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quarta-feira, janeiro 02, 2019

A cientista Diana Prata acredita que a morte por doença ou envelhecimento tem os dias contados, num futuro não muito longínquo: “Acho que vamos conseguir aumentar a esperança de vida e teoricamente conseguir chegar à imortalidade.”

Diana Prata - NEUROCIENTISTA – Revista Saber Viver – dezembro 2018



Diana Prata Lidera o Grupo de Neurociência Biomédica do Instituto de Biofísica e Engenharia da Universidade de Lisboa e trabalha na NeuroPsyAI, empresa que fundou para a utilizar a Inteligência Artificial (IA) no diagnóstico precoce e prognóstico de doenças neurodegenerativas.

Diana Prata acredita que a morte por doença ou envelhecimento tem os dias contados, num futuro não muito longínquo. (…) Eu, sinceramente, acho que é possível não termos corpos falíveis. Eu acho que, enquanto formos vivos, por uma convicção positivista da ciência, vamos eventualmente conseguir tratar ou curar todas as doenças no futuro. Ainda nem mencionei outra aplicação da IA que é ajudar à comunicação homem-máquina para permitir próteses que atuem de forma mais igual ao órgão danificado.

Mas mesmo isso se poderá tornar 'antiquado' com resultados da investigação com células estaminais e a terapia genética que nos vai permitir regenerar e consertar as células e os órgãos do nosso corpo. Se neles tivermos defeitos, então antes faz-se terapia genética, substituindo-se os genes com defeito por genes funcionais. Rejuvenescer o nosso corpo será igualmente fácil. Daqui a 10 anos já começarão estas terapias, mas indo doença a doença.

Enquanto houver vida do corpo humano, acredito que se vá conseguir otimizar. Eu diria que o envelhecimento seria tratado como uma doença. Tal como detetamos marcadores de doenças, detetamos os do envelhecimento. Já conseguimos pôr os ratinhos a viver mais tempo. Acho que vamos conseguir aumentar a esperança de vida e teoricamente conseguir chegar à imortalidade. Teremos sempre a questão de que certos acidentes serão fatais... mas até poderemos ter uma ajuda da realidade virtual depois da morte se conseguirmos deixar uma versão digital do nosso cérebro.

quarta-feira, dezembro 13, 2017

Fará sentido continuar à procura de emprego quando a tecnologia o está a suprimir a ritmo acelerado?


Excerto de - UMA ESTRANHA DITADURA - de Viviane Forrester

«Que bem desejamos para nós?» Uma pergunta que deveríamos poder fazer permanentemente a nós próprios em vez de termos que nos perguntar incessantemente a que mal nos é mais urgente escapar. «Que bem desejamos para nós?» Pergunta proibida: seria bonito ver reclamar coisas supérfluas, ou mesmo uma norma favorável, ou uma travessia cativante e harmoniosa da existência, quando o indispensável se torna um género em vias de desaparecimento! Será razoável preocuparmo-nos com condições de trabalho ou de vida, quando é preciso procurar tanto, esfalfarmo-nos tanto para encontrar esses empregos impostos e recusados num mundo em que a sobrevivência depende deles, mas em que eles faltam?

Que bem desejamos para nós?» Deveria ser, no entanto, o embaraço da escolha a perturbar-nos. Este tempo da História, o nosso, detém uma capacidade até aqui desconhecida de se revelar benéfico para a maioria, precisamente graças às fabulosas novas tecnologias, capazes de oferecer abundantes possibilidades de escolha de vida, em vez de as esgotar.

Sem por isso nos perdermos na utopia nem sonharmos com um paraíso terrestre, seria possível hoje em dia imaginar que fossem permitidas vidas levadas de maneira inteligente e também mais divertidas que, libertas de tantos constrangimentos, encontrassem todas um sítio onde fossem bem-vindas! Temos meios para isso. Adquirimos os meios para isso. A nossa espécie adquiriu-os. Deixou-se extorquir por alguns que os atribuíram a si próprios ou os perverteram. Mas são recuperáveis.



Libertados pelas tecnologias da maioria das tarefas penosas, ingratas ou destituídas de sentido, todos poderíamos e deveríamos tornar-nos infinitamente mais disponíveis em oportunidades mais alargadas - e não, como actualmente, alargadas ao desemprego. Oportunidades de agir num mundo em que os dons, os gostos já não têm as mesmas razões para serem reprimidos, guardados para benefício de tarefas daqui em diante transferidas para as máquinas;, poderiam, finalmente, ser tidos em conta, ter pelo menos as suas possibilidades de desabrochar, ser dedicados a valores, a necessidades reais, sem ligação obrigatória à rentabilidade.

Hoje devia desenvolver-se como nunca a prática de misteres, de ofícios, de empregos indispensáveis, mas cuja penúria se torna paradoxalmente cada vez mais manifesta. A educação. gratuita e obrigatória, a democratização dos estudos, deram, no entanto, à maioria, a capacidade de os exercer. Elas prepararam para isso. Ora, vê-se por um lado esses empregos desaparecerem a uma velocidade vertiginosa, ou tornarem-se caricaturas de empregos, pagos com remunerações de gozo, enquanto, por: outro lado, os misteres e os ofícios são ignorados, automaticamente negligenciados, postos de lado sem terem sido tomados em consideração, condenados como luxos extravagantes, como caras velharias passadas de moda, armadilhas de prejuízo, de desperdício, o sumo da não rentabilidade. A prova concreta de que, fora dos caminhos da especulação, não há salvação possível.

É alucinante que nestes tempos de luta proclamada contra o desemprego e a favor do emprego, profissões inteiras, repita-se, tenham uma falta cruel de efectivos. A ponto de, por exemplo, liceais, estudantes, desçam à rua com os seus professores para reclamar em vão docentes em número aceitável, pessoal cuja necessidade é evidente e cuja falta é angustiante. Que resposta lhes é dada, expressa ou subentendida? Demasiado caro. Que ar daríamos em Bruxelas e noutros locais, «enfarpelados» com tais despesas públicas? E vá de continuar a suprimir lugares, a comprimir virtuosamente os efectivos. Ou, quando a contestação começa a provocar desordem, utilizar contratados a prazo impedindo-os de entrar no quadro, desencantar antigos professores não reciclados. Os quais terão todos em comum serem mal pagos, entregues à insegurança. Sorte a que estão destinados tantos desses estudantes que tentam escapar-lhe.

Será verdadeiramente razoável deixar a vida económica depender de lógicas tais que se possa - e até que «seja preciso», segundo os seus postulados! - deitar fora homens e mulheres como se fossem escovas de dentes gastas, a fim de aumentar a produtividade, em vez de rever o sistema que defende essas lógicas? Será necessário prosseguir o nosso regresso ao século XIX, exigir uma forma de sociedade obsoleta e retrógrada, em vez de adaptar o real às necessidades dos vivos?


terça-feira, dezembro 05, 2017

O Horror Económico


A tese (1997) defendida por Viviane Forrester de que o emprego, tal como o conhecemos durante três séculos no Ocidente, tem os dias contados e tornou-se menos plausível, a cada ano que passa, de ser a forma de distribuir a riqueza.

O "O Horror Económico" ataca também as actuais políticas dos governos ocidentais que fazem tentativas cada vez mais desesperadas para manter vivo o sistema de trabalhos e salários. Forrester cita a constante redução de números cada vez maiores das classes trabalhadoras e, agora, das classes médias; o atrito constante, a nível internacional, da assistência social e dos direitos sindicais, por um lado, e a crescente desestabilização dos que trabalham, já para não falar dos desempregados.

