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sexta-feira, março 18, 2011

Há alguma coisa que distinga a Democracia Representativa do fascismo, do comunismo ou de qualquer outro totalitarismo moderno?

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Assim se explica como, em Democracia Representativa, padecemos sob sequestro duma casta parasita que dirige à revelia e contra os interesses da população hospedeira que, apenas em tese, é suposto representar. Mas lá está: não têm tempo para representar as pessoas, porque estão atarefados, absorvidos, ocupadíssimos a representar a democracia. Em suma: a auto-representar-se.



Parasitas: Manual do Utilizador
para Políticos Eleitos numa Democracia Representativa



Sinais do tempo - II. A Corte do Exturquistão

Vamos supor que existe de facto, e não como mera fachada operativa de oligarquias, plutocracias e neo-feudalismos rococó. Refiro-me, obviamente, à democracia. Faz-me confusão que se faça dela uma finalidade e não o simples meio que ela efectivamente não é, mas devia ser. Como se a democracia, em vez de mera forma de regime político se transformasse, simultaneamente, em mandamento e fundamento teológico. Em que é que esta democracia, nessa singular essência, se distingue do fascismo, do comunismo ou de qualquer outro totalitarismo moderno ainda está para nascer quem consiga o milagre de me explicar. Por outras palavras: mais que uma opção, entre outras, a democracia virou superstição. Dourada de fetichismos vários: o voto, o sufrágio universal, a alternância democrática, a soberania popular. Regredimos ao nível dos animismos africanos, mas com a pompa e circunstância de ideologia religiosa.

Ora, ideologia não enche barriga; nem alma, tão pouco. Esta treta da democracia para toda a obra tresanda a supositório paliativo universal de carregar pela orelha, lembra a vaselina multi-uso ou a banha-da-cobra para massajar o papalvo: "tendes fome? Mas sois democráticos!"; "Não tendes emprego? Mas tendes democracia, que diabo!"; "O futuro desaparece pelo ralo? Mas resplandece e eleva-se no firmamento a democracia, ora essa!"; "Perdestes a independência? Mas ganhastes o parlamento!"; "falta-vos tudo isso e ainda os sonhos, mas tudo isso são acessórios; o essencial é a democracia." Tudo pela democracia, nada contra a democracia!

Porque em havendo democracia, garantem-nos a todas as horas, o resto, mais tarde ou mais cedo, há-de jorrar em cornucópia. O problema é que não há, e a que há não jorra, a não ser para o meio-milhão de super-mamíferos (ou seja, as mesmas 200 famílias do antigamente mais as centenas de arribadores de agora). A que há, para a generalidade da população, só pinga um fel intragável que, em cada dia, vem azedando mais e mais. A que há não serve ninguém, a não ser aqueles que se servem dela para reduzir o povo à servidão absoluta.

Foi um mimo ver como, mal se anunciou uma manifestação não engendrada pelos alfobres e tutores do costume, logo os gansos da situação - os Pachocos pereiras e outras rameiras canoras - desataram no alarido manhoso (e típico da agitprop onde mentalmente se cevam e vegetam) de "atentado à democracia", "conspiração contra a democracia", "ensaios protofascistas, nazis, stalinistas, nihilistas, draculianos em gestação". E tudo isto por uma razão muito simples: Porque a manifestação (como sublinhou e ressublinhou com fotorreia exaustiva à posteriori, o Pachoco) era contra a classe política e a política tripulada e açambarcada pela classe política.

Ora, este grasnar crónico nada revela da identidade da manifestação (que acabou, como se viu, por estilhaçar com todos os preconceitos e antecipações) mas estadeia em quase tudo da estirpe destes gansos profissionais. Para eles a democracia significa, em exclusivo, a classe que a exerce profissionalmente, e não a generalidade da população para quem (e em nome de quem) é exercida. E quando esta se manifesta, à revelia e contra aquela, eles malsinam que a população tem intuitos anti-democráticos. A "Democracia somos nós", é, no fundo, o que proclamam e ameaçam, lá das entranhas do seu rosnido. Estar contra eles é estar contra a democracia, porque, mais ainda que interpretá-la ou exercê-la, personificam-na. Consubstanciam-na. São a sua encarnação absoluta. Ora, este conceito solipsista de democracia não é exactamente liberal, por muito tartufo e troca-tintas que o liberalismo consiga ser, e consegue. Na verdade, a estes cucos ideológicos, o ninho liberal serve-lhes apenas como incubadora dos seus ovinhos armadilhados. A sua permanente e recorrente elitose revela bem da sua efectiva génese - a dos polipríncipes de vão de escada, das nomenklaturas recauchutadas, das vanguardas esclarecidas da classe operária, mais chinesas até que soviéticas. Basta atentarmos na extracção e proveniência de cromos hiperactivos e ubifónicos como esse tal Pachoco Pereira.

