quarta-feira, outubro 08, 2008

Money as Debt – Dinheiro é Dívida (segmento legendado em português - 8:20m)

Já alguma vez pensaram porque é que os bancos têm tanto dinheiro, enquanto os países, as empresas e os indivíduos estão tão endividados?

Neste vídeo, «Money as Debt» [Dinheiro é Dívida], Paul Grignon pega num assunto tabu e, de forma inteligente e divertida, torna-o num tópico inteligível. Costuma dizer-se que a verdade liberta, mas que primeiro costuma deixar-nos zangados. Depois de conhecer a verdadeira história do sistema bancário já não é possível voltar à crença mística da banca como um elemento válido da sociedade. Muito pelo contrário!

O vídeo revela os mitos e os conceitos relativos à história do dinheiro. Toda a gente gosta de dinheiro, toda a gente o deseja, toda a gente precisa e depende dele. O que quase ninguém percebe são os fundamentos do dinheiro. O que é o dinheiro e donde é que ele vem? Estas são algumas das difíceis realidades que Grignon expõe em linguagem simples.

Este é um vídeo que deve ser visto por todos. Encorajo qualquer um, de professores a funcionários bancários, contabilistas, estudantes e toda a gente a assistir a este vídeo.

Legendei em português os primeiros oito minutos (8:20m) do vídeo «Money as Debt». Este curto segmento conta a história de um ourives do Renascimento, e de como ele começou a cobrar juros de um ouro que não possuía e que não existia. Em suma, a verdadeira essência da banca.

Peço a todos os visitantes deste blog que divulguem este vídeo pelo maior número possível de pessoas, precisamente agora, quando estamos a assistir a um dos maiores embustes bancários da história e de consequências difíceis e provavelmente catastróficas para quase todos nós.


Diogo


Os primeiros oito minutos e vinte segundos (8:20m) do vídeo 'Money as Debt' - legendados em português.


Dinheiro como Dívida - Money as Debt @ Yahoo! Video


A versão completo do vídeo em inglês (47m): Money as Debt

E a versão completa do vídeo em espanhol (47m): El Dinero es Deuda.
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segunda-feira, outubro 06, 2008

Mário Crespo - Pactos de Silêncio


Artigo de Mário Crespo

Pactos de silêncio

Jornal de Notícias - 2008-09-29

No Outono de 1989 conduzi na RTP os debates entre os candidatos a Lisboa. O grande confronto foi PS/PSD. Duas candidaturas notáveis. Jorge Sampaio, secretário-geral, elevou a política autárquica em Portugal a um nível de importância sem precedentes ao declarar-se candidato quando os socialistas viviam um dos seus cíclicos períodos de lutas intestinas. O PSD escolheu Marcelo Rebelo de Sousa.

No debate da RTP confrontei-os com a fotocópia de documentos dos arquivos do executivo camarário do CDS de Nuno Abecassis. Um era o acordo entre os promotores de um enorme complexo habitacional na zona da Quinta do Lambert e a Câmara. Estipulava que a Câmara receberia como contrapartida pela cedência dos terrenos um dos prédios com os apartamentos completamento equipados. Era um edifício muito grande, seguramente vinte ou trinta apartamentos, numa zona que aos preços do mercado era (e é) valiosíssima. Outro documento tinha o rol das pessoas a quem a Câmara tinha entregue os apartamentos. Havia advogados, arquitectos, engenheiros, médicos, muitos políticos e jornalistas. Aqui aparecia o nome de personagem proeminente na altura que era chefe de redacção na RTP.

A lista discriminava os montantes irrisórios que pagavam pelo arrendamento dos apartamentos topo de gama na Quinta do Lambert. Confrontados com esta prova de ilicitude, os candidatos às autárquicas de 1989 prometeram, todos, pôr fim ao abuso. O desaparecido semanário Tal e Qual foi o único órgão de comunicação que deu seguimento à notícia. Identificou moradores, fotografou o prédio e referiu outras situações de cedência questionável de património camarário a indivíduos que não configuravam nenhum perfil de carência especial. E durante vinte anos não houve consequência desta denúncia pública.

O facto de haver jornalistas entre os beneficiários destas dádivas do poder político explica muito do apagamento da notícia nos órgãos de comunicação social, muitos deles na altura colonizados por pessoas cuja primeira credencial era um cartão de filiação partidária. Assim, o bodo aos ricos continuou pelas câmaras de Jorge Sampaio e de João Soares e, pelo que sabemos agora, pelas câmaras de outras forças partidárias. Quem tem estas casas gratuitas (é isso que elas são) é gente poderosa. Há assessores dispersos por várias forças políticas e a vários níveis do Estado, capazes de com uma palavra no momento certo construir ou destruir carreiras. Há jornalistas que com palavras adequadas favoreceram ou omitiram situações de gravidade porque isso era (é) parte da renda cobrada nos apartamentos da Quinta do Lambert e noutros lados. O silêncio foi quebrado agora que os media se multiplicaram e não é possível esconder por mais vinte anos a infâmia das sinecuras. Os prejuízos directos de décadas de venalidade política atingem muitos milhões.

Não se pode aceitar que esta comunidade de pedintes influentes se continue a acoitar no argumento de que habita as fracções de património público "legalmente". Em essência nada distingue os extorsionistas profissionais dos bairros sociais das Quintas da Fonte dos oportunistas políticos que de suplicância em suplicância chegaram às Quintas do Lambert. São a mesma gente. Só moram em quintas diferentes. Por esse país fora.


Comentário:

Na foto, um extorsionista profissional, morador na Quinta do Lambert. Não se percebe se é advogado, arquitecto, engenheiro, médico, político ou jornalista. Certo, apenas, que se trata de uma figura politicamente influente. Ou um amigo.


E por falar em extorsionários (contas do Apache):

O preço médio do barril de petróleo em 2002 era de 66,61 €. Nesse ano, o preço médio do litro de gasolina 95 foi de 0,91 € e, o do gasóleo rodoviário de 0,67 €.

Hoje (6/10/2008), o petróleo cotava-se às 20:30 (hora de Lisboa) a 64,56 € (88,02 dólares) e nos postos da Galp, o litro da gasolina sem chumbo 95 custa 1,42 €, enquanto um litro de gasóleo custa 1,29 €.

Donde, hoje, o petróleo custa menos 2,05 € do que em 2002, mas o litro de gasolina custa mais 51 cêntimos (mais 56%). Extraordinaire, n’est-ce pas?
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domingo, outubro 05, 2008

Jon Stewart - como, em política, se pode dizer tudo e o seu contrário

Jon Stewart, do Daily Show, mostra-nos, com inegável humor, como os analistas políticos podem dizer tudo e o seu contrário, com igual desfaçatez, dependendo da cor que usam na lapela. Neste caso, está na calha a candidata do partido republicano à vice-presidência, Sarah Palin:

Jon Stewart: A escolha da governadora do Alasca, Sarah Palin, como candidata do partido republicano à vice-presidência, está a receber carradas de elogios de pelo menos um analista, cuja cabeça parece um monte de massa de pão crua.

Karl Rove: Ela é populista, é conservadora em termos sociais e económicos, é reformadora, já foi presidente de câmara, se não me engano foi presidente da segunda maior câmara do Alasca, antes de se candidatar a governadora.

Jon Stewart: O Karl Rove está muito impressionado com a experiência da governadora Palin, enquanto presidente da câmara de uma cidade com nove mil habitantes. Suponho que tenha ficado igualmente impressionado no mês passado, quando Tim Kaine, o ex-presidente de Richmond, que tem 200 mil habitantes, que também foi vice-governador e é agora governador da Virgínia, foi falado como possível candidato a "vice" de Barack Obama.

Karl Rove: Ele é governador há três anos, foi presidente da 150º maior cidade da América. Com todo o meu respeito por Richmond na Virgínia, é mais pequena que Chula Vista na Califórnia ou Aurora no Colorado, Mesa ou Gilbert no Arizona ou Henderson no Nevada. Não é uma cidade grande. Portanto, se escolhessem o governador Kaine, isso seria uma escolha claramente política, como que dizendo: a minha principal prioridade não é escolher uma pessoa capaz de ser Presidente dos Estados Unidos...


Vídeo legendado em português (5:53m):

sexta-feira, outubro 03, 2008

O processo de «beatificação» de Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes


Aristides de Sousa Mendes é, na opinião de muitos, uma figura controversa. Não apenas com base em testemunhos ligados, ou não, ao Estado Novo, mas igualmente em opiniões de historiadores como Avraham Milgram do Yad Vashem – SHOA Resource Center, ou até, em ocorrências, como o memorando enviado pela embaixada britânica em Lisboa ao MNE queixando-se do comportamento do Cônsul português em Bordéus, que pedia taxas extras aos cidadãos britânicos que pediam vistos.

Não tenho uma opinião definitiva sobre Sousa Mendes. Parece-me, contudo, demasiado forçado a tentativa de glorificação de Sousa Mendes a que alguns se propuseram, sem, antes, terem tido a preocupação de proceder a uma investigação exaustiva sobre algumas suspeitas que recaiem, há muito, sobre o antigo cônsul português.

A «canonização» de Sousa Mendes surge, crescentemente associada ao recente «Memorial às Vítimas da Intolerância», em homenagem aos cristãos-novos que em 1506 foram chacinados em Lisboa mas também a todos os que ao longo dos séculos sofreram devido à intolerância.

