sábado, janeiro 29, 2011

Um post genial de quem contrapõe à paneleirice do voto eleitoral o derrube violento dos governos

Sem paliativos

Como alguns leitores acharam por bem fazer propaganda eleitoral nas caixas de comentários, julgo necessário deixar bem claro o seguinte:

Podem os leitores degenerar nos eleitores que bem entenderem. Se votam no Humberto, no Júlio, no Francisco ou na Maria Albertina, para mim, é-me igual. Cultivo, mais até que padeço, uma urnofobia inexpugnável. Direi até que a minha urnofobia suplanta em larga escala várias outras fobias extremamente impopulares que pratico e recomendo (até por isso mesmo), como a cinefobia, a homofobia, a popfobia (nojo pela música pimba internacional), a xenofobia, a americanofobia, a Agustino-Saramago-Antunofobia (uma fobia extremamente saudável, diga-se), etc, etc.

Agustino-Saramago-Antunofobia

A minha urnofobia é de tal ordem que, assombrado, já cheguei até a interrogar-me sobre a sua nebulosa - e certamente problemática - genealogia. Após intensa pesquisa, alcancei uma quase certeza: deriva ela, a minha urnofobia avassaladora, da minha homofobia monumental. Nem mais nem menos. Eu explico. Só povos castrados e efeminados, além de imbecilizados e remetidos à escala molusca, votam. Um povo que assina de cruz, além de tudo isso, declara-se politicamente analfabeto e mais não faz que entregar-se tansamente à tutorização despótica de quadrilhas organizadas. Mas pior ainda que toda esta panóplia de infâmias e pusilanimidades é o próprio acto em si, individual, de depor o papelinho no caixote. Que uma mulher vote, acho perfeitamente normal e pacífico. É como usar saia, brincos, baton, bela cabeleira e voz coquete. Sim, isso e gemer durante a cópula, lavar pratos ou mudar fraldas. Numa mulher fica bem. Agora num homem, convenhamos, é mariquice das grandes. E não só fica mal como é repugnante. Direi mais: o sufrágio universal (que não há-de demorar muito a tornar-se obrigatório e compulsivo) é só mais um capítulo duma fobia particularmente vil, rastejante, venenosa e, esta sim, pouco recomendável: a androfobia. Ou seja, a aversão concertada e massificada à virilidade, à bravura, à coragem e, enfim, a todas aquelas virtudes que, apesar de tudo e de todas as paneleirices económicas que se conhecem e sempre minaram e parasitaram o empreendimento, ergueram a civilização.

Assim, dado que a depilação mental, a perfumadela ideológica e a manicure cívica não fazem muito o meu estilo, não só não voto, como nutro o mais profundo desprezo por quem o faz. Excepto as mulheres, naturalmente. Quer dizer, então, e em resumo, que me abstenho? Não, ó caros gastrópodes, quer dizer exactamente o contrário: quer dizer que tendo nascido dotado de testículos, não me abstenho nem me demito deles, ainda menos sob sórdidos porque contabilísticos pretextos. É certo que um dia me verei forçado a abdicar, mas, nesse trágico desenlace, tenciono descer de homem a cadáver sem escalas intermédias.

O derrube violento de (des)governos e tiranias

Para ser franco, pois, e em imperturbável coerência, declaro-me aqui - e de modo a varrer quaisquer dúvidas ou confusões nos espíritos - adepto firme e compenetrado do derrube violento de (des)governos e tiranias (sendo a pior de todas elas a da mediocridade). Pelo que aguardo, calma e serenamente, a minha oportunidade. Animam-me, junto com uma tenacidade tigrina, duas coisas: uma fé e uma esperança inquebrantáveis. Daquelas que só os emboscados conhecem, aguçam e experimentam. Como, de resto, genialmente explica mestre Jünger.

A política não devia ser um mero exercício de alívio. Em que é indistinto o alívio de quem se alivia na ranhura e o de quem se alivia nem lá indo. Dá-nos, isso, triste mas fidedigna conta do significado, tanto quanto do valor, de tal sufrágio.

Em síntese, e para finalizar duma vez por todas, não é por comodismo ou indiferença que não voto: é mesmo nojo. Tanto quanto da cabeça, é uma recusa das próprias vísceras. Não há paliativos para isto.
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terça-feira, janeiro 25, 2011

O meu candidato, José Manuel Coelho, foi o grande vencedor das Presidenciais 2011

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O candidato às Presidenciais 2011, José Manuel Coelho

Por Ricardo Noronha

Não se entende muito bem como nem porquê, continua-se a escrever sobre José Manuel Coelho como se ele não tivesse sido, de longe, o candidato mais à Esquerda nestas eleições. Insiste-se em colá-lo à figura de um palhaço, quando ele teve a firmeza e o desassombro de chamar as coisas pelos nomes, sempre que foi necessário. Acompanhou a votação num café, desafiando Cavaco para um debate que nunca teve lugar - por razões inconfessáveis e que deveriam os democratas desta praça corar de vergonha -, depois de uma campanha feita sem qualquer aparato, em que falou sempre alto e bem. Acabou a denunciar o capitalismo selvagem e a defender os «valores de Abril».

