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sexta-feira, janeiro 30, 2009

Freeport? Não há já suficientes casos de Administração danosa?

Administração danosa ou expectativa frustrada?



Artigo 235º do Código Penal

Administração danosa:

1 – Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa até 600 dias.

2 - A punição não tem lugar se o dano se verificar contra a expectativa fundada do agente.



Jornal de Negócios - 16 Outubro 2008

Texto de João Cândido da Silva

Pela estrada fora

O mínimo que se pode dizer sobre as conclusões do relatório produzido pelo Tribunal de Contas a respeito das parcerias público-privadas no sector rodoviário, é que se trata de um documento impressionante. Com uma frieza implacável, o conteúdo do documento:

Sobre o asfalto onde rolam estas operações, o acelerador vai sempre a fundo se o que está em causa é derreter o dinheiro dos contribuintes.

A gestão e aplicação criteriosa dos recursos públicos são valores votados ao mais chocante desprezo, nos terrenos pantanosos onde cresce a rede de estradas nacionais. O documento impressiona pelo retrato que faz do caos que reina neste domínio. Denuncia a quase completa ausência de transparência nas poucas contas que vão sendo apresentadas, impedindo o escrutínio a que deviam estar sujeitas. Coloca a nu a escassa capacidade do Estado no acompanhamento dos contratos celebrados com as entidades privadas, sublinhando hábitos instalados de negligência. Mas há mais.

O texto evidencia o facto de a eficácia e eficiência dos elevados gastos efectuados com base na sangria dos cofres públicos não serem objecto de avaliação. Gasta-se, e muito, sem cuidar de verificar se os meios utilizados atingiram os fins desejados. Revela, também, que os riscos dos negócios para o Estado são simplesmente ignorados. E que este, sem planificação nem estratégia, vai tapando buracos à medida que vão surgindo, improvisando de acordo com a inspiração do momento.

Podia dar-se o caso de as graves denúncias efectuadas pelo Tribunal de Contas abrangerem algum período específico, situação em que as responsabilidades poderiam ser facilmente apuradas, desde que para tal houvesse vontade. Mas não é esse o caso. Para desconforto de quem se interesse por conhecer, mais de perto, a orgia esbanjadora que reina nas parcerias público-privadas, os governos que ficam mal na fotografia são todos aqueles que estiveram em funções desde 1999 até à actualidade. Na esclarecedora obra assinada por Guilherme d’Oliveira Martins, ninguém sai bem. Ou não será bem assim?

A incompetência, o desleixo e a irresponsabilidade reveladas pelos inquilinos do sector público que gerem e tomam decisões sobre as parcerias, colocam o Estado numa posição de fraqueza. Onde devia estar uma entidade zelosa e diligente, fica o vazio. E este é devidamente preenchido pelo vasto leque de fornecedores de serviços que, certamente, não se queixam de ver o seu volume de negócios crescer por conta dos devaneios de quem gere dinheiro que, não sendo de ninguém, pode ser deitado à rua.

Por tudo isto, até se compreende que o Tribunal de Contas tenha decidido divulgar o relatório ao serão de uma sexta-feira. Em véspera de fim-de-semana, quem quer arreliar-se com o facto de as parcerias público-privadas nas estradas já terem absorvido mais de mil milhões de euros em oito anos? E quem quer angustiar-se por se prepararem para sugar dez por cento do produto interno bruto nos próximos 20 anos
?


Artigo 235º do Código Penal - Administração danosa:

1Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público é punido...


Em suma, segundo o Tribunal de Contas nas palavras de João Cândido da Silva:

a) Sobre o asfalto onde rolam estas operações, o acelerador vai sempre a fundo se o que está em causa é derreter o dinheiro dos contribuintes.

b) A gestão e aplicação criteriosa dos recursos públicos são valores votados ao mais chocante desprezo...

c) A quase completa ausência de transparência nas poucas contas que vão sendo apresentadas, impedindo o escrutínio a que deviam estar sujeitas.

e) Gasta-se, e muito, sem cuidar de verificar se os meios utilizados atingiram os fins desejados.

f) Revela, também, que os riscos dos negócios para o Estado são simplesmente ignorados.

g) Onde devia estar uma entidade zelosa e diligente, fica o vazio (...) devidamente preenchido pelo vasto leque de fornecedores de serviços que, certamente, não se queixam de ver o seu volume de negócios crescer por conta dos devaneios de quem gere dinheiro [público]... já terem absorvido mais de mil milhões de euros em oito anos, e se prepararem para sugar dez por cento do produto interno bruto nos próximos 20 anos.