Esta chacina dos cristãos-novos em 1506 em Lisboa, está, no entanto, muito longe de constituir um facto histórico provado. Dos pouquíssimos historiadores que se lhe referem, uns não estiveram presentes na altura dos acontecimentos, outros viveram muito depois deles e outros não têm qualquer credibilidade.

Em resumo, um herói polémico somado a uma chacina duvidosa.

Esperemos que não se esteja a querer implantar uma «Memória» artificial, através das escolas, nas novas gerações do País.
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quarta-feira, outubro 01, 2008

Na sequência do conflito na Geórgia, Portugal deixa um claro aviso a Moscovo



Miguel Sousa Tavares

Expresso 20/09/2008

Consta que vamos mandar três polícias para a Geórgia. Não vão para dirigir o trânsito nem caçar multas por excesso de velocidade: vão, por mais ridículo que isto seja, para mostrar o nosso compromisso para com o objectivo da NATO de conter o “expansionismo russo” no Cáucaso. Ora, recapitulemos:

- a Geórgia é um dos países que se separaram da órbita da ex-URSS e que, em decorrência da perigosa estratégia de cerco à Rússia, logo recebeu a ajuda do imbecil do Bush para se tornar um satélite dos Estados Unidos, sob uma das três modalidades habitualmente propostas: receber mísseis americanos, aderir à NATO ou ser declarada protegida desta;

- entretanto, o novo país instalou-se sobre um poder formado por seitas mafiosas, totalmente corruptas e criminosas, autêntico paradigma do que é suposto não serem os “valores morais” do Ocidente;

- do novo país fazem parte as regiões autónomas da Abkhazia e Ossétia do Sul, de maioria russa, e que ficaram como enclaves da Geórgia, da mesma forma que o Kosovo, de maioria albanesa, ficou como enclave da Sérvia;

- quando, há meses, os Estados Unidos, a NATO e a UE promoveram a irresponsável declaração de independência unilateral do Kosovo, contra a ONU e com o único fundamento de que a maioria da sua população não era sérvia, Moscovo avisou que estavam a abrir uma caixa de Pandora e todos perceberam que sim e, todavia, foram em frente;

- escorada na protecção dos Estados Unidos e da NATO, a Geórgia resolveu romper o «statu quo» e forçar a anexação pela força das suas zonas russófonas: invadiu a Ossétia, matou indiscriminadamente, bombardeou, destruiu, provocou centenas de milhares ou milhões de refugiados: uma forma muito estranha de tratar o ‘seu povo’. Mas os EUA, a NATO, a UE, mantiveram-se calados. E só reagiram quando Moscovo enviou o Exército em defesa das populações russas e, obviamente, a seguir passou a promover a declaração de independência de ambas as regiões - tal qual como o Kosovo fez. Então, sim, as boas e idiotas almas que nos governam desataram a gritar: ‘Socorro, que o urso está de volta!’.


Comentário:

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, defendeu, em Bruxelas, que a NATO deve definir uma posição «firme», sem «agressividade», sobre a crise entre a Rússia e a Geórgia.

Para já, o ministro Luís Amado, parece, ele próprio, mais apostado numa atitude inerte, desengonçada e, aparentemente, desarticulada. Dir-se-ia preso por arames...

sábado, setembro 27, 2008

Treblinka - o 2º maior campo de extermínio nazi depois de Auschwitz


(Tradução minha)

«Segundo Jean Francois Steiner, que escreveu um livro chamado "Treblinka", com prefácio de Simone de Beauvoir, os prisioneiros privilegiados no campo tinham uma “boa vida”. Era-lhes permitido, a todos, casar no campo, e o comandante do campo, Kurt Franz, dirigia as cerimónias de casamento. Depois de uma celebração de um casamento, os prisioneiros tiveram a ideia de fazer uma “espécie de cabaré,” onde havia música, dança e bebidas nas noites de Verão.»

Do site CountryTimes.com:

Treblinka foi um campo da morte localizado a cerca de 100 quilómetros de Varsóvia, na Polónia, e uma das mais cruéis instalações criadas para levar a cabo a “solução final”. Treblinka, que esteve em operação de Julho de 1942 até Outubro de 1943, foi o lugar onde aproximadamente 870,000 Judeus foram assassinados.

“Dachau, em comparação, era um hotel,” afirmou o sobrevivente de Treblinka, Edi Weinstein. “Treblinka era pior que Auschwitz. Em Auschwitz eles matavam as mulheres, as crianças e os velhos imediatamente, mas ficavam centenas de milhares de outros a trabalhar nas indústrias (à volta do campo de concentração). Quando se vêem fotografias de prisioneiros com números tatuados (em Auschwitz), esses eram trabalhadores. Em Treblinka não havia nomes, nem havia números – matavam toda a gente. Alguns Judeus eram colocados a trabalhar, mas apenas para matar os outros.” Na verdade, nos meses finais do campo, 99% das vítimas morria num espaço de duas horas depois de chegar a Treblinka.


Retirado do site scrapbookpages.com:

Treblinka ficou apenas atrás de Auschwitz no número de Judeus que foram mortos: aproximadamente 870,000 comparados com os cerca de um milhão e cem mil em Auschwitz. Raul Hilberg, defendeu no seu livro em três volumes, "The Destruction of the European Jews" [A destruição dos Judeus Europeus], que existiam seis centros de extermínio nazis, incluindo Treblinka. Os outros campos de extermínio eram Belzec, Sobibor, Chelmno, Majdanek and Auschwitz-Birkenau, todos eles localizados no que é hoje a Polónia.

O primeiro comandante do campo da morte de Treblinka foi o SS-Obersturmführer (primeiro-tenente) Irmfried Eberl, que esteve nesse cargo de Julho de 1942 até Setembro de 1942. Teve como sucessor o Obersturmführer Franz Stangl, que foi comandante do campo desde Setembro de 1942 até Agosto de 1943. Antes de estar à frente do campo de Treblinka, Stangl foi comandante do campo da morte de Sobibor e, antes disso, fazia parte do grupo de trabalho de Schloss Hartheim, onde os deficientes mentais e físicos alemães eram enviados para serem gaseados.

Franz Stangl foi prisioneiro dos Aliados depois da Guerra, mas foi libertado dois anos depois sem ter sido levado a julgamento. A seguir à sua libertação, foi para Itália onde foi ajudado pelo Vaticano a fugir para a Síria, onde viveu com a sua família durante três anos. Em 1951, foi para o Brasil onde viveu usando o seu nome verdadeiro.

Stangl era natural da Áustria, mas, durante anos, as autoridades austríacas recusaram-se a levá-lo a julgamento pela morte de milhares de Judeus em Treblinka. Finalmente, em 1961 foi emitida uma ordem de prisão pelo assassínio de milhares de Judeus em Treblinka. Mas foi só ao fim de seis anos que Franz Stangl foi capturado no Brasil pelo famoso caçador de nazis, Simon Wiesenthal; Franz Stangl trabalhou numa fábrica da Volkswagen em São Paulo, usando sempre o seu nome verdadeiro.

Franz Stangl foi levado a tribunal na Alemanha Ocidental, acusado da morte de 900,000 pessoas em Treblinka, Sobibor e Schloss Hartheim. Stangl confessou os assassínios, mas disse em sua defesa, “a minha consciência está limpa. Só fiz o meu dever...”

Depois de um julgamento de seis meses no tribunal alemão, Stangl foi considerado culpado a 22 de Outubro de 1970, e sentenciado a prisão perpétua em 1971; morreu na prisão em Dusseldórfia a 28 de Junho de 1971.


O terceiro e último comandante de Treblinka foi o SS-Untersturmführer (segundo-tenente) Kurt Franz que esteve no cargo de Agosto de 1943 até 3 de Outubro de 1943. Franz era um homem bem-parecido e tinha por alcunha junto dos prisioneiros o nome "Lalka". Lalka é o termo polaco para boneco. A palavra alemã para boneco é Puppe, um termo ridículo quando aplicado a um homem.

Depois da guerra, Kurt Franz foi julgado num tribunal alemão, a par de outros nove oficiais alemães que trabalharam em Treblinka; foi sentenciado a prisão perpétua. A matança de Judeus em Treblinka não o preocupou minimamente; o álbum de fotografias que ele compilou enquanto trabalhou no campo como ajudante de Franz Stangl, e mas tarde como comandante, tinha por título "Schörne Zeiten", que significa Bons Tempos.

Tal como no campo de concentração de Buchenvald, o campo de Treblinka tinha também um jardim zoológico para entretenimento do pessoal das SS e de alguns prisioneiros privilegiados, chamados Kappos, que ajudavam os alemães no campo. Treblinka também tinha uma orquestra e um bordel para o pessoal das SS.

Segundo Jean Francois Steiner, que escreveu um livro chamado “Treblinka,” com prefácio de Simone de Beauvoir, os prisioneiros privilegiados no campo tinham uma “boa vida”. Era-lhes permitido, a todos, casar no campo, e Kurt Franz (o comandante) dirigia as cerimónias de casamento. Depois de uma celebração de um casamento, os prisioneiros tiveram a ideia de fazer uma “espécie de cabaré,” onde havia música, dança e bebidas nas noites de Verão.


