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quarta-feira, novembro 09, 2016

Como há estudos que indicam que um trauma severo, como o ter estado num campo de concentração nazi, pode ser passado geneticamente aos filhos, as indemnizações dos contribuintes alemães aos judeus ainda vão continuar por uns tempos…


Na Bíblia (Antigo Testamento - Êxodo 34:6/7) - "Deus (...) pune o crime dos pais nos filhos, e nos filhos dos seus filhos até à terceira e à quarta geração”


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Um estudo feito em sobreviventes do Holocausto descobriu que o trauma passou para os genes dos filhos

The Guardian – 21/08/2015

As mudanças genéticas decorrentes do trauma sofrido pelos sobreviventes do Holocausto são passíveis de serem transmitidas aos seus filhos, um claro sinal de que a experiência de vida de uma pessoa pode afectar as gerações subsequentes.

A conclusão de uma equipe de investigadores do hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, liderada por Rachel Yehuda, decorre do estudo genético de 32 homens e mulheres judeus que ou estiveram internados num campo de concentração nazi, ou testemunharam ou foram vítimas de tortura, ou tiveram de se esconder durante a segunda Guerra Mundial.

A equipa também analisou os genes dos filhos das vítimas, que agora se sabe terem uma probabilidade maior de apresentarem distúrbios de stress, e comparou os resultados com as famílias judias que viviam fora da Europa durante a guerra. "As mudanças de genes nas crianças só poderiam ser atribuídas à exposição dos pais ao Holocausto", disse Yehuda. [...]


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A Ciência do Sofrimento - As crianças estão a herdar o trauma dos seus pais. Poderá a ciência travar isto?

New Republic – 16/11/2014

[...] Os filhos das pessoas traumatizadas carregaram sempre dentro de si o sofrimento dos seus pais. "Durante anos o trauma esteve numa caixa de ferro tão profundamente enterrada dentro de mim que eu nunca tive exactamente a certeza do que era", eis como Helen Epstein, a filha americana de sobreviventes de Auschwitz e Theresienstadt, começa o seu livro «Crianças do Holocausto», que despoletou uma espécie de um movimento de filhos de sobreviventes, quando foi editado em 1979. "Eu sabia que trazia comigo coisas melindrosas, coisas inflamáveis, mais secretas do que sexo e mais perigosas do que qualquer sombra ou fantasma." Mas como é que ela se deu conta dessas coisas? De que forma é que as experiências de uma geração se insinuam na próxima? [...]


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Descendentes de sobreviventes do Holocausto têm as hormonas de stress alteradas

Scientific American – 1/3/2015

A experiência de uma pessoa como criança ou adolescente pode ter um impacto profundo sobre a vida de seus futuros filhos, revela uma nova investigação. Rachel Yehuda, uma investigadora no campo da epigenética e nos efeitos intergeracionais do trauma, e os seus colegas, há muito que estudam os sobreviventes de traumas massivos e os seus descendentes. Os seus últimos resultados revelam que os descendentes de pessoas que sobreviveram ao Holocausto têm perfis diferentes de hormonas de stress dos dos seus pares, predispondo-os possivelmente a transtornos de ansiedade.

A equipa de Yehuda na Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai e o Centro Médico James J. Peters para Veteranos no Bronx, NY, e outros, já haviam estabelecido que os sobreviventes do Holocausto alteraram os níveis de hormonas de stress circulantes em comparação com outros judeus adultos da mesma idade. Os sobreviventes têm níveis mais baixos de cortisol, uma hormona que ajuda o corpo a voltar ao estado normal após o trauma; aqueles que sofreram transtorno de stress pós-traumático (PTSD) têm níveis ainda mais baixos. [...]


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O International Center for Holocaust Reparations (Centro Internacional para Indemnizações do Holocausto) tem ajudado muitos sobreviventes do Holocausto em todo o mundo no exercício dos seus direitos e ajudou com sucesso muitos sobreviventes a obter o seu legítimo dinheiro. Nós empregamos advogados experientes e especialistas alemães certificados em pensões, apoiados por uma equipa de assistentes dedicados e sensíveis que fazem o seu melhor para alcançar a maior remuneração possível para o sobrevivente (ou os seus herdeiros).





(Centro Internacional para Indemnizações do Holocausto)



Pursuing Rights of Holocaust Survivors

(Em Busca dos Direitos dos Sobreviventes do Holocausto)



Are you a Holocaust survivor who was interned in a Ghetto?

(Você é um sobrevivente do Holocausto que esteve internado num Gueto?)



Are you a child of a Holocaust survivor who was interned in a Ghetto?

(Você é filho/a de um sobrevivente do Holocausto que estave internado num Gueto?)



You may be entitled to a large sum of money!

Even if you are already receiving compensation from the Claims Conference or from the German authorities, including the German Pension Insurance you may be eligible to receive additional payments.

The pension is paid even to those who were interned for a short period of time in a Ghetto (including Ghettos in Hungary, Shanghai, Sofia, Czernowitz, Transnistria and many more). The possibilities are for a one-time retroactive compensation, as well as a monthly payment from the German Social Security.


Você pode ter direito a uma grande quantidade de dinheiro!

Mesmo que já esteja a receber uma indemnização da Claims Conference (que representa os judeus do mundo em negociação para indemnizações e restituição às vítimas judaicas e aos seus herdeiros pela perseguição nazi) ou das autoridades alemãs, incluindo a German Pension Insurance, você pode ser elegível para receber pagamentos adicionais.

A pensão é paga mesmo para aqueles que foram internados durante um curto período de tempo num Gueto [incluindo Guetos na Hungria, Xangai, Sofia, Czernowitz (cidade situada entre a Roménia e a Ucrânia), Transnístria (região Moldava) e muitos mais]. As possibilidades são de uma indemnização retroactiva paga toda de uma só vez, assim como um pagamento mensal da Segurança Social alemã.


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Who is entitled to compensation?

Any individual who was interned in a Ghetto, even for a short while, may be entitled to a monthly payment as well as a one-time retroactive payment – in some instances dated back to the year 1997.

A widow(er) of a Holocaust survivor is also eligible for a pension from Germany that would have been paid to the deceased spouse, including cases in which the spouse has been deceased for many years.

This claim can be filed even if you are already receiving a monthly reparation payment from the Claims Conference or directly from Germany (BEG, German Pension Insurance or BADV).

Heirs of Ghetto survivors, who were still alive by June 27, 2002, may be entitled to a one-time payment.


Quem tem direito a indemnização?

Qualquer indivíduo que tenha estado internado num Gueto, mesmo que por um curto período de tempo, pode ter direito a um pagamento mensal, bem como um pagamento retroactivo pago todo de uma só vez – que, em alguns casos, remontam ao ano de 1997.

Um viúvo(a) de um sobrevivente do Holocausto, também é elegível para receber uma pensão da Alemanha que teria sido pago ao cônjuge falecido, incluindo os casos em que o cônjuge faleceu há muitos anos.