Artigo 235º do Código Penal - Administração danosa:

2 - A punição não tem lugar se o dano se verificar contra a expectativa fundada do agente.

Excertos de uma entrevista a Sócrates ao Acção Socialista sobre os Estádios do Euro 2004 (19/5/2004):

Sócrates - "O Governo aprendeu. Começou por ter as maiores dúvidas e reservas quanto ao Euro 2004, a fazer-lhe críticas muito pueris, próprias de quem não percebeu nada do que estava em causa. O Euro 2004 não é um torneio de futebol, é muito mais do que isso. É um grande acontecimento que projecta internacionalmente o nosso país".

Sócrates - "Nós definimos como orientação que Portugal devia ser um país capaz de realizar grandes eventos desportivos internacionais".

Sócrates - "Pois, mas a construção dos dez estádios não um odioso, é bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante.

Sócrates - "Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."


O Tribunal de Contas também já se tinha pronunciado sobre os Estádios do Euro:

No Diário de Notícias e no Correio da Manhã:

- Mais de mil milhões de euros de investimento público total (no Euro 2004).

- Tribunal de Contas (TC) questiona se o elevado montante de apoios públicos ao campeonato organizado por Portugal no Verão de 2004 não poderia ter tido uma utilização mais eficiente noutras áreas de relevante interesse e carência pública.

- Tribunal de Contas refere que os novos estádios do Euro 2004 estão sobredimensionados, o que pode ser constatado pelas baixas taxas de ocupação, da ordem dos 20 a 35%.

- O dinheiro investido neste espectáculo de grande escala não teve grande retorno. Quase seis meses depois do Euro 2004, alguns estádios onde foram investidos milhões de euros para receber a prova estão «às moscas». Dos recintos do Euro2004, só os dos «três grandes» tiveram sucesso comercial.

- Numa auditoria desenvolvida pelo Tribunal de Contas junto dos estádios de Guimarães, Braga, Leiria, Coimbra, Aveiro, Loulé e Faro, ficou claro que as autarquias se endividaram para os próximos 20 anos.

- As sete autarquias que receberam jogos do Euro 2004 contraíram empréstimos bancários no valor global de 290 milhões de euros para financiar obras relacionadas com o campeonato.

- Na sequência destes empréstimos, as câmaras terão que pagar juros no montante de 69,1 milhões de euros, nos próximos 20 anos, refere o relatório de auditoria do Tribunal de Contas.



Comentário:

Pelo que ficou dito, o Tribunal de Contas parece indicar de forma inequívoca que, tanto nas parcerias público-privadas no sector rodoviário como no caso dos estádios do Euro 2004, se aplica o nº 1 do Artigo 235º do Código Penal:

1 – Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa até 600 dias.

2 - A punição não tem lugar se o dano se verificar contra a expectativa fundada do agente.

Alguém acredita que os danos que se verificam hoje nas parcerias público-privadas no sector rodoviário, e se verificaram com os estádios do Euro 2004, foram contra as expectativas fundadas dos agentes políticos que os aprovaram?


Um curto excerto da Auditoria à Gestão das Parcerias Público-Privadas executada pelo Tribunal de Contas:

"Verificou-se o desenvolvimento de projectos sem motivos de tráfego que o justificassem, prejudicando a aferição do value for money das respectivas Parcerias Público-Privadas."



E quanto ao novo Aeroporto e aos TGVs, em relação aos quais o primeiro-ministro Sócrates se mostra tão empenhado:

Opinião de Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006:

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»

terça-feira, outubro 28, 2008

Miguel Sousa Tavares: no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro - há grandes jogadas feitas na sombra



Miguel Sousa Tavares

Expresso 25/10/2008

«... mais parecendo um menino divertido com os seus brinquedos sem perceber que a casa está a arder, temos Mário Lino, o infatigável ministro das Obras inúteis. Encontrei-o há dias num restaurante a almoçar, e ele, simpático como sempre, confessou-me que se tem “fartado de rir” com as “asneiras” que eu digo, em particular aquela de que basta olhar para o céu, no aeroporto da Portela, para perceber que ele não está saturado, ao contrario do que juram. De facto, eu acho que a história da saturação do Aeroporto da Portela é a mentira da década, destinada a vender-nos um aeroporto novo, inútil. Assim como acho inútil e ruinoso o TGV para Madrid ou para Vigo ou as novas auto-estradas em concurso. Mais inútil ainda, e esse altamente lesivo do interesse público, é o contrato com a Liscont para o terminal de contentores de Alcântara - a última asneira do ministro Mário Lino e objecto do último texto aqui.»