Pode-se não gostar do estilo, preferir um poeta caçador e tauromáquico ou um funcionário partidário patriota, mas ainda não encontrei nenhum argumento contra ele que ultrapassasse o tacticismo ou, pior ainda, um elitismo rasteiro, que considera que a política é um assunto de gente bem e chama «populista» a quem desafia esse raciocínio. Para ele seguiu o meu voto anti-capitalista. Pior do que está não fica.


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Jornal Expresso - 23.01.2011



Jardim nunca teve tantos votos como Coelho

José Manuel Coelho tem um folgado segundo lugar na Madeira. Em número de votos já duplicou a maior vitória alguma vez obtida pelo seu principal adversário Alberto João Jardim. Clique para visitar o dossiê Presidenciais 2011.

José Manuel Coelho tem razões para se sentir feliz. O seu surpreendente resultado de 4,5% a nível nacional e os 39% obtidos na Região Autónoma da Madeira permitem-lhe dizer que este é "um basta ao Jardinismo".

O deputado madeirense conta vários números a seu favor: o segundo lugar garantido na Madeira (39% contra 45% de Cavaco Silva, de acordo com os resultados oficiais, ainda não finais, por volta das 22:00) deixou francamente para trás Manuel Alegre (com apenas 7% dos votos dos madeirenses).

Mas maior é, sem dúvida, a diferença entre os resultados nominais obtidos nestas eleições Presidenciais por José Manuel Coelho com os números registados em qualquer das eleições regionais pelo sempre vencedor madeirense, Alberto João Jardim.

As diferenças entre os universos eleitorais - um nacional, outro regional, um maior o outro mais pequeno - explicam, claramente, a diferença de números.

Mas o certo é que José Manuel Coelho leva vantagem: menos de três horas depois do encerramento das urnas, o deputado do PND regista já mais de 180 mil votos. No melhor dos seus scores eleitorais - precisamente o das últimas eleições regionais, de 2007 - o presidente do Governo madeirense obteve 90 377 votos.

O seu segundo melhor resultado, obtido em 1980, dava a Jardim uns escassos 81 mil votos, se comparados com os registados agora por Coelho.

Curiosamente, o deputado do Parlamento madeirense, até agora um ilustre desconhecido na generalidade do país, consegue, só com esta investida nas Presidenciais, registar mais votos que os somados pelos principais partidos candidatos na Madeira - PS e PSD - em todas as eleições realizadas desde 1976.


quarta-feira, janeiro 19, 2011

Estou farto dos mercados!

Vejo na televisão imagens de rua da Irlanda, da Grécia, da Espanha, e são iguais às de Portugal: as pessoas movem-se de ou para o trabalho, há transportes a funcionar, comércio aberto, crianças a irem para escola, enfim, a vida como habitualmente. A mim parece-me que estes países e estas pessoas estão vivas, que não estão à beira da morte. Mas não, é ilusão minha: todos os noticiários nos dizem que sobre esta gente e estes países pesa a mais tenebrosa ameaça destes sinistros tempos económicos que se vivem: os mercados.

Estou farto dos mercados, estou farto da constante ameaça dos mercados: os mercados acordaram bem dispostos mas, depois do almoço, os mercados enervaram-se e subiram-nos outra vez as taxas de juro; os mercados não gostam disto, os mercados querem aquilo; os mercados querem um orçamento aprovado, os mercados não acreditam na execução do orçamento que queriam aprovado; os mercados assustam-se quando o ministro das Finanças fala, os mercados reagem em stresse se o ministro fica calado mais do que dois dias; os mercados querem que os Estados desçam o défice, diminuindo despesas e aumentando receitas, mas os mercados fogem se a PT pagar um euro que seja de imposto sobre as mais-valias do maior negócio europeu do ano; os mercados estão preocupados com a quebra do consumo, mas os mercados adoram os aumentos do IVA; os mercados recomendam cortes salariais, mas os mercados são frontalmente contra os cortes nos salários e prémios dos gestores das grandes empresas, porque isso é uma intromissão estatal que contraria a regra da concorrência... nos mercados.


Sim, eu sei: à falta de alternativa, estamos na mão dos mercados e não os podemos mandar para onde bem nos apetecia e eles mereciam. Mas convém não esquecer que foi esta fé nos mercados, como se fosse o boi-ápis, a desregulação e falta de supervisão dos famosos mercados, que mergulharam o mundo inteiro na crise que vivemos, devido ao estoiro do mercado imobiliário especulativo e do mercado financeiro, atulhado do que chamam "activos tóxicos" - que deram biliões a ganhar a muito poucos e triliões a pagar por todos. A Irlanda, que hoje os mercados flagelam com juros acima dos 8%, está onde está, não porque a sua economia tenha ido à falência (pelo contrário, e como sucede com Portugal, está em crescimento), mas porque os seus tão acarinhados bancos, maravilha fatal dos mercados e do liberalismo selvagem, rebentaram de ganância e irresponsabilidade e obrigaram o Estado a resgatá-los à custa de um défice de 32%. Num mundo justo, os mercados deveriam ser os primeiros a pagar pela falência da Irlanda; no mundo em que vivemos, quem ganha com isso são os mercados outra vez e quem paga são os contribuintes - irlandeses primeiro, europeus depois - e os desempregados da Irlanda. Por isso, a srª Merkel disse que seria justo que os mercados (isto é, os investidores na dívida pública irlandesa) participassem também nos custos de resgatar a dívida irlandesa, se isso se vier a revelar inevitável. Mas, no mundo em que vivemos, o que sucedeu é que toda a gente caiu em cima da srª Merkel, porque a sua declaração logo fez subir as taxas de juro junto dos indignados mercados. Mesmo no Inverno, já nem espirrar se pode, porque os mercados não gostam.