Este pedido pode ser apresentado mesmo se você já estiver a receber um pagamento mensal da Claims Conference ou diretamente da Alemanha (BEG, a German Pension Insurance ou BADV).

Herdeiros de sobreviventes do Gueto, que ainda estavam vivos até 27 de Junho de 2002, podem ter direito a um pagamento de uma só vez.


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Shoah - Termo hebraico que adquiriu o significado de Holocausto Judeu

terça-feira, junho 21, 2016

71 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1945), a extorsão dos judeus aos contribuintes alemães não dá sinais de abrandar…


O International Center for Holocaust Reparations (Centro Internacional para Indemnizações do Holocausto) tem ajudado muitos sobreviventes do Holocausto em todo o mundo no exercício dos seus direitos e ajudou com sucesso muitos sobreviventes a obter o seu legítimo dinheiro. Nós empregamos advogados experientes e especialistas alemães certificados em pensões, apoiados por uma equipa de assistentes dedicados e sensíveis que fazem o seu melhor para alcançar a maior remuneração possível para o sobrevivente (ou os seus herdeiros).



(Centro Internacional para Indemnizações do Holocausto)



Pursuing Rights of Holocaust Survivors

(Prosseguindo em Busca dos Direitos dos Sobreviventes do Holocausto)




Are you a Holocaust survivor who was interned in a Ghetto?

(Você é um sobrevivente do Holocausto que esteve internado num Gueto?)


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Are you a child of a Holocaust survivor who was interned in a Ghetto?

(Você é filho/a de um sobrevivente do Holocausto que estave internado num Gueto?)


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You may be entitled to a large sum of money!

Even if you are already receiving compensation from the Claims Conference or from the German authorities, including the German Pension Insurance you may be eligible to receive additional payments.

The pension is paid even to those who were interned for a short period of time in a Ghetto (including Ghettos in Hungary, Shanghai, Sofia, Czernowitz, Transnistria and many more). The possibilities are for a one-time retroactive compensation, as well as a monthly payment from the German Social Security.


Você pode ter direito a uma grande quantidade de dinheiro!

Mesmo que já esteja a receber uma indemnização da Claims Conference (que representa os judeus do mundo em negociação para indemnizações e restituição às vítimas judaicas e aos seus herdeiros pela perseguição nazi) ou das autoridades alemãs, incluindo a German Pension Insurance, você pode ser elegível para receber pagamentos adicionais.

A pensão é paga mesmo para aqueles que foram internados durante um curto período de tempo num Gueto [incluindo Guetos na Hungria, Xangai, Sofia, Czernowitz (cidade situada entre a Roménia e a Ucrânia), Transnístria (região Moldava) e muitos mais]. As possibilidades são de uma indemnização retroactiva paga toda de uma só vez, assim como um pagamento mensal da Segurança Social alemã.


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Who is entitled to compensation?

Any individual who was interned in a Ghetto, even for a short while, may be entitled to a monthly payment as well as a one-time retroactive payment – in some instances dated back to the year 1997.

A widow(er) of a Holocaust survivor is also eligible for a pension from Germany that would have been paid to the deceased spouse, including cases in which the spouse has been deceased for many years.

This claim can be filed even if you are already receiving a monthly reparation payment from the Claims Conference or directly from Germany (BEG, German Pension Insurance or BADV).

Heirs of Ghetto survivors, who were still alive by June 27, 2002, may be entitled to a one-time payment.


Quem tem direito a indemnização?

Qualquer indivíduo que tenha estado internado num Gueto, mesmo que por um curto período de tempo, pode ter direito a um pagamento mensal, bem como um pagamento retroactivo pago todo de uma só vez – que, em alguns casos, remontam ao ano de 1997.

Um viúvo(a) de um sobrevivente do Holocausto, também é elegível para receber uma pensão da Alemanha que teria sido pago ao cônjuge falecido, incluindo os casos em que o cônjuge faleceu há muitos anos.

Este pedido pode ser apresentado mesmo se você já estiver a receber um pagamento mensal da Claims Conference ou diretamente da Alemanha (BEG, a German Pension Insurance ou BADV).

Herdeiros de sobreviventes do Gueto, que ainda estavam vivos até 27 de Junho de 2002, podem ter direito a um pagamento de uma só vez.


* Comentário meu: Portanto, qualquer indivíduo que tenha estado internado num Gueto (e um Gueto não é um Campo de Concentração), mesmo que por um curto período de tempo, pode ter direito a um pagamento mensal (e ainda a um pagamento retroactivo). Quem tenha casado com um sobrevivente do Holocausto (que já tenha falecido) também pode ter direito a uma indemnização. E também os herdeiros do sobrevivente do Holocausto (desde que este ainda estivesse vivo em 2002), também podem ter direito a uma indemnização...


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I am not sure if my relatives or I are eligible; how do I find out?

Very simple: a short phone call to our office. Or you may leave your information on the form below and we will get back to you with a professional response.

We have successfully assisted many Holocaust victims in receiving what they are entitled to and we will be happy to help you as well.


Não tenho a certeza se eu ou os meus parentes são elegíveis; como posso saber?

(Muito simples: um rápido telefonema para o nosso escritório. Ou pode deixar a sua informação no formulário abaixo e entraremos em contacto consigo com uma resposta profissional.

Temos ajudado com sucesso muitas vítimas do Holocausto a receber o que eles têm direito e teremos todo o prazer em ajudá-lo também.
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Shoah - Termo hebraico que adquiriu o significado de Holocausto Judeu


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The Guardian - 5 de Maio de 2016


Holocaust survivors 'dying in poverty while awaiting compensation'

Tens of thousands of Holocaust survivors are spending the final years of their lives in financial hardship while waiting for governments across Europe to compensate them for property stolen during the Nazi era.

Despite a declaration by 47 countries seven years ago to ensure restitution for the theft of Jewish property during the Holocaust, many of the 500,000 survivors still alive are yet to be compensated, according to the World Jewish Restitution Organisation (WJRO).



Sobreviventes do Holocausto
'a morrer na pobreza enquanto aguardam a indemnização'

Dezenas de milhares de sobreviventes do Holocausto estão a passar os últimos anos de suas vidas em dificuldades financeiras enquanto esperam que os governos em toda a Europa os compensem dos bens que lhes foram roubados durante a era nazi.

Não obstante uma declaração feita por 47 países há sete anos a garantir a restituição do roubo da propriedade judaica durante o Holocausto, muitos dos 500.000 sobreviventes do Holocausto ainda vivos (em 2016 - 71 anos depois do fim da Guerra) estão ainda à espera de serem indemnizados, de acordo com a Organização Mundial Judaica de Restituição (WJRO).