«Asneira por asneira, a diferença é que as minhas, a serem reais, são inofensivas, e as dele não. De Janeiro a Julho, eu trabalho exclusivamente para proporcionar ao Estado o dinheiro de que ele necessita para fazer obras públicas. E achar que parte significativa delas são inúteis e se destinam apenas a alimentar uma clientela empresarial que não vive sem o Estado, não me dá vontade nenhuma de rir. Ainda se isto fosse a feijões...»



Comentário:

Mas não é a feijões, é a milhares de milhões. Andamos todos a trabalhar, de Janeiro a Julho, para encher os bolsos a banqueiros, a empresários de obras públicas e a subservientes amigos políticos. Como afirmou o mesmo Miguel Sousa Tavares no Expresso de 07/01/2006:

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro - há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»

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quinta-feira, outubro 16, 2008

Administração danosa ou decisão política?

Artigo 235º do Código Penal

Administração danosa:

1 – Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa até 600 dias.

2 - A punição não tem lugar se o dano se verificar contra a expectativa fundada do agente.


Administração danosa ou expectativa frustrada?



Jornal de Negócios - 16 Outubro 2008

Texto de João Cândido da Silva

Pela estrada fora

(clicar nas imagens para aumentar):


Texto de João Cândido da Silva:

O mínimo que se pode dizer sobre as conclusões do relatório produzido pelo Tribunal de Contas a respeito das parcerias público-privadas no sector rodoviário, é que se trata de um documento impressionante. Com uma frieza implacável, o conteúdo do documento:

Sobre o asfalto onde rolam estas operações, o acelerador vai sempre a fundo se o que está em causa é derreter o dinheiro dos contribuintes.

A gestão e aplicação criteriosa dos recursos públicos são valores votados ao mais chocante desprezo, nos terrenos pantanosos onde cresce a rede de estradas nacionais. O documento impressiona pelo retrato que faz do caos que reina neste domínio. Denuncia a quase completa ausência de transparência nas poucas contas que vão sendo apresentadas, impedindo o escrutínio a que deviam estar sujeitas. Coloca a nu a escassa capacidade do Estado no acompanhamento dos contratos celebrados com as entidades privadas, sublinhando hábitos instalados de negligência. Mas há mais.

O texto evidencia o facto de a eficácia e eficiência dos elevados gastos efectuados com base na sangria dos cofres públicos não serem objecto de avaliação. Gasta-se, e muito, sem cuidar de verificar se os meios utilizados atingiram os fins desejados. Revela, também, que os riscos dos negócios para o Estado são simplesmente ignorados. E que este, sem planificação nem estratégia, vai tapando buracos à medida que vão surgindo, improvisando de acordo com a inspiração do momento.

Podia dar-se o caso de as graves denúncias efectuadas pelo Tribunal de Contas abrangerem algum período específico, situação em que as responsabilidades poderiam ser facilmente apuradas, desde que para tal houvesse vontade. Mas não é esse o caso. Para desconforto de quem se interesse por conhecer, mais de perto, a orgia esbanjadora que reina nas parcerias público-privadas, os governos que ficam mal na fotografia são todos aqueles que estiveram em funções desde 1999 até à actualidade. Na esclarecedora obra assinada por Guilherme d’Oliveira Martins, ninguém sai bem. Ou não será bem assim?

A incompetência, o desleixo e a irresponsabilidade reveladas pelos inquilinos do sector público que gerem e tomam decisões sobre as parcerias, colocam o Estado numa posição de fraqueza. Onde devia estar uma entidade zelosa e diligente, fica o vazio. E este é devidamente preenchido pelo vasto leque de fornecedores de serviços que, certamente, não se queixam de ver o seu volume de negócios crescer por conta dos devaneios de quem gere dinheiro que, não sendo de ninguém, pode ser deitado à rua.

Por tudo isto, até se compreende que o Tribunal de Contas tenha decidido divulgar o relatório ao serão de uma sexta-feira. Em véspera de fim-de-semana, quem quer arreliar-se com o facto de as parcerias público-privadas nas estradas já terem absorvido mais de mil milhões de euros em oito anos? E quem quer angustiar-se por se prepararem para sugar dez por cento do produto interno bruto nos próximos 20 anos
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Artigo 235º do Código Penal - Administração danosa:

1Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público é punido...