O seguinte é citado do livro de Steiner:

Quando “Lalka” ("Boneco" - o comandante Kurt Franz) ouviu falar sobre o que se passava, longe de o proibir, arranjou, ele próprio, bebidas e encorajou os homens das SS a participar. O primeiro contacto foi pouco cordial, mas os homens das SS sabiam como fazer as pessoas esquecerem-se de quem eles eram, e rapidamente a sua presença foi ignorada. Para além das danças, havia também números de cabaré. O gelo quebrou-se entre os Judeus e os homens das SS. Este facto não evitava que os SS assassinassem os Judeus durante o dia, mas a perspectiva de terem companhia para a festa daí a algumas horas, suavizou-os.

[...]

O ponto alto das festividades foi inquestionavelmente o aniversário de Arthur Gold (um músico famoso Judeu de Varsóvia). Um imenso buffet foi colocado na oficina do alfaiate, que os oficiais das SS decoraram eles próprios. Convites escritos à mão foram enviados a cada membro da aristocracia do campo. Foi o maior acontecimento social da época e todos estavam desejosos de usarem as suas melhores roupas [...] As mulheres arranjavam o cabelo umas às outras e vestiam os melhores vestidos da loja, roupa simples para as raparigas e decotadas para as mulheres. [...] Arthur Gold superou-se a si mesmo nos brindes que precederam as festividades. Ele insistia em agradecer aos alemães pela maneira como estes tinham tratado os Judeus.

[...]

Uma noite, um ucraniano trouxe um acordeão e os outros começaram a dançar. A cena atraiu alguns Judeus que, no princípio do Verão, estavam cada vez mais desconfortáveis no seu “cabaret.” As noites eram suaves e estreladas, e se não fosse pelo fogo perpétuo que se espalhava pelos céus, com as suas longas chamas [os corpos dos prisioneiros Judeus gaseados eram queimados em duas grandes piras], julgar-se-ia que se estava numa praça de uma qualquer vila ucraniana no pico de Verão. Estava lá tudo: a fogueira, a dança, as saias multicoloridas e a frescura da noite. As amizades surgiram. Só pelo facto de que, todas as manhãs, alguns homens iriam matar outros homens, tal não era razão para ficar de mau humor.
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sexta-feira, setembro 26, 2008

João Pereira Coutinho no Expresso - Um dedo espetado e os dizeres «This is for you, Osama»

Expresso - 20/09/2008

Texto de João Pereira Coutinho

A melhor forma de homenagear os mortos do 11 de Setembro não passa por novos edifícios mas pela edificação das velhas Torres Gémeas, exactamente como Churchill sugeria durante a Segunda Guerra, depois de os alemães terem bombardeado o Parlamento

VISITAR O «ground zero» no dia 11 de Setembro não é um espectáculo bonito. Não falo do local - um gigantesco buraco, só acessível às famílias e aos políticos. Falo do circo em volta, que aproveitou os sete anos dos atentados para montar espectáculo: fotos gigantescas dos mortos; guitarras com cânticos religiosos; «hippies» e seus batuques pacifistas; e, o pior de tudo, grupos políticos que se insultam a dois passos do local onde 2751 pessoas perderam a vida. Dizem-me que este excesso «kitsch» faz parte da liberdade da América. Dizem bem e o problema é inteiramente meu: sempre preferi o silêncio da memória do que o ruído da celebração. E sempre disse que a melhor forma de homenagear os mortos não passava por novos edifícios; mas pela edificação das velhas Torres Gémeas, exactamente como Churchill sugeria durante a Segunda Guerra, depois de os alemães terem bombardeado o Parlamento. Se os selvagens destroem, nós reconstruímos. De preferência, acrescentando uma terceira torre às outras duas, devidamente encimada por um dedo espetado (em betão) e os dizeres «This is for you, Osama».

Felizmente, os sete anos do 11 de Setembro não se resumiram a folclore. E bastou subir ao topo do Empire State Building para lembrar a data como ela merece. O edifício proporciona a visão mais gloriosa da cidade e Scott Fitzgerald, em texto solene, resumiu a epifania. Mas Fitzgerald esqueceu-se que o mais impressionante não é propriamente a vista; é o silêncio dos visitantes perante ela: um silêncio religioso, no sentido preciso do termo, porque ali se vê, nem que seja por desafio, a essencial ligação dos homens ao divino. Uma ligação reforçada, este ano, por duas colunas de luz que, ao longe, no local das torres, subiam em direcção ao céu.


Comentário:

«ali se vê a essencial ligação dos homens ao divino. Uma ligação reforçada, este ano, por duas colunas de luz que, ao longe, no local das torres, subiam em direcção ao céu»


As duas colunas de luz do «ground zero» iluminam, mais distintamente a cada dia que passa, os verdadeiros «Osamas», os reais responsáveis pela demolição das Torres e pelo assassínio de três mil pessoas.

A terceira torre, devidamente encimada por um dedo espetado, como João Pereira Coutinho sugere, deveria, antes, dizer «This is for you, Coutinho». «For you and for all the mass media manipulation and deception, to which you belong».

This is for you, Coutinho

quarta-feira, setembro 24, 2008

Mengele - o Anjo da Morte de Auschwitz

Retirado do site scrapbookpages.com. Segundo a homepage do site, este tem como objectivo auxiliar os viajantes com interesse em história – especialmente no capítulo do Holocausto Judeu - e fornecer-lhes informação sobre o que podem esperar de locais com interesse histórico que planeiem visitar. Nos últimos anos, fizeram alguma investigação jornalística sobre acontecimentos que tiveram lugar há mais de 60 anos.

(Tradução minha)


O homem à esquerda é Josef Mengele, o oficial médico SS que seleccionou judeus para serem gaseados e que levou a cabo experiências médicas desumanas em prisioneiros.

O Dr. Josef Mengele era um dos 30 oficiais SS em Auschwitz II, também conhecido por Birkenau, que decidia quem viveria e quem devia morrer nas câmaras de gás. Mengele chegou a Birkenau nos princípios de Maio de 1943, mesmo na altura em estava a começar a segunda epidemia de tifo em Birkenau. O próprio Mengele apanhou tifo enquanto estava em Birkenau.

Mengele foi alcunhado como o “Anjo da Morte” pelos prisioneiros porque tinha a face de um anjo, e, no entanto, cruelmente, fazia selecções para as câmaras de gás de Birkenau. Mengele era simpático para as crianças do campo mas fazia experiências com elas como se fossem ratos de laboratório. Mengele ofereceu-se como voluntário para fazer as selecções em Birkenau, mesmo quando não era o seu turno, porque queria encontrar pessoas para as suas pesquisas médicas em genética e doenças hereditárias, que ele tinha já começado antes da guerra. Em particular, queria encontrar gémeos para as pesquisas que já tinha começado antes de ser colocado em Birkenau.

Mengele era conhecido por todos os prisioneiros pelo seu charme e por ser bem-parecido. Segundo Gerald L. Posner e John Ware, os autores de "Mengele, the Complete Story," [Mengele, A História completa], muitas crianças do campo de Birkenau “adoravam Mengele” e chamavam-lhe “Tio Pepi”. Esta informação foi dada por Vera Alexander, uma sobrevivente de Birkenau, que disse que o Dr. Mengele trouxe chocolate e as roupas mais bonitas para as crianças, incluindo fitas do cabelo para as meninas.



O Dr. Mengele tinha um doutoramento em antropologia assim como uma licenciatura em medicina, que tirou em Julho de 1938 na Universidade de Frankfurt. Fez o doutoramento em 1935 com uma tese sobre “Pesquisa Racial e Morfológica sobre o osso do maxila inferior em quatro grupos raciais.” Em Janeiro de 1937, o Dr. Mengele foi nomeado investigador assistente no Instituto da Hereditariedade, Biologia e Pureza Racial da Universidade de Frankfurt. Trabalhou como assistente do Professor Otmar Freiherr von Verschuer, um geneticista que andava a fazer pesquisa em gémeos. Como director, durante a guerra, do Kaiser Wilhelm Institute de Antropologia, Estudos Genéticos na Hereditariedade Humana, em Berlim, von Verschuer assegurou os fundos necessários para as experiências de Mengele em Auschwitz.

Os resultados das pesquisas de Mengele em gémeos eram enviados para o Instituto. A autorização para as pesquisa genéticas de Mengele foi dada pelo Conselho de Pesquisa Alemão em Agosto de 1943.

Olga Lengyel, uma prisioneira do campo de Birkenau, escreveu no seu livro intitulado “Cinco Chaminés” que ouviu falar através aos outros prisioneiros acerca do Dr. Mengele antes de o conhecer. Lengyel escreveu que ouvira dizer que o Dr. Mengele era “bem-parecido” mas que ficou surpreendida ao ver como Mengele era “atraente”. Acrescentou: “embora Mengele estivesse a tomar decisões que significavam extermínio, ele era tão agradavelmente auto-convencido como qualquer homem pode ser.”

Lengyel descreveu como o Dr. Mengele tomava todas as precauções médicas enquanto assistia a um parto em Auschwitz, embora, apenas meia hora depois, enviasse a mãe e o bebé para serem gaseados e queimados no crematório. A própria Lengyel foi seleccionada para a câmara de gás, mas conseguiu fugir do grupo de mulheres que tinha sido seleccionado, antes que chegasse o camião que levaria as prisioneiras para o crematório.

A primeira selecção sistemática para as câmaras de gás de Birkenau foi feita quando um transporte de judeus chegou a Auschwitz a 4 de Julho de 1942. Exactamente no dia anterior, o campo de Birkenau ficou em quarentena devido a uma epidemia de tifo.

