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Há muito chulo que trabalha 8, 10, 12 ou mais horas por dia, e que tem sob as suas ordens um grupo de «colaboradores» a quem paga salários miseráveis. Estes dinâmicos empresários, não obstante a sua elevada capacidade de trabalho, acumulam enormes fortunas assente em trabalho semi-escravo de muita e boa gente. Estes ditos empresários, embora não se possa dizer que vivam à custa de meretrizes "protegidas", não passam também de imundos e ignóbeis "pimps"!
Alexandre Soares dos Santos
Vem este intróito a propósito de Alexandre Soares dos Santos, presidente e principal accionista do Grupo Jerónimo Martins (a que pertence o Pingo Doce).
Em Março 2011 a Forbes anunciou que Alexandre Soares Santos era o segundo português mais rico, valendo 2,3 mil milhões de dólares (1,65 mil milhões de euros).
Os principais accionistas do Grupo Jerónimo Martins são a Sociedade Francisco Manuel dos Santos, a Asteck. S.A, a Carmignac Gestion (Gestão de activos financeiros), a Freffloat, a Ameriprise Financial, a Julius Baer Inv. Management e, já tinha sido o BPP. Tudo entidades profundamente ligadas à Grande Finança, como seria de esperar.
E Alexandre Soares Santos tornou-se o segundo português mais rico, valendo 2,3 mil milhões de dólares porque, entre outras coisas, como afirmou Antónia Figueiredo, presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares (OMAIAA), nas frutas e nos hortícolas, "a grande distribuição encaixa 70 a 80% do valor do preço final".
Em suma, as grandes distribuidoras esmagam os preços nos produtores, com a consequente diminuição dos salários das pessoas que aí trabalham, e pagam uma miséria aos funcionários dos super e hipermercados, encaixando, de longe, a maior parte da fatia do bolo. Ao fazê-lo, criam dois tipos de escravatura – a montante (na produção) e a jusante (nas lojas).
A escravatura a jusante
Há dias, fui ao Pingo Doce comprar alguns artigos e quando ia pagar, perguntei à caixa se lhe podia fazer uma pergunta um pouco indiscreta. Ela, hesitante, respondeu-me que sim. Perguntei-lhe quanto é que ganhava:
- Um pouco mais do que o ordenado mínimo – respondeu ela.
- Mas quanto, ao certo? – perguntei eu.
- 520 Euros – disse-me ela.
- Eu estou a perguntar-lhe isto porque ontem ouvi na televisão o seu patrão a deitar postas de pescada sobre o benemérito que ele tem sido para os seus funcionários.
A mulher da caixa, a rodar os trinta anos, sorriu com ar acanhado.
A escravatura a montante
Na Luminária:
Pierre Priolet, fruticultor, que se tornou porta-voz dos produtores franceses de frutos e legumes que não conseguem viver das suas colheitas, há vinte anos tornou-se produtor de maçãs e peras. Primeiro empresário, depois simples agricultor, enquanto poda as suas árvores interroga-se: como explicar que ele venda um quilo de maçãs a 17 cêntimos, ao passo que os consumidores o compram entre 1,70 e 3 euros? Em 2009, após ter vendido a sua fruta, faltavam-lhe 15 mil euros para remunerar os que as tinham colhido.
O mesmo princípio pode aplicar-se a outras produções agrícolas e não agrícolas, a outros sectores produtores da economia, tornando esta mais 'real', mais próxima das verdadeiras necessidades das populações, com menos custos/margens de intermediação e muito menos especulação.
- Será que as grandes superfícies (cadeias de distribuição) não estiveram/estão a incentivar a produção e 'fidelização' dos pequenos e médios empresários (fruticultores, horticultores, vitivinicultores, pecuários, 'leiteiros', pescadores, ...) com contratos e apoios que, ao fim de alguns poucos anos, os 'esmagam' com preços demasiado baixos e os levam à ruína, à venda das suas propriedades/empresas, ou sua total dependência (subordinação hiper-exploradora) às cadeias de distribuição (e/ou aos bancos)... ?!
No Jornal de Leiria:
Nos pomares de pêra rocha do Oeste já se vive a agitação da apanha do fruto, cuja produção deverá este ano atingir as 200 mil toneladas. Ultrapassada a fase de produção, os agricultores confrontam-se agora com a necessidade de escoar o produto. Dizem que nem sempre é fácil negociar com as grandes superfícies, que exigem grande qualidade mas pagam preços baixos. Apesar disso, entre o pomar e o consumidor o preço da fruta muitas vezes triplica.