Tudo isto criou uma cultura de emprego e desemprego (e subemprego) que não é apenas stressante, lamentável e desagradável mas também, segundo Forrester, "gerou uma economia mundial que é uma obscenidade, uma afronta à natureza humana" e, usando as palavras do título do livro, um "Horror Económico":



Excertos de "O HORROR ECONÓMICO" de Viviane Forrester

«Penso que cada um de nós, qualquer que seja o nosso trajecto de vida, deveria sentir-se preocupado com a actual situação do mundo, o qual é inteiramente governado por economistas. Se Shakespeare voltasse hoje à vida, julgo que ficaria fascinado pela trágica interacção das poderosas forças económicas que estão furtivamente a transformar os destinos dos cidadãos ou melhor das populações de todos os países.

Em minha opinião estamos a testemunhar uma mudança profunda, uma transformação da sociedade e da civilização, e estamos a ter muita dificuldade em aceitá-lo. Como é que podemos dizer adeus a uma sociedade que estava baseada em empregos estáveis que forneciam uma rede segura e os fundamentos de uma existência decente? A segurança no emprego está de saída.

Pela primeira vez na história, a grande maioria dos seres humanos já não são indispensáveis ao pequeno número daqueles que dirigem a economia mundial. A economia está de forma crescente envolvida com especulação pura. As massas trabalhadoras e os seus custos estão a tornar-se supérfluas. Por outras palavras, existe uma coisa ainda pior do que ser explorado e que consiste em já nem sequer valer ser explorado!

É verdade que a forma como as coisas estão não estão a ser escondidas, mas existe uma tendência para evitar falar sobre isso claramente. Em sociedades democráticas, em qualquer caso, não se diz às pessoas que estão a ser consideradas como supérfluas. Sob os totalitarismos pode existir um perigo ainda pior do que o desemprego e a pobreza. Uma vez desaparecidos os assalariados, porque é que um regime totalitário não elimina simplesmente essas forças que se tornaram inúteis.

Em países democráticos existe uma necessidade urgente de vigilância. É muitas vezes invocado de que a era industrial, quando um salário regular fornecia os meios de subsistência, pode de alguma forma reacender-se. Mas esses dias acabaram. Os rendimentos salariais estão a desaparecer e a panóplia de esmolas temporárias e pensões concebidas para os substituir estão a minguar, algo que não pode ser considerado senão criminoso.


Os gestores da máquina económica exploram esta situação. O pleno emprego é uma coisa do passado, mas ainda o utilizamos como padrão que era corrente no século dezanove, ou há vinte ou trinta anos, quando ainda existia. Entre outras coisas, este facto encoraja a que muitos desempregados sintam vergonha de si próprios. Esta vergonha sempre foi absurda mas é-o ainda mais hoje.

Isto ocorre de mãos dadas com o receio sentido pelos privilegiados que ainda possuem um emprego pago e têm medo de o perder. Eu sustento que esta vergonha e este medo deviam ser cotadas na bolsa de valores, porque constituem inputs importantes no lucro. Há uns anos as pessoas condenavam a alienação causada pelo trabalho. Hoje, a redução dos custos do trabalho contribuem para os lucros das grandes companhias, cuja ferramenta de gestão favorita é despedir trabalhadores; quando despedem, o valor das suas acções disparam.

Hoje, ouvimos muito falar acerca da "criação de riqueza". Dantes, esta expressão era simplesmente conhecida como lucro. Hoje, as pessoas falam desta riqueza como se ela fosse automática e directamente para a comunidade e criasse empregos, e, contudo, vemos empresas altamente lucrativas a reduzir drasticamente a sua força de trabalho.

Quando as pessoas falam dos poderosos, não estão a falar do grosso da população do seu país mas acerca dos manda-chuvas que relocalizam num piscar de olhos. Os políticos fazem do emprego a sua prioridade, mas a Bolsa de Valores fica deliciada sempre que um grande complexo industrial despede trabalhadores e fica preocupada sempre que exista qualquer melhoria nos números do emprego. Gostava de chamar a atenção das pessoas para este paradoxo. A cotação do valor em bolsa de uma empresa depende em grande parte dos custos do trabalho, e o lucro é gerado em última análise pela redução do número daqueles que têm trabalho.

A presente situação levanta uma questão vital para o futuro das pessoas deste planeta, sobretudo para os mais jovens e o seu futuro. Hoje, o ideal é ser "lucrativo", não "útil". Isto levanta uma questão muito séria: Devem as pessoas ser lucrativas para "merecer" o direito a viver? A resposta do senso comum é que é uma coisa boa ser útil à sociedade. Mas estamos a impedir as pessoas de serem úteis, estamos a esbanjar a energia da juventude ao olhar para a rentabilidade como o supra-sumo.


A maior parte dos países perdeu o seu sentido das prioridades. Existe uma necessidade cada vez maior de professores, pessoal médico, mas os governos mostram-se crescentemente agressivos contra eles. Estas são as profissões onde os lugares são abolidos e os fundos são cortados. E no entanto são indispensáveis para o bem-estar e o futuro da humanidade. Esta confusão entre "utilidade" e "rentabilidade" é desastrosa para o futuro do planeta.

Os jovens vivem numa sociedade que ainda considera o emprego assalariado como o único modo de vida aceitável, honesto e de acordo com a lei, mas a maior parte deles estão impedidos de ter a oportunidade de os alcançar. Em zonas pobres dentro das cidades isto é um grande problema. Ao mesmo tempo, encontro muitas vezes gente jovem com os braços carregados de diplomas que não arranjam trabalho. Que desperdício imperdoável! Durante gerações os estudos constituíam a iniciação da juventude na vida social. Admiro os jovens de hoje porque avançam com os seus estudos perfeitamente conscientes de que correm o risco de serem rejeitados pela sociedade.

Apenas há vinte ou trinta anos atrás, existiam ainda razões para esperar que a prosperidade relativa do Norte se espalhasse pelo mundo. Hoje, estamos a assistir à globalização da pobreza. As empresas do Norte que se deslocalizaram para os chamados “países em desenvolvimento”, não criam empregos para as pessoas desses países, em vez disso fazem-nos geralmente sem qualquer tipo de protecção social, em condições medievais. A razão para isto é que força de trabalho sub-paga de homens, mulheres e crianças, tal como os prisioneiros, custam menos do que a automação custaria no país de origem. Isto é colonização noutra, igualmente odiosa, forma.

Não sou pessimista, longe disso. Os pessimistas são aqueles que afirmam não haver alternativa à presente situação, de que não há escolha possível. O meu livro é uma tentativa para descrever o que se passa. É verdade que a situação é dramática. Apesar de tudo, eu sou, tal como muitas outras pessoas, uma cidadã de um país cujo regime democrático torna possível reflectir e resistir livremente à pressão crescente que o factor económico está a exercer nas nossas vidas.

Eu gostaria que existissem contrapoderes, pensamento alternativo, conflitos de ideias e interesses. Não conflito violento, claro, mas temos de acordar e deixar de estar petrificados, prisioneiros do pensamento banal. Em países onde o meu livro já foi traduzido, especialmente nos Estados Unidos, Brasil, México, Lituânia, Polónia e outros tais como a República da Coreia, está a causar uma espécie de convulsão mesmo antes da sua publicação.»

segunda-feira, janeiro 30, 2017

Eurodeputados querem fundos para fazer face à ameaça dos robôs destruidores de empregos



Jorge Valero - EurActiv.com - 12/01/2017

Hoje (12 de Janeiro de 2017), legisladores da União Europeia requereram uma renda básica universal para combater o risco iminente de perda de empregos causado pela crescente utilização de robôs, bem como devido às preocupações com os sistemas de bem-estar europeus.