O comboio parou a pouca distância da estação de Auschwitz junto a uma plataforma de madeira chamada “Rampa dos Judeus,” onde se procedia à selecção. Os Judeus que eram considerados em condições para trabalhar eram levados para o campo principal de Auschwitz, que ficava próximo da “Rampa dos Judeus”. Aí tomavam banho de chuveiro, as cabeças eram rapadas, era-lhes tatuado um número no antebraço esquerdo, e era-lhes feito um cartão de registro.

Os que não eram considerados aptos para o trabalho, eram levados imediatamente de camião da Rampa dos Judeus para duas câmaras de gás em Birkenau, que estavam localizadas em duas casas agrícolas convertidas chamadas “a pequena casa vermelha” e “a pequena casa branca”. Pelo menos 75% dos Judeus em cada transporte de 2,000 ou 3,000 prisioneiros eram considerados inaptos para o trabalho e eram destinados à câmara de gás. A pequena casa vermelha também chamada Bunker I, tinha uma capacidade de 800 pessoas em duas salas e a pequena casa branca, chamada Bunker 2, tinha uma capacidade de 1,200 em quatro salas.

A todos os prisioneiros que chegavam era-lhes dito que primeiro tomavam um banho de chuveiro. Os prisioneiros que eram mesmo seleccionados para trabalhar, tomavam um banho a sério, mas os outros eram levados em camião para as duas casas agrícolas, onde as câmaras de gás estavam disfarçadas de salas de chuveiros.

A pequena casa branca estava situada na parte oeste do campo de Birkenau, atrás da Central de Sauna que começou em funcionamento em 1943, e próximo do Krema 4. O nome da “Central de Sauna” provém do facto de ser a localização das câmaras de ferro onde a roupa dos prisioneiros era desinfectada com vapor quente. A Central de Sauna tinha também uma sala com 50 chuveiros.

A pequena casa vermelha estava localizada a norte do sítio onde o Krema 5 foi construído em 1943. Tanto o Krema IV como o Krema V possuíam câmaras de gás homicidas, disfarçadas de salas de chuveiros, onde eram lançados os grão de Zyklon-B através de janelas exteriores, matando lá dentro as vítimas que não suspeitavam de nada.

Um oficial das SS procede à selecção de um grupo de Judeus recém-chegado a Auschwitz - o destino era o trabalho forçado ou a morte na câmara de gás.


Embora Josef Mengele só começasse a fazer parte do pessoal de Birkenau em Maio de 1943, sobreviventes testemunharam durante o julgamento Aliado dos crimes de guerra que ele procedeu a selecções em 1942. Para além da selecção inicial quando os comboios de transporte chegavam a Birkenau, haviam mais selecções de mulheres no campo. O Dr. Mengele era o médico chefe dos alojamentos das mulheres, e ele aparecia periodicamente para seleccionar mulheres para trabalhar ou para a câmara de gás. Uma das mulheres que sobreviveu a uma destas selecções foi Sophia Litwinska, uma Polaca Judia que era casada com um homem ariano.

Sophia Litwinska fez um depoimento juramentado que fez parte do julgamento britânico do pessoal SS de Bergen-Belsen no Outono de 1945. Alguns tinham trabalhado anteriormente em Birkenau e eles estavam a ser julgados tanto por crimes cometidos em Birkenau e em Belsen. Franz Hoessler era o comandante do campo das mulheres em Birkenau em 1942; foi transferido para Belsen em Dezembro de 1944.

Como foi citado no livro “O Julgamento de Belsen”, Sophia Litwinska afirmou o seguinte no seu depoimento:

"Em Auschwitz, a 24 de Dezembro de 1942, eu estava na parada com cerca de mais 19,000 outros prisioneiros, todos mulheres. Presentes na parada estavam o Dr. Mengele, Konig e Tauber. Eu fui uma das 3,000 prisioneiras escolhidas do grupo de 19,000 pelos médicos e levadas para as nossas barracas, onde fomos despidas por outras prisioneiras e as nossas roupas foram levadas. Nós fomos levadas numa espécie de camiões basculantes para a rampa da câmara de gás. Eram grandes camiões basculantes, cerca de oito ao todo e com cerca de 300 pessoas em cada um. À chegada à câmara de gás, a parte de trás do camião levantou e nós deslizámos pela rampa abaixo através de algumas portas até pararmos numa sala larga."

"A sala tinha chuveiros a toda a volta, toalhas, sabão e muitos bancos. Também havia pequenas janelas próximas do tecto. Muitas pessoas aleijaram-se ao deslizar pela rampa e ficaram deitadas onde caíram. Aquelas de nós que se podiam sentar nos bancos fizeram-no e imediatamente a seguir as portas da sala foram fechadas. Os meus olhos começaram a chorar, comecei a tossir e tive uma dor no meu peito e garanta. Algumas das outras pessoas caíam e outras tossiam e espumavam da boca. Depois de estar na sala cerca de dois minutos, a porta foi aberta e um homem SS entrou usando uma máscara de gás. Chamou pelo meu nome e então tirou-me da sala e fechou rapidamente a porta outra vez. Quando cheguei cá fora, vi o SS Franz Hoessler, que identifiquei como Nº 1 na fotografia 9. Ele levou-me para o hospital, onde fiquei durante seis semanas, recebendo tratamento especial do Dr. Mengele. Nos primeiros dia que estive no hospital não conseguia comer nada sem vomitar. Só pensava que tinha sido tirada da câmara de gás porque tinha um marido de raça ariana e, por isso, estava numa categoria diferente dos outros prisioneiros, que eram todos Judeus. Hoje sofro de um coração fraco e tive dois ataques desde que estive em Belsen. Não conheço os nomes de nenhuma das pessoas que entraram na câmara de gás comigo."



Não é claro a qual das quatro câmaras de gás de Birkenau, Litwinska se está a referir. As câmaras de gás do Krema IV e do Krema V estavam no subsolo e tinham “janelas pequenas próximas do tecto”, por onde os grãos eram atirados pelos homens das SS. Mas nenhuma destas câmaras de gás tinha uma “rampa de câmara de gás” para lançar as vítimas para a câmara de gás de “camiões basculantes.”

De acordo com os desenhos feitos por Walter Dejaco, um dos arquitectos do edifício Krema II, o projecto original mostrava uma rampa para corpos para fazer escorregar os corpos para o vestíbulo entre as duas morgues, que foram mais tarde convertidas numa sala para as pessoas se despirem e numa câmara de gás. A rampa para corpos nunca foi construída. Dejaco foi absolvido por um tribunal na Áustria em 1972; no seu julgamento, os desenhos da rampa para corpos foram apresentados como prova. (A morgue do campo de Sachsenhausen tem uma rampa para corpos que pode ser vista ainda hoje).

Não existiam fornos crematórios em Birkenau em 1942, e no campo principal de Auschwitz existiam apenas três fornos, que podiam incinerar 340 corpos num período de 24 horas. Os corpos dos Judeus que eram gaseados em Birkenau em 1942 eram enterrados em valas comuns próximo da pequena casa vermelha.

Os corpos foram mais tarde desenterrados e incinerados em piras, de forma a não contaminar a água no subsolo de Birkenau. Os corpos de milhares de prisioneiros que morreram na epidemia de tifo, que esteve descontrolada por volta de 3 de Julho de 1942, também foram exumados e incinerados. O comandante do campo Hoess escreveu na sua autobiografia que “O número de corpos em valas comuns chegava aos 107,000.”

Otto Moll, o homem das SS que estava encarregue de desenterrar os corpos das valas comuns em Birkenau em 1942, contesta a versão de Hoess; a 16 de Abril de 1946, Moll contou a um interrogador em Nuremberga:

“Quando eu estive encarregue destas escavações, tal como lhe disse antes, junto com outro camarada, o que Hoess confirmou hoje, nós colocámos de 30,000 a 40,000 pessoas nessas valas comuns. Foi o trabalho mais terrível que pode ser feito por um ser humano.”

A foto abaixo mostra o Dr. Josef Mengele com Rudolf Hoess e Josef Kramer a descansar em Solahuette, um retiro dos SS próximo de Birkenau. Kramer foi o comandante de Birkenau em 1944 quando esta foto foi tirada. Em Dezembro de 1944, foi transferido para Bergen-Belsen, que se tornou então num campo de concentração. O campo de Bergen-Belsen tinha sido antes um campo de detenção para Judeus que estivessem disponíveis para trocar com os Aliados por civis alemães detidos as prisões Britânicas e Americanas. Hoess era o comandante da guarnição militar ss de Auschwitz em 1944.


Josef Mengele, Rudolf Hoess e Josef Kramer

Mengele ganhou a Cruz de ferro de 2ª classe pouco depois de ter sido enviado para a Ucrânia em Junho de 1941 na altura da invasão alemã da União Soviética. Em Janeiro de 1942, Mengele juntou-se à prestigiada 5ª Divisão Panzer, alcunhada de Divisão Viking. Em Julho de 1942 foi condecorado com a Cruz de Ferro de 1ª classe depois de ter tirado dois soldados feridos de um tanque em chamas, sob fogo inimigo no campo de batalha, e lhes ter administrado cuidados médicos.

Depois de ter sido ferido em batalha na frente russa em 1942, Mengele foi promovido a capitão [Hauptsturmführer] e foi enviado para o departamento da Raça e Relocalização [Race and Resettlement Office] em Berlim, o mesmo departamento onde Adolf Eichmann estava encarregue de transportar os Judeus para “relocalização no leste,” um eufemismo nazi para enviar Judeus para derem gaseados em campos da morte.

