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quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Devido à evolução tecnológica os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos...



Euronews - 04/01/2017

Por Sean Welsh, investigador na área da ética robótica na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.

Os robôs vão substituir muitos seres humanos, talvez mesmo a maior parte, no local de trabalho. Desde a Revolução Industrial que o processo de automação tem vindo a eliminar postos de trabalho ocupados por homens e mulheres. No cenário que temos, os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos, até os trabalhadores da construção civil. Na verdade, mesmo as actividades de elevado estatuto cognitivo, como o Direito e a Medicina, se encontram ameaçadas pela automação.

Carl Frey e Michael Osborne, da Oxford Business School, falam na ocorrência de um fenómeno de desemprego massivo no sector das tecnologias nos próximos 20 a 30 anos – estão em risco, dizem, entre metade a três quartos dos empregos que existem actualmente. Por isso, a questão é mais que pertinente: vão ser criados novos postos de trabalho para compensar aqueles que serão perdidos para os robôs?

Só o tempo poderá responder. Se Frey e Osborne estiverem certos, as empresas vão começar a optar pela racionalização de recursos em grande escala: poupa-se nos salários e aumenta-se exponencialmente a capacidade de trabalho.

Provavelmente, teremos camiões automatizados sem motoristas, por exemplo. As cargas que transportam poderão ser colocadas e retiradas por robôs. O atendimento aos clientes que procuram esses produtos poderá a vir a ser realizado por autómatos.

A lógica desta realidade deixa milhões e milhões de pessoas sem emprego.


Tim Dunlop, autor da obra “Why the Future is Workless” [Porque é que no futuro não haverá empregos], afirma que os governos têm de parar de fingir que os níveis de emprego vão regressar ao que eram antes e começar a reflectir num mundo pós-trabalho. Tal como muitos outros especialistas, Dunlop defende um rendimento básico universal como a medida política necessária na transição social para um mundo onde o trabalho deixa de ocupar um lugar central no dia a dia das pessoas.

É certo que previsões não são factos. Pode ser que estas preocupações sejam infundadas. As empresas até poderão vir a criar outros postos de trabalho, que ainda não concebemos hoje em dia.

No entanto, é verdade que os observadores apontam o dedo às novas tendências que sobressaem no mundo da tecnologia. Há várias startups, com um número de trabalhadores ínfimo, a atingirem uma valorização astronómica. Empregando simplesmente algumas dezenas de pessoas, o YouTube, o Instagram e o WhatsApp foram comprados em negócios de milhares de milhões. Por outro lado, as funções eminentemente tecnológicas não serão uma resposta para uma quantidade massiva de camionistas, lojistas ou outros trabalhadores à procura de emprego.

Imaginemos, mais uma vez, um cenário onde 1 em cada 10, ou até 1 em cada 5, ou mesmo 1 em cada 2 seres humanos fica sem trabalho e sem perspectivas realistas de arranjar outro, porque os robôs operam mais rapidamente, com menos custos, 24 horas por dia, e nem sequer se queixam. As limitações que, nos dias que correm, já sugerem que o do Bem-estar Social iriam agravar-se e muito com do domínio da máquina na actividade produtiva.



Martin Ford, que escreveu “The Rise of the Robots” [A Ascensão dos Robôs], conta uma história que envolve Henry Ford II e Walter Reuther, responsável sindical do sector automóvel. Ambos estavam a visitar uma nova fábrica de carros automatizada. Ford provoca Reuther: “Como é que vai fazer para que os robôs paguem as quotas do sindicato?”. Resposta de Reuther: “E como é que senhor vai fazer para que eles comprem os seus carros?”.

Segundo o economista francês Thomas Piketty, a sociedade já está a regredir rumo às desigualdades extremas, em termos de distribuição de rendimentos, que se viviam na altura de Austen e Balzac. Se os robôs vierem a substituir totalmente a força de trabalho, que rendimento disponível terão as pessoas para comprar os produtos feitos por esses mesmos robôs?

Há quem diga que é por esta razão que o sistema capitalista poderá vir a apoiar o conceito de rendimento básico universal. Outras alternativas apontam para um aumento dos impostos para suportar as despesas do Estado social ou a aplicação de políticas proteccionistas “anti-robôs”.

É verdade que os robôs estão substituindo muitos seres humanos. Se irá ou não haver novos postos de trabalho suficientes, esse será um dos grandes desafios com que a sociedade se irá debater.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Quando a máquina substituir totalmente o homem no trabalho, a solução será socializar os meios de produção e dar uma mensalidade a toda a gente



Excerto do livro «The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future [As luzes no Túnel: Automação, Tecnologia em Aceleração e a Economia do Futuro]» de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley, autor e empresário.