O progresso tecnológico já não é visto como um caminho seguro para a prosperidade. Uma nova geração de robôs e o desenvolvimento da inteligência artificial podem melhorar a forma como fabricamos bens ou como usufruímos o nosso tempo de lazer.

Mas esta nova vaga de aparelhos inteligentes e robôs autónomos podem também destruir milhares de postos de trabalho sem criar outros novos na mesma proporção, alertou um relatório não legislativo aprovado pela Comissão de Assuntos Jurídicos do Parlamento Europeu (JURI).

O desenvolvimento da robótica e da inteligência artificial suscitou "preocupações sobre o futuro do emprego, a viabilidade do bem-estar social e dos sistemas de segurança social" e, em última instância, está "a criar um potencial de aumento da desigualdade na distribuição da riqueza e influência social".

Os eurodeputados, por conseguinte, disseram aos Estados-Membros que a criação de um rendimento básico universal deveria ser "seriamente considerado".

O debate sobre uma renda básica universal está a ganhar terreno na Europa e no resto do mundo. A Finlândia tornou-se a primeira nação a testar a distribuição de dinheiro aos cidadãos como parte de um regime de segurança social no início deste mês.

terça-feira, janeiro 10, 2017

O avanço tecnológico e o fim dos empregos


Revista Visão - 03.01.2017

Os 2000 cidadãos, escolhidos aleatoriamente entre os que recebiam subsídio de desemprego, passam a receber um rendimento base de 560 euros por mês, dinheiro que é garantido mesmo se as pessoas arranjarem entretanto um emprego. O valor não será tributado.

O programa inicial, que serve de experiência, está previsto que dure 2 anos, mas se for bem sucedido será alargado a todos os adultos finlandeses. O governo pensa que a iniciativa poderá economizar dinheiro a longo prazo. O sistema de previdência social do país é complexo e dispendioso e sua simplificação poderá reduzir a burocracia. Por outro lado, também poderá incentivar os desempregados a procurar trabalho, porque agora não têm de preocupar-se com a perda de benefícios de desemprego caso arranjem um emprego. Actualmente alguns desempregados evitam trabalhos a tempo parcial, ou mal pagos, porque lhes retira automaticamente os benefícios de desemprego, acabando por não compensar procurar um emprego.

"Os lucros incidentes não reduzem o rendimento base, de modo que trabalhar e... trabalhar por conta própria vale a pena, não importa o quê", disse Marjukka Turunen, chefe da unidade jurídica da Kela, agência de previdência social da Finlândia.

A ideia não é exclusiva da Finlândia. A cidade italiana de Livorno começou a distribuir um rendimento base pelas 100 famílias mais pobres da cidade em junho, número que foi alargado a mais 100 famílias este último domingo.

Programas-piloto também estão a ser discutidos no Canadá, Islândia, Uganda e Brasil. A Suíça, no ano passado, considerou dar a cada adulto um rendimento garantido de 2.500 dólares por mês, mas o plano foi rejeitado em referendo – mais de 75% dos eleitores votaram contra a medida.

Um dos exemplos de um programa de rendimento garantido vem dos Estados Unidos. O Alasca faz pagamentos anuais a todos os residentes desde a década de 80, através de um dividendo da receita petrolífera do estado. O BIEN, um grupo que defende o rendimento universal, descreve-o como o primeiro "sistema genuíno de rendimento base universal".


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A Tecnologia está a mudar tudo. O ritmo de desenvolvimento tecnológico é extremamente rápido e afecta todos os aspectos da vida humana - não apenas os aspectos económicos e sociais, mas também a natureza do ser humano como espécie. Este é o resultado do desenvolvimento da inteligência artificial, da robotização e do potencial de instrumentação genética, médica e biológica e outras novas tecnologias semelhantes. A questão não será o que as máquinas podem fazer, mas o que devem fazer. Se as máquinas podem fazer o trabalho que fazemos hoje, que papel iremos desempenhar como seres humanos?

Vivemos hoje num mundo cada vez mais absurdo sob o ponto de vista económico. Um mundo que possui uma capacidade cada vez maior de produção, mas que produz cada vez menos. E produz cada vez menos, porque a capacidade de poder de compra tem vindo a diminuir. Um paradoxo que se tem vindo a revelar crescentemente desastroso.


As teses de renomados economistas, que assentam no homem como principal factor produtivo, estão cada vez mais desfasadas de uma realidade tecnológica em evolução exponencial:

(Da esquerda para a direita, os economistas:) John Maynard Keynes, Friedrich Hayek, Milton Friedman, Ludwig von Mises, Paul Krugman, John Kenneth Galbraith e Joseph Stiglitz.

1 – O mundo de hoje continua cegamente a seguir práticas económicas de há muitas décadas atrás. Um mundo em que o Homem era a grande força motriz da produção, fosse na agricultura, na indústria ou nos serviços. Ao deixar de o ser, ao alterar-se este paradigma, as práticas económicas que teimam em continuar a ser seguidas, mostram-se completamente contraproducentes.

2 – Desde o começo da revolução industrial, a tecnologia tem vindo a substituir o homem nas actividades mais pesadas e repetitivas. Mas, ao mesmo tempo que a tecnologia destruía empregos, ia criando novas actividades que absorviam esse desemprego.

3 – Este processo, em que a tecnologia ia criando novos empregos à medida que destruía outros, começou a deixar de funcionar por volta da década de 1980 nos países mais desenvolvidos (coincidente com o aparecimento da informática). As novas actividades que a tecnologia criava começavam também a ser desempenhadas mais eficientemente pelas máquinas. E o desemprego começou a crescer imparavelmente.



Automação

4 – A tecnologia está a evoluir de forma exponencial em todos os campos. A robotização, a automação, a informatização, a inteligência artificial, as telecomunicações, etc. estão, cada vez mais, a substituir o homem em todos os aspectos da produção.

5 – Ao afastar o homem do processo produtivo, a tecnologia está também a acabar com os empregos e, portanto, com os salários. E, na actual economia, não havendo salários, não há poder de compra. Sem poder de compra, não há vendas. Sem vendas, não há lucros. E sem lucros, não há incentivo para a produção privada.

6 – E aqui chegamos ao absurdo em que o homem precisa de todo o tipo de bens para viver, a tecnologia tem uma capacidade crescente de os produzir sozinha, mas produz-se cada vez menos porque a esmagadora maioria da produção é feita por privados e estes já não têm incentivo para produzir –> porque não conseguem vender -> porque não há poder de compra -> porque não há salários -> porque não há empregos.

7 – Se uma máquina consegue produzir sozinha (sem interferência humana), então é igualmente eficaz a produzir sendo privada ou sendo propriedade pública.


Uma empresa privada fecha as suas portas porque, embora esteja 100% apta a produzir e os seus produtos sejam necessários, como as pessoas estão desempregadas, porque foram substituídas por máquinas, não têm salários e, portanto, não têm dinheiro para comprar os produtos dessa empresa:




8 – Se a tecnologia privada deixa de produzir por falta de incentivos (porque não vende), então toda a tecnologia produtiva tem de ser socializada. E, deste modo, a tecnologia pública produzirá o máximo de bens e serviços, o mais eficazmente possível, para atender às necessidades da comunidade.

9 – Para que as pessoas possam adquirir os produtos de que têm necessidade, e enquanto a capacidade produtiva não puder proporcionar tudo a todos, a comunidade distribuirá uma semanada ou uma mesada igual para todos.