Em Maio de 1943, o Dr. Josef Mengele chegou a Auschwitz e foi designado para chefiar as necessidades médicas do campo dos Ciganos. A seguinte citação provém do livro “Mengele, a história Completa”:

Poucos dias depois da sua chegada, enquanto Auschwitz estava a lutar contra uma das suas muitas epidemias tifóides, Mengele estabeleceu uma reputação de eficiência radical e impiedosa. O pântano próximo tornava difícil a obtenção de água potável e era uma ameaça constante por causa dos mosquitos. (O próprio Mengele contrairia malária em Junho de 1943). Outros médicos SS tinham falhado nas suas tentativas de restringir o tifo nas proximidades das barracas do campo. A solução de Mengele foi demonstrada numa das setenta e oito acusações formuladas em 1981 pelo Ministério Público da Alemanha Ocidental, quando as autoridades julgavam que ele ainda estava vivo. Em termos de provas detalhadas, este mandato de prisão é o mais incriminador e completo documento que já alguma vez foi compilado contra ele. Segundo o mandato, a 25 de Maio de 1943, “Mengele enviou 507 ciganos e 528 ciganas suspeitos de terem tifo para a câmara de gás.” “Acusa também Mengele de “a 25 ou 26 de Maio ter poupado aqueles ciganos que eram alemães enquanto mandava aproximadamente outros 600 para serem gaseados.”


De acordo com o livro “Mengele, a História Completa,” um surto grave de tifo atingiu as mulheres do campo de Birkenau em finais de 1943, quando o Dr. Mengele era o medico chefe da zona das mulheres. Cerca de 7,000 a 20,000 mulheres no campo estavam seriamente doentes e Mengele propôs uma solução radical para parar a epidemia.

A citação seguinte é do Dr. Ella Lingens, um médico austríaco que era prisioneiro político em Birkenau. Numa entrevista pessoal dada a S. Jones e K. Rattan a 14 de Fevereiro de 1984, o Dr. Lingens disse o seguinte como está citado em “Mengele, a História Completa”:

Mengele enviou um bloco inteiro de 600 mulheres judias para a câmara de gás e limpou o bloco. Depois mandou desinfectá-lo de cima a baixo. A seguir mandou colocar depósitos para chuveiros entre este bloco e o próximo, e as mulheres do próximo bloco vinham desinfectar-se e eram transferidas para o bloco já limpo. Aqui era-lhes fornecida uma camisa de noite nova e limpa. O bloco a seguir era limpo desta maneira e por aí fora até todos os blocos estarem desinfectados. Fim do tifo! O terrível foi ele não ter podido colocar as primeiras 600 mulheres em qualquer lado.


O campo de Birkenau tinha 172 hectares. Sete pequenas vilas tinham sido destruídas para dar espaço para o campo; era como uma pequena cidade com um total de 300 edifícios. Havia um total de 140,000 prisioneiros no campo em 1943, mas as barracas tinham capacidade para 200,000 prisioneiros. Havia muito espaço para colocar estas 600 mulheres, mesmo que tivesse de montar tendas no campo de futebol que ficava próximo de uma das câmaras de gás de Birkenau, mas o Dr. Mengele não tentou arranjar um espaço para elas porque tinha um total desrespeito pela vida humana, desde que se tratassem de Judeus e Ciganos ao seu cuidado. Na avaliação do seu desempenho, o seu superior complementou-o na tarefa de parar a epidemia de tifo: não houve menção das 600 mulheres que ele assassinou para conseguir este resultado.

Josef Mengele morreu a 7 de Fevereiro de 1979 com um ataque de coração quando estava a nadar em Embu, no Brasil. Só depois de alguns anos após a sua morte é que sobreviventes começaram a aparecer com histórias acerca de crimes que ele cometeu em Birkenau, e começou uma massiva caça ao homem para o encontrar.

Depois da guerra, o Dr. Josef Mengele trabalhou numa quinta com outro nome durante alguns anos, e depois escapou para a América do Sul; nunca foi levado a julgamento como criminoso de guerra. Se tivesse sido capturado e levado a julgamento, a Dr. Gisella Perl estava preparada para testemunhar contra ele. A Dr. Perl trabalhou como médica sob as ordens de Mengele e era ela própria uma prisioneira. Segundo o livro “Mengele, a História Completa,” a Dr. Perl afirmou que uma prisioneira chamada Ibi escapou por seis vezes da câmara de gás saltando para fora do camião que estava a levar prisioneiras da “Rampa dos Judeus” para a câmara de gás. O Dr. Mengele ficou furioso quando descobriu que ela tinha regressado à fila de selecção.

A seguinte citação é tirada do livro de Gisella Perl, entitulado “Eu era um médico em Auschwitz,” publicado em 1948:

“Ainda estás aqui?” Dr. Mengele abandonou a cabeça da fila, e com alguns passos largos alcançou-a. Agarrou-a pelo pescoço e começou a bater-lhe na cabeça até esta ficar numa pasta de sangue. Bateu-lhe, esbofeteou-a, esmurrou-a, sempre na cabeça – gritando o mais alto possível, “Queres escapar, não queres? Não podes escapar agora. Isto não é um camião, não podes saltar. Vais arder como os outros, vais ganir, sua Judia suja,” e continuou a bater-lhe na pobre cabeça desprotegida. Enquanto eu assistia, vi os seus belos olhos inteligentes desaparecerem sob uma camada de sangue. As orelhas já não existiam. Talvez ele as tenha despedaçado. E, em poucos segundos, o seu nariz ficou achatado, partido, uma massa sangrenta. Fechei os olhos, incapaz de suportar mais aquilo, e quando os voltei a abrir, o Dr. Mengele tinha parado de lhe bater. Mas em vez de uma cabeça humana, o corpo alto e magro da Ibi levava um objecto redondo vermelho-sangue nos seus ombros ossudos, um objecto irreconhecível, demasiado horrível para ver; ele empurrou-a novamente para a fila. Meia hora depois, o Dr. Mengele regressou ao hospital. Tirou um bocado de sabão perfumado da sua mala e, assobiando alegremente com um sorriso de profunda satisfação na cara, começou a lavar as mãos.


Segundo o testemunho de Rudolf Hoess no Tribunal Militar Internacional de Nuremberga em 1956, o marechal-de-campo SS Heinrich Himmler deu repetidas ordens no sentido do pessoal nos campos de concentração estarem proibidos “de utilizar violência física contra os prisioneiros.” De acordo com os sobreviventes de Birkenau, o Dr. Mengele perdia frequentemente as estribeiras e batia nos prisioneiros, no entanto nunca foi punido pelos seus oficiais superiores.

Dois outros sobreviventes do Holocausto que escaparam à morte saltando do camião que levava Judeus para a câmara de gás, foram Gloria Lyon, então com 14 anos, e a sua irmã de 12 anos, que estavam entre os Judeus húngaros enviados para Birkenau em 1944. Lyon falou para alunos do 10º ano da escola secundária de Oceana na baía de São Francisco em Fevereiro de 2008.

A seguinte citação vem de um artigo nos jornais escrito por Jane Northrop no site da Web www.insidethebayarea.com acerca do tormento de Gloria Lyon no campo de Birkenau:

No campo, a família foi separada. O pai de Lyon e os irmãos foram numa direcção, e Lyon e a sua mãe estavam noutro grupo. A sua irmã mais nova, que tinha 12 anos, era para ir com um grupo diferente, mas saltou da parte de trás do camião e correu para se juntar à mãe e à irmã.

“Isto salvou-lhe a vida. Os outros foram enviados para a câmara de gás,” disse Lyon. [...]

Eles sofreram as infames experiências do Dr. Josef Mengele. A grupos inteiros de pessoas foi-lhes dito para se despirem e se apresentarem ao médico para um “exame médico.”

“Foi precisa muita energia para encarar o Dr. Mengele. Alguns foram-se abaixo mais rapidamente do que outros,” disse Lyon. Quando os prisioneiros desmaiavam, eram levados para o outro lado do edifício, donde nenhum prisioneiro alguma vez regressou.

Quando a própria Lyon desmaiou no gabinete do médico em Dezembro, foi enviada para o outro lado.

Nua e aterrorizada, foi colocada com outros prisioneiros enfraquecidos num camião guardado por tropas SS. O guarda falou-lhe em húngaro, que ela percebia por ter vivido na Checoslováquia. O guarda disse que sabia quem ela era, porque era muito raro tantos membros de uma só família permanecerem vivos.

O camião tinha como destino a câmara de gás, mas se ela quisesse saltar da parte de trás, ele não a travaria ou ninguém que quisesse ir com ela. Ele prometeu não o denunciar. Nenhum dos outros prisioneiros, contudo, quis juntar-se a ela.

“Toda a gente estava esfomeada e sem esperança,” disse Lyon.

Ela saltou e viu uma trincheira onde se poderia esconder num cano. Estava tão magra em resultado dos meses de fome que conseguiu caber na cano e ficar escondida. Escondeu-se ali sem comida ou roupa. Ainda estava no campo, mas ao menos tinha escapado da câmara de gás.

“Não me lembro de ter sentido frio. Lembro-me de me ter sentido triunfante. Senti que tinha derrotado o exército alemão,” disse. Quando a sua fuga foi detectada, soou um alarme mas ninguém a encontrou no seu esconderijo.