Mas é assim que estamos: nas mãos dos abutres. Sim, eu sei, não adianta para nada matar o mensageiro no lugar da mensagem. Nem eu o faço: já escrevi várias vezes que agora não há volta a dar. Vivemos há tempo de mais a gastar o que não tínhamos e a endividar-nos para o futuro. Todos - indivíduos, famílias, empresas, bancos, autarquias, Estado - instalámo-nos irresponsavelmente num modus vivendi que consistiu em pedir dinheiro emprestado por conta da riqueza que um dia iríamos ter e nunca tivemos. Um exemplo basta para dar conta da insanidade financeira em que o país mergulhou: convencemo-nos de que era possível que cada português fosse dono de habitação própria, coisa jamais vista em lugar algum. Mas também nos convencemos (e ainda há quem esteja convencido) de que podemos ter auto-estradas de borla, o maior consumo público de farmácia e tratamentos hospitalares de toda a Europa ou um sistema de pensões cujas despesas aumentam incessantemente enquanto as receitas diminuem paulatinamente. Era fatal que um dia teria de chegar a conta destas criminosas ilusões que uma geração irresponsável de políticos alimentou e uma geração de eleitores aplaudiu. Chegou agora e eu acho que não temos outro caminho senão enfrentar a inevitabilidade de começar a cortar brutalmente nas despesas para podermos matar o défice, cobrir os juros usurários que os mercados agora nos cobram e começar a amortizar a dívida acumulada. E seria justo que tal sucedesse enquanto está no poder a geração que nos enterrou em toda esta dívida e dela beneficiou.

Isso é uma coisa. Outra, é assistir de braços cruzados à ditadura dos mercados e à retoma, como se nada tivesse sucedido, das regras de um capitalismo moralmente pervertido e socialmente insustentável. Países como Portugal, a Irlanda, a Grécia, não obstante todos os erros próprios cometidos e a responsabilidade que têm nas suas actuais situações, têm o direito de exigir condições decentes para pagarem o que devem. Bruxelas e o FMI sabem muito bem que, com juros entre os 7 e os 11%, não há sacrifícios, nem despedimentos, nem miséria que chegue para conseguir pagar, sobrevivendo. É um escândalo que a PT não pague um tostão de mais-valias num negócio de 7500 milhões de euros porque factura os lucros da operação através de uma sua subsidiária sediada na Holanda, onde a taxa de IRC é de... 0%! É um escândalo para a PT, um escândalo para um país como a Holanda, que serve de barriga de aluguer para dumping empresarial e fuga fiscal, e um escândalo para a UE, os Estados Unidos e todo o G-20, que nem sequer se atreveram ainda, mesmo depois de terem visto o que viram, a começar a concertar-se para pôr fim a essa coisa pornográfica que são as offshores - autênticos salteadores da riqueza das nações e fábricas de desempregados.


Eu sei também qual é a resposta pronta, de cada vez que se fala nas offshores: "se nós não temos, têm os outros e as empresas fogem para os melhores mercados". Pois, mas se os senhores do mundo, concertados nas reuniões do G-20, decidirem todos boicotar as offshores e as empresas que lá existem, elas acabam, fatalmente. E, se já se conseguiu estabelecer regras universais para o comércio mundial e assuntos ainda mais complexos, porque não se consegue aqui? A resposta provável é esta: porque os senhores do mundo, ao contrário do que se possa pensar, não são Obama, nem Hu Jintao, nem Medvedev, nem Merkel ou Sarkozy: os senhores do mundo são uns cavalheiros que se reúnem uma vez por ano em fóruns como o de Davos, na Suíça, e aí, enquanto representantes do verdadeiro poder - financeiro, empresarial, político, militar e de informação e comunicação - entre si estabelecem as regras do jogo. E agora, com a Rússia e a China tão devotamente convertidas ao capitalismo, nunca foi tão fácil aos senhores do mundo estabelecerem as regras que lhes interessam. E nunca o capitalismo foi um jogo tão viciado e tão amoral. A falência óbvia do socialismo foi o caminho aberto para a libertinagem, sem regras, sem princípios morais e sem qualquer preocupação de que a economia sirva os povos, em lugar de os sugar. Se vivesse hoje, Adam Smith seria anarquista.



Comentário

Embora quase totalmente de acordo com este artigo de Sousa Tavares, reparo que o cronista, no 4º parágrafo, não consegue fugir à lengalenga do «vivemos acima das nossas possibilidades», infinitamente martelada nas televisões pelos propagandistas.


Faço minhas algumas palavras de um post no Arrastão:

"Um atrás do outro, economistas e seus derivados explicam, redundantes, os males do nosso País. Nas televisões, nas rádios e nos jornais qualquer tipo de discordância é tratada como delírio radical, dando à ofensiva ideológica em curso a roupagem de neutralidade técnica que precisa para se impor."

"O guião é simples: vivemos acima das nossas possibilidades. E aquilo em que vivemos é um Estado Social gordo e generoso. E as nossas possibilidades são o safe-se como puder, que os recursos públicos são precisos para o sector privado..."