10 – O Homem poderá libertar-se finalmente das grilhetas do trabalho para viver e dedicar-se aos passatempos que desejar.


quarta-feira, agosto 31, 2016

Computadores Inteligentes -> Fim dos Empregos -> Fim dos Salários -> Fim das Vendas -> Fim dos Lucros -> Fim da Propriedade Privada dos Meios de Produção


«Bem pensado, mas nunca substituirão o cavalo», disseram os cépticos quando viram os primeiros automóveis.


O falecido e grande economista Wassily Leontief respondeu há 35 anos àqueles que defendiam que a tecnologia nunca seria realmente capaz de substituir o trabalho das pessoas: As máquinas substituíram os cavalos, não foi?

Os cavalos ainda resistiram durante algum tempo como força de trabalho mesmo depois de terem sido desafiados pela primeira vez pelas tecnologias de comunicação "modernas", como o telégrafo e a ferrovia, o transporte de material e de pessoas. Mas, quando o motor de combustão interna chegou, os cavalos - como componente crítico da economia mundial - passaram à história.

Cortar as rações dos cavalos pode ter atrasado um pouco a sua substituição por tractores mas, passados alguns uns anos, a única solução para os 20 milhões de cavalos recém-desempregados foi pô-los a pastar.

Quando o motor de combustão interna chegou, a solução foi pôr os cavalos a pastar


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Diário de Notícias - 19/08/2016

Artigo de Ricardo Simões Ferreira

Nada vai escapar à supremacia da inteligência artificial

Com o deep learning, em vez de serem pessoas a escrever os programas informáticos, são os dados que escrevem os programas.

O mundo vive hoje à beira de uma transformação que fará que a Revolução Industrial pareça uma nota de rodapé nos compêndios de História. O desenvolvimento da verdadeira inteligência artificial (AI na sigla inglesa) vai mudar a maneira como trabalhamos, como aprendemos, enfim, como vivemos, de formas que mal conseguimos imaginar.

Não é exagero. Nos últimos anos, as redes informáticas de alta velocidade e o poder de processamento das máquinas têm permitido a criação de algoritmos de "aprendizagem" que há bem pouco tempo nem existiam. Um deles, um processo chamado deep learning, recolhe dados em bruto dos universos informáticos em que se desenvolve para se autoprogramar. "Em vez de serem pessoas a escrever programas informáticos, são os dados que escrevem os programas", sintetiza à The Economist o presidente do fabricante de processadores NVIDIA, Jen-Hsun Huang.



O software assim criado pode ser qualquer coisa. O deep learning está na sua infância e é hoje já usado para caçar utilizações fraudulentas de cartões de crédito, filtrar correio eletrónico não solicitado, reconhecer comandos de voz, fazer traduções e pesquisas na internet, criar objetos "de arte", conduzir automóveis autónomos e, até, escrever notícias. (O The Washington Post está neste momento a fazer a cobertura dos Jogos Olímpicos no seu blogue nas redes sociais através de um sistema de escrita automática baseado num processo deste género).

Que lugar terá o ser humano num mundo em que os computadores potencialmente conseguirão tudo fazer?


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Nos princípios do século XX, só um louco imaginaria que ainda no seu tempo de vida poderia ser trivial viajar a 10 km de altitude a 1000 km/h, que seria comum uma transplantação do coração, do fígado, dos pulmões, dos rins, etc., que com um telemóvel poderia falar em tempo real com outra pessoa no outro lado do mundo (vendo a imagem do seu interlocutor no ecrã), ou que poderia ter quase todo o conhecimento do mundo na ponta dos dedos (num computador ligado à Internet).

A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, de forma crescente, possui mais dados, mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.

A tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.

Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá necessariamente de pertencer ao grupo, à comunidade, à sociedade.

O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego condenado ao desastre social?

É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. É necessário criar rapidamente, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.


sexta-feira, abril 01, 2016

Os cientistas têm usado com sucesso células estaminais para gerar músculo do coração humano


O que os corações humanos criados em laboratório poderiam significar para a crise de Dadores de órgãos.

Um coração humano parcialmente "recelularizado", sendo cultivado num biorreator



Cientistas do Massachusetts General Hospital, em Boston deram um primeiro passo no sentido de desenvolver corações humanos em laboratório, o que poderá pôr fim à crise nacional de doação de órgãos.

Os cientistas retiraram do coração do dador todas as células que podiam causar a rejeição do destinatário e, seguidamente, usaram células estaminais para reconstruir o tecido.

Um estudo detalhando o processo lança luz sobre vários elementos-chave da bioengenharia do músculo do coração humano, afirmou o Dr. Harald C. Ott. Dr. Ott é professor assistente de cirurgia no hospital e um autor sénior do estudo, que foi publicado na revista Circulation Research no Outono passado.

"Embora limitado em vigor, estas foram as primeiras (minúsculas) batidas de um coração recém-formado gerado a partir de células estaminais humanas," disse o Dr. Harald C. Ott.

"Os cientistas têm ainda um longo caminho a percorrer até que possam criar corações funcionais integrais para os pacientes", acrescentou. "Um dia será possível fazer crescer um órgão inteiro usando as próprias células e tecidos do doente".

"Tal como acontece com muitos desenvolvimentos científicos, o tempo é um fator determinado pelo financiamento, pelo homem e pelo poder do cérebro", disse Ott. "O nosso estudo mostra que é teoricamente possível, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Como primeiro passo, eu acredito que partes do coração humano estarão disponíveis mais cedo do que enxertos de todo o coração, e estamos a seguir ativamente esta opção".

Quando esta técnica estiver disponível seria como um salva-vidas, já que há 4.153 pessoas em todo os EUA que precisam de um transplante de coração - e no ano passado, cerca de 402 pessoas morreram, enquanto estavam na lista de espera, de acordo com a United Network for Organ Sharing.

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Número de americanos a viver na pobreza atinge recorde




Quanto mais Capitalismo e mais Evolução Tecnológica, maior a Pobreza... Um dueto que funciona cada vez pior...


1 - A Informática, a Automação, as Telecomunicações, etc., estão a substituir progressivamente o homem nas empresas, o que provoca um desemprego crescente.

2 - Ao contrário do que aconteceu até aos anos 70-80, em que a Tecnologia destruía empregos mas criava novas funções gerando outros empregos, as novas Tecnologias geram actividades que já não são preenchidas por pessoas mas por máquinas..

3 - Estes desempregados ficam sem poder de compra o que implica que as empresas vendem cada vez menos e fecham as suas portas criando cada vez mais desemprego... rumo ao desemprego total.

4 - A «Economia» baseada no Emprego está a morrer. Caímos no absurdo em que a capacidade de produção aumenta exponencialmente e as pessoas, porque desempregadas e sem dinheiro, vivem cada vez pior. Este paradigma económico tem de mudar radicalmente...




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DN - Globo - 04 de fevereiro de 2016

No ano passado foram contabilizados 46,2 milhões de americanos a viver na pobreza. Este é o número mais elevado desde que em 1959 o gabinete de recenseamento dos EUA começou a recolher destes dados.

O número de americanos a viver abaixo do limiar da pobreza aumentou durante quatro anos seguidos, enquanto a taxa de pobreza no país é a mais elevada desde 1993. Já o número de pobres em termos absolutos, 46,2 milhões em 2010, é o mais elevado desde que o gabinete de recenseamento começou a efectuar este tipo de registos.Os números foram hoje avançados num relatório do Census.

Nos Estados Unidos, é considerada pobre uma família de quatro elementos que tiver um rendimento anual inferior a 22314 dólares (cerca de 16 mil euros) ou uma pessoa sozinha que receba menos de 11139 dólares (cerca de oito mil euros) por ano.

O relatório indica ainda que o valor dos rendimentos das famílias americanas baixou 2,3% em 2010. Enquanto isso, a taxa de desemprego mantém-se actualmente acima dos 9%.

