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sexta-feira, novembro 26, 2010

Centenas de milhares de jovens "flexibilizados" veriam com agrado a morte à paulada de Ferraz da Costa

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Ferraz da Costa – um anão canalha com pretensões esclavagistas

Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, defende mais flexibilização para jovens e desempregados, apesar de estes serem já dos mais penalizados pela precariedade na União Europeia, a par de uma política de congelamento salarial para os restantes trabalhadores.


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Diário de Notícias - 26-11-2010

Os trabalhadores portugueses mais jovens são dos mais penalizados na UE pela precariedade, revela o estudo da Comissão Europeia.

Apesar disso, um grupo de gestores e empresários [o Fórum para a Competitividade presidido por Pedro Ferraz da Costa] insiste em "flexibilizar" os contratos a propor aos jovens à procura do primeiro emprego.

Em Portugal, os empregados com idades entre os 15 e os 24 anos abrangidos pelos chamados "contratos temporários" valem 53,5% do total de indivíduos nessa faixa etária, o quinto valor mais alto entre os 27 países da UE. Eslovénia e Polónia lideram.

Os investigadores da Comissão alertam que [...] esses vínculos "temporários podem ser simplesmente um factor de produção mais barato face ao emprego permanente" […]. O problema é que há países, como Espanha, Portugal, Eslovénia ou Eslováquia, onde os vínculos temporários estão a aprisionar os mais jovens, impedindo-os de progredirem para contratos sem termos e níveis salariais mais bem remunerados.

A taxa de desemprego jovem atingiu um recorde de 23,4%, quase 99 mil no terceiro trimestre. Esta realidade adversa não desmobiliza os gestores do Fórum para a Competitividade que ontem pediram contratos ainda mais flexíveis para os jovens à procura do primeiro emprego ou que trabalhem no sector exportador: querem contratos flexíveis com duração de quatro anos e com isenção total ou parcial nos descontos dos empregadores para a Segurança Social.



Comentário

É absolutamente intolerável que seja negada a toda uma geração jovem a possibilidade de ter um tecto próprio, uma família sua, um propósito, um significado, uma vida. Em contrapartida, só se observa sofrimento, desesperança e, inevitalmente, um número crescente de mortes prematuras.

Tudo isto para atulhar, ainda mais, o cú aos agiotas nacionais e internacionais da Banca e respectivos acólitos na política e nos grupos económicos.

Estes assassinos de colarinho dourado, esta escória no sentido mais abjecto do termo, não merecem qualquer tipo de misericórdia.
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domingo, janeiro 24, 2010

Um Governo privatizado que quer apostar em mais privatizações


TVI24 - 24/01/2010:

A garantia de que «não haverá aumento de impostos» e o alargamento do programa de privatizações contribuíram, no plano macroeconómico, para «a abstenção construtiva» do CDS-PP ao Orçamento do Estado para 2010, diz a Lusa.

De acordo com um documento divulgado pelo CDS-PP, os democratas-cristãos receberam ainda a garantia do Governo de que haverá «um controlo reforçado» das parcerias público-privadas.


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As privatizações em Portugal na electricidade e distribuição da gasolina que geraram monopólios privados têm dado muito boa conta de si:

Em 2008, a privatizada EDP teve mais de 1.000 milhões de euros de lucro e a privatizada Galp teve mais de 500 milhões de lucro, tendo esta última aumentado os preços da electricidade em 5%, cerca de três vezes mais do que valor da inflação.

Quanto aos lucros tão elevados da privatizada Galp foram conseguidos graças à demora na repercussão da descida do preço da gasolina em relação ao preço do petróleo, ou seja, roubando os consumidores.

Evidentemente que haverá ainda outros serviços públicos que, se privatizados e seguindo as «boas práticas» de gestão da Galp e da EDP, poderão tornar-se em novos monopólios lucrativos.