* Comentário meu: Se hoje, em 2016, 71 anos depois de acabar a Segunda Guerra Mundial em 1945, ainda existem 500 mil Sobreviventes do Holocausto, quantos milhões de judeus, ao certo, terão sobrevivido ao Holocausto?

terça-feira, novembro 13, 2012

Aristides de Sousa Mendes - um Oskar Schindler à portuguesa ou a fabricação de um mito...


Aristides de Sousa Mendes


Aristides condicionava a emissão de vistos
e passaportes ao pagamento de verbas



Em carta a Maria Barroso, presidente da «Fundação Aristides de Sousa Mendes»,
Embaixador desmistifica a «lenda» de Aristides de Sousa Mendes


* Desapareceram misteriosamente dos arquivos do MNE (Ministério dos Negócio Estrangeiros) várias peças dos processos que incriminavam Sousa Mendes.

* Aristides de Sousa Mendes acumulou numerosos processos disciplinares desde o longínquo ano de 1917, na República, até 1940.

* Aristides de Sousa Mendes, como foi denunciado pelos serviços da Embaixada Britânica, cobrava dinheiro pela emissão de vistos e passaportes.


Terceiro classificado por votação dos telespectadores no concurso promovido pela RTP «Os Grandes Portugueses», e surgindo agora em filme, a figura de Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus no período da II Grande Guerra, continua envolta em muitos mistérios e alguma polémica.


Para uns, Sousa Mendes é recordado como «um homem bom e justo» que, em Junho de 1940, contrariando as ordens do Governo de Lisboa, emitiu vistos e passaportes e, nalguns casos, chegou mesmo a atribuir falsamente a identidade portuguesa a milhares de foragidos, sobretudo judeus, que pretendiam, a todo o custo, alcançar lugares tidos por seguros. Como Portugal, que Salazar conseguiu manter neutral no conflito. Para outros, o cônsul está longe de justificar o papel de «herói» que muitos lhe atribuem e, aqui e ali, tentam repor a verdade àquilo a que chamam a «falsificação da História» e, através de factos, muitos deles documentados, desmistificam a «lenda» Sousa Mendes. Bastará uma pesquisa atenta no arquivo do MNE ao processo do antigo cônsul - apesar de muitas peças do seu "dossier" terem misteriosamente desaparecido, sem que até hoje ninguém tenha procurado investigar quem foi o autor (ou autores) do "desvio" para que algumas «verdades» deixem de o ser.



O irmão gémeo de Aristides - César Sousa Mendes

Ao contrário do seu irmão gémeo César, que também fez carreira na diplomacia tendo alcançado o posto de Ministro Plenipotenciário de 2.ª classe, Aristides arrastou-se entre postos consulares de pequeno relevo, foi acumulando processos e mais processos disciplinares desde o longínquo ano de 1917, na I República, até 1940, tendo acabado por passar à disponibilidade a aguardar aposentação, mas continuando a auferir a totalidade do vencimento correspondente à sua categoria (1.595$30). O que desde logo «mata» a tese dos que teimam em acusar Salazar de ter «perseguido» o cônsul e de o ter «obrigado» a «morrer na miséria». Pelo contrário, o então Presidente do Conselho mostrou-se benevolente com Aristides em muitas alturas, nomeadamente quando, contrariando o parecer do Conselho Disciplinar do MNE que, na sequência de mais um processo disciplinar, propôs a pena de descida de categoria do cônsul, apenas determinou a sua inactividade por um ano, com vencimento de categoria reduzido a metade, mas recebendo a totalidade do salário correspondente ao exercício.

Outra verdade que tem sido ocultada pelos defensores de Aristides Sousa Mendes: o cônsul condicionava a emissão de vistos e passaportes ao pagamento de verbas e à obrigatoriedade de contribuição para um estranho «fundo de caridade» por si próprio instituído e gerido, situação que viria a ser denunciada junto do MNE quer pelos serviços da embaixada britânica quer por muitos dos que beneficiaram das «facilidades» de Mendes.



A casa de Sousa Mendes em Cabanas do Viriato

Também esclarecedora para a verdade sobre Sousa Mendes é a carta que o Embaixador Carlos Fernandes (*) dirigiu, em Maio de 2004, a Maria Barroso Soares, presidente da entretanto criada «Fundação Aristides de Sousa Mendes», quando esta pretendeu promover uma homenagem nacional, custeada com dinheiros públicos, ao antigo cônsul.

Embaixador Carlos Augusto Fernandes, licenciado em Direito, com distinção, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Entrou no MNE em Abril de 1948 como adido de Legação. Foi cônsul de Portugal em Nova Iorque e Encarregado de Negócios no Paquistão, Montevideu (Uruguai) e Venezuela. Foi Conselheiro da Legação Portuguesa na NATO (Paris), Director Económico do MNE, Director dos Serviços Jurídicos e Tratados do MNE e Embaixador de Portugal no México, Holanda e Turquia.


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O Semanário DIABO (3 de Abril de 2007) teve acesso à referida missiva, bem como a algumas «notas soltas» que o embaixador lhe juntou, que aqui publicamos na íntegra.

Lisboa, 5/5/04
Senhora Dra. Maria Barroso Soares,

Um antigo embaixador de Israel em Portugal, que foi «instrumental»» na mitificação de Aristides Sousa Mendes, publicou há dois dias no Diário de Notícias, a propósito do aniversário daquele antigo cônsul, um artigo de elogio a Sousa Mendes, reincidindo em duas mentiras que foram fundamentais para aquela mitificação:

a) que foi expulso da carreira diplomática;

b) que morreu na miséria (depreendendo-se que por ter sido expulso da carreira diplomática e sem vencimento).

Ora, tanto quanto eu pude averiguar, primeiro, Sousa Mendes nunca foi da carreira diplomática, pertencendo sempre à carreira consular, que era diferente, e, em princípio, mais rendosa; depois, nunca dela foi expulso: como conclusão de um 5.º processo disciplinar, foi colocado na inactividade por um ano, com metade do vencimento de categorias e, depois desse tempo, aguardando aposentação com o vencimento da sua categoria (1.595$30 por mês) até morrer, sem nunca ter sido aposentado, situação mais favorável do que a aposentação.

Portanto, se morreu na miséria, ou pelo menos com grandes dificuldades financeiras, isso deve-se a outros factores que não à não recepção do seu vencimento normal em Lisboa. Demais, A. Sousa Mendes viveu sempre com grandes dificuldades financeiras. É óbvio que, quem tenha 14 filhos da mulher, uma amante e uma filha da amante não sairá nunca de grandes dificuldades financeiras, salvo se tiver outros rendimentos significativos, além do vencimento de cônsul.


Aristides de Sousa Mendes e parte da sua prole

Vi pelo artigo acima referido que a Sr.ª Dr.ª. M. Barroso é presidente da Fundação A. S. Mendes, e só por isso lhe escrevo esta carta e lhe remeto os elementos de informação anexos.