Em suma, segundo o Tribunal de Contas nas palavras de João Cândido da Silva:

a) Sobre o asfalto onde rolam estas operações, o acelerador vai sempre a fundo se o que está em causa é derreter o dinheiro dos contribuintes.

b) A gestão e aplicação criteriosa dos recursos públicos são valores votados ao mais chocante desprezo...

c) A quase completa ausência de transparência nas poucas contas que vão sendo apresentadas, impedindo o escrutínio a que deviam estar sujeitas.

e) Gasta-se, e muito, sem cuidar de verificar se os meios utilizados atingiram os fins desejados.

f) Revela, também, que os riscos dos negócios para o Estado são simplesmente ignorados.

g) Onde devia estar uma entidade zelosa e diligente, fica o vazio (...) devidamente preenchido pelo vasto leque de fornecedores de serviços que, certamente, não se queixam de ver o seu volume de negócios crescer por conta dos devaneios de quem gere dinheiro [público]... já terem absorvido mais de mil milhões de euros em oito anos, e se prepararem para sugar dez por cento do produto interno bruto nos próximos 20 anos.



Artigo 235º do Código Penal - Administração danosa:

2 - A punição não tem lugar se o dano se verificar contra a expectativa fundada do agente.

Excertos de uma entrevista a Sócrates ao Acção Socialista sobre os Estádios do Euro 2004 (19/5/2004):

Sócrates - "O Governo aprendeu. Começou por ter as maiores dúvidas e reservas quanto ao Euro 2004, a fazer-lhe críticas muito pueris, próprias de quem não percebeu nada do que estava em causa. O Euro 2004 não é um torneio de futebol, é muito mais do que isso. É um grande acontecimento que projecta internacionalmente o nosso país".

Sócrates - "Nós definimos como orientação que Portugal devia ser um país capaz de realizar grandes eventos desportivos internacionais".

Sócrates - "Pois, mas a construção dos dez estádios não um odioso, é bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante.

Sócrates - "Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."


O Tribunal de Contas também já se pronunciou sobre os Estádios do Euro:

No Diário de Notícias e no Correio da Manhã:

- Mais de mil milhões de euros de investimento público total (no Euro 2004).

- Tribunal de Contas (TC) questiona se o elevado montante de apoios públicos ao campeonato organizado por Portugal no Verão de 2004 não poderia ter tido uma utilização mais eficiente noutras áreas de relevante interesse e carência pública.

- Tribunal de Contas refere que os novos estádios do Euro 2004 estão sobredimensionados, o que pode ser constatado pelas baixas taxas de ocupação, da ordem dos 20 a 35%.

- O dinheiro investido neste espectáculo de grande escala não teve grande retorno. Quase seis meses depois do Euro 2004, alguns estádios onde foram investidos milhões de euros para receber a prova estão «às moscas». Dos recintos do Euro2004, só os dos «três grandes» tiveram sucesso comercial.

- Numa auditoria desenvolvida pelo Tribunal de Contas junto dos estádios de Guimarães, Braga, Leiria, Coimbra, Aveiro, Loulé e Faro, ficou claro que as autarquias se endividaram para os próximos 20 anos.

- As sete autarquias que receberam jogos do Euro 2004 contraíram empréstimos bancários no valor global de 290 milhões de euros para financiar obras relacionadas com o campeonato.

- Na sequência destes empréstimos, as câmaras terão que pagar juros no montante de 69,1 milhões de euros, nos próximos 20 anos, refere o relatório de auditoria do Tribunal de Contas.



Comentário:

O Tribunal de Contas parece provar de forma inequívoca que, tanto nas parcerias público-privadas no sector rodoviário como no caso dos estádios do Euro, se aplica o nº 1 do Artigo 235º do Código Penal:

1 – Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com multa até 600 dias.

Alguém acredita que os danos que se verificam hoje, nas parcerias público-privadas no sector rodoviário, e se verificaram ontem, com os estádios do Euro, foram contra as expectativas fundadas dos agentes?


Um curto excerto da Auditoria à Gestão das Parcerias Público-Privadas executada pelo Tribunal de Contas:

"Verificou-se o desenvolvimento de projectos sem motivos de tráfego que o justificassem, prejudicando a aferição do value for money das respectivas PPP."



Como afirmou Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»
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terça-feira, agosto 26, 2008

Quatro pessoas já foram assassinadas na linha do Tua em ano e meio - Quid Bono? Quem beneficia?

Raquel Ramalho Lopes, RTP - 2008-08-24

Isto não é um acidente ferroviário”, declarou o maquinista Fernando Pires à RTP.