Depois de 24 horas na escuridão, seguiu uma luz brilhante que se revelou ser uma barraca não guardada. O pequeno grupo de surpresos prisioneiros levou-a para dentro. Este grupo, com Lyon entre eles, foi metido em camiões para gado e levados para fora de Auschwitz. Lyon desejou ver a mãe e a irmã mais uma vez, mas sabia que enfrentava uma morte certa se fosse descoberta em Auschwitz.

Depois de três dia de viagem, o grupo chegou a Bergen-Belsen, um campo de concentração onde o crematório ardia dia e noite. Foi aí que Lyon passou o seu 15º aniversário.



Entre os sobreviventes de Auschwitz-Birkenau estava Philip Riteman, um Judeu Polaco enviado para o campo em 1941, que teve a presença de espírito para mentir sobre a sua idade de forma a ser seleccionado para a fila destinada a trabalho escravo. Num discurso que Riteman proferiu para os alunos de Riverview e Central Collegiate em Moose jaw, Canadá em Maio de 2008, tal como foi reportado por Lacey Sheppy ino Moose Jaw Times Herald a 23 de Maio de 2008, Riteman disse que tinha crescido em Szereszow, na Polónia, uma cidade de cerca de 25,000 pessoas – não muito diferente de Moose Jaw. Estava no 5º ano quando a guerra começou em 1939. Os Ritemans foram reunidos e enviados para o gueto de Pruzhany, onde viveram durante nove meses num quarto de três por quatro metros, com mais duas famílias.

O seguinte é de um artigo escrito por Lacey Sheppy, que foi publicado a 23 de Maio de 2008 no Moose Jaw Times Herald:

Em 1941, a família de Riteman foi colocada num comboio com cerca de mais 10,000 pessoas. Sete dias depois, depois de ser comprimido com outras 100 pessoas numa carruagem sem comida, água ou casa de banho, o comboio parou finalmente… em Auschwitz-Birkenau. À medida que os olhos de Riteman se ajustaram à luz do sol, ele viu algo que ainda o persegue até hoje.

“Estava uma mulher na casa dos vinte, bonita, que saiu do comboio, nunca me vou esquecer dela porque usava sapatos de salto alto.”

A mulher tinha uma criança nos braços. Um soldado nazi tirou-lhe o bebé e esmagou-lhe a cabeça contra o pavimento.

Quando a mãe tentou agarrar o bebé, gritando e chorando, o soldado espetou-lhe uma baioneta no estômago.

“Era só sangue, sangue por todo o lado,” disse Riteman.

Sem tempo para pensar naquilo que tinha acabado de ver, Riteman foi colocado na fila para ser separado. Embora só tivesse 14, Riteman mentiu acerca da sua idade e disse aos Nazis que tinha 17.

Riteman – com outros homens e jovens, rapazes saudáveis – foram separados num grupo, enquanto as mulheres, os velhos e os enfermos foram para outro.

Os trabalhadores foram enviados para o campo para trabalhar, enquanto o resto – os pais de Riteman, avós, cinco irmãos, duas irmãs, nove tias e tios e muitos primos – foram enviados para a câmara de gás.



A história de Riteman nao é única. Numerosos sobreviventes de Auschwitz foram salvos da câmara de gás por mentirem acerca da sua idade e houve muitas testemunhas que viram os notoriamente indisciplinados soldados nazis bater com a cabeça de bebés contra a árvore mais próxima ou contra o chão, sem ninguém intervir.

Funcionários de Auschwitz de férias em Solahuette:

A foto acima mostra membros do pessoal de Auschwitz no verão de 1944 brincando com auxiliares femininas, também chamadas Helferinnen, em férias no retiro das SS em Solahuette, a 30 quilómetros do campo. Os homens das SS estavam a divertir-se, sem quaisquer preocupações, enquanto 3,000 Judeus eram gaseados por dia e incinerados em Birkenau.


Segundo o livro intitulado “Mengele, a História Completa”, de Gerald L. Posner e John Ware, Dr. Josef Mengele passou 21 meses no campo de Auschwitz-Birkenau, e durante esse tempo, enviou 400,000 prisioneiros para a morte nas câmaras de gás de Birkenau. Levando em conta que o Dr. Mengele não podia trabalhar quando esteve doente com malária e tifo, seleccionou 20,000 Judeus e Ciganos por mês para serem mortos, segundo Posner e Ware.

O seguinte excerto é de “Mengele, a História Completa”:

A memória deste homem delicado, sem um cabelo fora do sítio, a sua camisa verde escura bem passada, a cara bem lavada, o boné com a caveira das SS inclinada para um lado, permanece vívida para aqueles que sobreviveram ao seu exame detalhado quando chegavam à estação de Auschwitz. Botas polidas ligeiramente afastadas, o polegar apoiado no cinto da pistola, avaliava a presa com aqueles olhos perscrutadores e impenetráveis, Morte para a esquerda, vida para a direita.

Quatrocentas almas – bebés, crianças pequenas, jovens raparigas, mães, pais, e avós – foram enviados despreocupadamente para o lado esquerdo com o movimento de uma varinha segura numa mão enluvada. Mengele era o fornecedor chefe das câmaras de gás e para o crematório. Tinha uma expressão que dizia ‘Eu sou o poder,’ disse um sobrevivente. Nessa altura, Mengele tinha apenas 32 anos de idade.



As duas histórias mais famosas acerca do Dr. Josef Mengele: uma sobre a sua tentativa de mudar olhos castanhos para azuis e outra sobre coser duas crianças juntas, costas com costas, para criar gémeos siameses.

Vera Alexander, uma sobrevivente de Birkenau, foi uma testemunha da experiência dos gémeos siameses. O Dr. Mengele morreu em 1979 mas a sua morte foi mantida em segredo pelos seus amigos e família. Em Outubro de 1985, quando estava em curso uma intensiva caça ao homem a Mengele, Vera Alexander afirmou o seguinte numa entrevista para a produção televisiva “À procura de Mengele,” como foi citado no livro “Mengele, a História Completa”:

Um dia Mengele trouxe chocolate e roupas especiais. No dia seguinte, os homens das SS vieram e levaram duas crianças. As duas crianças estavam comigo, Totó e Nino. Um deles era corcunda. Dois ou três dias mais tarde, um homem das SS trouxe-os de volta num estado terrível. Foram cortados. O corcunda estava cosido à outra criança, de costas um para o outro, os seus punhos também. Cheirava terrivelmente a gangrena. As incisões estavam sujas e as crianças choraram todas as noites.


Segundo Gerald L. Posner e John Ware, os autores do livro “Mengele, a História Completa”, Mengele já tinha começado uma bizarra tentativa de mudar olhos castanhos para azuis antes da chegada do Dr. Miklos Nyiszli, um médico Judeu húngaro, a 29 de Maio de 1943. O Dr. Nyiszli foi escolhido para ajudar o Dr. Mengele a fazer autópsias nos corpos no Crematório II ou Krema II.

O Dr. Mengele tinha um interesse particular em estudar pessoas que tinham olhos de cor diferentes.

A história da experiência da cor dos olhos em 36 crianças em Birkenau foi contada pelo Dr. Vexler Jancu, um prisioneiro Judeu de Birkenau.

Como citado em “Mengele, a História Completa,” O Dr. Jancu disse o seguinte: Em Junho de 1943 fui ao campo dos Ciganos em Birkenau. Vi uma tábua de madeira. Em cima dela estavam vários exemplares de olhos. Todos tinham um número e uma letra. Os olhos iam do amarelo pálido até ao azul brilhante, verde e violeta.


O Dr. Mengele escapou de Auschwitz antes do campo ser libertado pelo exército da União Soviética, e levou consigo todos os seus artigos de investigação. Estes artigos caíram mais tarde nas mãos dos aliados, mas nunca chegaram a ser publicados. Os resultados das experiências do Dr. Mengele estão hoje guardados num cofre em Israel. O testemunho de alguns do Judeus que foram objecto das experiências e pesquisas de Mengele, foram publicados, mas não os resultados nem os seus artigos de investigação sobre a condição genética e doenças dos Judeus.

Houve alegações de vários sobreviventes de Birkenau que o Dr. Mengele mandou incinerar 300 crianças vivas a céu aberto.

Como citado em “Mengele, a História Completa,” um prisioneiro russo de Birkenau chamado Annani Silovich Perko afirmou o seguinte numa declaração juramentada feita ao promotor público em Moscovo em Setembro de 1973:

Passado um bocado, um grande grupo de oficiais das SS chegou em motas, Menguele estava entre eles. Guiaram para o pátio e desceram das motas. Depois de chegarem, rodearam as chamas; ardiam horizontalmente. Nós observávamos o que se iria seguir. Passado um bocado, chegaram camiões, camiões basculantes com crianças lá dentro. Os camiões eram cerca de dez. Depois de entrarem no pátio, um oficial deu uma ordem e os camiões fizeram marcha-atrás em direcção ao fogo e começaram a lançar aquelas crianças para o fogo, dentro da cova. As crianças começaram a gritar; algumas conseguiram rastejar para fora da cova a arder; um oficial deu a volta e com um pau empurrou-os para dentro, aos que conseguiram sair. Hoess e Mengele estavam presentes e davam ordens.

Um quadro de um sobrevivente do Holocausto representa crianças a serem queimadas vivas.