[Tradução minha]



O Ponto de Viragem

Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo, Desemprego e o fim da Economia de Mercado

[Qualquer actividade produtiva utiliza uma determinada combinação de factores produtivos para a produção de bens e serviços. Quanto à intensidade da utilização dos factores produtivos, podem ser de capital-intensivo (utilizam mais intensivamente o capital – tecnologia, máquinas), ou trabalho-intensivo, que utilizam intensivamente o trabalho ou mão-de-obra.]

Podemos situar qualquer indústria algures no espectro que vai desde o grau mais trabalho-intensivo até ao grau mais capital-intensivo. Na nossa economia actual, algumas das indústrias de cariz mais trabalho-intensivo estão na venda a retalho, hotelaria e pequenos negócios. Supermercados, cadeias de lojas, restaurantes e hotéis têm todos de contratar bastantes empregados.

Indústrias de capital-intensivo, por outro lado, empregam relativamente poucas pessoas e, em vez disso, requerem investimento em tecnologia: maquinaria e equipamento avançados e em sistemas computorizados. Indústrias de alta tecnologia tal como fabrico de semicondutores, biotecnologia e companhias baseadas na Internet são todas de capital intensivo.


Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo


Com o tempo, à medida que a tecnologia evolui, a maior parte das indústrias tornam-se mais capital-intensivas e menos trabalho-intensivas. A tecnologia também cria indústrias completamente novas, e estas são quase sempre capital-intensivas. Este facto tem sido assim há séculos, e historicamente tem sido uma coisa positiva. Se se comparar as indústrias numa nação desenvolvida, como os Estados Unidos, com as indústrias de uma nação do Terceiro Mundo, descobre-se invariavelmente que a economia americana é muito mais capital-intensiva. Foi a introdução da tecnologia avançada que aumentou a produtividade e tornou ricas as nações mais desenvolvidas.

A razão deste facto remonta à explicação dos economistas da «Falácia Ludita»:

Wikipedia - [O Ludismo é o nome do movimento contrário à mecanização do trabalho trazida pela Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo Ludita (do inglês Luddite) identifica toda a pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias. Os Luditas invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo eles, por aquelas serem mais eficientes que os homens, lhes tiravam os seus empregos. Os Luditas ficaram lembrados como "estoira-máquinas"]

À medida que a nova tecnologia é adoptada pelas indústrias, a produção torna-se mais eficiente. Isto resulta na perda de alguns empregos, mas também provoca preços mais baixos para bens e serviços. Por outras palavras, coloca mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Estes consumidores vão então comprar todo o tipo de coisas, e o resultado é um aumento da procura dos produtos de toda a espécie de indústrias.

Algumas destas indústrias são muito trabalho-intensivas, e portanto enquanto se esforçam para fazer face a este aumento da procura, são forçados a contratar mais trabalhadores. E desta forma, o emprego na sua totalidade mantém-se estável ou até aumenta. Por vezes, evidentemente, este resultado traduz-se numa transição desagradável para alguns trabalhadores: podem perder um emprego bem remunerado na indústria e acabar com um emprego mal pago como caixa de um supermercado.


Número de empregados e respectivos salários médios nas seguinte empresas:

McDonalds - 400.000 empregados - 59.000 dólares

Wal-Mart - 2.100.000 empregados - 180.000 dólares

Intel - 83.000 empregados - 456.000 dólares

Microsoft - 91.000 empregados - 664.000 dólares

Google - 20.000 empregados - 1.081.000 dólares



Pode este processo continuar indefinidamente? A tecnologia da automação vai progressivamente invadir os restantes sectores do trabalho-intensivo da economia. Quando isto acontecer, que indústrias restarão para absorver todos os trabalhadores substituídos? Atente-se na tabela acima. O que é que acontecerá quando a McDonalds começar a ficar mais parecido [em termos de empregos] com a Google?

Um exercício simples de senso comum mostra-nos que existe um limiar a partir do qual a economia no seu todo se torna demasiado capital-intensiva. Assim que isto aconteça, preços mais baixos resultantes de aperfeiçoamentos tecnológicos não se traduzirão em mais emprego. Depois deste limiar ou ponto de viragem, as indústrias que constituem a nossa economia já não necessitarão de contratar os trabalhadores suficientes para compensar a perda de empregos resultantes da automação; serão, em vez disso, capazes de encontrar algum aumento na procura principalmente investindo em mais tecnologia. Este ponto marca a derrocada da fé dos economistas na Falácia Ludita, e marca também o princípio de uma espiral económica decrescente pela simples razão de que os trabalhadores são também os consumidores de tudo o que é produzido na nossa economia.

O que é que devemos esperar que aconteça se a generalidade da economia se estiver a aproximar deste ponto de viragem, a partir do qual as indústrias deixam de ser suficientemente trabalho-intensivas para absorver os trabalhadores que perderam os seus empregos devido à automação? Devemos provavelmente assistir um aumento gradual do desemprego, congelamento de salários e aumentos significativos na produtividade (output por hora de trabalho) à medida que as indústrias forem sendo capazes de produzir um maior número de bens e serviços com menos trabalhadores.