Eu escrevi sobre Sousa Mendes, de forma simpática, num livro publicado há dois anos (Recordando o caso Delgado e outros casos, Universitária Editora, Lisboa, 2002) de págs. 27 a 30, porque o conheci e tive ocasião de ajudar dois dos seus filhos, um em Lisboa e outro depois em Nova Iorque quando lá era cônsul.

Nada me move contra A. Sousa Mendes, antes o contrário, mas não posso pactuar com a mentira descarada e generalizada. Salazar é atacável por várias razões, mas não por ter «perseguido» A. Sousa Mendes, que, aliás, teve problemas disciplinares em todos os regimes de 1917 a 1940.

Quando fui director dos Serviços Jurídicos e de Tratados do MNE tive de estudar o último processo disciplinar de A. Sousa Mendes, de cuja pasta retiraram já muitas peças.

Por outro lado, o meu amigo Prof. Doutor Joaquim Pinto, sem eu saber, fez um estudo bastante completo sobre A. Sousa Mendes, e com notável imparcialidade.

Eu não pretendo vir a público atacar ou defender A. Sousa Mendes, e, por isso, nem penso rectificar o artigo do embaixador de Israel, mas em abono da verdade, e para seu conhecimento, entendo ser meu dever remeter-lhe cópia do estudo e notas em anexo, de que poderá fazer o uso que entender.

Com respeitosos cumprimentos,


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Algumas Notas sobre Aristides Sousa Mendes

Num «memorandum» da Embaixada Britânica, datado de 20/6/40, diz-se: «O cônsul de Portugal em Bordéus protela para fora das horas de expediente todos os pedidos de vistos, e cobra por eles taxas extraordinárias. Pelo menos num caso foi ainda o interessado convidado a contribuir para um fundo português de caridade antes de ser-lhe concedido visto».


Processo

Despacho de Salazar preparado pelo Secretário Geral:

«Atendendo a que às infracções cometidas, não tendo em consideração a reincidência, cabe a pena do n.º 8 do artigo 6.º do Regulamento Disciplinar;

Atendendo a que do relatório consta “e o Conselho reconhece a incapacidade profissional do arguido para dirigir consulados, especialmente os da sua categoria”;

Condena o cônsul de 1.ª classe, Aristides Sousa Mendes, na pena de um ano de inactividade com direito a metade do vencimento de categoria, devendo em seguida ser aposentado.

Lisboa, 30 de Outubro de 1940
Salazar».


Imputadas Faltas (Desde Novembro de 1939 a fins de Junho de 1940):

a) desobediência

b) falsificação de escrita

c) abandono do lugar

d) concessão (imputação do Embaixador Britânico, de 20/6/40)

e) vistos a austríacos, espanhóis, luxemburgueses e polacos Atribuiu falsamente a nacionalidade portuguesa ao casal Miny, em 30/5/40.

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Em 18 e 19/6/40, vai a Bayone impondo ao cônsul ali a concessão de vistos, quer de trânsito quer de residência, independentemente de consulta.

Como o cônsul Faria Machado objectasse, afirmou-lhe, falsamente, que recebera instruções nesse sentido e que fora a Bayone expressamente para lhas comunicar.

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Já assim procedera em Novembro de 1939, quando ainda não havia êxodo de França, o qual só começou em Maio/Junho de 1940.

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Não propôs à Secretaria de Estado mudanças das instruções com que depois disse não concordar, nem mudança de posto.

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Justificou a falsificação da identidade dos Miny com o humanitarismo.

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Era já o 4.º processo disciplinar de Aristides (1935, por declarações públicas; de novo em 1935, por irregularidades na contabilidade consular; em 1938, ausentou-se do seu posto na Bélgica e veio a Portugal sem autorização quer da Legação em Bruxelas quer de Lisboa; e ainda outro que foi instruído pelo Dr. Francisco António Correia).

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De 1937 a 1939, consta uma extensa lista de repreensões e censuras. Já em 1917 fora repreendido por se ausentar de Zanzibar.

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O Conselho Disciplinar do MNE propôs a pena de regresso à categoria anterior (cônsul de 2.ª classe), prevista no nº 9.º do artigo 6.º do Regulamento Disciplinar dos F. Civis.

O S. Geral (Teixeira de Sampaio) entendeu diferente. Salazar, dentro dos seus poderes, despachou a proposta do S. Geral (muito mais benigna).

Isto fez que Sousa Mendes morresse aguardando aposentação, recebendo, depois do ano de inactividade, o seu vencimento por inteiro, como se verifica da declaração que apresentou à Ordem dos Advogados em 25 de Abril de 1946 (1.595$30 por mês) num requerimento que então lhe dirigiu.


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Portugal, os Cônsules, e os Refugiados Judeus (1938-1941)

Texto de Avraham Milgram

(Tradução minha)





(...) Uma curta análise das listas e vistos passados por Aristides de Sousa Mendes aos Judeus e não-Judeus em Maio e Junho de 1040, mostra – sem diminuir a grandeza da sua atitude – que o número de vistos concedidos pelo cônsul era menor do que os que são mencionados pela literatura, levantando uma série de questões relativas a Portugal e à entrada de refugiados Judeus.

Foi provavelmente Harry Ezratty o primeiro a mencionar, num artigo publicado em 1964, que Aristides de Sousa Mendes tinha salvo 30,000 refugiados, dos quais 10,000 judeus, um número que desde então tem sido repetido automaticamente por jornalistas e académicos. Ou seja, Ezratty, imprudentemente, pegou no número total de judeus que passaram por Portugal e atribuiu-o ao trabalho de Aristides de Sousa Mendes. De acordo com a lista dos vistos emitidos no consulado de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes passou 2,862 vistos entre 1 de Janeiro e 22 de Junho de 1940. A maioria, ou seja, 1,575 vistos, foram passados entre 11 e 22 de Junho, nos últimos dias da sua carreira consular em Bordéus. Nunca saberemos exactamente quantos vistos terá passado nos sub-postos de Bayonnne e na cidade de Hendaye, lugares por onde ele passou ao ser chamado a Lisboa por insubordinação; nestes lugares Aristides passou vistos sem o selo consular e apenas escritos à mão, e portanto não foram registados em lado nenhum.

Por forma a ter uma ideia do exagero no número de judeus que na realidade entraram em Portugal por um lado, e do número de judeus que se acredita terem entrado graças a Sousa Mendes por outro, basta citar que, no relatório do HICEM (organização judaica que ajudava os judeus a emigrar), 1,548 Judeus que vieram para Portugal como refugiados sem vistos para outros países, saíram de navio de Lisboa na segunda metade do ano 1940, e 4,908 Judeus, com a ajuda do HICEM, partiram durante 1941. A este número, devemos acrescentar aproximadamente 2,000 Judeus que vieram directamente de Itália, Alemanha, e de outros países anexados por alemães e possuidores de vistos americanos.