"... Os nossos catastrofistas mantêm a pose virginal. Mas se olharmos com atenção, sabemos que trabalham para quem tem interesses na actual situação - vale a pena ver "Inside Job" e a parte referente aos académicos avençados pela banca - e que quase todos tiveram responsabilidades políticas. Mais: que o emagrecimento do Estado que defendem não bate certo com as reformas imorais que alguns deles recebem desde tenra idade. Os portugueses vivem acima das suas possibilidades, dizem os que sempre viveram em cima das possibilidades dos portugueses."



Na imagem seguinte, um grupo de catastrofistas que trabalha para quem tem interesses na actual situação e que vive acima das possibilidades dos restantes portugueses:


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sexta-feira, janeiro 14, 2011

O mito do «Pico Petrolífero» e a mentira da origem fóssil do Petróleo

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Por outras palavras, o «Pico Petrolífero» é uma fraude para criar escassez artificial e aumentar os preços do petróleo. Entretanto, tecnologias de combustíveis alternativos que estão disponíveis há décadas são intencionalmente suprimidas.



Temos vindo a assistir a uma forte subida nos preços do petróleo e é-nos dito simplesmente para nos habituarmos à ideia porque não há nada a fazer. Entretanto as companhias petrolíferas continuam a bater recordes de lucros.

Mas se estamos a ficar sem petróleo tão rapidamente então porque é que as reservas estão sempre a aumentar e a produção a disparar?

Em 2005 a Arábia Saudita aumentou as suas reservas de crude em cerca de 200 mil milhões de barris. O petróleo saudita está seguro e é abundante, disseram responsáveis sauditas.

"Estas reservas enormes vão permitir ao Reino Saudita manter-se como um dos principais produtores de petróleo nos próximos 70 a 100 anos, mesmo que aumente a sua capacidade de produção para 15 milhões de barris por dia, o que poderá muito bem acontecer nos próximos 15 anos."

Foi também noticiado que a Rússia tem vindo a aumentar enormemente as suas reservas, ainda mais do que a Arábia Saudita. Porque é que estes países estão a fazer isto se já não resta muito petróleo para extrair? Parece claro que a Rússia está preparada para uma ilimitada produção futura de petróleo.

Existe uma clara contradição entre a teoria do «Pico Petrolífero» e o aumento contínuo da produção e das reservas de petróleo.

Novas fontes de petróleo estão a ser descobertas por todo o lado no planeta. A noção de que existem apenas meia dúzia de fontes que o Ocidente está a tentar monopolizar é um mito propalado por aqueles que obtêm enormes lucros. No fim de contas, como é que se consegue obter enormes lucros de algo que existe em abundância?

O mito do «Pico Petrolífero»

Um artigo no Wall Street Journal de Peter Huber e Mark Mills explica porque é que o preço do petróleo permanece tão elevado enquanto o seu custo de produção continua tão baixo. Nós não estamos dependentes do petróleo do Médio Oriente por as reservas mundiais estarem a diminuir, mas porque é mais lucrativo explorar somente as reservas do Médio Oriente. Donde, o mito do «Pico Petrolífero» é necessário por forma a silenciar os que pedem a exploração de outras abundantes reservas mundiais.



Artigo retirado deste SITE (em português brasileiro):

Teoria dos combustíveis fósseis

Segundo a teoria dos combustíveis fósseis, que é a mais aceite atualmente sobre a origem do petróleo e do gás natural, organismos vivos morreram, foram enterrados, comprimidos e aquecidos sob pesadas camadas de sedimentos na crosta terrestre, onde sofreram transformações químicas até originar o petróleo e o gás natural.


É com base nesta teoria que chamamos as principais fontes de energia do mundo moderno de "combustíveis fósseis" - porque seriam resultado de restos modificados de seres vivos.


Teoria do petróleo abiótico

Muito menos disseminado é o fato de que esta não é a única teoria para explicar o surgimento do petróleo. Na verdade, esta teoria hegemônica vem sendo cada vez mais questionada por um grande número de cientistas, que defendem que o petróleo tem uma origem abiótica, ou abiogênica - sem relação com formas de vida.

Os defensores da teoria abiótica do petróleo têm inúmeros argumentos. Por exemplo, a inexistência de fenômenos geológicos que possam explicar o soterramento de grandes massas vivas, como florestas, que deveriam ser cobertas antes que tivessem tempo de se decompor totalmente ao ar livre, juntamente com a inconsistência das hipóteses de uma deposição do carbono livre na atmosfera no período jovem da Terra, quando suas temperaturas seriam muito altas.

A teoria da origem fóssil do petróleo não é consistente

A deposição lenta, como registrada por todos os fósseis, não parece se aplicar, uma vez que as camadas geológicas apresentam variações muito claras, o que permite sua datação com bastante precisão. Já os depósitos petrolíferos praticamente não apresentam alterações químicas variáveis com a profundidade, tendo virtualmente a mesma assinatura biológica em toda a sua extensão.

Além disso, os organismos vivos têm mais de 90% de água e mesmo que a totalidade de sua massa sólida fosse convertida em petróleo não haveria como explicar a quantidade de petróleo que já foi extraída até hoje.

Outros fenômenos geológicos, para explicar uma eventual deposição quase "instantânea," deveriam ocorrer de forma disseminada - para explicar a grande distribuição das reservas petrolíferas ao longo do planeta - e em grande intensidade - suficiente para explicar os gigantescos volumes de petróleo já localizados e extraídos.