O maquinista cita técnicos que referem que um acidente ferroviário deveria implicar falhas na via, no material circulante ou existência de obstáculos. “Não tinha nada disso. A via estava boa, o material óptimo e não tinha obstáculo nenhum. Só pode ser uma coisa muito estranha”, comenta.

Fernando Pires sustenta que os acidentes começaram desde que teve início o debate para a construção da barragem do Foz Tua. No período de ano e meio ocorreram quatro acidentes. “Eu estive em dois. Os mais recentes”. Nestes acidentes faleceram quatro pessoas.

O desastre de sexta-feira, a um quilómetro da Estação da Brunheda, concelho de Carrazeda de Ansiães, provocou um morto e 43 feridos, um dos quais em estado grave. Viajavam 47 pessoas na composição.

O acidente mais grave ocorreu a 12 de Fevereiro de 2007, em que três pessoas perderam a vida.


Conclusões de inquéritos estão por divulgar

O maquinista acredita que a Linha do Tua é segura e que o material se encontra em boas condições. Fernando Pires está curioso por saber as conclusões do inquérito em curso pela CP, REFER, Metro de Mirandela e Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres.

Uma curiosidade partilhada com o presidente da Câmara Municipal de Mirandela. José Silvano, que também preside à Metro de Mirandela, lamenta que só tenham sido divulgadas as conclusões do inquérito ao primeiro acidente, em Fevereiro do ano passado. O documento apontava causas naturais, como o desabamento de terras e pedras, para o acidente.

Para o autarca “ao não haver divulgação dos resultados dos inquéritos, está-se a alimentar a teoria da conspiração em que muitos transmontanos já acreditam, de alguém querer fechar a Linha do Tua”.

O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) também manifestou “tristeza e estranheza” pela “sucessão de acidentes na Linha do Tua, ora por uma razão ora por outra”. “O PEV vai esperar pelo resultado do inquérito que com toda a certeza se realizará com a maior celeridade” e renovou a sua oposição à construção da barragem do Foz Tua.

Os resultados preliminares do inquérito ao último acidente devem chegar ao conhecimento do ministro dos Transportes, Mário Lino, na próxima terça-feira.


Jovens retiraram parafusos com as mãos

Com as nossas próprias mãos conseguimos desapertar os parafusos. Como é possível? Alguns estavam completamente soltos”, disse uma jovem, que integra o grupo de 40 pessoas, entre os 15 e os 17 anos, que entregaram na Estação do Tua parafusos recolhidos junto ao local do acidente da passada sexta-feira.


Governo garante que Linha do Tua tem vistorias frequentes

A REFER analisa o estado de conservação da via ferroviária de 15 em 15 dias, garantiu a secretária de Estado dos Transportes, sexta-feira, aquando de uma deslocação ao local do acidente.

A CP tinha vistoriado na semana passada a composição que esteve envolvida no acidente e concluiu este não poderia ter origem em problemas mecânicos da composição.


Barragem envolta em polémica

O PEV e os autarcas da região do Tua têm-se manifestado contra a construção da barragem da Foz do Tua. Os autarcas de Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Alijó e Murça quiseram criar um programa de desenvolvimento do Vale do Tua, antes de negociarem as compensações com a EDP (empresa que irá construir a barragem).

O início dos trabalhos de construção desta barragem está previsto para o início do próximo ano. A barragem deverá ser construída na junção do Tua com o Douro, local onde se cruzam as linhas ferroviárias do Tua e do Douro. As obras implicam colocar debaixo de água parte da Linha do Tua, com 120 anos.

O PEV pediu a intervenção da UNESCO, com a argumentação que a construção da barragem vai afectar o Alto Douro Património Mundial. “Os Verdes” alegam ainda que a barragem vai submergir “uma das mais belas linhas ferroviárias do mundo”.

A Quercus também saiu em defesa da continuidade do rio e da via férrea, alertando para a fauna, flora, geologia, paisagem e património que poderá impulsionar o desenvolvimento económico e turístico da região.

“Os Verdes acusaram mesmo o Governo de fugir ao debate sobre o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctico, após o PS ter inviabilizado a comparência do ministro do Ambiente no Parlamento.

O Programa Nacional de Barragens, aprovado a 7 de Dezembro do ano passado, prevê a construção de 10 barragens: Foz do Rio Tua, Pinhosão (Rio Vouga), Padroselos, Vidago, Daivões, Fridão e Gouvães (Rio Tâmega), Girabolhos (Rio Mondego), Alvito (Rio Ocreza) Almourol (Rio Tejo).

O plano define o investimento de 1.140 milhões de euros e estima o aumento da capacidade hídrica em 1.100 megawatts.