Para fazer face a esta situação, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou na semana passada o lançamento de um plano de 450 mil milhões de dólares (328 mil milhões de euros) para promover a criação de emprego.


segunda-feira, agosto 10, 2015

O «paradoxo da produtividade», ou melhor, o fim do emprego e da propriedade privada dos meios de produção devido ao avanço exponencial da tecnologia




A informática e a robotização tendem a reduzir a zero os custos de produção e possuem a capacidade de diminuir drasticamente a necessidade de trabalho.

É por esse motivo que o produto interno bruto (PIB), que representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos, caracteriza cada vez menos a economia real.





Artigo retirado DAQUI

Tradução minha:

Porque é que a Internet não ajudou a economia americana a crescer tanto como os economistas esperavam?

Se esteve presente nalgum cocktail de economistas no mês passado, então ouviu provavelmente falar do e-book de Tyler Cowen, The Great Stagnation [A Grande Estagnação]. O livro procura explicar porque é que os salários médios cresceram tão pouco desde os anos 1970 e começaram a declinar na última década. Cowen aponta para um problema novo: até aos anos 1970, o país [EUA] estava ainda cheio de mercados acessíveis para alimentar o crescimento do Produto Interno Bruto. Nos 40 anos anteriores a 1970, inovações impressionantes na mudança e melhoria da qualidade de vida – como tinham sido a penicilina, os jardins-de-infância para todos, casas de banho, aviões, automóveis – tornaram-se, em 1970, mais difíceis de atingir, fazendo baixar as taxas de crescimento do mundo industrializado.




"Mas esperem"! Dirão muitos. Nos anos 1970, a indústria Americana começou a produzir tecnologias sensacionais para a mudança e melhoria da qualidade de vida. Tivemos calculadoras com gráficos, sistemas de processamento de dados, finanças modernas, GPS, chips de silício, ATMs, telefones celulares e uma data de outras inovações. Não terá a Internet, o mais revolucionário avanço tecnológico nas comunicações desde que Gutenberg inventou a imprensa, feito nada para o crescimento do Produto Interno Bruto? A resposta, os economistas concordam de um modo geral, foi: é pena, mas não – pelo menos, não tanto como seria de esperar.

Há um quarto de século atrás, com as novas tecnologias a saturarem os lares americanos e os negócios, os economistas olharam à sua volta esperando encontrar em algum lado crescimento induzido pela informática. Mas sinais de um aumento de produtividade ou de um reforço do crescimento eram pequenos e raros. Evidentemente, os computadores e a Web transformaram milhares de negócios e centenas de indústrias. Mas, no conjunto, as coisas pareciam estar na mesma. A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto não aumentou significativamente, nem a produtividade. Como afirmou o economista Rober Solow em 1987: "É possível observar a influência do computador em tudo menos nas estatísticas da produtividade."




Surgiu todo um conjunto de teorias sobrepostas para explicar o fenómeno, muitas vezes designado o "paradoxo da produtividade." Talvez as novas tecnologias beneficiassem umas empresas e indústrias e prejudicassem outras, não permitindo um ganho líquido. Talvez os sistemas informáticos ainda não fossem suficientemente fáceis de usar de forma a reduzir o esforço dos trabalhadores para executarem uma determinada tarefa. Os economistas também colocaram a hipótese de que talvez fosse ainda necessário algum tempo – talvez bastante tempo – para que os ganhos se tornassem uma realidade. No passado, as tecnologias de informação tendiam a precisar de um período de incubação antes de produzirem ganhos no crescimento económico. Tome-se o caso da imprensa de Gutenberg: embora a tecnologia tenha transformado radicalmente a forma como as pessoas guardavam e transmitiam notícias e informação, os economistas não encontraram provas de que a imprensa tenha acelerado o rendimento per capita ou o crescimento do Produto Interno Bruto nos séculos XV e XVI.

Houve um momento em que alguns economistas pensaram que a idade do ouro induzida pela Internet tinha finalmente chegado nos finais dos anos 1990. Entre 1995 e 1999, as taxas de crescimento da produtividade excederam de facto as do boom do período 1913 – 1972, significando talvez que a Web e a computação tinham trazido finalmente a "Nova Economia". Mas esse período de veloz crescimento desvaneceu-se rapidamente. E alguns estudos descobriram que os ganhos desses anos não foram tão impressionantes e tão alargados como se pensara inicialmente. Robert Gordon, um professor de economia de Chicago, por exemplo, chegou à conclusão de que os computadores e a Internet ajudaram geralmente a aumentar a produtividade na produção de bens duráveis – ou seja, na produção de coisas como computadores e semicondutores. "O nosso tema central é que os computadores e a Internet não chegam ao nível das Grandes Invenções do fim do século XIX e princípios do século XX, e que, por isso, não merecem a classificação de Revolução Industrial," escreveu Gordon.

O trabalho de Gordon conduziu a outra teoria, esta defendida pelo próprio Cowen. Talvez a Internet não seja tão revolucionária como pensamos. Evidentemente, as pessoas podem tirar muito prazer dela – a sua tendência para melhorar a qualidade de vida das pessoas é inegável. E claro, pode ter revolucionado a forma como encontramos, compramos e vendemos produtos e serviços. Mas mesmo assim, tal não significa necessariamente que seja uma transformação da economia como foram, por exemplo, os caminhos-de-ferro.




Isto acontece em parte porque a Internet e os computadores tendem a reduzir os custos a zero, e têm a capacidade de reduzir a necessidade de trabalho. Você está, evidentemente, a ler este artigo de graça num site da Web sustentado financeiramente não por subscrições, mas por publicidade. Você lê provavelmente muitos artigos online, e presumivelmente não paga nada por isso. Por causa do declínio das subscrições, maior competição por dinheiro de publicidade e outras dinâmicas induzidas pela Web, os lucros e o emprego no jornalismo têm diminuído na última década. (O facto de Cowen escrever num blogue de acesso livre e publicar as suas ideias num e-book de 4 dólares em vez de num lustroso livro de capa dura de 25 dólares não pode deixar de ser salientado aqui.) Mais ainda, a Web e o sector tecnológico dependente dos computadores não emprega muita gente. Tal como não aumenta o número de trabalhadores: O Gabinete de Estatísticas do Trabalho calcula que o emprego nas tecnologias de informação será menor em 2018 do que era em 1998

Pode ser difícil acreditar que a Internet não tenha produzido um boom económico, Cowen admite. "Temos uma memória colectiva histórica de que o progresso tecnológico traz consigo uma grande e previsível fonte de receitas de um crescimento que abarca a maior parte da economia," escreve. "No que toca à Web, estas suposições mostram-se erradas ou enganadoras. Os sectores de maior rendimento da nossa economia têm vindo a diminuir e os maiores ganhos tecnológicos têm vindo de sectores de pouca rentabilidade."




Mas o rendimento não é sempre o objectivo final – mesmo em economia. Isto conduz-nos à explicação final: Talvez não seja o crescimento que é deficiente. Talvez aconteça que o parâmetro que usamos para o medir que não seja o adequado. O professor do MIT Erik Brynjolfsson explica o conceito utilizando o exemplo da indústria musical: "Pelo facto de tanto eu como você termos deixado de comprar CDs, a indústria musical contraiu-se, segundo os rendimentos e o Produto Interno Bruto. Mas nós não estamos a ouvir menos música. Nunca houve tanto consumo de música como hoje." O aumento da escolha, da variedade e da disponibilidade de música deve ter algum valor para nós – mesmo que seja difícil quantificá-lo. "No papel, e pela forma como o Produto Interno Bruto é calculado, a indústria musical está a desaparecer, mas na realidade não está. Estão a desaparecer as receitas da música mas não aquilo que mais nos interessa – que é a música."