O gerente da Fruticordeiro revela, por exemplo, que a fruta que vendia a 50 cêntimos o quilo era depois colocada nas lojas com "mais 50% ou 60%" sobre esse valor. Mas os produtores "não podem fazer nada [quanto a isto], porque têm de escoar o produto, não o podem guardar". O agricultor lamenta que haja a ideia de que os produtores ganham muito dinheiro. "De facto a fruta está cara nas lojas, mas não são os produtores que ganham. A maior fatia fica no comércio", sustenta.
Telmo Prezado, produtor do Oeste, em recentes declarações à SIC, disse que um quilo de pêra rocha vendido pelo produtor entre 50 e 90 cêntimos, dependendo do calibre, "está nas lojas a 1,60 ou 1,80 euros". A fruta "chega sempre à mesa quatro vezes mais cara do que sai do pomar".
"A grande distribuição aposta numa política de preços baixos que não ajuda os produtores a cobrir os custos de produção, esmaga as margens e desincentiva o investimento na agricultura", disse ao Diário Económico Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-alimentares.
Filipe Ribeiro, sócio da Carsag, frisa: "O grande problema é a concentração que se tem operado na distribuição". "Quem está muito dependente das grandes superfícies acaba por ficar nas mãos delas. Têm formas de pressionar o produtor a baixar os preços, não fazendo encomendas ou impondo outros ‘castigos’, o que dificulta bastante a relação". Ou então, “importam produto para criar excesso de oferta no mercado, o que faz baixar os preços".
Filipe Ribeiro entende que as cadeias de distribuição têm uma grande margem de lucro em muitos dos produtos agrícolas que vendem e estranha que apresentem como chamariz abacaxi ou banana importada a menos de um euro, quando vendem fruta da época produzida em Portugal a valores na casa de 1,5 euros ou mais. "Isto prejudica o produtor e é um contra-senso." Diz ainda que nas cadeias de distribuição "o que conta é o lucro imediato, o que não é compatível com a sustentabilidade". Entende, por isso, que o consumidor tem também um papel importante a desempenhar para que as coisas mudem.
Jorge Soares, em declarações ao Público, fala em "oligo-poderes" que "espartilham" os produtores, apontando o dedo à banca, ao sector energético e à distribuição. Os três "atingiram uma posição assustadora que violenta a relação com os produtores. Sobretudo a distribuição tem um peso excessivo contra o qual nós nada podemos. São eles que ditam os preços", diz o presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, lembrando que em 1992 havia 15 insígnias no mercado e que hoje há apenas cinco.
No Expresso:
O produtor de batata está a receber entre cinco e sete cêntimos por cada quilo vendido. No entanto, na prateleira do supermercado o consumidor pode ter de gastar entre 50 e 60 cêntimos por cada quilo daquele produto alimentar. Ou seja, dez vezes mais.
Este é apenas um exemplo, mas a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) garante que no vinho acontece exactamente o mesmo: "O produtor recebe 40 cêntimos por litro e depois é vendido a quatro euros no restaurante". E a CNA dá ainda o exemplo do arroz, cujo quilo é pago a 40 cêntimos ao agricultor mas que, no supermercado, atinge os 80 cêntimos. O leite era pago a 45 cêntimos por litro ao produtor, em 2008, "mas agora este recebe apenas 20 a 27 cêntimos pela mesma quantidade".
João Dinis, da direcção nacional da CNA, diz que mais que falta de transparência "há claramente manipulação de preços e cartelização por parte da grande distribuição. Só assim se explicam as grandes diferenças entre o que é pago ao agricultor e o que é apresentado ao consumidor".
Maria Antónia Figueiredo, presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares (OMAIAA), lembra que várias grandes empresas de distribuição têm contratos directos com clubes de produtores, como por exemplo a Sonae, grupo a que pertence o presidente da APED. E frisa ainda que, nas frutas e nos hortícolas, "a grande distribuição encaixa 70 a 80% do valor do preço final".
Na SIC Notícias de 9/9/2011, Alexandre Soares dos Santos explicou em tom paternalista, aos portugueses, o que há a fazer para sair da crise. Afirmou, em suma:
1 – Honrar os nossos compromissos com os nossos credores [agiotas financeiros internacionais], FMIs e quejandos.
2 – Fazer compreender aos portugueses que têm de trabalhar mais.
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