Isto parece desconfortavelmente parecido com o que tem estado a acontecer nos anos que conduziram à actual recessão. Em Agosto de 2003, o "The Economist" escreveu que a "Agência de Estatística do Trabalho expressou a mais recente prova do renascimento da produtividade americana: a produtividade por trabalhador aumentou em 5,7% no segundo trimestre, calculada a um período de um ano. Mas nos tempos actuais, menos exuberantes, o número levantou a triste possibilidade de crescimento sem criação de empregos." Três anos depois, num artigo intitulado "O caso dos Empregos Desaparecidos," a BusinessWeek disse: "Desde 2001, com a ajuda de computadores, modernização das comunicações, e com operações fabris ainda mais avançadas, a produtividade industrial americana, ou o total de bens e serviços que um trabalhador produz numa hora, disparou para uns impressionantes 24%... Em suma: estamos a fazer mais com menos gente." Não há forma de saber com segurança a que distância estamos da estagnação permanente da criação de emprego na economia. Contudo, estas estatísticas são seguramente uma causa de preocupação.



O Trabalhador Médio e a Máquina Média

Outra forma de expressar esta ideia de um ponto de viragem é imaginar num trabalhador médio a utilizar uma máquina média algures na economia. Obviamente, no mundo real existem milhões de trabalhadores a utilizar milhões de máquinas diferentes. Com o tempo, evidentemente, estas máquinas vão-se tornando mais sofisticadas. Imagine-se uma máquina típica que represente de modo geral todas as máquinas na economia.

A determinada altura, essa máquina pode ter sido uma nora de um moinho. Depois, pode ter sido uma máquina movida a vapor. Mais tarde, uma máquina industrial alimentada a electricidade. Hoje, a máquina é provavelmente controlada por um computador ou por microprocessadores embutidos.



À medida que a máquina típica se vai tornando cada vez mais sofisticada, os salários dos operários que nela trabalhavam foram aumentados. Máquinas mais sofisticadas tornam a produção mais eficiente e tal traduz-se em preços mais baixos e, portanto, mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Os consumidores vão então gastar esse dinheiro extra, e isso cria empregos para mais trabalhadores que, de igual forma, vão operar máquinas que continuam a evoluir.

De novo, a questão a colocar é: Pode este processo continuar para sempre? Estou convencido de que a resposta é NÃO, e o gráfico seguinte ilustra este facto.


Valor Acrescentado (Salário) do Trabalhador Médio a operar uma Máquina Média:

O problema, evidentemente, é que as máquinas se estão a tornar cada vez mais autónomas. Pode-se observar isto no gráfico no ponto onde a linha pontilhada (conhecimento convencional) e a linha contínua divergem. À medida que mais máquinas começarem a trabalhar sozinhas, o valor que o trabalhador médio acrescenta começa a declinar. É de lembrar que estamos a falar de trabalhadores médios. Para melhor perceber o gráfico acima, atente-se na distribuição de rendimentos nos Estados Unidos e depois retirem tanto as pessoas mais ricas como as mais pobres. Depois veja-se o rendimento médio dos "típicos" restantes (a maioria dos consumidores) ao longo do tempo. Se, ao invés, se observar o Produto Interno Bruto per capita, chegar-se-á a um gráfico semelhante, mas a divergência entre as linha pontilhada e a linha contínua irá ocorrer um pouco mais tarde. Isto acontece porque as pessoas mais ricas (que são donas das máquinas ou com altos níveis de especialização) irão beneficiar inicialmente da automação e, por isso, elevam a média.

Logo que as linhas começam a divergir, as coisas vão ficar muito feias. Isto acontece porque o mecanismo básico que coloca o poder de compra nas mãos dos consumidores está a falhar. Com o tempo, desemprego, baixos salários – e talvez o mais importante – a psicologia do consumidor irá causar uma muito grave retracção económica.

Como o gráfico mostra, dentro do contexto das nossas actuais regras económicas, a ideia das máquinas serem "completamente autónomas" é apenas uma meta teórica que nunca poderá ser alcançada.

Algumas pessoas podem pensar que estou a ser demasiado simplista em relacionar "o progresso tecnológico" com "máquinas mais autónomas". No fim de contas, a tecnologia não são apenas máquinas físicas; são também técnicas, processos e conhecimento distribuído. A realidade, contudo, é que a distinção histórica entre máquinas e capital intelectual está a tornar-se pouco distinta. É agora muito difícil separar processos inovadores da tecnologia de informação avançada que quase sempre torna possível e está na base deles. Sistemas avançados de gestão de inventários e marketing informatizado são exemplos de inovações técnicas, mas que assentam grandemente em computadores. De facto, é possível pensar em quase qualquer processo ou técnica como "software" – e, portanto, parte de uma máquina.