Os «30 mil refugiados» salvos por Aristides de Sousa Mendes

No total, em dezoito meses, de Julho de 1940 Dezembro de 1941, o HICEM tomou conta do transporte por navio de 8,346 Judeus que deixaram Lisboa para países de além-mar. Tudo indica que temos de acrescentar a estes números os Judeus que transitaram e deixaram Portugal pelos seus próprios meios. Mesmo assim, a discrepância entre a realidade e o número de vistos passados por Aristides de Sousa Mendes é grande. (...)


As contribuições para instituições de caridade (de Aristides)

(...) Outro episódio que irritou o MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros), e que finalmente levou Sousa Mendes a ser chamado de volta ao consulado geral, tem a sua origem num memorando enviado pela embaixada britânica em Lisboa ao MNE, queixando-se do comportamento do Cônsul português em Bordéus que pedia taxas extras aos cidadãos britânicos que pediam vistos: O Cônsul Português de Bordéus tem estado a adiar para depois das horas de serviço todos os pedidos de vistos e tem cobrado uma taxa especial; em pelos menos um caso, ao requerente foi também pedido que contribuísse para um fundo de caridade português antes do visto ser concedido. Memorando da Embaixada Britânica em Lisboa de 20 de Junho de 1940, AMNE RC M 779.

Em 1923, enquanto colocado em São Francisco (EUA), Aristides de Sousa Mendes teve um conflito com a comunidade portuguesa local sobre uma contribuição por ele pedida para uma instituição de caridade que os luso-americanos recusaram. O caso, que não chegou a ser reportado ao MNE, chegou à imprensa sob a forma de insultos e o MNE considerou-o um sério erro. (Afonso Rui, Injustiça, pp. 22-26).

Em Bordéus, não foi, portanto, a primeira vez que Aristides de Sousa Mendes se empenhou numa causa caritativa. (...)



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José Hermano Saraiva in Álbum de Memórias

[Leite Pinto] fala, a propósito, na operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irún, na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irún carregados de volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos. A operação foi mantida rigorosamente secreta porque as autoridades espanholas não consentiriam. Segundo um protocolo firmado pelas autoridades ferroviárias dos dois países, os vagões deviam circular selados, quer à ida quer à vinda. Um dos que assim salvaram a vida foi o Barão de Rothschild. O embaixador Teixeira de Sampaio confirmou-me, mais tarde, esses factos.

O salvamento de 30.000 refugiados deu-se ao mesmo tempo que o cônsul de Portugal em Bordéus, em cumplicidade com dois funcionários da PIDE, falsificava algumas centenas de vistos, que vendia por bom preço a emigrantes com dinheiro. Um dos que utilizaram esta via supôs que todos os outros vieram do mesmo modo – e assim nasceu a versão, hoje oficialmente consagrada, de que a operação de salvamento se deve ao cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Este, homem muito afecto ao Estado Novo, nem sequer foi demitido, mas sim colocado na situação de aguardar aposentação. Os seus cúmplices da PIDE foram julgados, condenados e demitidos.

quarta-feira, maio 27, 2009

Auschwitz-Birkenau - História de um Inferno feito pelo homem


Artigo de Scrapbookpages

[Tradução minha]


A 14 de Maio de 1946, o ex-comandante de Auschwitz-Birkenau, Rudolf Höss, assinou um depoimento ajuramentado no qual afirmou que dois milhões de judeus tinham sido gaseados em Auschwitz-Birkenau entre 1941 e 1943 enquanto foi o comandante do campo. Isto não inclui o período, durante o qual Höss não foi comandante, quando mais de 300,000 judeus húngaros foram gaseados num período de 10 semanas no Verão de 1944, segundo o Museu de Auschwitz.

A tradução do texto do depoimento de Höss diz: "Declaro aqui sob juramento que nos anos de 1941 a 1943 durante o exercício do meu cargo como comandante do Campo de Concentração de Auschwitz, 2 milhões de judeus foram mortos por gaseamento e meio milhão por outros meios. Rudolf Höss, 14 de Maio de 1946." A confissão estava assinada por Höss e por Josef Mayer do Gabinete do Promotor Público Chefe dos Estados Unidos.

Depoimento ajuramentado pelo comandante Rudolf Höss a 14 de Maio de 1946:

Foto do Museu Memorial do Holocausto dos Estado Unidos

A confissão original, assinada por Rudolf Höss, está exposta numa caixa de vidro no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos em Washington. A fotografia exposta, bem como o depoimento, mostra mulheres e crianças judias húngaras a caminho de uma das quatro câmaras de gás do campo da morte de Birkenau a 26 de Maio de 1944, carregando as suas malas e sacos.

Judeus a caminho das câmaras de gás de Birkenau

Foto do Museu Memorial do Holocausto dos Estado Unidos

A legenda sob a fotografia diz:

«A 14 de Maio de 1946, Rudolf Höss, o ex-comandante de Auschwitz, assinou uma declaração afirmando que durante o exercício do cargo, 2 milhões de judeus foram gaseados em Auschwitz e outros quinhentos mil foram mortos de outras formas. Höss sobrestimou o número de judeus gaseados em cerca de 1 milhão

Houve allegações de que esta confissão foi obtida de Rudolf Höss por meio de tortura. Rupert Butler escreveu no seu livro intitulado "Legions of Death" [Legiões da Morte], publicado pela Arrow Books de Londres em 1983, que Höss foi espancado durante três dias por uma equipa de torturadores britânicos sob o comando do interrogador judeu Bernard Clarke.

Monumento Internacional de Birkenau, Outubro de 2005

Em Abril de 1967, um Monumento Internacional, dedicado às vítimas do Fascismo, foi erigido em Birkenau, entre as ruínas do Krema II e do Krema III, os dois edifícios crematórios onde as duas maiores câmaras de gás estavam localizadas. O monumento incluía uma série de placas de granito que informavam os visitantes que 4 milhões de pessoas tinham sido assassinadas pelos nazis em Auschwitz-Birkenau. Este número era uma estimativa feita pela União Soviética a 8 de Maio de 1945, baseada na capacidade máxima dos fornos crematórios do Campo Principal e de Birkenau.

Quatro milhões foi o número de mortos em Auschwitz-Birkenau que a União Soviética incluiu nas acusações de crimes de guerra contra os nazis no Tribunal Internacional Militar de Nuremberga em Novembro de 1945. A União Soviética também acusou os nazis de terem morto um milhão e meio de pessoas no campo da morte de Majdanek. Hoje, o museu de Majdanek alega que 78 mil prisioneiros, incluindo 59 mil judeus, morreram em Majdanek.