Diário de Notícias:

O presidente da Metro de Mirandela, José Silvano, diz desconhecer as conclusões dos relatórios dos dois anteriores acidentes.

Ao DN, José Silvano afiança que a empresa não recebeu os referidos relatórios. "Nunca tivemos conhecimento deles", adianta. Já em relação ao do primeiro acidente, elaborado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, lembra que "apontava como causa do acidente o deslizamento de pedras". Face a tudo isto, José Silvano assegura que, por si, não vai "permitir a circulação na linha enquanto não forem conhecidas publicamente as causas deste acidente".

O porta-voz da Refer, Santos Lopes, não comenta estas afirmações e diz que "os relatórios são enviados às entidades envolvidas". Quanto ao pedido para que a empresa divulgue as causas deste acidente, lembra que a esta "não toma a iniciativa de divulgar os relatórios".

O Partido Os Verdes defende que o Governo "deve explicações claras e convincentes sobre os acidentes ocorridos na Linha do Tua, no espaço de um ano e meio" e lamenta que "quatro meses depois da ocorrência do segundo [acidente] e dois meses depois do terceiro acidente, as causas dos mesmos ainda não são publicamente conhecidas". Os Verdes estranham ainda o facto dos acidentes terem ocorrido "numa zona da linha que ficará sempre submersa em qualquer das cotas propostas para esta Barragem". José Silvano não acredita em sabotagem mas teme que este acidente venha contribuir para "um encerramento definitivo da Linha do Tua".


Comentário:

Diz o Procurador-Geral da República (PGR) que vai pedir um reforço à investigação da criminalidade violenta. Ele que dê a máxima prioridade a estes "acidentes". Assassinam-se pessoas para construir barragens. Os suspeitos estão bem à vista.
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terça-feira, julho 08, 2008

Lóbi das obras públicas, o grande financiador dos partidos do ‘centrão'

Miguel Sousa Tavares

Expresso 05/07/2008

«Manuela Ferreira Leite tem toda a razão, quando denuncia a inutilidade de obras públicas que não são essenciais, que não obedecem a uma estratégia conhecida de desenvolvimento, que são lançadas quando se enfrenta uma crise e se tenta a todo o custo conter o défice, e quando a factura é remetida para os nossos filhos. E tem toda a coragem, quando ousa enfrentar o lóbi das obras públicas, que é o grande financiador dos partidos do ‘centrão’. Caiu-lhe em cima a CIP e a AICCOP, uma das associações do sector, justamente alarmadas.

Diz o presidente desta última que "compete à iniciativa privada assumir-se como motor de desenvolvimento e o que nós pedimos é que o Estado crie as condições para se iniciar um novo ciclo de investimento". Eu traduzo, para o caso de ainda haver alguém que não perceba: eles são iniciativa privada para os devidos fins de respeitabilidade e estatuto; mas só são iniciativa se o Estado lhes garantir as empreitadas e os negócios e só são privados para colherem os lucros, ficando os riscos para o Estado. É assim como se o merceeiro da esquina dissesse: ‘Se o Estado me garantir que compra todo o «stock» que eu não conseguir vender, eu garanto a minha iniciativa privada de comerciante’.»


Comentário:

Como se a Manuela tivesse vontade de enfrentar o lóbi das obras públicas! Como se a Manuela, tal como o Sócrates, não fizesse parte do tal centrão que é financiado pelo dito lóbi.

O Sócrates e a Manuela estão para o lóbi das obras públicas, como o Bush e a Hillary estão para o lóbi militar-industrial americano. Meros "public relations representing business".
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segunda-feira, junho 16, 2008

Mário Lino brinda as Mota Engis com 40 mil milhões de euros

Miguel Sousa Tavares: «Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»


Diário Económico Online/Lusa - 20/05/2008:

O ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, afirmou estimar que o plano de investimento em infra-estruturas para os próximos dez anos vá aumentar o nível de actividade no sector da construção de sete para 11 mil milhões de euros por ano.

(...) Os projectos de investimento em grandes infra-estruturas lançados pelo Governo para os próximos 10 anos ascendem a quase 40 mil milhões de euros.

(...) "Estamos perante uma situação que é urgente mudar radicalmente e é nesse sentido que temos vindo a trabalhar arduamente, afrontando muitas vezes incompreensões só justificáveis por preconceitos contra o que se tem, inapropriadamente designado por 'política do betão', e por obstáculos só justificáveis por quem põe interesses particulares, nomeadamente politico-partidários, à frente dos interesses do país", afirmou.