Se ainda tiver problemas em aceitar este cenário, pode colocar a si próprio algumas questões: (1) É possível continuar a aperfeiçoar uma máquina para sempre sem que por fim se torne autónoma? (2) Mesmo se for possível, então não chegará um dia em que a máquina se tornará tão sofisticada que a sua operação estaria para além da grande maioria das pessoas com um grau de formação normal? E não conduziria isto directamente à autonomia da máquina?




Em suma

À medida que a máquina for substituindo totalmente o homem no trabalho, deixará de haver trabalhadores e, portanto, salários. Sem salários não haverá poder de compra. Sem compras não há vendas. Sem vendas não há lucros. Não havendo lucros, deixa de fazer sentido a propriedade privada dos meios de produção.

O futuro da Economia passará pela socialização dos meios de produção e das matérias-primas, pela produção completamente automatizada, e pela entrega de uma mensalidade a todas as pessoas para que possam adquirir os bens de que necessitam.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Desemprego Estrutural: Os Economistas pura e simplesmente não o compreendem

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Texto de Martin Ford

Tradução minha

Tenho defendido que à medida que as máquinas e o software têm aumentado a sua capacidade, começaram a igualar as capacidades do trabalhador médio. Por outras palavras, à medida que a tecnologia evolui, uma fracção cada vez maior da população ficará basicamente incapaz de arranjar emprego. Embora eu seja da opinião que as tecnologias da informação são as principais forças deste processo, a globalização está igualmente a ter um papel importante. (Mas é de lembrar que certos aspectos da globalização como o offshoring – mudar electronicamente um emprego para um país de salários mais baixos – é também fruto da tecnologia).

Os economistas mencionam, por vezes, a tecnologia, mas, regra geral, costumam focar outras questões "estruturais". Uma que eu vejo bastante repetida é a ideia de que as pessoas não se podem deslocar para arranjar emprego porque as suas casas estão submersas (o valor da hipoteca excede o valor da casa). A ênfase dada a esta questão parece-me quase infantil. Será que existem grandes centros populacionais nos Estados Unidos que tenham efectivamente um desemprego baixo?

Mesmo se as pessoas pudessem vender as suas casas, será que se sentiriam motivadas para carregar a camioneta de mudanças e mudarem-se de uma cidade com, digamos, 12% de desemprego para outra com apenas 9% de desemprego? Os economistas esqueceram-se que um desemprego de 9% é basicamente desastroso? Os poucos sítios que eu tenho visto com um desemprego significativamente menor são os meios rurais ou as cidades pequenas – lugares que são simplesmente incapazes de absorver um grande número de trabalhadores optimistas. Sejamos realistas: brincar ao jogo das cadeiras num ambiente geralmente miserável não vai resolver o problema do desemprego.

Outra questão que os economistas costumam apontar é a falta de qualificações. O desemprego estrutural, dizem, ocorre porque os trabalhadores não possuem determinadas qualificações que são pedidas pelos empregadores. Conquanto não restem dúvidas de que há alguma verdade nisto, continuo a afirmar que é colocada demasiada ênfase nesta questão. A ideia de que o problema estaria resolvido simplesmente reciclando toda a gente não tem qualquer credibilidade. Se alguém duvidar, basta perguntar aos milhares de trabalhadores que completaram acções de formação e mesmo assim não conseguem arranjar emprego.

Os economistas têm de perceber que se a falta de qualificações fosse realmente a questão fundamental, então os empregadores estariam muito dispostos a investir na formação dos trabalhadores. Na realidade, isto raramente acontece mesmo entre os mais conceituados funcionários. Suponha que a Google, por exemplo, está à procura de um engenheiro com qualificações muito específicas. Quais seriam as hipóteses da Google contratar e dar uma acção de formação a um dos muitos engenheiros com mais de 40 anos com experiência numa área técnica ligeiramente diferente? Bem, praticamente nenhuma.

Se os empregadores estivessem aflitos com falta de trabalhadores qualificados, podiam resolver com facilidade o problema. Não o fazem porque têm outras opções mais lucrativas: podem contratar trabalhadores com baixos salários em países do Terceiro Mundo, ou podem investir em automação. Reciclar milhões de trabalhadores nos Estados Unidos iria provavelmente encher os cofres das novas escolas de formação que se estão rapidamente a multiplicar, mas não resolverá o problema desemprego.

Porque é que os economistas estão tão relutantes em considerar as implicações da tecnologia avançada? Penso que muitos deles o fazem por pura negação. Se o problema é uma falta de qualificações, então não existe uma solução fácil convencional. Se o problema fosse a falta de mobilidade do trabalho, então isso acabaria por se resolver mais cedo ou mais tarde. Mas, e se o problema for um avanço tecnológico implacável? E se estivermos cada vez mais próximos de um "ponto de viragem", no qual uma tecnologia autónoma pode executar as característicos tarefas de um trabalhador médio que são requeridos pela economia? Bem, isto é basicamente IMPENSÁVEL. E é impensável porque NÃO existem soluções convencionais.