A Placa original afirmava que 4 milhões morreram em Auschwitz-Birkenau, de 1940 a 1945

Segundo o Museu de Auschwitz, depois da queda do comunismo em 1989, a União Soviética entregou ao Comité Internacional da Cruz Vermelha 46 volumes de livros onde era registada a mortalidade (Sterbebücher) que tinham confiscado do campo de Auschwitz. Estes registos, que foram mantidos pelo departamento político (Gestapo) em Auschwitz, mostram que houve cerca de 69 mil prisioneiros registados que morreram de 29 de Julho de 1941 a 31 de Dezembro de 1943. Os livros onde era registada a mortalidade de 14 de Junho de 1940 a 28 de Julho de 1941 foram perdidos, assim como os de todo o ano de 1944 e Janeiro de 1945. Baseados nestes registos, a Cruz Vermelha Internacional estimou que um total de 135 mil prisioneiros registados morreu nos três campos de Auschwitz. Estes números incluem judeus e não judeus.

O documento na fotografia abaixo, que mostra registos dos campos de concentração nazis, estão armazenados em Arolsen, na Alemanha:

Documento da Cruz Vermelha

Ampliação do Documento da Cruz Vermelha

Em 1990, as placas com o número de 4 milhões foram removidas. Foi só em 1995 que novas placas foram colocadas no Monumento Internacional com 20 placas de metal gravadas em ídiche, inglês e em todas as línguas principais da Europa; as placas foram feitas em granito nas escadas do Monumento Internacional. O número de mortos em Auschwitz, segundo cada uma das 20 placas, é de um milhão e meio.

Tal como se mostra na fotografia abaixo, na inscrição em inglês pode ler-se:

«Que este local seja para sempre um grito de desespero e um aviso à humanidade, onde os nazis assassinaram cerca de um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, sobretudo judeus de vários países da Europa. Auschwitz-Birkenau 1940-1945.»

Placa em inglês no Monumento Internacional, Outubro de 2005

Em 1980, Franciszek Piper, o director do Museu de Auschwitz, começou a fazer um estudo de todos os documentos disponíveis sobre Auschwitz, tendo calculado que 1,077,180 prisioneiros, dos quais 90% eram judeus, morreram em Auschwitz, baseado numa estimativa do número de prisioneiros que chegaram ao campo subtraindo o número de prisioneiros que foram libertados, os que foram transferidos e os que fugiram. Este número inclui os judeus, não registados no campo, que se assume terem sido imediatamente gaseados após a sua chegada ao campo.

Em 1946, Rudof Höss foi julgado na Polónia; foi acusado da morte de "cerca de 300 mil pessoas que estavam no campo como prisioneiros e que faziam parte dos registos do campo e cerca de 4 milhões de pessoas, principalmente judeus, que foram trazidos para o campo de outros países europeus para extermínio imediato e que não faziam parte dos registos do campo." Durante os seu julgamento, Höss alterou o número da sua confissão para um total de 1.130.000 judeus que foram gaseados mas declarou: "Durante o tempo em que fui comandante em Auschwitz, milhões de pessoas morreram, um número que não posso determinar com exactidão."

Rudolf Höss escreveu na sua autobiografia que o Tenente-Coronel Adolf Eichmann e o seu adjunto eram os únicos que conheciam o número total de judeus que foram gaseados em Auschwitz-Birkenau, porque o Marechal-de-Campo Heinrich Himmler tinha ordenado que todos os registos fossem queimados após todas as operações especiais (gaseamentos). Os nazis usaram sempre palavras de código quando falavam do genocídio dos judeus: um gaseamento em massa era chamado uma "acção especial."

Nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, pouco antes de Berlim ter sido cercada pelas tropas soviéticas, Eichmann contou a Höss que dois milhões e meio de judeus tinham sido assassinados em Auschwitz-Birkenau. Eichmann era um Tenente-Coronel das SS chefe do Departamento IV, B-4, a do Gabinete de Segurança Central do Reich (RSHA) em Berlim, que era responsável pela deportação dos judeus. Era Adolf Eichmann que estava encarregue da deportação dos judeus nos comboios para os campos da morte.

Segundo o Museu de Auschwitz, nunca foram encontrados registos do número de prisioneiros que morreram em Auschwitz-Birkenau. Num artigo no site oficial de Auschwitz, Franciszek Piper escreveu o seguinte:

"Quando o exército soviético entrou no campo em Janeiro de 1945, não encontraram lá nenhuns documentos alemães com o número de vítimas, ou nada que pudesse ser usado para o cálculo desse número. Tais documentos (listas de transporte, registos de chegada dos transportes, relatórios sobre o resultado das selecções) foram destruídos antes da libertação. Por esta razão, a comissão soviética que investigava os crimes cometidos no campo de concentração de Auschwitz tinha de proceder a estimativas.

[...]

A ausência da parte mais importante das fontes estatísticas que os alemães guardavam em Auschwitz tornava praticamente impossível aos historiadores investigar a questão do número de vítimas. A relutância em investigar esta questão também resultou da convicção da impossibilidade de formular uma lista completa dos transportes reflectindo o número total de deportados, e, acima de tudo, das pessoas que foram mortas nas câmaras de gás e nos crematórios sem registo.
"


No seu livro intitulado "IBM and the Holocaust" [A IBM e o Holocausto], Edwin Black escreveu que os nazis tinham um registo dos prisioneiros usando máquinas Hollerith da IBM que classificavam cartões perfurados onde estava codificada a informação sobre cada prisioneiro. Os números das tatuagens que eram feitas nos braços dos prisioneiros de Auschwitz, que começou em 1943, eram originalmente o número de código de prisioneiro no seu cartão Hollerith.

O seguinte parágrafo é uma citação do livro "A IBM e o Holocausto" de Edwin Black:

"Não eram apenas pessoas que eram contadas e organizadas para a deportação. Vagões, locomotivas e complexos horários de comboios eram programados através de fronteiras marcadas pela guerra – enquanto uma guerra era travada em duas frentes. A tecnologia permitiu à Alemanha nazi organizar a morte de milhões sem omitir um pormenor."

Segundo Edwin Black, os prisioneiros não eram registados num cartão perfurado da IBM enquanto não fossem registados num campo, portanto não existem registos das pessoas que chegaram a Auschwitz e não foram registadas no campo. Dos milhões de cartões perfurados usados pelos nazis, apenas cerca de 100 mil sobreviveram à Guerra, segundo Edwin Black.


O número normalmente aceite de mil e trezentos milhões de pessoas que foram deportadas para Auschwitz não é baseado em registos de transportes de comboios guardados pelos alemães, mas antes por uma estimativa realizada por Fraciszek Piper, que escreveu o seguinte no seu artigo no website oficial de Auschwitz:

"Depois de uma análise completa das fontes originais e do que foi encontrado sobre as deportações para Auschwitz, concluí que um total de pelo menos de um milhão e trezentas mil pessoas que foram deportadas para lá, e que um milhão e cem mil morreram. Aproximadamente 200 mil pessoas foram deportadas de Auschwitz para outros campos como parte de uma redistribuição de força de trabalho e a liquidação final do campo.