A seguinte citação é de um livro intitulado “A Mente Criminal” da Dr. Katherine Ramsland que escreveu 25 livros sobre psicologia criminal:

Além dos burocratas e dos militares, Hitler também inspirava alguns médicos a cumprir a sua visão horrível, particularmente o Anjo da Morte de Auschwitz, Josef Mengele. Um líder na visão biomédica nazi, ele especializou-se em anomalias genéticas. Chegando a Auschwitz a 30 de Maio de 1943, ficou a comandar o processo de selecção. Aparecia junto dos transporte de prisioneiros com um ar elegante e com um olhar decidia o destino de cada pessoa. Enviava qualquer um com uma imperfeição para a câmara de gás e escolhia outros para trabalhar ou para as suas experiências abomináveis.

Mengele gostava da sua posição de poder. A confirmação do ideal nazi de purificação da raça era o que o motivava. No entanto, ninguém sabia o que esperar dele. Tanto separava famílias e matava com impunidade, ora punha-se no papel de médico preocupado ou caprichosamente permitia a algumas pessoas viver. No seu desejo de aperfeiçoar a eficiência do campo como uma máquina de morte, ensinou a outros médicos a forma de dar injecções de fenol a uma longa fila de prisioneiros, acabando rapidamente com as suas vidas. Também matou pessoas a tiro, e segundo alguns relatos atirou bebés vivos para o crematório. Ao longo de tudo isto, ele manteve um eficaz comportamento distante e via-se a si próprio como um “cientista.”

A grande paixão de Mengele era a pesquisa em gémeos. Estes eram pesados, medidos, e comparados em todos os sentidos. Alguns, ele matava-os para exames patológicos, dissecando uns e deixando algumas partes preservadas. Outros, operava sem anestesia, removendo membros ou órgãos sexuais. Se um gémeo morresse durante a experiência, o outro deixava de ter utilidade, portanto era simplesmente gaseado.

Ainda assim, mesmo já os tendo seleccionado para mutilação ou morte, brincava com eles e mostrava-lhes grande afeição. Até lhes dava uma boleia no seu carro no caminho para a câmara de gás. Mais tarde, podia passear com as suas cabeças ou prender os olhos deles com um pino a um quadro.

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segunda-feira, setembro 22, 2008

Jon Stewart - a fraca memória do Procurador-Geral Alberto Gonzales

Jon Stewart, do Daily Show, relembra-nos, com humor, os extraordinários argumentos do agora ex-Procurador-Geral dos Estados Unidos, que depôs perante o Comité Judicial do Senado em Agosto de 2007. Entre várias controvérsias e alegações de perjúrio, Alberto Gonzales anunciou depois a sua resignação do cargo em Setembro de 2007. Mas recordemos o seu depoimento no Senado:

Jon Stewart: Na opinião de alguns, o Procurador pecou por alguma falta de franqueza.

Gonzalez: Não me recordo exactamente; não me recordo do conteúdo... ; não tenho qualquer ideia disso; não me recordo de todo; dou voltas à memória... ; senador, não me recordo; Só posso falar do que me recordo; não me recordo de me lembrar... ; havia uma reunião marcada para as 9 horas de 27 de Novembro na minha agenda, mas não me recordo dessa reunião...

Bush: O Procurador-geral apresentou-se perante o Comité e prestou um depoimento muito cândido. Respondendo de forma honesta a todas as perguntas que podia responder e aumentando a confiança que deposito nele para este cargo.

Vídeo (legendado em português) - 4:53m

domingo, setembro 21, 2008

Jornal Público: Judeus, um povo inventado?

Transcrito do blog NONAS


In jornal Público, caderno P2, pág5/7, 13 de Setembro de 2008.


Judeus, um povo inventado?

«Sim, diz o historiador Shlomo Sand num livro que há meses é um best-seller em Israel. Não há um povo judeu como “nação-raça”, apenas uma religião judaica, que sobreviveu pela conversão. O exílio, em 70 d.C. é um “mito”, cristão e sionista. E os palestinianos de hoje serão os “genuínos descendentes” dos antigos habitantes do reino de David. “É uma obra radical”, reconhece o autor ao P2. “Fascinante”, concordam admiradores e críticos.

Shlomo Sand, historiador na Universidade de Telavive, é "um homem muito corajoso". É ele quem se vangloria ao P2, depois de ter publicado um livro (em hebraico e em francês) e um artigo (no Monde Diplomatique) onde conclui, após oito anos de estudos, que "o povo judeu é uma invenção".

Não, escreve Sand, no século XIII a.C. Moisés "nunca poderia ter conduzido os hebreus para fora do Egipto até à Terra Prometida, porque esta era território egípcio". Não, "não há qualquer vestígio de uma revolta de escravos contra o império faraónico ou uma súbita conquista de Canã por estrangeiros". Não, a população do reino de Judá (posterior Judeia) "não fugiu para o exílio no século VI a.C. - só a elite intelectual foi forçada a instalar-se na Babilónia." Não, não houve um segundo êxodo, em 70 d.C., "porque os romanos nunca deportaram populações" - mesmo que quisessem, não tinham logística para expulsões em massa.

"À excepção de alguns prisioneiros feitos escravos, os habitantes da Judeia continuaram a viver nas suas terras, mesmo após a destruição do Segundo Templo. Uns converteram-se ao cristianismo, no século IV, e a maioria abraçou o islão durante a conquista árabe, no século VII." Os primeiros sionistas, enfatiza Sand, até à grande revolta árabe de 1936-39 na Palestina, sabiam que não tinha havido exílio".

Para fazer valer a sua argumentação, Sand cita David Ben-Gurion, o primeiro chefe do Governo de Israel, e Yitzhak Ben-Zvi, o segundo Presidente, asseverando que um e outro "disseram em várias ocasiões, em 1929, que a maioria dos camponeses da Palestina não tem origem nos conquistadores árabes, mas são genuínos descendentes dos habitantes da antiga Judeia".

"É incrível, mas não há nenhum livro, um único, que prove o exílio de 70 d.C., porque ele nunca aconteceu", empolga-se Sand, que pertence ao grupo dos "novos historiadores", como Benny Morris, Avi Shlaim ou Tom Segev. O grande exílio é um mito "originalmente cristão". A ideia era mostrar um castigo divino por os judeus não terem aceitado Jesus como Messias. No século XIX, tornou-se na "base da ideologia sionista, para legitimar a conquista da Palestina".


Os berberes judeus

Se os judeus não foram expulsos e não houve vinte séculos de errância, "o grande impulso para a judaização", no Norte de África, na Europa de Leste ou no Médio Oriente, "foi um processo de conversões", garante Sand. Entre a revolta dos macabeus, em 167 a.C., até à rebelião de Simon bar Kokhba, em 132 d.C., o judaísmo foi "a religião de mais activo proselitismo" - e foram estas "conversões maciças que, sob influência do helenismo, prepararam o terreno para a subsequente disseminação do cristianismo".

Sem as conversões no mundo pagão, avança Sand, "talvez a religião judaica se tivesse tornado completamente marginal, e poderia até nem ter sobrevivido". Mas enquanto o proselitismo durou, mesmo com um abrandamento depois da vitória do cristianismo, no século IV, "os hasmoneanos judeo-helénicos converteram à força os idumeanos [antigos edomitas] do sul da Judeia e os itureanos da Galileia, e incorporaram-nos no povo de Israel". No Curdistão já emergira, no século I d.C., o reino judeu de Adiabene. E, no Iémen, no século V d.C., apareceu "um vigoroso reino judeu em Himyar, cujos descendentes preservaram a sua fé durante a conquista islâmica até aos nossos dias."

Para fundamentar as suas conclusões, Sand cita "obras romanas, gregas e judaicas", incluindo os escritos de Flávio Josefo, Horácio, Séneca, Juvenal e Tácito. "O ponto de partida para a desconstrução dos mitos da historiografia da história dos judeus" foi, porém, a "nova arqueologia", embora ele nos assegure ter "ido mais longe".

Uma das histórias de conversões que Sand relata no seu livro Matai ve'ech humtza há'am hayehudi?, em hebraico, ou Comment le peuple juif fut inventé: De la Bible au sionisme, em francês (em breve haverá também uma versão inglesa) é a da rainha Dahia al-Kahina. Uma orgulhosa judia, ela foi líder de guerreiros berberes nas montanhas de Aurès (actual Argélia) que repeliram o exército muçulmano invasor do Norte de África, no século VII d.C.

"Perguntei a mim próprio como é que vastas comunidades judaicas apareceram em Espanha", contou Sand ao diário israelita Ha'aretz. "Reparei então que Tariq ibn Ziyad, o supremo comandante dos muçulmanos que conquistou Espanha, era berbere e que a maior parte dos seus soldados eram berberes. O reino judeu berbere de Dahia al-Kahina só tinha sido derrotado 15 anos antes. E a verdade é que há numerosas fontes cristãs a dizer que muitos dos conquistadores de Espanha eram judeus convertidos. As raízes profundas da comunidade judaica de Espanha estão nos soldados berberes que se converteram ao judaísmo."


Khazaria e os yiddish

O que Sand descreve como "a mais significativa conversão em massa" terá ocorrido no século VIII, no reino de Khazaria, situado entre os mares Negro e Cáspio, nas estepes ao longo do rio Volga. "A expansão do judaísmo do Cáucaso até à moderna Ucrânia criou uma multiplicidade de comunidades, muitas das quais se mudaram para a Europa de Leste depois das invasões mongóis", afirma o historiador.