Excerto do livro «The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future [As luzes no Túnel: Automação, Tecnologia em Aceleração e a Economia do Futuro]» de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley, autor e empresário.
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segunda-feira, maio 24, 2010

The Tipping Point - Uma lição de economia a marxistas e a defensores do mercado livre



Excerto do livro «The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future [As luzes no Túnel: Automação, Tecnologia em Aceleração e a Economia do Futuro]» de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley, autor e empresário.

[Tradução minha]



O Ponto de Viragem

Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo, Desemprego e o fim da Economia de Mercado

[Qualquer actividade produtiva utiliza uma determinada combinação de factores produtivos para a produção de bens e serviços. Quanto à intensidade da utilização dos factores produtivos, podem ser de capital-intensivo (utilizam mais intensivamente o capital – tecnologia, máquinas), ou trabalho-intensivo, que utilizam intensivamente o trabalho ou mão-de-obra.]

Podemos situar qualquer indústria algures no espectro que vai desde o grau mais trabalho-intensivo até ao grau mais capital-intensivo. Na nossa economia actual, algumas das indústrias de cariz mais trabalho-intensivo estão na venda a retalho, hotelaria e pequenos negócios. Supermercados, cadeias de lojas, restaurantes e hotéis têm todos de contratar bastantes empregados.

Indústrias de capital-intensivo, por outro lado, empregam relativamente poucas pessoas e, em vez disso, requerem investimento em tecnologia: maquinaria e equipamento avançados e em sistemas computadorizados. Indústrias de alta tecnologia tal como fabrico de semicondutores, biotecnologia e companhias baseadas na Internet são todas de capital intensivo.


Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo


Com o tempo, à medida que a tecnologia evolui, a maior parte das indústrias tornam-se mais capital-intensivas e menos trabalho-intensivas. A tecnologia também cria indústrias completamente novas, e estas são quase sempre capital-intensivas. Este facto tem sido assim há séculos, e historicamente tem sido uma coisa positiva. Se se comparar as indústrias numa nação desenvolvida, como os Estados Unidos, com as indústrias de uma nação do Terceiro Mundo, descobre-se invariavelmente que a economia americana é muito mais capital-intensiva. Foi a introdução da tecnologia avançada que aumentou a produtividade e tornou ricas as nações mais desenvolvidas.

A razão deste facto remonta à explicação dos economistas da «Falácia Ludita»:

Wikipedia - [O Ludismo é o nome do movimento contrário à mecanização do trabalho trazida pela Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo Ludita (do inglês Luddite) identifica toda a pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias. Os Luditas invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo eles, por aquelas serem mais eficientes que os homens, lhes tiravam os seus empregos. Os Luditas ficaram lembrados como "estoira-máquinas"]

À medida que a nova tecnologia é adoptada pelas indústrias, a produção torna-se mais eficiente. Isto resulta na perda de alguns empregos, mas também provoca preços mais baixos para bens e serviços. Por outras palavras, coloca mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Estes consumidores vão então comprar todo o tipo de coisas, e o resultado é um aumento da procura dos produtos de toda a espécie de indústrias.

Algumas destas indústrias são muito trabalho-intensivas, e portanto enquanto se esforçam para fazer face a este aumento da procura, são forçados a contratar mais trabalhadores. E desta forma, o emprego na sua totalidade mantém-se estável ou até aumenta. Por vezes, evidentemente, este resultado traduz-se numa transição desagradável para alguns trabalhadores: podem perder um emprego bem remunerado na indústria e acabar com um emprego mal pago como caixa de um supermercado.


Número de empregados e respectivos salários médios nas seguinte empresas:

McDonalds - 400.000 empregados - 59.000 dólares

Wal-Mart - 2.100.000 empregados - 180.000 dólares

Intel - 83.000 empregados - 456.000 dólares

Microsoft - 91.000 empregados - 664.000 dólares

Google - 20.000 empregados - 1.081.000 dólares



Pode este processo continuar indefinidamente? A tecnologia da automação vai progressivamente invadir os restantes sectores do trabalho-intensivo da economia. Quando isto acontecer, que indústrias restarão para absorver todos os trabalhadores substituídos? Atente-se na tabela acima. O que é que acontecerá quando a McDonalds começar a ficar mais parecido [em termos de empregos] com a Google?

