentável leveza de apostar sempre na falta de memória alheia. E, se bem me lembro, já são várias as vezes que José Pacheco Pereira embarca nos grandes embustes planetários: o «bug» do milénio, o terrorismo do antrax, as armas do Saddam e a “pandemia” da gripe das aves. Caramba, Zé! Que o mundo vai acabar, vai. Mas a seu tempo.



Comentário (no Resistir.info - por Michel Chossudovsky):

Os planeadores militares do Pentágono estão agudamente conscientes do papel central da propaganda de guerra. Engendrada pelo Pentágono, pelo Departamento de Estado e pela CIA, já foi lançada uma Campanha de medo e desinformação (CMD) [fear and disinformation campaign (FDC)] . A grosseira distorção da verdade e a sistemática manipulação de todas as fontes de informação constituem uma parte integral do planeamento de guerra.

Um certo número de agências governamentais e unidades de inteligência — com ligações ao Pentágono — estão envolvidas em várias componentes da campanha de propaganda. As realidades são viradas de cabeça para baixo. Actos de guerra são apregoados como "intervenções humanitárias" destinados a uma "mudança de regime" e à "restauração da democracia".

A componente mais poderosa da Campanha de Medo e Desinformação (FDI) fica com a CIA, a qual secretamente subsidia autores, jornalistas e medias críticos por meio de uma teia de fundações privadas e organizações de frente patrocinadas pela CIA.

Iniciativas de desinformação encoberta, sob os auspícios da CIA, também são canalizadas através de vários "procuradores" (proxies) de inteligência em outros países. Desde o 11 de Setembro elas resultaram em disseminação diária de informação falsa referente a alegados "ataques terroristas". Em virtualmente todos os casos relatados (na Grã Bretanha, França, Indonésia, Índia, Filipinas, etc) dizem que os "supostos grupos terroristas" têm "ligações ao Al Qaeda de Osama bin Laden", sem naturalmente admitir o facto (amplamente documentado por relatórios de inteligência e documentos oficiais) que a Al-Qaeda é uma criação da CIA.