Carbono do interior da Terra

Por essas e por outras razões, vários pesquisadores afirmam que nem petróleo, nem gás natural e nem mesmo o carvão, são combustíveis fósseis. Para isso, afirmam eles, o ciclo do carbono na Terra deveria ser um ciclo fechado, restrito à crosta superficial do planeta, sem nenhuma troca com o interior da Terra. E não há razões para se acreditar em tal hipótese.

Na verdade, aí está, segundo a teoria dos combustíveis abióticos, a origem do petróleo, do gás natural e do carvão: eles se originam do carbono que é "bombeado" continuamente pelas altíssimas pressões do interior da Terra em direção à superfície.


É possível sintetizar hidrocarbonetos a partir de matéria orgânica, e estes experimentos foram, por muitos anos, o principal sustentáculo da teoria dos combustíveis fósseis.

Mas agora, pela primeira vez, um grupo de cientistas conseguiu demonstrar experimentalmente a síntese do etano e de outros hidrocarbonetos pesados em condições não-biológicas. O experimento reproduz as condições de pressão e temperatura existentes no manto superior, a camada da Terra abaixo da crosta.


Metano e etano abióticos

A pesquisa foi feita por cientistas do Laboratório de Geofísica da Instituição Carnegie, nos Estados Unidos, em conjunto com colegas da Suécia e da Rússia, onde a teoria do petróleo abiótico surgiu e tem muito mais aceitação acadêmica do que em outras partes do mundo.

O metano (CH4) é o principal constituinte do gás natural, enquanto o etano (C2H6) é usado como matéria-prima petroquímica. Esses dois hidrocarbonetos, juntamente com outros associados aos combustíveis de origem geológica, são chamados de hidrocarbonetos saturados porque eles têm ligações únicas e simples, saturadas com hidrogênio.

Utilizando uma célula de pressão, conhecida como bigorna de diamante, e uma fonte de calor a laser, os cientistas começaram o experimento submetendo o metano a pressões mais de 20 mil vezes maiores do que a pressão atmosférica ao nível do mar, e a temperaturas variando de 700° C a mais de 1.200° C. Estas condições de temperatura e pressão reproduzem as condições ambientais encontradas no manto superior da Terra, entre 65 e 150 quilômetros de profundidade.

No interior da célula de pressão, o metano reagiu e formou etano, propano, butano, hidrogênio molecular e grafite. Os cientistas então submeteram o etano às mesmas condições e o resultado foi a formação de metano. Ou seja, as reações são reversíveis.

Essas reações fornecem evidências de que os hidrocarbonetos pesados podem existir nas camadas mais profundas da Terra, muito abaixo dos limites onde seria razoável supor a existência de matéria orgânica soterrada.

Bigorna de diamante, usada para reproduzir as gigantescas
pressões existentes abaixo da crosta terrestre.
[Imagem: Department of Physics/University of Cambridge]




Reações reversíveis

Outro resultado importante da pesquisa é que a reversibilidade das reações implica que a síntese de hidrocarbonetos saturados é termodinamicamente controlada e não exige a presença de matéria orgânica.

"Nós ficamos intrigados por experiências anteriores e previsões teóricas," afirma Alexander Goncharov, um dos autores da pesquisa. "Experimentos feitos há alguns anos submeteram o metano a altas pressões e temperaturas, demonstrando que hidrocarbonetos mais pesados se formam a partir do metano sob condições de temperatura e pressão muito similares. Entretanto, as moléculas não puderam ser identificadas e era provável que houvesse uma distribuição."

"Nós superamos esse problema com nossa técnica aprimorada de aquecimento a laser, que nos permitiu aquecer um volume maior de maneira mais uniforme. Com isso, descobrimos que o metano pode ser produzido a partir do etano", declarou Goncharov.


Hidrocarbonetos gerados no interior da Terra

"A ideia de que os hidrocarbonetos gerados no manto migram para a crosta terrestre e contribuem para a formação dos reservatórios de óleo e gás foi levantada na Rússia e na Ucrânia muito anos atrás. A síntese e a estabilidade dos compostos estudados aqui, assim como a presença dos hidrocarbonetos pesados ao longo de todas as condições no interior do manto da Terra agora precisarão ser exploradas," explica outro autor da pesquisa, professor Anton Kolesnikov.

"Além disso, a extensão na qual esse carbono 'reduzido' sobrevive à migração até a crosta, sem se oxidar em CO2, precisa ser descoberta. Essas e outras questões relacionadas demonstram a necessidade de um programa de novos estudos teóricos e experimentais para estudar o destino do carbono nas profundezas da Terra," conclui o pesquisador.

Os hidrocarbonetos gerados no manto migram para a crosta terrestre
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terça-feira, janeiro 11, 2011

Os felizardos que acumulam lugares de administradores em múltiplas empresas e que são simultaneamente propagandistas do pensamento único

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Estes são alguns dos indivíduos que vão rotineiramente à televisão explicar aos portugueses a necessidade de cortes, de sacrifícios e da implementação das reformas estruturais de que Portugal precisa para responder aos desafios de uma economia cada vez mais globalizada:



Diário de Notícias - 16.04.2010:

Por cada reunião do conselho de administração das cotadas do PSI-20, os administradores não executivos - ou seja, sem funções de gestão - receberam 7427 euros. Segundo contas feitas pelo DN, tendo em conta os responsáveis que ocupam mais cargos deste tipo, esta foi a média de salário obtido em 2009. Daniel Proença de Carvalho, António Nogueira Leite, José Pedro Aguiar-Branco, António Lobo Xavier e João Vieira Castro são os "campeões" deste tipo de funções nas cotadas, sendo que o salário varia conforme as empresas em que trabalham.