Só assim se explica como padecemos sob sequestro duma casta parasita que dirige à revelia e contra os interesses da população hospedeira que, apenas em tese, é suposto representar. Mas lá está: não têm tempo para representar as pessoas, porque estão atarefados, absorvidos, ocupadíssimos a representar a democracia. Em suma: a auto-representar-se. A fazer de conta e por conta. A mirar-se e remirar-se ao espelho, crocitando: "espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais democrata do que eu?"

Porém, enquanto tudo não passou dum esquema típico do Exturquistão - enquanto foram subtraindo apenas as contribuições, os impostos e os fundos putativamente destinados às pessoas, mais os cargos, os subsídios e os ecrãs, a cleptocracia mixordeira que se traficou por democracia puro malte foi sendo mais ou menos tolerável. Mas quando mais que a carteira, já é o futuro e os sonhos que se perpetra roubar a todo um povo, então a falcatrua, de abusiva devém assassina, e, aí, torna-se intragável, insuportável, abjecta. Mais: torna-se dever de todo o português vertebrado acabar com ela! Não com a democracia que não existe, mas com a corja de narcisos insaciáveis que se faz passar (e pagar opiparamente) por ela. Porque a democracia é uma simples forma duma sociedade se organizar, que pode funcionar melhor ou pior, ou assim-assim. Não é, de todo, e à semelhança de outros palavrões inefáveis e ultra-maquilhados (estilo Mercado, por exemplo), como nos querem fazer crer, um ídolo feroz e inescrutável que exige a submissão e o masoquismo exacerbado das humanas gentes. E não é, tão pouco, um luxo, pelo qual um povo inteiro se tenha que arruinar, suicidar e empenhar os vindouros até à sétima geração. Luxo mesmo, daqueles supinamente incomportáveis, é uma corte destas, tão descomunal, cigana e dispendiosa, para um rei-povo reduzido à indigência (mental, moral e económica) e um reino outrora soberano remetido à mendicidade!
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sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Redução do número de deputados – como arredar da Assembleia da República mamíferos da envergadura dum Sérgio Sousa Pinto ou dum Francisco Assis

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Bem pior que a violência imaginária sobre meia-dúzia de legisladrões contumazes, angustia-me e comove imensamente mais a violência real, metódica e quotidiana dessa meia-dúzia sobre milhares, e o desamparo da queda dum país e dum povo inteiros às patas dessa vil e irrecuperável corja.

Defenestração e/ou Devarandação?


Redução, não!

Não vou ao ponto de proclamar (como faz, peremptório, o meu sócio e compadre Ildefenso Caguinchas), que sou a favor da redução de deputados no palramento, de preferência a tiro. Embora, ao ponderar mamíferos da envergadura dum Sérgio Sousa Pinto ou dum Francisco Assis, a tentação seja grande. Não que sejam muito piores que qualquer um dos outros (tudo aquilo é avulso, amorfo e aleatório): são apenas mais pesporreicos e irritantes. Para falar com franqueza, até nem sou a favor da redução de deputados: penso mesmo que a defenestração seria o tratamento mais adequado. Isto, para a generalidade. Porque para os cabecilhas de bando, eufemística e pomposamente catalogados de "lideres de grupo parlamentar", entendo que devem reservar-se honras de "devarandação". O certo é que, via janela ou via varanda, há todo um excedente que urge evacuar, catapultando. Que esse excedente coincida com o plenário, isso já é detalhe onde o assombro compete com a evidência, e o estado de semi-falência das finanças públicas apenas agudiza e amplifica.

Eu sei. Algumas almas mais sensíveis e delicadas estão já, debulhadas em lágrimas, a deplorar a violência e o desamparo da queda; outros, que sempre os há calculistas e maquiavélicos nestas ocasiões, hão-de desaprovar porque assim só promoveremos os criminosos a mártires; outros ainda, os mais básicos e mentecaptos, engrenarão na ladainha do nazi, fássista e mais não sei quê, que, lá bem no fundo do armário psico-seboso, lhes preenche as titilações libidorreicas; etc, etc, bla-bla-bla.

Aos primeiros, respondo que, bem pior que esta violência imaginária sobre meia-dúzia de legisladrões contumazes, me angustia e comove imensamente mais a violência real, metódica e quotidiana dessa meia-dúzia sobre milhares, e o desamparo da queda dum país e dum povo inteiros às patas dessa vil e irrecuperável corja. Aos segundos, direi que antes fazer deles mártires do que permitir que eles continuem, ad aeterno, a martirizarem-nos a nós. Finalmente, aos terceiros, que posso eu dizer? Devolvê-los expressamente, e em passo de corrida, ao orifício matriz seria baldado e duvidoso: é inextricável que tenham saído pela frente ou por trás (embora, tendo em conta o odor do raciocínio, qualquer indivíduo adulto não constipado aposte sem hesitar na cloaca do esgoto).