Um exercício simples de senso comum mostra-nos que existe um limiar a partir do qual a economia no seu todo se torna demasiado capital-intensiva. Assim que isto aconteça, preços mais baixos resultantes de aperfeiçoamentos tecnológicos não se traduzirão em mais emprego. Depois deste limiar ou ponto de viragem, as indústrias que constituem a nossa economia já não necessitarão de contratar os trabalhadores suficientes para compensar a perda de empregos resultantes da automação; serão, em vez disso, capazes de encontrar algum aumento na procura principalmente investindo em mais tecnologia. Este ponto marca a derrocada da fé dos economistas na Falácia Ludita, e marca também o princípio de uma espiral económica decrescente pela simples razão de que os trabalhadores são também os consumidores de tudo o que é produzido na nossa economia.

O que é que devemos esperar que aconteça se a generalidade da economia se estiver a aproximar deste ponto de viragem, a partir do qual as indústrias deixam de ser suficientemente trabalho-intensivas para absorver os trabalhadores que perderam os seus empregos devido à automação? Devemos provavelmente assistir um aumento gradual do desemprego, congelamento de salários e aumentos significativos na produtividade (output por hora de trabalho) à medida que as indústrias forem sendo capazes de produzir um maior número de bens e serviços com menos trabalhadores.



Isto parece desconfortavelmente parecido com o que tem estado a acontecer nos anos que conduziram à actual recessão. Em Agosto de 2003, o "The Economist" escreveu que a "Agência de Estatística do Trabalho expressou a mais recente prova do renascimento da produtividade americana: a produtividade por trabalhador aumentou em 5,7% no segundo trimestre, calculada a um período de um ano. Mas nos tempos actuais, menos exuberantes, o número levantou a triste possibilidade de crescimento sem criação de empregos." Três anos depois, num artigo intitulado "O caso dos Empregos Desaparecidos," a BusinessWeek disse: "Desde 2001, com a ajuda de computadores, modernização das comunicações, e com operações fabris ainda mais avançadas, a produtividade industrial americana, ou o total de bens e serviços que um trabalhador produz numa hora, disparou para uns impressionantes 24%... Em suma: estamos a fazer mais com menos gente." Não há forma de saber com segurança a que distância estamos da estagnação permanente da criação de emprego na economia. Contudo, estas estatísticas são seguramente uma causa de preocupação.



O Trabalhador Médio e a Máquina Média

Outra forma de expressar esta ideia de um ponto de viragem é imaginar num trabalhador médio a utilizar uma máquina média algures na economia. Obviamente, no mundo real existem milhões de trabalhadores a utilizar milhões de máquinas diferentes. Com o tempo, evidentemente, estas máquinas vão-se tornando mais sofisticadas. Imagine-se uma máquina típica que represente de modo geral todas as máquinas na economia.

A determinada altura, essa máquina pode ter sido uma nora de um moinho. Depois, pode ter sido uma máquina movida a vapor. Mais tarde, uma máquina industrial alimentada a electricidade. Hoje, a máquina é provavelmente controlada por um computador ou por microprocessadores embutidos.



À medida que a máquina típica se vai tornando cada vez mais sofisticada, os salários dos operários que nela trabalhavam foram aumentados. Máquinas mais sofisticadas tornam a produção mais eficiente e tal traduz-se em preços mais baixos e, portanto, mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Os consumidores vão então gastar esse dinheiro extra, e isso cria empregos para mais trabalhadores que, de igual forma, vão operar máquinas que continuam a evoluir.

De novo, a questão a colocar é: Pode este processo continuar para sempre? Estou convencido de que a resposta é NÃO, e o gráfico seguinte ilustra este facto.


Valor Acrescentado (Salário) do Trabalhador Médio a operar uma Máquina Média:


O problema, evidentemente, é que as máquinas se estão a tornar cada vez mais autónomas. Pode-se observar isto no gráfico no ponto onde a linha pontilhada (conhecimento convencional) e a linha contínua divergem. À medida que mais máquinas começarem a trabalhar sozinhas, o valor que o trabalhador médio acrescenta começa a declinar. É de lembrar que estamos a falar de trabalhadores médios. Para melhor perceber o gráfico acima, atente-se na distribuição de rendimentos nos Estados Unidos e depois retirem tanto as pessoas mais ricas como as mais pobres. Depois veja-se o rendimento médio dos "típicos" restantes (a maioria dos consumidores) ao longo do tempo. Se, ao invés, se observar o Produto Interno Bruto per capita, chegar-se-á a um gráfico semelhante, mas a divergência entre as linha pontilhada e a linha contínua irá ocorrer um pouco mais tarde. Isto acontece porque as pessoas mais ricas (que são donas das máquinas ou com altos níveis de especialização) irão beneficiar inicialmente da automação e, por isso, elevam a média.

Logo que as linhas começam a divergir, as coisas vão ficar muito feias. Isto acontece porque o mecanismo básico que coloca o poder de compra nas mãos dos consumidores está a falhar. Com o tempo, desemprego, baixos salários – e talvez o mais importante – a psicologia do consumidor irá causar uma muito grave retracção económica.

Como o gráfico mostra, dentro do contexto das nossas actuais regras económicas, a ideia das máquinas serem "completamente autónomas" é apenas uma meta teórica que nunca poderá ser alcançada.