À medida que as nossas vidas são cada vez mais vividas online, Brynjolfsson pergunta-se se isto se pode vir a transformar num grande problema: "Se todos nos concentrarmos a medir apenas a parte da economia que produz dólares, estaremos a deixar cada vez mais de fora aquilo que as pessoas apreciam e consomem. A discrepância será cada vez maior."

Mas arranjar uma medida alternativa do que produzimos ou consumimos baseado no valor que as pessoas obtêm do Wikipedia ou do Pandora (arquivo nacional australiano) mostra-se um desafio extraordinário – na verdade, nenhum economista jamais o fez. Brynjolfsson afirma que é possível, talvez, somando várias "mais-valias do consumidor," medidas em termos de quanto é que os consumidores estariam dispostos a pagar por um determinado bem ou serviço, versus o quanto eles pagam de facto (uma pessoa pode pagar $10 por um CD, mas porque é que o faria se este fosse grátis?). Isto pode dar uma ideia aproximada do valor em dinheiro daquilo que a Internet tende a fornecer de graça – e dar-nos um sentido alternativo do valor que as tecnologias têm para nós, senão mesmo, a sua capacidade de produzir crescimento e rendimento para nós.




Claro que, se as nossas tecnologias mais radicais e capazes de alterar a nossa vida não estão a aumentar os rendimentos ou a produtividade ou o crescimento, então ainda teremos problemas. Melhorias na qualidade de vida não põem o jantar na mesa nem pagam os benefícios da Segurança Social. Contudo, até mesmo Cowen não vê apenas nuvens negras no horizonte, com os rendimentos a estagnarem indefinidamente à medida que vamos produzindo cada vez mais online e perdendo cada vez mais emprego e dinheiro. Quem sabe que extraordinárias tecnologias podem estar ao virar da esquina?

segunda-feira, junho 08, 2015

O Fim do Emprego - «Bem pensado – mas nunca substituirão o cavalo», disseram os cépticos quando viram os primeiros automóveis.


No principio do século XX só um louco imaginaria que no seu tempo de vida poderia ser trivial viajar a 10 km de altitude a 1000 km/h, que seria banal uma transplantação do coração, fígado, pulmões, etc., que com um telemóvel poderia falar em tempo real com outra pessoa no outro lado do mundo (vendo a sua imagem no ecrã), ou que poderia ter quase todo o conhecimento do mundo na ponta dos dedos (num computador ligado à Internet).

Uma resposta aos que se agarram desesperadamente a um paradigma que surgiu com a revolução industrial – O Emprego – quando se percebe que este está a agora desaparecer em todo o lado a uma velocidade vertiginosa. Tudo devido à evolução tecnológica exponencial a todos os níveis.

O fim do emprego trará também o fim do capitalismo e, a cereja em cima do bolo, o fim do parasitismo financeiro.


The Benz Patent Motor Car Velocipede Of 1894


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* Nos primeiros tempos da aviação, o astrónomo americano William Pickering, que predisse a existência de Plutão, preveniu o público de que: «A mente popular imagina frequentemente gigantescas máquinas voadoras atravessando o Atlântico a grandes velocidades e transportando numerosos passageiros como um moderno paquete… Parece-me seguro afirmar que tais ideias são totalmente visionárias, e mesmo que uma máquina conseguisse atravessar o Atlântico com um ou dois prisioneiros, os custos seriam proibitivos…» Três décadas mais tarde, em Julho de 1939, foi inaugurada a primeira linha aérea transatlântica com um hidroavião Boeing 314, o Yankee Clipper da Pan American, transportando 19 passageiros.





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* Em 1924, o engenheiro electrotécnico inglês Alan Archibald Swinton, um dos pioneiros do de raios catódicos, fez uma palestra na Radio Society da Grã-Bretanha sobre «Visão à Distância». Diria então: «Provavelmente não valerá a pena que alguém se dê ao trabalho de consegui-la.» Quatro anos mais tarde, a General Electric Company inaugurava, no estado de Nova Iorque, a primeira rede de televisão do Mundo.




* «História dos Grandes Inventos - Selecções do Reader’s Digest – 1983, pág 62».


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A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, de forma crescente, possui mais dados, mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.

A tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.

Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá necessariamente de pertencer ao grupo, à comunidade, à sociedade.

O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego condenado ao desastre social?

É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. É necessário criar rapidamente, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.




Comentário

O processo paradigmático acima descrito não tem necessariamente de ficar à espera de uma revolução tecnológica completa que o conclua. Muito sofrimento humano pode ser evitado com revoltas, ora pacíficas, ora violentas, consoante os casos, contra a vermina financeira (e respetivos serviçais – na política, na justiça e nos media) que carcome, devora e parasita a humanidade.
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domingo, outubro 12, 2014

Miguel Sousa Tavares - uma vedeta no campo da ignorância, do racismo primário e da cretinice...


Resposta minha a um artigo de Miguel Sousa Tavares



Miguel Sousa Tavares


Miguel Sousa Tavares: Não é só no futebol que no fim ganham os alemães. É no futebol, no atletismo, no automobilismo, no andebol, na equitação, no ski. É no desporto, na música, na literatura, na arquitectura, na construção de carros, de electrodomésticos, de máquinas industriais, etc., etc.

Diogo: Neste seu primeiro parágrafo, Miguel Sousa Tavares dá já um forte sinal do tom obtuso que acompanha todo o artigo.

O MST esquece-se que a Alemanha é o país mais populoso da Europa Ocidental. Tinha 60 milhões antes da união com a Alemanha Oriental - hoje, tem cerca de 83 milhões de habitantes.

A estatística ensina-nos que, em igualdade de circunstâncias e seja em que actividade for, um país com 80 milhões de pessoas tem 8 vezes mais probabilidades de ter desportistas ou cientistas bons, muito bons ou geniais do que um país com 10 milhões de pessoas. É simples matemática.


Agora, analisando alguns pontos referidos por MST:

1 - Quanto à construção de carros (quando estes eram ainda só produtos nacionais): os suecos, que são apenas 10 milhões, criaram a Volvo, a Saab e outras, marcas que em nada ficam atrás da Mercedes, da Audi ou de outras marcas alemãs.

Quanto aos ingleses, cerca de 60 milhões de habitantes, julgo que toda a gente já ouviu falar nos Rolls Royce, nos Bentley, nos Aston Martin, nos Jaguares, etc.

Mesmo a sulista e desorganizada Itália, com cerca de 60 milhões de habitantes, produziu o Alfa Romeo, o Maserati, o Ferrari, o Lancia, o Lamborghini, etc.


Um Volvo, um Aston Martin e um Maserati


2 - «Arquitectura, electrodomésticos e máquinas industriais»? Atente-se nalgumas empresas em países com uma fracção da população alemã: a sueca Electrolux, a holandesa Philips, a belga AGFA, a suíça Nestlé, a finlandesa Nokia, a irlandesa Diageo (da cerveja Guinness), a dinamarquesa LEGO ou a espanhola Iberdrola ficam atrás das empresas alemãs?

3 - «Na literatura»? Acaso franceses, italianos ou espanhóis são mais fracos que os alemães? E se falarmos dos ingleses, então os alemães levam uma valente tareia.

4Quanto à «música», a abada dos ingleses e irlandeses aos alemães é de um milhão a zero. Alguém conhece algum compositor ou grupo musical contemporâneo alemão? E quantos compositores e grupos musicais ingleses conhecemos? – Milhares! E creio que mesmo franceses, italianos e espanhóis, em termos musicais, estão à frente da Alemanha.