Daniel Proença de Carvalho

Proença de Carvalho é o responsável com mais cargos entre os administradores não executivos das companhias do PSI-20, e também o mais bem pago. O advogado é presidente do conselho de administração da Zon, é membro da comissão de remunerações do BES, vice-presidente da mesa da assembleia geral da CGD e presidente da mesa na Galp Energia. E estes são apenas os cargos em empresas cotadas, já que Proença de Carvalho desempenha funções semelhantes em mais de 30 empresas. Considerando apenas estas quatro empresas (já que só é possível saber a remuneração em empresas cotadas em bolsa), o advogado recebeu 252 mil euros. Tendo em conta que esteve presente em 16 reuniões, Proença de Carvalho recebeu, em média e em 2009, 15,8 mil euros por reunião.


António Nogueira Leite

O segundo mais bem pago por reunião é João Vieira Castro (na infografia, a ordem é pelo total de salário). O advogado recebeu, em 2009, 45 mil euros por apenas quatro reuniões, já que é presidente da mesa da assembleia geral do BPI, da Jerónimo Martins, da Sonaecom e da Sonae Indústria. Segue-se António Nogueira Leite, que é administrador não executivo na Brisa, EDP Renováveis e Reditus, entre outros cargos. O economista recebeu 193 mil euros, estando presente em 36 encontros destas companhias. O que corresponde a mais de 5300 euros por reunião.


José Pedro Aguiar-Branco

O ex-vice presidente do PSD José Pedro Aguiar-Branco é outro dos "campeões" dos cargos nas cotadas nacionais. O advogado é presidente da mesa da Semapa (que não divulga o salário do advogado), da Portucel e da Impresa, entre vários outros cargos. Por duas AG em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8080 euros, ou seja, 4040 por reunião.


António Lobo Xavier

Administrador não executivo da Sonaecom, da Mota-Engil e do BPI, António Lobo Xavier auferiu 83 mil euros no ano passado (não está contemplado o salário na operadora de telecomunicações, já que não consta do relatório da empresa). Tendo estado presente em 22 encontros dos conselhos de administração destas empresas, o advogado ganhou, por reunião, mais de 3700 euros.


Vítor Gonçalves

Apesar de desempenhar apenas dois cargos como administrador não executivo, o vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Vítor Gonçalves, recebeu mais de 200 mil euros no ano passado. Membro do conselho geral de supervisão da EDP e presidente da comissão para as matérias financeiras da mesma empresa, o responsável é ainda administrador não executivo da Zon, tendo um rácio de quase 5700 euros por reunião.
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quarta-feira, janeiro 05, 2011

Desde que Ricardo Araújo Pereira entrevistou o ex-ministro Jorge Coelho, agora CEO da Mota-Engil, os Gato Fedorento desapareceram das televisões

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Jornal Expresso, 05/04/2008

Em Setembro-Outubro de 2009, Jorge Coelho, o presidente-executivo da empresa de construção Mota-Engil, foi entrevistado por Ricardo Araújo Pereira no programa do Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. Neste programa, com uma média de um milhão e trezentos mil espectadores, foram também entrevistados Paulo Portas, Manuela Ferreira Leite, Francisco Louçã, Paulo Rangel, Joana Amaral Dias, Marques Mendes e José Sócrates (o Sr. Aníbal de Boliqueime escusou-se corajosamente). Depois do programa ter terminado, em 23.10.2009, os Gato Fedorento foram banidos dos ecrãs portugueses. A entrevista a Jorge Coelho, um ex-Ministro das Obras Públicas que foi exercer funções de presidente-executivo numa empresa de um sector que tutelou no governo, constituiu uma das maiores denúncias da promiscuidade entre os negócios e a política no nosso país.

Às questões colocadas por Ricardo Araújo Pereira no programa Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios, o ex-ministro e agora CEO da Mota-Engil, Jorge Coelho, assobiava para o lado, sempre com um sorriso estampado no rosto que alternava entre o rosa e o laranja e vice-versa:


Seguem-se algumas das perguntas de Ricardo Araújo Pereira ao CEO socialista da Mota-Engil, Jorge Coelho:

- Bem vindos de novo ao Gato Fedorento esmiúça os sufrágios, o nosso convidado de hoje já teve muito poder quando foi ministro, e agora tem ainda mais, ele é o CEO, que significa chefe, ou presidente, ou quem manda nas sacas de cimento da Mota Engil, é o Dr. Jorge Coelho.

- Sotôr, é muito comum antigos ministros saírem para depois irem trabalhar em grandes empresas. O sotôr acha que no fim desta legislatura o primeiro-ministro, José Sócrates, pode ir parar à Mota-Engil, ou vocês lá só aceitam quem seja mesmo engenheiro?