Algumas pessoas podem pensar que estou a ser demasiado simplista em relacionar "o progresso tecnológico" com "máquinas mais autónomas". No fim de contas, a tecnologia não são apenas máquinas físicas; são também técnicas, processos e conhecimento distribuído. A realidade, contudo, é que a distinção histórica entre máquinas e capital intelectual está a tornar-se pouco distinta. É agora muito difícil separar processos inovadores da tecnologia de informação avançada que quase sempre torna possível e está na base deles. Sistemas avançados de gestão de inventários e marketing informatizado são exemplos de inovações técnicas, mas que assentam grandemente em computadores. De facto, é possível pensar em quase qualquer processo ou técnica como "software" – e, portanto, parte de uma máquina.

Se ainda tiver problemas em aceitar este cenário, pode colocar a si próprio algumas questões: (1) É possível continuar a aperfeiçoar uma máquina para sempre sem que por fim se torne autónoma? (2) Mesmo se for possível, então não chegará um dia em que a máquina se tornará tão sofisticada que a sua operação estaria para além da grande maioria das pessoas com um grau de formação normal? E não conduziria isto directamente à autonomia da máquina?




Em suma

Com o fim do emprego e dos salários, ou seja, do poder de compra, que futuro poderá ter a propriedade privada dos meios de produção?
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terça-feira, abril 20, 2010

A evolução tecnológica está a roubar os nossos empregos?



Texto de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley e empresário.

[Tradução minha]


Desemprego devido à Robótica, à Inteligência Artificial e aos Computadores – Irão os Robots e as Máquinas roubar os nossos empregos? Poderá o trabalho da Automação Tecnológica Avançada causar Desemprego Estrutural?

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A situação do desemprego está a parecer cada vez mais aflitiva. Será possível que esteja a acontecer alguma coisa que ninguém quer reconhecer?

Não existem grandes dúvidas de que os computadores, as tecnologias robóticas e outras formas de trabalho automatizado têm vindo a tornar-se cada vez mais capazes e que à medida que esta tendência continua, mais trabalhadores têm a certeza de que serão substituídos pela máquina num futuro relativamente próximo. A maior parte dos economistas rejeitam qualquer preocupação de que isto possa conduzir a um desemprego estrutural a longo prazo. Correndo o risco de ser rotulado de "neo-Ludita," vou explorar este assunto em mais profundidade.


Wikipedia - [O Ludismo é o nome do movimento contrário à mecanização do trabalho trazida pela Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo Ludita (do inglês Luddite) identifica toda a pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias. Os Luditas invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo eles, por aquelas serem mais eficientes que os homens, lhes tiravam os seus empregos. Os Luditas ficaram lembrados como "rebenta-máquinas".]


Julgo que existem fortes argumentos de que uma grande percentagem de empregos são, a um certo nível, essencialmente rotineiros e repetitivos por natureza. Por outras palavras, o trabalho pode ser dividido num conjunto discreto de tarefas que se tendem a repetir numa base regular. Parece provável que, à medida que o hardware e o software se continuarem a desenvolver, uma fracção cada vez maior deste tipo de trabalhos será, em última análise, susceptível de ser executado por máquinas ou software automatizado.


Garry Kasparov (à esquerda) versus o computador Deep Blue em 1997 - o Deep Blue venceu Garry Kasparov num confronto de seis partidas, com duas vitórias, três empates e uma derrota.


Não estou aqui a falar de tecnologia de ficção científica: trata-se de uma simples extrapolação dos sistemas especialistas e algoritmos específicos que podem actualmente fazer aterrar aviões comerciais, transaccionar autonomamente em Wall Street, ou vencer praticamente qualquer ser humano numa partida de xadrez. À medida que a tecnologia progride, penso que haverá poucas dúvidas de que estes sistemas vão começar a estar ao nível, ou a ultrapassar, a capacidade dos trabalhadores humanos em muitas categorias de trabalhos de rotina – e isto inclui muitos trabalhadores com graus académicos superiores ou outra formação significativa. Muitos trabalhadores serão também crescentemente ameaçados pela tendência contínua em direcção às tecnologias self-service [faça-você-mesmo] que transfere as tarefas para os consumidores.


O self-service no banco, na bomba de gasolina e no supermercado


Um dos exemplos históricos mais extremos da indução da perda de empregos devido à tecnologia foi, sem dúvida, a mecanização da agricultura. Por volta de 1800, cerca de três quartos dos trabalhadores nos Estados Unidos estavam empregados na agricultura. Hoje, esse valor ronda os 2 a 3 por cento. A evolução da tecnologia eliminou irreversivelmente milhões de empregos.