Três grupos musicais britâncos praticamente desconhecidos



Miguel Sousa Tavares: Podemos gostar ou não, podemos até desdenhar, mas a verdade é esta: no fim, ganham os alemães. E ganham, porquê? Porque trabalham mais, porque se focam nos objectivos, porque valorizam os resultados. Se alguém quiser entender por que razão a Alemanha está farta dos países do sul da Europa, ponha-se na pele de um alemão. E compare a selecção alemã, campeã do mundo, com, por exemplo, a portuguesa.

Diogo: Comparemos, então:

Jogos disputados entre os organizados alemães e os desorganizados portugueses (desde 1985):

Vou usar o símbolo () para indicar que se trata de uma Eliminatória:


- Campeonato do Mundo de 1986 (Fevereiro de 1985): Portugal - 1 / Alemanha Ocidental - 2

- Campeonato do Mundo de 1986 (Outubro de 1985): Alemanha Ocidental - 0 / Portugal - 1

Jogo Amigável (Agosto de 1990): Portugal - 1 / Alemanha Ocidental - 1

Jogo Amigável (Fevereiro de 1996): Portugal - 1 / Alemanha - 2

- Campeonato do Mundo de 1998 (Dezembro de 1996): Portugal0 / Alemanha - 0

- Campeonato do Mundo de 1998 (Setembro de 1997): Alemanha - 1 / Portugal - 1

Euro 2000 (Junho de 2000): Alemanha - 0 / Portugal - 3

Campeonato do Mundo de 2006 (Julho de 2006): Alemanha - 3 / Portugal - 1

Euro 2008 (Junho de 2008): Portugal - 2 / Alemanha - 3

Euro 2012 (Junho de 2012): Portugal0 / Alemanha - 1

Campeonato do Mundo de 2014 (Junho de 2014): Alemanha4 / Portugal - 0


Em suma, nos últimos 11 jogos entre Alemanha e Portugal (de 1985 até hoje), a Alemanha ganhou seis vezes (quatro dessas vitórias foram tangenciais, apenas por um golo de diferença), houve três empates e Portugal ganhou por duas vezes.

E é bom lembrar que, se no último jogo do Campeonato do Mundial deste ano (2014) a Alemanha ganhou por quatro a zero (com o português Cristiano Ronaldo, considerado o melhor jogador do mundo, a jogar aleijado - a somar a outros), o segundo resultado mais desnivelado entre as duas selecções deu-se no Euro 2000, em que Portugal ganhou por três a zero à Alemanha.


Sérgio Conceição festeja um dos três golos que marcou à Alemanha


Em termos de campeonatos do mundo, os desorganizados países do sul da Europa e os ainda mais desorganizados países da América do Sul pedem meças à Alemanha (que, afinal, nem sempre ganha).

O Brasil já ganhou cinco campeonatos do mundo, A Itália e a Alemanha já ganharam quatro cada, a Argentina e o Uruguai duas vezes e a Inglaterra, França e Espanha uma vez. Resumindo, dos 20 campeonatos do mundo já disputados, os desorganizados do sul (Brasil, Itália, Argentina, Uruguai e Espanha) ganharam 14. Os organizados do norte (Alemanha e Inglaterra) ganharam 5 (sendo que o campeonato ganho pela Inglaterra merecia ter sido ganho por Portugal [com Eusébio]), e a França (esta com um pé do lado dos organizados e outro do lado dos desorganizados) ganhou uma vez.

Nos 14 campeonatos da Europa até agora disputados, a Espanha e a Alemanha já venceram por três vezes, a França duas e a União Soviética, a Itália, a Holanda, a Checoslováquia, a Dinamarca e a Grécia, uma vez. Aqui, os organizados do norte (Alemanha, Holanda e Dinamarca) ganharam cinco vezes e os desorganizados do sul (Espanha, Itália e Grécia) ganharam outras cinco, sendo que os dois últimos campeonatos europeus foram ganhos pela Espanha. Portugal ficou uma vez em segundo lugar e três vezes em terceiro lugar.



Miguel Sousa Tavares: A selecção alemã que foi ao Brasil não tinha vedetas nem pequenas, nem médias, nem grandes. Não se davam ares de vedetas, nem fora nem dentro do campo. Umas vezes, esmagaram e fascinaram com o seu futebol de carrossel demolidor, outras vezes — como na final — correram, lutaram, sofreram, sangraram e, no fim, ganharam. Nenhum jogador quis dar nas vistas por outra razão que não fosse jogar futebol. Ali não havia ninguém com tatuagens, com penteados ridículos, com figurinos tipo Raul Meireles, com brincos nas orelhas, com pose de deuses inacessíveis de auscultadores enfiados nos ouvidos, fingindo-se alheios a tudo o que os rodeava, como se fossem superiores à gente comum.

Diogo: Talvez, em certa medida, o penteado burlesco, o escarafunchar do nariz e o capuz beneditino do treinador alemão, Joachim Low, compensem as tatuagens, os penteados, os brincos, as poses e o alheamento dos jogadores portugueses.



O treinador alemão, Joachim Low



Miguel Sousa Tavares: Não, os alemães passaram pelo Brasil confraternizando, querendo ver e saber, curiosos e contentes por ali estarem — tão diferentes dos nossos heróis do mar, fechados para o mundo em hotéis-fortaleza, onde só entravam cabeleireiros, tatuadores e agentes. Os alemães não passaram as conferências de imprensa a debitar lugares comuns e frases feitas sem conteúdo, próprias de quem jamais foi visto com um livro, uma revista ou um jornal na mão e passa os tempos livres a debitar selfies e banalidades nas redes sociais, imaginando-se o centro do mundo.

Diogo: Desconheço o grau académico dos jogadores alemães (suponho que sejam quase todos licenciados e doutorados). Tenho, contudo, experiência suficiente para afirmar que em qualquer ponto do globo, jogadores e treinadores de futebol só podem (e só estão autorizados, senão tramam-se) a debitar banalidades. O que aconteceria a um jogador que afirmasse que o «mister» era uma besta porque o deveria ter posto a jogar de início ou que dois colegas da sua equipa não jogam a ponta de um chavelho?

Ou, como sugere MST, os jogadores talvez devessem ter confraternizado com os habitantes locais, sobretudo, talvez, com as «piquenas»…


Uma habitante local desejosa de confraternização



Miguel Sousa Tavares: Os alemães mandaram ao Brasil uma verdadeira embaixada, para servir o futebol e honrar o seu país, enquanto nós mandámos um grupo de homens mimados e convencidos, comandados por dirigentes que não lhes souberam exigir que estivessem, em todos os aspectos, à altura da responsabilidade.

Diogo: Aqui, MST mostra-se mordaz e incisivo! Estou de acordo em relação à ineficiência dos nossos dirigentes desportivos. Fazem lembrar, em tons matizados, os nossos dirigentes políticos ou a chanceler Merkel.



Miguel Sousa Tavares: Mas, como em tudo o resto que fazem, os alemães também mandaram um grupo de jogadores que se portaram como verdadeiros profissionais, que trabalharam e treinaram no duro, enquanto que nós mandámos uma excursão de rapazes que se convenceram que os penteados e as tatuagens, por si só, conseguem ganhar jogos ou então ficar na fotografia que parece bastar-lhes.

Diogo: E, não obstante os penteados e as poses de Ronaldo, este foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa e ficou com a Bola de Ouro da revista France Football em 2008, em 2013 e também em 2014.