- Sotôr, eu queria colocar-lhe uma questão, talvez me possa ajudar. Eu precisava de fechar a marquise. A Mota-Engil conseguiu ficar com o projecto dos contentores de Alcântara sem concurso público. Por isso eu perguntava-lhe: como é que eu fecho a marquise evitando essa burocracia toda. Como é que se faz isso?

- Sôtor, acha que, agora que o PS fica no Governo durante mais quatro anos, estão reunidas as condições para podermos alcatroar o país todo?

- Mas o sotôr acha admissível que em pleno século XXI só hajam três auto-estradas entre Lisboa e Porto? Não faz falta construir uma quarta auto-estrada, por exemplo, ao pé da primeira mas dois metros acima?

- O sotôr teve medo nesta eleições que se o PSD ganhasse, que três ou quatro ministros do PS ficassem sem emprego e fossem ocupar o seu lugar na Mota-Engil?



quarta-feira, dezembro 29, 2010

Cavaco Silva pede silêncio sobre a rapina ao nosso país cometida por agiotas internacionais

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Expresso - 27-12-2010: O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, apelou aos líderes europeus para estarem "mais calados em relação à crise da dívida soberana" e "perceberem que os mercados financeiros estão a ouvir".


Cavaco Silva ao lado de Durão Barroso no silêncio sobre a crise

O Sr. Aníbal, de Boliqueime

A Bola.PT - 27.12.2010:

O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou esta noite «muito sensato» o apelo de Durão Barroso para a contenção nos discursos sobre a crise financeira na Europa.

«Há pessoas em Portugal que parecem não saber que os nossos credores são as companhias de seguros, os fundos de pensões, os fundos soberanos, os bancos internacionais e os cidadãos espalhados por esse mundo fora», acrescentou Cavaco Silva, para quem as «palavras de insulto» terão como única consequência «mais desemprego para Portugal.»

O Presidente da República espera agora que o «bom senso» de Durão Barroso chegue «a alguns políticos portugueses».

«Esses políticos têm, acima de tudo, falta de conhecimento quanto ao comportamento dos nossos credores, ou seja, daqueles que nos emprestam dinheiro», ressalvou Cavaco Silva.




Comentário

Afirma o Sr. Aníbal haver gente ingrata em Portugal que parece desconhecer quem são os nossos beneméritos credores financeiros e que se mostra mal-agradecida pelas imensas benfeitorias que, da parte deles, temos sido alvo.

E o Sr. Aníbal enumera essas entidades notáveis:

1Companhias de Seguros (que estão nas mãos dos bancos).

2 - Fundos de Pensões - geridos por Companhias de Seguros ou Sociedades Gestoras de Fundos de Pensões (que estão, umas e outras, nas mãos dos bancos).

3 - Fundos Soberanos - Instrumentos Financeiros adoptados por alguns países que utilizam parte das suas imensas reservas de divisas para adquirir participações em empresas estrangeiras, com objectivos financeiros (obter os maiores dividendos possíveis) e estratégicos.

4 - Bancos Internacionais.

5 - Cidadãos espalhados por esse mundo fora (como são os casos de Barker, Maalouf, Raymond, Bauer, Ortiz, Hiroyuki, Blomqvist, Mendoza, Krüger, Espírito Santo, Ryzhkov, Barnes, Dąbrowski e tantos outros).


Como não concordar de alma e coração com o Sr. Aníbal (e o Barroso, da Cimeira dos Açores), quando estes barafustam, e com razão, pela nossa ingratidão para com todos estes admiráveis benfeitores que se atropelam para nos emprestar dinheiro com juros a 7% por forma a que possamos sair da crise?
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terça-feira, dezembro 21, 2010

A Grécia no caminho certo para a saída da crise

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Ex-ministro grego agredido por manifestantes


O ex-ministro grego dos transportes, Kostis Hatzidakis.


Os manifestantes atiraram-lhe pedras e bateram-lhe com paus...


PortugalDiário IOL - 15.12.2010

A Grécia parou em dia de greve geral e nas ruas multiplicam-se os confrontos e manifestações. Durante uma manifestação, um grupo de pessoas atacou e conseguiu mesmo ferir um ex-ministro conservador, avança a agência «Reuters», que cita uma testemunha.

Cerca de 200 manifestantes perseguiram o antigo ministro dos transportes Kostis Hatzidakis quando este saia do Parlamento, gritando: «Ladrões! Tenham vergonha!» Atiraram-lhe pedras e bateram-lhe com paus, até que este se refugiou num edifício próximo.


quarta-feira, dezembro 15, 2010

Correio da Manhã - Dívida do Estado dá milhões de lucro à Banca

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De Janeiro a Setembro, aplicações subiram 7,8 mil milhões. Bancos vão buscar crédito ao BCE a 1% e investem em dívida pública a taxas superiores. Em 2010, já ganharam mais de 150 milhões de euros.


O investimento na dívida pública portuguesa está a revelar-se um excelente negócio para a Banca nacional. Com os juros da dívida da República em alta desde o início do ano, até atingirem 6,8% no leilão de Obrigações do Tesouro neste mês, o aumento das aplicações em 7,8 mil milhões de euros, entre Janeiro e Setembro de 2010, já garantiu à Banca muitos milhões de euros.