Comentário:

Quando um quinto dos portugueses (1,8 milhões) tem emprego precário, quando existem dois milhões de pobres em Portugal, quando se contam por várias centenas de milhares o número de desempregados no nosso país, «os mesmos de sempre» voltam a apostar em «obras» criminosamente inúteis e dispendiosas.
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terça-feira, junho 03, 2008

Como se lança um concurso para um TGV no valor de 1.450 milhões de euros no começo de um Europeu de Futebol

Enquanto as televisões apontam as suas câmaras para a carreira da selecção nacional de futebol no Euro 2008, o governo aproveita para lançar elefantes brancos abjectamente dispendiosos e inúteis que vão endividar o país por gerações:



Media Manipulation (Wikipedia):

Manipulação Mediática consiste num tipo de relações públicas no qual os políticos criam uma imagem ou uma argumentação que favorece os seus interesses particulares. Tais tácticas incluem o uso de falácias lógicas e técnicas de propaganda, e envolvem muitas vezes a supressão de informação ou pontos de vista, induzindo outras pessoas ou grupos de pessoas a parar de ouvir determinados argumentos, ou simplesmente desviando-lhes a atenção para outro lado.

Desvio de atenções graças a um acontecimento especial (Distraction by phenomenon): é uma estratégia arriscada mas efectiva pela qual o público pode ser distraído por longos períodos de um assunto importante por outro assunto que ocupa mais tempo nos meios de comunicação. Quando a estratégia resulta, pode-se ter uma guerra ou outro evento mediático desviando a atenção de comportamentos reprováveis ou de menor honestidade por parte dos líderes.





Miguel Sousa Tavares (Expresso 07/01/2006)

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»
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quarta-feira, abril 16, 2008

O CEO não pode esperar



Miguel Sousa Tavares - Expresso 12/4/2008

E por que não uma ponte?

«Confesso que não tinha pensado muito no assunto, talvez porque, tendo gasto demasiado tempo e atenções a perceber bem o que era o embuste do aeroporto da Ota ou o luxo do TGV não me sobrou igual atenção e disponibilidade para olhar mais de perto a questão da nova ponte sobre o Tejo. Resolvida, parcialmente bem, a questão do novo aeroporto de Lisboa (eu faço parte do restrito número dos que ainda não estão convencidos da necessidade de novo aeroporto), resolvida, como mal menor ou bem inútil, a megalomania do TGV, aí está, por acréscimo e decorrente das duas decisões anteriores, a nova ponte sobre o Tejo.»

«Escutando e lendo o que se dizia sobre o assunto, concluí que a discussão versava apenas sobre a sua melhor localização: o Governo queria Chelas-Barreiro, a CIP queria Beato-Montijo, e alguns outros, a que se veio juntar o líder do PSD, queriam Algés-Trafaria. E foi só quando o Governo apresentou a sua “decisão final” por Chelas-Barreiro (já se percebera que, tendo cedido no aeroporto, não iria ceder na ponte, por uma questão de imagem de autoridade), que eu comecei a olhar melhor para os fundamentos da decisão e, de súbito, me assaltou a pergunta: para que serve a nova ponte

«Vejamos: a ponte será rodoviária, com seis faixas de rodagem, e ferroviária, com duas faixas para o TGV e outras duas para comboios normais. Olhemos então para cada uma destas utilidades.»

«A utilidade rodoviária é incompreensível: a Vasco da Gama, inaugurada há dez anos, está muito longe, longíssimo, do limite da sua capacidade e não será o trânsito do novo aeroporto de Alcochete que a irá esgotar. A necessidade de fazer uma nova estrutura rodoviária para uma procura que não existe é, aliás, uma tendência que se vem acentuando no lançamento de uma teia de auto-estradas, anunciadas com orgulho pelo Governo ou de paternidade reclamada pela oposição. Há dias, um casal estrangeiro meu amigo, que tinha acabado de conhecer a A-2 e a A-6 num dia de semana, comentava comigo que nunca, em lado algum, tinha visto auto-estradas tão boas e tão desertas, ao que eu respondi que nós éramos um país bem mais rico do que as estatísticas económicas mostravam: um terço da população activa, com crise ou sem ela, viaja compulsivamente para destinos exóticos distantes, no Verão, no Natal e na Páscoa; temos 1,5 fogos por habitante e continuamos desenfreadamente a construir segundas habitações no que resta de litoral ou interior ainda disponível; temos mais de um automóvel por família e mais de um telemóvel por habitante; e temos auto-estradas para todo o lado e algumas sem portagens, que fazem corar de inveja esses casos de sucesso económico sem auto-estradas nem TGV que são a Irlanda, a Suécia, a Noruega, a Dinamarca. Logo, a nova travessia rodoviária do Tejo em Lisboa (ainda no ano passado se inaugurou mais uma, em Santarém) é inútil para as necessidades existentes. Mas é, sem dúvida, muito útil para as necessidades a criar.»