No século VIII d.C., os khazares adoptaram a religião judaica e o hebraico como língua escrita. A partir do século X, este reino enfraqueceu e, no século XIII, foi derrotado pelos invasores mongóis. Sand não duvida que os khazares convertidos, em conjunto com os judeus das terras eslavas e do que é hoje a actual Alemanha, "constituíram a origem das comunidades judaicas na Europa de Leste (...), a base da cultura yiddish".

A influência dos khazares é um ponto de discórdia, que levou outro historiador, Israel Bartal, da Universidade Hebraica, em Jerusalém, a criticar Sand por "inventar uma invenção", embora tenha reconhecido que o livro do colega é "um estudo fascinante" (Há'aretz).

Até por volta de 1960, referiu Sand, "as origens complexas do povo judeu foram mais ou menos, relutantemente, reconhecidas pela historiografia sionista, mas depois foram marginalizadas e acabaram por ser apagadas da memória pública de Israel". Restou apenas o mito da "descendência directa do mítico reino de David", e os judeus passaram a reclamar ser "um grupo étnico específico, que regressou a Jerusalém, a sua capital, depois de 2000 anos de exílio".

Bartal nega que "um inteiro capítulo da história judaica tenha sido silenciado por razões políticas", e foi buscar a sua velha Enciclopédia Mikhal, obra de referência sionista, para relembrar a Sand a passagem sobre os khazares, "nação de origem turca".

Diz a enciclopédia, segundo Bartal: "É irrelevante se a conversão ao judaísmo abrangeu um largo estrato da nação khazar; importante é que este acontecimento foi entendido como um fenómeno de grande significado na história judaica, um fenómeno que desde então desapareceu totalmente: o judaísmo como religião missionária. (...) A questão do impacto a longo prazo desse capítulo da história judaica nos judeus da Europa de Leste - quer através do desenvolvimento do seu carácter étnico ou de outro modo - é um tema que necessita de maior investigação. Em todo o caso, embora não conheçamos a extensão da sua influência, é evidente hoje que esta conversão teve um impacto."

Sand, na conversa com o P2, contrapõe: "Quando Bartal fala dos khazares não realça que eles se converteram ao judaísmo, destaca apenas que, antes de eles se tornarem judeus, muitos judeus já tinham chegado à região provenientes da Palestina. Conseguem ver a diferença?" Bartal, acrescenta Sand, "pertence à velha corporação de historiadores, aqueles que, na Universidade Hebraica, nos anos 1930, decidiram dividir a História Judaica e a História Universal em dois departamentos distintos. Quando alguém, como eu, chega e diz que não acredita na História do Povo de Israel, é natural que eles se sintam chocados."

Apesar de tudo, Sand confessa que esperava de Bartal uma recensão mais implacável. "Das minhas 500 referências, ele menciona três erros e, destes três, só tem razão em um e meio, o que me deixa muito honrado. Também não terá gostado que o livro seja um best-seller há 19 semanas, porque isso mostra que a sociedade israelita se tornou mais plural."


Da Bíblia ao sionismo

Bartal não critica apenas a alusão de Sand aos khazares, mas também a asserção de que "'académicos reputados do passado' ocultaram a verdade no que diz respeito à origem impura dos judeus". O seu contra-argumento é o de que "nenhum historiador do movimento nacional judeu alguma vez acreditou que as origens dos judeus são étnica e biologicamente 'puras'."

E continua: "Jamais um historiador judeu 'nacionalista' tentou ocultar o facto de que as conversões ao judaísmo tiveram um grande impacto na história judaica na Antiguidade e nos primórdios da Idade Média. Embora exista na cultura popular israelita, o mito do exílio da pátria judaica (Palestina) é negligenciado nas mais sérias discussões históricas judaicas. Importantes grupos do movimento nacional judeu exprimiram reservas sobre este mito ou negaram-no completamente."

O que é que Sand tenta provar com este estudo, questionou Bartal. "Que a pátria dos judeus não é a Palestina, que a maioria dos judeus descende de diferentes nações convertidas ao judaísmo e que foram os sionistas a desenvolver, no século XIX, uma ideologia etno-biológica e a inventar o chamado "povo judeu"?

Sim, responde Sand: "Os judeus existiram como religião mas não como uma nação-raça. Foi no século XIX que intelectuais de origem judaica na Alemanha, influenciados pelo nacionalismo germânico, levaram a cabo a tarefa de criar um moderno povo judeu, herdeiro de um reino, errante durante 2000 anos e de regresso à pátria".

"Os primeiros historiadores judeus, como Isaak Markus Jost (1793-1860) e Leopold Zunz, olhavam para o Velho Testamento como uma obra teológica, que reflectia as crenças das comunidades judaicas após a destruição do Primeiro Templo", recorda Sand no Monde Diplomatique. "Só na segunda metade do século XIX é que Heinrich Graetz (1817-1891) e outros desenvolveram uma visão 'nacional' da Bíblia e transformaram a viagem de Abraão para Canã, a fuga do Egipto e o reino unido de David e Salomão num autêntico passado nacional. Pela constante repetição, os historiadores sionistas transformaram, subsequentemente, essas 'verdades' bíblicas na base da educação nacional".


Confrontar a historiografia

Ao contrário de Bartal, e ainda que tenha lamentado a profusão de "histórias pessoais, discussões teóricas e observações sarcásticas", o historiador Tom Segev recomendou a leitura da obra de Sand, qualificando-a como "um dos livros mais fascinantes e desafiantes publicados aqui [em Israel] desde há muito tempo".

"Os capítulos históricos estão muito bem escritos e citam numerosos factos e pontos de vista que surpreenderão muitos israelitas quando os lerem pela primeira vez", adianta Segev, num artigo no Há'aretz, que Sand, entusiasmado, nos leu ao telefone. Compreende-se a satisfação de ser compreendido, depois de ter sido insultado. "Houve quem me chamasse nazi e cão, e cheguei a temer ser alvo de agressões por parte de grupos de extrema-direita que violentamente têm interrompido as minhas palestras".

"Eu sou um especialista em História Contemporânea [sobretudo da França onde completou os seus estudos universitários], mas chegou um momento em que senti que era estúpido viver em Telavive e não estudar a história dos judeus, porque o movimento sionista faz parte da história moderna da Europa", disse Sand ao P2.

"Sabia que ia ser contestado, ao enveredar por outra área. Por isso, fiquei impressionado por o meu livro estar a ser vendido aos milhares. A minha posição é muito radical. O êxito talvez se explique porque as pessoas têm medo que a História não esteja com elas."

"Eu não quis destruir o Estado de Israel", vinca este homem que nasceu em Linz, na Áustria, em 1946, e passou os dois primeiros anos da sua vida num campo de refugiados judeus na Alemanha, "Era meu dever confrontar a mitológica historiografia da história dos judeus. O que eu pretendo é dar outra legitimidade ao Estado de Israel. A velha legitimação não se deve manter, porque não é verdadeira. Nunca regressámos a uma Terra Prometida."


Estado de todos

O livro tem um objectivo político, reconhece Sand: "o de transformar Israel num Estado israelita democrático e não num Estado judaico, porque um terço da população não é judia. Por que é que um rabi em Nova Iorque pode dizer que Israel lhe pertence mais do que um colega árabe israelita da minha universidade?"

Sand avisa: "É preciso mudar a consciência etnocêntrica da sociedade israelita. Não há futuro para um Estado judaico, porque deixa de fora 20 por cento de árabes e 5 por cento de imigrantes que não são considerados judeus. Na Galileia, 65 por cento dos habitantes são árabes. Se amanhã se revoltarem, e disserem que querem criar um Estado como o Kosovo, porque o Estado judaico os exclui, têm todo o direito de o fazer. Imaginam Portugal a proclamar-se um Estado dos cristãos?"

"Se em 10-15 anos, não se tornar num Estado de todos os seus cidadãos, Israel deixará de existir", vaticina Sand, ressalvando que é "pessimista mas não fatalista". A diferença? "Acredito que o futuro não é bom, mas não tenho a certeza. Se a civilização durou o século XX sem uma guerra nuclear, não tenho o direito de ser fatalista."

Antes de o telefonema acabar, mais uma clarificação: "Não sou anti-sionista, mas pós-sionista. A definição de uma pessoa como anti-sionista sugere que é contra a existência do Estado de Israel. Eu aceito o Estado de Israel. Digo que hoje há um povo israelita judeu. O problema é que o sionismo não quer reconhecer a nação israelita e apenas a nação judaica. O nacionalismo árabe também não reconhecia a identidade israelita."

De momento, declara Sand, "sou a favor da solução de dois estados - não um judaico e um árabe, mas um israelita e um palestiniano. Depois, espero que seja criada uma confederação de dois estados. Não defendo um estado binacional porque isso seria pedir aos judeus que se tornassem numa minoria no seu próprio país. É inaceitável."

E é assim que, quase quatro décadas depois de Golda Meir, ex-primeira-ministra israelita, ter dito ao Sunday Times (15 Junho 1969) que "não existe isso a que chamam de povo palestiniano", Shlomo Sand, outro israelita, vem dizer-nos que "o povo judeu é uma invenção". E para ilustrar o que daí resultou, o seu livro abre com uma citação de Karl Wolfgang Deutsch: "Uma nação é um grupo de pessoas unidas por um erro comum quanto à sua origem e uma hostilidade colectiva em relação aos seus vizinhos."»



Comentário:

O Judeu Errante, metáfora personificada da diáspora judaica, além de não saber para onde vai, desconhece, agora, de onde vem.