Em 200 anos a agricultura passou de 75% para 3% da população activa


Obviamente, quando a agricultura se mecanizou, não ficámos com desemprego estrutural a longo prazo. Os trabalhadores foram absorvidos por outras indústrias, e a média dos salários e a prosperidade global aumentou dramaticamente. A experiência histórica com a agricultura é, de facto, uma excelente ilustração da chamada "falácia Ludita." É a opinião – e penso que é geralmente aceite pelos economistas – de que o progresso tecnológico nunca conduzirá ao desemprego massivo a longo prazo.

Os motivos da falácia Ludita prendem-se normalmente com o seguinte: à medida que se aperfeiçoam as tecnologias que poupam trabalho, alguns trabalhadores perdem os seus trabalhos a curto prazo, mas, por outro lado, a produção também se torna mais eficiente. Isto conduz a preços mais baixos para os bens e serviços produzidos, o que, por seu turno, deixa os consumidores com mais dinheiro para gastar noutras coisas. Quando o fazem, a procura aumenta em quase todas as outras indústrias – e isso significa mais empregos. Isto parece ser exactamente o que aconteceu com a agricultura: o preço dos alimentos desceu à medida que eficiência produtiva aumentava, e então os consumidores puderam gastar o dinheiro extra noutras coisas, conduzindo ao aumento de emprego na manufactura e no sector dos serviços.

A questão que devemos colocar é se o mesmo cenário se vai continuar a repetir. O problema é que desta vez não estamos a falar da automação de apenas uma indústria: estas tecnologias vão penetrar em todos os processos produtivos. Quando se mecanizou a agricultura, existiam claramente outros sectores de trabalho intensivo capazes de absorver os trabalhadores. Mas há poucas evidências que seja esse o caso hoje em dia.


A Automação Industrial tornará o desemprego estrutural inevitável


Parece-me que, à medida que automação vai penetrando em todo o lado, chegará um ponto de viragem, a partir do qual a economia no seu conjunto não será suficientemente intensiva para continuar a absorver os trabalhadores que perdem os seus trabalhos devido à automação. A partir desse ponto, os empresários serão capazes de aumentar a sua produção sobretudo pelo emprego de máquinas e software – e então o desemprego estrutural tornar-se-á inevitável.

Se chegarmos a esse ponto, então penso que também teremos um sério problema com a procura dos consumidores. Se a automação é inexorável, então o mecanismo básico que coloca o poder de compra nas mãos dos consumidores começa a desintegrar-se. A título de experiência, vamos imaginar uma economia completamente automatizada. Praticamente ninguém conseguiria arranjar um emprego (ou um rendimento); as máquinas fariam tudo. Portanto, donde viria o consumo? Se se estivesse a considerar uma economia de mercado (em vez de economia planificada), porque é que se continuaria a produzir se não existissem consumidores viáveis para comprar o resultado da produção? Muito antes de chegarmos a esse extremo de total automação, tornar-se-ia perfeitamente claro que os modelos do mercado de massas ficariam insustentáveis.

Uma das coisas que me preocupa mais neste cenário é a influência potencial da psicologia do consumidor. Se num determinado momento no futuro os consumidores se aperceberem que os empregos estão a ser implacavelmente automatizados, e se reconhecerem que mais educação ou treino serão inúteis, haverá muito provavelmente um impacto negativo significativo na atitude do consumidor e nas suas opções de despesas. Se qualquer dia entrarmos num círculo vicioso induzido pelo medo da automação, pode suceder um cenário muito negro. É difícil ver como é que as políticas tradicionais como o estímulo ao consumo ou cortes nos impostos poderiam ter algum efeito porque não se destinariam a resolver as preocupações de consumidores com a continuidade dos seus rendimentos a longo prazo

A maior parte dos economistas provavelmente objectará a estes argumentos como sendo especulativos e carentes de dados objectivos. Julgo que se olharmos para as questões como a estagnação ou o declínio dos salários médios dos trabalhadores, para a desigualdade crescente dos rendimentos, para a produtividade acrescida, e para o consumo baseado em dívida em vez de no rendimento, encontrar-se-ão seguramente provas que geralmente sugerem que nos estamos a aproximar do ponto de viragem, no qual o desemprego se irá tornar num problema. Contudo, parece improvável que uma análise econométrica dos dados passados possam oferecer um apoio claro a esta teoria – e se alguma vez o fizer, será já demasiado tarde.


O Desemprego virá a ser um problema do passado?


Questiono-me sobre a sabedoria da ênfase extrema na análise dos dados quantitativos que parecem caracterizar a economia. Devemos pilotar o barco focando exclusivamente os nossos binóculos no sentido da rota que temos vindo a trilhar? Pode muito bem existir um iceberg no caminho…


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Conclusão (minha)

A tecnologia está a destruir, a uma velocidade exponencial, os empregos. Sem assalariados não há poder de compra. Sem compras, não há vendas nem lucros. Sem lucros não há capitalismo. O paradigma económico tem de mudar rápida e drasticamente.
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