«Se eu vivesse no Barreiro - ou no Montijo ou na Trafaria - de certeza que acharia brilhante a ideia de me fazerem uma ponte à porta de casa e ligada a Lisboa: em vez de vir de barco, vinha de carro. Mas aí, justamente, é que está o gato: a nova ponte, segundo o estudo do LNEC, terá um tráfego de 65.000 carros/dia em cada sentido, dos quais apenas uma parte será roubada à ponte 25 de Abril. Assim, mais uns 40.000 carros chegarão todos os dias a Lisboa, ajudando a congestionar uma das saídas da cidade, já hoje congestionada ao final do dia, e tratarão de ajudar a entupir mais ainda o trânsito no centro e a agravar a situação caótica do estacionamento. Ou seja: não servindo para resolver um problema que não existe, a nova ponte vai, por si só, criar um problema novo. Não deixa de ser notável que o presidente da Câmara, António Costa (que mantém teimosamente em vigor a demagógica proibição de circulação de carros na Baixa, aos domingos) a única coisa que tenha a dizer sobre isto é que espera receber parte das receitas das portagens: consente que durante cinco dias da semana haja mais 40.000 carros na cidade e, aos domingos, dá uma de politicamente correcto!»

«Mas a nova ponte vai servir também para comboios. Para comboios normais e para o TGV Lisboa-Madrid. E aqui é que as coisas se tornam ainda mais chocantes: o TGV Lisboa-Madrid, confessado pela própria secretária de Estado dos Transportes, é uma obra cujo investimento nunca será recuperado - é a fundo perdido - e cuja exploração “dificilmente será rentável”. Isto é, os custos da sua exploração serão inferiores às receitas e pela simples razão de que não há clientes que justifiquem o TGV: é uma obra reconhecidamente inútil à partida e que só vai para a frente porque Sócrates, à semelhança de todos os outros construtores que o antecederam, acha que “Portugal não pode ficar fora da rede europeia de alta velocidade”. Parece que é uma questão de prestígio patriótico. Vamos, pois, ter uma ponte para servir um TGV que não serve para nada, a não ser para perder dinheiro do Estado. Se isto não consegue escandalizar os portugueses, já nada mais conseguirá.»

«Resta a utilidade de servir comboios normais que servirão o novo aeroporto. Independentemente de eu ainda não estar convencido também da necessidade do novo aeroporto, acredito que, sendo uma coisa necessária, a outra também seja e que esta é a melhor solução para tal. Mas, sendo assim, a nova ponte poderia ser simplesmente uma ponte ferroviária de duas vias para comboios normais. Seguramente que teria muito menos impactos ambientais e paisagísticos sobre as vistas de Lisboa, minimizaria em muito os danos à navegação do estuário do Tejo de que se fala e, certamente, não custaria os 1.700 milhões de euros anunciados pelo Governo - e que, se tivermos sorte e conforme é de costume, acabarão por ser apenas o dobro. Além de mais, evitava-se ainda uma factura extra e não contabilizada, que é o custo da indemnização a pagar à Lusoponte, concessionária da ponte Vasco da Gama. Pois que se descobriu agora que anteriores governos, decerto assessorados por excelentes advogados, garantiram à Lusoponte, não só a prorrogação do prazo da concessão na vigência do contrato, mas ainda a exclusividade das receitas das travessias do Tejo, sob pena de indemnização. É verdade, sim, houve quem, em nome do Estado português, cedesse a uma entidade privada o direito exclusivo à cobrança de portagens na travessia de um rio - coisa jamais vista desde o feudalismo medieval

«E assim, meditando no assunto, cheguei a esta conclusão, seguramente absurda: a nova ponte Chelas-Barreiro não serve para nada. Isto é, serve para alimentar o lóbi das obras públicas, o mais poderoso do país, e a crença de que o Estado deve ser o motor da economia e o maior cliente da mal chamada iniciativa privada, deste modo desmentindo na prática todas as anunciadas apostas de José Sócrates na qualificação, nas novas tecnologias e na investigação como instrumentos de transformação e modernidade do país. Esta é a mesma velha política de sempre e uma das raízes mais fundas do nosso atraso económico e da perversão da nossa democracia.»
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