Se fizermos as contas ao dinheiro aplicado neste ano, e se contarmos com uma margem mínima de dois pontos percentuais, o lucro ultrapassa os 150 milhões de euros, mas na realidade os ganhos ainda serão superiores. O BCE [Banco Central Europeu] empresta dinheiro à Banca portuguesa a 1%, contra garantias, e a Banca investe em dívida com juros a 6%", explica Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco Silva e actual líder do BIC [Banco Internacional de Crédito].

Os últimos dados do Banco de Portugal revelam que, em Setembro de 2010, os bancos nacionais tinham investidos em dívida pública portuguesa 17,9 mil milhões de euros, um aumento de 53% em relação aos 9,5 mil milhões de euros registados em igual mês do ano passado.

Desde a entrada em vigor da moeda única, a 1 de Janeiro de 1999, que a Banca portuguesa não tinha tamanha exposição [leia-se: acesso] à dívida pública. Para Luís Nazaré, ex-líder dos CTT, esta realidade "revela mais sensibilidade [leia-se: voracidade] da Banca nacional para assegurar a dívida pública portuguesa, mas é também uma excelente aplicação, porque vai buscar o dinheiro a 1% ao BCE e investe-o a 5% na dívida".

Mira Amaral alerta que "isto não é sustentável", porque "o BCE está a ajudar, através dos bancos comerciais, os governos".



Comentário

Alguém com dois dedos de testa pode aceitar que o BCE [Banco Central Europeu] empreste dinheiro aos bancos comerciais à taxa de 1%, e estes, por sua vez, emprestem esse dinheiro aos Estado Nacionais a 5%, 6% e 7%, embolsando juros escandalosos?

Que outra justificação pode existir para o BCE oferecer tais benefícios aos bancos comerciais, senão o facto de esta «instituição europeia» estar exclusivamente ao serviço da Banca Privada? Porque é que os estatutos do BCE o proíbem de emprestar dinheiro aos Estados Nacionais? Quem terá escrito tais estatutos e com que objectivos?


Afirma Mira Amaral que "isto não é sustentável, porque o BCE está a ajudar, através dos bancos comerciais, os governos".

Miga Amagal - um cabgão ao serviço da Banca

Este untuoso funcionário bancário tenta manhosamente virar o bico ao prego e colocar os bancos no papel de vítimas, dando a entender que é o Estado, ou seja, o contribuínte, o grande beneficiário desta fraude imensa perpetrada pela Banca, de que ele, ao longo da vida, tem sido um fiel servidor.

Mira Amaral integrou os quadros do BPI, transitando do adquirido Banco de Fomento, privatizado nos anos 90. No início da década actual, reformou-se do BPI com indemnização e pensão substanciais. Algum tempo depois, ingressou na Caixa Geral de Depósitos, por influência do PSD; porém, ao fim de 18 meses, viria a deixar a instituição do Estado, com uma obscena pensão de reforma de mais de 18.000 euros mensais.

Hoje, Mira Amaral, administra o Banco BIC, ao serviço de Amorim e de Isabel dos Santos, a princesa do reino corrupto de Angola.
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quarta-feira, dezembro 08, 2010

Eça de Queirós - Mas esse povo nunca se revolta?

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Jornal de Barcelos – 27.10.2010


Acabava de entrar o ano de 1872. E o novo ano que chegava interrogava o ano velho. "- Fale-me agora do povo", pedia o novo ano. E o velho: "- É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre, porque lhe não montam na anca; e o desgraçado não se lembra da canga!". "- Mas esse povo nunca se revolta?", insistia o ano novo, espantado. E respondia o velho: "- O povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia. Por conta própria, nunca". E uma derradeira questão: "- Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?". E a resposta lapidar do ano velho: "- Um país geralmente corrompido, em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer."

Este diálogo deve-se a Eça de Queirós. O mesmo Eça que escreveu sobre o Portugal de então: "O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (...) e padres que rezam contra ele. (...) Paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa." Estávamos, repito, em 1872.


O ditador romeno Nicolau Ceausescu, já em fim de mandato,
na sequência da revolta que derrubou o seu regime em 1989



Estamos obviamente a falar do povo português. Esta "raça abjecta" congenitamente incapaz de que falava Oliveira Martins. Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouco de indignação e muito menos de revolta. Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém. É vê-los nas televisões, por exemplo. Filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil, absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"! Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões agora no poder, se lembrou de inventar! E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for. E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónica e quotidianamente pelo Estado".


Sócrates e Passos Coelho, dois mentirosos compulsivos


Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes. Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio", recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens. E isso seria o suficiente para que os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas. Mas não. Esta gente come e cala. Leva porrada e agradece. E a escumalha de medíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem quando e como eles o definirem. Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. Pelo contrário. Paga tudo, paga para tudo. Sem rebuço, dóceis, de chapéu na mão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta. E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala. Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso desdentado e exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabara de pagar como se tivesse ganho uma medalha olímpica.




Esta multidão anestesiada espelha claramente o país que somos e que, irremediavelmente, continuaremos irremediavelmente, continuaremos a ser - um país estúpido, pequeno e desgraçado. O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira" a que se referia o rei D. Carlos. "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito..." Nem mais. Eis aqui o segredo da governação. A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século: "Um país de bananas governado por sacanas". Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal.


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Comentário

Não terá chegado o momento em que a dor da multidão é mais forte que a anestesia que o tem mantido adormecido, e a revolta que lhe inunda as veias mais vigorosa que o poder da escumalha que o «governa»?
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