Um dos mais distintos investigadores do Holocausto, Raul Hillberg, publicou um trabalho (Auschwitz and the Final Solution) [Auschwitz e a Solução Final] sobre o número de vítimas de Auschwitz. As suas conclusões reafirmam tanto o número de um milhão de vítimas judias em Auschwitz a que ele chegou já em 1961, como as minhas próprias conclusões
."



Os cartões perfurados Hollerith da IBM mantidos pelos alemães sobre os judeus, russos e ciganos, que foram registados no campo e mortos mais tarde nas câmaras de gás, eram codificados como F-6 para "tratamento especial" ou "evacuações" segundo Edwin Black, o autor de "A IBM e o Holocausto." O código para "execução" era D-4.

Em 2002, Edwin Black escreveu o seguinte num artigo sobre os cartões perfurados Hollerith da IBM em Cracóvia que foram usados pelos nazis para manter um registo dos prisioneiros de Auschwitz:

"Quase de certeza que as máquinas não guardavam os totais de extermínio, que eram calculados como "evacuações" pelo Grupo Hollerith em Cracóvia."


Richard Seaver escreveu no prefácio do livro "Auschwitz, a Doctor's Eyewitness Account" [Auschwitz, a descrição do testemunho de um médico], do Dr. Miklos Nviszli que "em 1944 as autoridades alemãs destruíram as listas de transporte de todos os judeus que foram enviados para Auschwitz até essa altura, e nos meses seguintes ordenaram a destruição de todos os outros documentos incriminatórios."

Os registos completos, compilados pelo gabinete de Richard Glüks de todos os campos de concentração nazis dos anos 1935 até 1944, estão agora guardados em microfilme nos Arquivos Centrais Russos nos Arquivos Centrais do Estado nº 18760 nas listas de nomes 281 até 286. Estes registos dão-nos dados sobre o número de mortes em Auschwitz por execução, tifo e outras causas naturais, mas não sobre os judeus que foram gaseados.

Segundo a Wikipedia, Richard Glüks chegou ao lugar de Chefe de Grupo e ao de General das Waffen-SS e foi, desde 1939 até ao fim da Segunda Guerra, o posto mais elevado de "Inspector dos Campos de Concentração" na Alemanha nazi. Próximo de Himmler, Glüks era directamente responsável pelo trabalho forçado dos prisioneiros; era também o supervisor das práticas médicas nos campos, desde as experiências em seres humanos até à implementação do Endlösung [A Solução Final], em particular o assassínio em massa de prisioneiros por gaseamento com Zyklon-B.

Endlösung é o termo alemão para "A Solução Final", que significa o genocídio dos judeus. Himmler e Glüks escaparam ambos à justiça cometendo suicídio imediatamente a seguir a terem sido capturados pelos Aliados em Maio de 1945, antes de poderem ser interrogados.

De acordo com os registos guardados pelo Gabinete de Richard Glüks, houve um total de 121.453 prisioneiros, incluindo 100.743 judeus que foram transferidos de Auschwitz-Birkenau para outros campos. Os mesmos registos mostram que houve um total de 334.785 prisioneiros que chegaram a Auschwitz-Birkenau entre Maio de 1940 e Dezembro de 1944, incluindo 161,785 não judeus.

Os registos guardados pelo Gabinete de Richard Glüks mostram que 103.429 prisioneiros de Auschwitz-Birkenau morreram de tifo, incluindo 58.240 judeus que morreram de tifo entre 1942 e 1944. Há ainda 4.140 prisioneiros que morreram de outras causas naturais entre 1940 e 1944, incluindo 2.064 judeus.

O número de pessoas executadas em Auschwitz, segundo os registos guardados em microfilme nos arquivos Russos, foi de 1.646 incluindo 117 judeus, 1.485 polacos, 19 russos, 5 checos e 20 ciganos.

Os registos alemães guardados pelo Gabinete de Richard Glüks mostram que 173.000 judeus foram trazidos para Auschwitz-Birkenau e que 100.743 foram transferidos de para outros campos; 58.240 judeus que morreram de tifo; 2.064 judeus morreram de causas naturais e 117 judeus foram executados, chegando-se ao número total de judeus que morreram em Auschwitz-Birkenau de 60.421. Nos fins de Outubro de 1944, existiam 11.836 judeus em Auschwitz-Birkenau, um poucos mais do que os que chegaram ao campo em Novembro e Dezembro de 1944, segundo os registos do Gabinete de Richard Glüks.

Os registos alemães mostram que 161.785 não judeus foram trazidos para Auschwitz-Birkenau desde Maio de 1940 até Dezembro de 1944 e que 45.189 deles morreram de tifo; 1.529 prisioneiros não judeus em Auschwitz-Birkenau foram executados; 2.076 não judeus morreram de causas naturais, sem ser de tifo. Isto perfaz um total de 48.794 não judeus que morreram em Auschwitz-Birkenau a somar aos 60.421 judeus que morreram, o que totaliza 109.215 pessoas. Este número não inclui as mortes em Janeiro de 1945 antes de Auschwitz ser libertado a 27 de Janeiro de 1945.

Segundo informação dada no Museu de Auschwitz, 405.222 prisioneiros foram registados em Auschwitz-Birkenau; os judeus que foram imediatamente enviados para a câmara de gás não eram registados e não foram guardados quaisquer registos deles.

Dos 405.222 prisioneiros que foram registados em Auschwitz e Birkenau, cerca de 340.00 morreram lá, de acordo com o livro guia do Museu de 2005. Este número inclui os prisioneiros que foram registados e mais tarde seleccionados para gaseamento porque já não eram capazes de trabalhar, mas não leva em conta os prisioneiros, que foram registados e depois transferidos para outros campos de concentração, tais como Neuengamme ou Gusen. Subtraindo o número de prisioneiros ainda presentes no campo no dia antes deste ser abandonado, o número de prisioneiros enviados para outros campos de concentração, e o número dos fugitivos do número de prisioneiros que foram registados, o que sobra é um número muito aproximado ao de 135.000 mortos que foi estimado pela Cruz Vermelha. Segundo Franciszek piper, o director do Museu de Auschwitz, aproximadamente 500 prisioneiros fugiram de Auschwitz.

A Enciclopédia do Holocausto calcula o número total de judeus húngaros que morreram em Auschwitz-Birkenau entre Maio e Junho de 1944 em aproximadamente 550.000, a maior parte dos quais gaseados, mas Lucy Dawidowicz escreveu no seu livro intitulado "The War Against the Jews" [A Guerra Contra os Judeus], publicado em 1975, que 450.000 judeus húngaros foram trazidos para Auschwitz entre Maio e Outubro de 1944. Raul Hilberg afirmou no seu livro intitulado "The Destruction of the European Jews" [A Destruição dos Judeus Europeus], que o número de judeus húngaros trazidos para Auschwitz foi de 180.000.