E relembro que o Real Madrid, este ano (2014), foi a Munique, esmagar por quatro a zero, com dois golos (um deles fantástico) de Ronaldo, o Bayern local - que constitui a espinha dorsal dessa fabulosa seleção alemã - e que o Real Madrid conta na sua equipa principal com três portugueses: Cristiano Ronaldo, Fábio Coentrão e Pepe (brasileiro naturalizado português).


Cristiano Ronaldo depois de marcar o 4º golo do Real Madrid ao Bayern de Munique



Miguel Sousa Tavares: Não é por acaso que o campeonato alemão tem estádios cheios e que o público dá por bem empregue o seu tempo e o seu dinheiro, enquanto que o principal do nosso campeonato é jogado em estádios vazios e vivido sobretudo nos programas televisivos dos dias seguintes, a discutir se foi bola na mão ou mão na bola ou se a entrada de uma equipa em campo 2 minutos e 45 segundos depois da hora marcada condicionou ou não decisivamente o resultado de outro jogo. Nós discutimos, eles jogam. Nós tatuamos, eles treinam. Nós penteamos, eles correm. Nós somos recebidos e pré-condecorados pelo Presidente antes de começar, eles são apoiados na bancada pela chanceler quando chegam à final. Nós somos heróis antes de partir, eles são vencedores depois de ganharem. Não é por acaso que, desde que me lembro e tanto quanto me lembro, só dois jogadores portugueses (Paulo Sousa e Petit) jogaram no campeonato alemão e só um jogador alemão jogou no campeonato português (Enke).

Diogo: Esta última afirmação é bem reveladora do défice de neurónios e sinapses de MST.

A Alemanha tem 83 milhões de habitantes e Portugal tem 10 milhões. As grandes equipas de qualquer país encontram-se logicamente nas grandes cidades. É por isso que Benfica, Sporting e Porto são de Lisboa e do Porto. E é sabido que o número de grandes cidades na Alemanha é muito maior do que em Portugal. Logo, a Alemanha tinha obrigatoriamente que ter um leque muito mais vasto de equipas boas do que Portugal. E, como é lógico, um jogo entre equipas boas e com dezenas ou centenas de milhares de adeptos é muito mais interessante e gera muito masi receitas do que um jogo entre as equipas de Vila de Cima e de Vila de Baixo, cada uma delas com apenas algumas centenas de fãs.

Portugal só tem três equipas (sofríveis) - Benfica, Porto e Sporting - que são hoje de nível de segunda divisão europeia. E isto, porque são obrigadas a passar um ano inteiro a jogar com «mijas na escada». E, embora estes três clubes tivessem capacidade para ter boas receitas (porque têm um grande número de adeptos), não o conseguem porque as restantes equipas do campeonato português são medíocres. Resumindo, a quase totalidade dos jogos do campeonato nacional não têm interesse nenhum. E os estádios estão vazios.

Mas porque é que MST não olha para os campeonatos espanhóis e italianos, dois países do sul e, portanto, desorganizados? Não estão os estádios cheios e não dá o público por bem empregue o seu tempo e o seu dinheiro? Isto acontece porque a Espanha tem 45 milhões de habitantes e a Itália, a França e a [organizada] Inglaterra têm mais de 60 milhões de habitantes. Todos este países têm muitas cidades grandes, muitas delas com equipas com muitos adeptos e, portanto, com campeonatos de alto nível que geram grandes receitas (o que lhes permite irem buscar todos os bons jogadores dos países mais pequenos.


Imagens deste ano - 2014. O brutal contraste entre o jogo do Real Madrid - Atlético de Bilbau (com o estádio completamente cheio), e do Belenenses - Setúbal (com o estádio completamente às moscas).


Com a abertura das fronteiras e da livre circulação de pessoas, os bons jogadores das boas equipas dos países pequenos mudaram-se de armas e bagagens para as equipas dos campeonatos dos países mais populosos - Espanha, Itália, Inglaterra Alemanha e França. Porque, nestes países, o número de equipas boas é muito maior e, portanto, as receitas dos jogos também. Logo, vêm buscar os bons jogadores dos países mais pequenos.

É por isso que Benfica, Porto e Sporting desapareceram da ribalta, tais como os holandeses Ajax, Feyenoord e PSV Eindhoven, os belgas Anderlecht e Standard de Liège, os escoceses Aberdeen, Dundee United e Celtic de Glasgow, os austríacos Áustria de Viena e o Sturm Graz e tantos, tantos outros (de países com menos habitantes)...



Miguel Sousa Tavares: Não perguntem o que é que os alemães têm. É toda uma sociedade fundada no trabalho, no mérito, na responsabilidade, nos resultados. Goste-se ou não, isto não tem nada a ver com o fado. É outra cultura, é outra coisa.

Diogo: Mas, maior capacidade de organização não significa nem mais inteligência, nem mais talento, nem mais engenho.

É sabido que os povos que vivem em climas mais rigorosos têm de ser obrigatoriamente mais organizados. Porque, outrora, se eles não caçassem, semeassem e colhessem na altura certa e se não tivessem as suas cabanas bem preservadas, quando chegassem os rigores do inverno, ou estoiravam com fome ou com frio. Julgo até possível que os povos do norte tenham interiorizado geneticamente essa capacidade de organização.

À medida que se vai andando para sul e o clima se torna mais quente, essa necessidade de organização vai diminuindo. Há mais árvores de fruto, mais plantas cerealíferas, mais animais, mais gado e mais caça. A sobrevivência é mais fácil. Os climas mais quentes não exigem tanta capacidade de organização como as zonas de climas rigorosos.

Outro aspecto tem a ver com o grau tecnológico. Na antiguidade, Grécia e Roma foram o centro da civilização (e, antes deles, o Egito e a Mesopotâmia), enquanto os povos do centro e do norte da Europa (os germânicos, os nórdicos e outros) eram os bárbaros. À medida que a tecnologia ia chegando à Europa setentrional, os povos que lá viviam, graças à sua maior capacidade de organização (fruto dos rigores climáticos) conseguiram tirar maior partido dela (da tecnologia).


Bárbaros germânicos quando ainda eram escravizados por Roma


É por isso que a Suécia está mais avançada que a Alemanha, que a Alemanha está mais avançada que a França, que a França está mais avançada que a Espanha, que a Espanha está mais avançada que Marrocos, que Marrocos está mais avançado que o Mali e que o Mali está mais avançado que o Gana.

Estou a lembrar-me das palavras do piloto sueco-finlandês de fórmula 1, Keke Rosberg, quando lhe perguntaram porque é que tinha ido viver para o sul de França. Ele respondeu: "a Finlândia é demasiado limpinha para o meu gosto".

Também uma mulher africana (não me recordo de que país), que teve uma filha de um norueguês e que dava aulas de etnologia numa universidade em Oslo, passava seis meses na Noruega e seis meses seu país natal em África. Perguntaram-lhe porque é que não residia o ano todo na Noruega. Ela respondeu: "porque (no seu país) em África não há horários, não há segundas-feiras, nem terças-feiras, etc., e não há Janeiros, nem Fevereiros, etc". A precisão horária, diária e mensal, tão importantes para os europeus (e quanto mais a norte, mais importantes são), tornam-se irrelevantes numa zona com um clima quente onde se pode dormir ao ar livre e onde há alimentos durante o ano todo.



Alguns dirão: "os africanos vivem uma vida miserável, com fomes, doenças e guerras". Mas convém lembrar que foram as multinacionais dos «países organizados» que levaram para lá todas essas desgraças.

O Miguel Sousa Tavares pode ser filho de uma dinamarquesa e ter herdado a sua capacidade de organização. Mas não me parece que tenha herdado nem a inteligência do pai nem a arte da mãe...