Quanto ao edifício propriamente dito, não é destituído de beleza arquitectónica. O problema, nos últimos cem anos, ou coisa que o valha, tem sido a frequência. Da União Nacional à Desunião Nacinhal, a diferença é a que medeia entre o estábulo do regime e o templo da democracia. Ou dito mais lucidamente: entre a estrebaria e a casa de putas.
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sábado, janeiro 29, 2011

Um post genial de quem contrapõe à paneleirice do voto eleitoral o derrube violento dos governos

Sem paliativos

Como alguns leitores acharam por bem fazer propaganda eleitoral nas caixas de comentários, julgo necessário deixar bem claro o seguinte:

Podem os leitores degenerar nos eleitores que bem entenderem. Se votam no Humberto, no Júlio, no Francisco ou na Maria Albertina, para mim, é-me igual. Cultivo, mais até que padeço, uma urnofobia inexpugnável. Direi até que a minha urnofobia suplanta em larga escala várias outras fobias extremamente impopulares que pratico e recomendo (até por isso mesmo), como a cinefobia, a homofobia, a popfobia (nojo pela música pimba internacional), a xenofobia, a americanofobia, a Agustino-Saramago-Antunofobia (uma fobia extremamente saudável, diga-se), etc, etc.

Agustino-Saramago-Antunofobia

A minha urnofobia é de tal ordem que, assombrado, já cheguei até a interrogar-me sobre a sua nebulosa - e certamente problemática - genealogia. Após intensa pesquisa, alcancei uma quase certeza: deriva ela, a minha urnofobia avassaladora, da minha homofobia monumental. Nem mais nem menos. Eu explico. Só povos castrados e efeminados, além de imbecilizados e remetidos à escala molusca, votam. Um povo que assina de cruz, além de tudo isso, declara-se politicamente analfabeto e mais não faz que entregar-se tansamente à tutorização despótica de quadrilhas organizadas. Mas pior ainda que toda esta panóplia de infâmias e pusilanimidades é o próprio acto em si, individual, de depor o papelinho no caixote. Que uma mulher vote, acho perfeitamente normal e pacífico. É como usar saia, brincos, baton, bela cabeleira e voz coquete. Sim, isso e gemer durante a cópula, lavar pratos ou mudar fraldas. Numa mulher fica bem. Agora num homem, convenhamos, é mariquice das grandes. E não só fica mal como é repugnante. Direi mais: o sufrágio universal (que não há-de demorar muito a tornar-se obrigatório e compulsivo) é só mais um capítulo duma fobia particularmente vil, rastejante, venenosa e, esta sim, pouco recomendável: a androfobia. Ou seja, a aversão concertada e massificada à virilidade, à bravura, à coragem e, enfim, a todas aquelas virtudes que, apesar de tudo e de todas as paneleirices económicas que se conhecem e sempre minaram e parasitaram o empreendimento, ergueram a civilização.

Assim, dado que a depilação mental, a perfumadela ideológica e a manicure cívica não fazem muito o meu estilo, não só não voto, como nutro o mais profundo desprezo por quem o faz. Excepto as mulheres, naturalmente. Quer dizer, então, e em resumo, que me abstenho? Não, ó caros gastrópodes, quer dizer exactamente o contrário: quer dizer que tendo nascido dotado de testículos, não me abstenho nem me demito deles, ainda menos sob sórdidos porque contabilísticos pretextos. É certo que um dia me verei forçado a abdicar, mas, nesse trágico desenlace, tenciono descer de homem a cadáver sem escalas intermédias.

O derrube violento de (des)governos e tiranias

Para ser franco, pois, e em imperturbável coerência, declaro-me aqui - e de modo a varrer quaisquer dúvidas ou confusões nos espíritos - adepto firme e compenetrado do derrube violento de (des)governos e tiranias (sendo a pior de todas elas a da mediocridade). Pelo que aguardo, calma e serenamente, a minha oportunidade. Animam-me, junto com uma tenacidade tigrina, duas coisas: uma fé e uma esperança inquebrantáveis. Daquelas que só os emboscados conhecem, aguçam e experimentam. Como, de resto, genialmente explica mestre Jünger.

A política não devia ser um mero exercício de alívio. Em que é indistinto o alívio de quem se alivia na ranhura e o de quem se alivia nem lá indo. Dá-nos, isso, triste mas fidedigna conta do significado, tanto quanto do valor, de tal sufrágio.

Em síntese, e para finalizar duma vez por todas, não é por comodismo ou indiferença que não voto: é mesmo nojo. Tanto quanto da cabeça, é uma recusa das próprias vísceras. Não há paliativos para isto.
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