Segundo Francispek Piper, a maioria dos judeus húngaros, que foram enviados para Auschwitz-Birkenau, foram imediatamente gaseados. Um folheto vendido no Museu de Auschwitz afirma que 434.351 dos judeus húngaros, dos 437.402 que foram enviados para Auschwitz, foram registados no campo. Contudo, Francispek Piper escreveu que 28.000 judeus húngaros foram registados em Auschwitz-Birkenau. Os registos do Gabinete de Richard Glüks mostram que apenas 23.117 judeus húngaros foram trazidos para Auschwitz-Birkenau e 21.527 judeus húngaros foram transferidos para outros campos.

A 12 de Julho de 1944, existiam 92.705 prisioneiros em todo o complexo do campo, segundo a lista de chamada desse dia. No Campo Principal, havia 14.386 homens. Em Birkenau, havia 19.711 homens e 31.406 mulheres. Havia também 26.705 homens em Auschwitz III. Este total não inclui os judeus húngaros que não foram registados, segundo Danuta Czech. Eles estavam retidos na secção B III de Birkenau, chamada México, enquanto esperavam para serem gaseados ou enviados para ouro campo.


A 12 de Abril de 1947, imediatamente antes da sua execução, Rudolf Höss assinou o seguinte Declaração Final, na qual admitia a sua vergonha por ter cometido Crimes Contra a Humanidade e por ter participado no genocídio perpetrado pelo Terceiro Reich:

"A minha consciência força-me a fazer também a seguinte declaração: No isolamento da prisão eu cheguei à amarga compreensão dos crimes terríveis que cometi contra a humanidade. Como Comandante do campo de extermínio de Auschwitz, tomei parte nos monstruosos planos de genocídio do Terceiro Reich. Por estes meios causei à humanidade e à espécie humana o maior mal, e trouxe sofrimento indizível, particularmente à nação polaca. Pela minha responsabilidade, vou agora pagar com a minha vida. Oh, que Deus perdoe os meus actos! Povo da Polónia, peço-lhe que me perdoe! Só agora nas prisões polacas reconheci o que é a humanidade. Não obstante tudo o que aconteceu, fui tratado humanamente, o que nunca esperei, e isto fez-me sentir profundamente envergonhado. Queira Deus... que o facto de eu revelar e confirmar estes monstruosos crimes contra a humanidade possa evitar para todo o sempre até mesmo as causas que conduziram a acontecimentos tão terríveis."


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Baseada nos 46 volumes de livros que a União Soviética confiscou no campo de Auschwitz, onde era registada a mortalidade no campo, a Cruz Vermelha Internacional estimou que um total de 135 mil prisioneiros registados morreu nos três campos de Auschwitz. Estes números incluem judeus e não judeus...

As placas indicadoras do número de vítimas de Auschwitz, que já foram revistas uma vez, sê-lo-ão de novo num futuro próximo?

sábado, abril 25, 2009

Mais de um terço (250 mil) de todas as pessoas com mais de 65 anos que vivem em Israel são sobreviventes do Holocausto

Tatuagens do horror de Auschwitz reúnem prisioneiros dispersos


Associated Press - por ARON HELLER - 19 de Abril de 2009

Jerusalem – Como adolescentes aterrorizados há 65 anos atrás, Menachem Sholowicz e Anshel Sieradzki estiveram juntos na fila em Auschwitz, para lhes serem tatuados os números de série nos seus braços. Sholowicz foi o B-14594; Sieradzki foi o B-14595.

Os dois judeus polacos nunca se tinham encontrado, nunca se tinham falado e foram rapidamente separados. Cada um deles sobreviveu ao campo da morte nazi, foi para Israel, casou, e tornaram-se avós. Não se encontraram até há algumas semanas atrás, tendo-se encontrado por sorte através da Internet. Já tarde na vida, os dois homens falam diariamente, repentinamente parceiros que partilham os seus traumas mais escuros.

"Somos irmão de sangue", diz Sieradzki de 81 anos. "No momento em que eu encontro alguém que esteve lá comigo, que passou por aquilo que eu passei, que viu aquilo que eu vi, que sentiu aquilo que eu senti – nesse momento nós somos irmãos".

As voltas do destino não acabam aqui. Dois irmãos que estiveram com eles na fila para a tatuagem [em Auschwitz] entraram em contacto com eles assim que souberam da história.

Um dos irmãos juntou-se-lhes numa reunião no domingo no memorial do Holocausto Yad Vashem em Israel. Com lágrimas nos olhos, os três abraçaram-se calorosamente e puseram em dia as memórias dolorosas em Hebreu e em iídiche [Yiddish].

"Esta é a minha vitória", disse Sieradzki.

O encontro deu-se um dia antes de Israel assinalar o seu dia em memória às vítimas do Holocausto que começa segunda-feira feira à noite, comemorando os 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial.

Os quatro sobreviventes, com números de série consecutivos, estão entre as centenas de milhares de sobreviventes que foram para Israel na altura do nascimento do estado judeu. Cerca de 250 mil estão ainda vivos em Israel, carregando as cicatrizes físicas e emocionais desse período.


[...]

(AP Photo/Sebastian Scheiner)

Os sobreviventes do Holocausto Menachem Shulovitz, de 80 anos, à direita, Anshel Szieradzki, de 81 anos, ao centro, e Yaakov Zeretzki, de 82 anos, à esquerda, mostram os números de série que lhes foram tatuados nos braços no campo de concentração de Auschwitz. Sholowicz foi o B-14594; Sieradzki foi o B-14595; Zeretzki foi o B-14597 e o seu irmão, que não se vê na foto, foi o B-14596.


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Foi dito no artigo acima da Associated Press que cerca de 250 mil sobreviventes do Holocausto estão ainda vivos em Israel. A seguir, os dados populacionais de Israel em 2009 no site do U.S. Census Bureau, Population Division - International Data Base:



Consultando os dados do Departamento de Censos norte-americano relativos a Israel, pode observar-se que existem hoje 713,507 pessoas com 65 ou mais anos, a viver em Israel:

195,001 (65-69) + 174,256 (70-74) + 146,217 (75-79) + 198,033 (80+) = 713,507

A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, há 64 anos. Donde resulta que qualquer sobrevivente do Holocausto terá hoje de ter mais do que 64 anos. Sabendo-se que cerca de 250 mil sobreviventes do Holocausto estão ainda vivos em Israel, é forçoso concluir que mais de um terço (35%) de todas as pessoas com mais de 64 anos que vivem em Israel são sobreviventes do Holocausto:

250,000 / 713,507 = 35%



Comentário:

Com 250 mil sobreviventes do Holocausto ainda vivos em Israel, não será de estranhar que apareçam quatro antigos prisioneiros de campos de concentração com números de série tatuados consecutivos. O contrário é que seria surpreendente.

E também não será tão cedo que a Alemanha irá deixar de pagar indemnizações a Israel pelos sobreviventes do Holocausto:


Israel procura um novo acordo com a Alemanha para indemnizações do Holocausto