Afinal, o financiamento privado de políticos e de partidos, que inclui o apoio mediático de jornais e televisões, tem a obrigação de gerar um retorno decente para os que investem o seu dinheiro nos poderes Legislativo e Executivo.
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quarta-feira, outubro 28, 2009

O suicídio resoluto na Moviflor versus o suicídio piegas na France Télécom

Didier Lombard, presidente-executivo da France Télécom


Revista VISÃO - 8 de Outubro de 2009:

As contas dos últimos meses na France Télécom: 24 suicídios e 12 tentativas falhadas. O presidente-executivo Didier Lombard, desprezado por grande parte dos seus empregados, é olhado por muitos como a raiz dos problemas na empresa.


Gestão Terrorista na France Télécom

A onda de 24 suicídios e 12 tentativas falhadas dos últimos meses na France Télécom veio pôr a nu a existência de um fio comum que liga todas estas mortes: uma «gestão pelo terror», nas palavras de um dos malogrados colaboradores, posta em marcha na telefónica francesa, desde a sua privatização, em 1997.

Anunciada em 1990, a entrada de capital privado na France Télécom e a sua exposição às leis da concorrência resultaram no abandono da cultura de serviço público. Em contrapartida, o culto da máxima rentabilidade sacrificou os recursos humanos da empresa que, desde 2002, se vêem forçados a mudar de posto todos os 27 meses e de local de trabalho de três em três anos. Para se tomar lucrativo, o gigante das telecomunicações teve de reduzir drasticamente a massa salarial, o que só tem vindo a ser alcançado pela saída dos funcionários, pelo seu próprio pé.

Quando as regalias financeiras para quem quisesse abandonar os quadros se revelaram insuficientes, o passo seguinte foi declarar guerra aos assalariados que não estavam a acompanhar a evolução da empresa. Em seminários internos, os gestores foram mobilizados para uma estratégia de vigilância e humilhação constantes sobre os seus subordinados.


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Mas se, na France Télécom, a fragilidade psicológica dos trabalhadores, face à precariedade, ao assédio e à espiral de sofrimento, os leva, de forma pacata, a colocar termo à vida, na Moviflor portuguesa as coisas não são tão pacíficas:


Viseu - 8 de Abril de 2008


Diário de Notícias e IOL - 08 Abril 2008:

Um homem morreu ontem e duas pessoas ficaram feridas na sequência de um ajuste de contas protagonizado por um antigo funcionário da empresa Moviflor de Viseu. O indivíduo, José Manuel Duarte Silva, de 30 anos, entrou nos escritórios da empresa e disparou à queima-roupa sobre o responsável. De seguida dirigiu-se a uma companhia de seguros onde efectuou mais dois disparos mas sem atingir ninguém devido à reacção de um mediador que, ao aperceber-se do sucedido, conseguiu travar o alegado homicida. Ao final do dia, o agressor ainda se encontrava a monte. A PJ reconhece tratar-se de um "ajuste de contas" relacionado com uma indemnização resultante de um alegado acidente de trabalho na Moviflor.

José Manuel Duarte Silva, de 30 anos é residente em Maçarocas, S. Pedro do Sul, onde é bombeiro, e terá sido o autor dos disparos que vitimaram o gerente da Moviflor, empresa com quem mantinha um diferendo e de onde foi despedido em Março de 2007.

Quando se dirigiu à Moviflor de Viseu, José Silva levava o seu objectivo bem definido: matar José Manuel, 34 anos, o supervisor que o tinha despedido em Março de 2007. Foi directo ao seu gabinete, junto à entrada da loja, onde aguardou que uma funcionária se afastasse. Depois, disparou sobre o responsável um tiro de caçadeira à queima-roupa no lado esquerdo do abdómen.

Depois de efectuar os disparos, o alegado homicida dirigiu-se à seguradora Açoreana, que é responsável pelos seguros da loja da Moviflor, onde efectuou dois disparos sem atingir ninguém devido à intervenção de um mediador de seguros. Este homem, de 62 anos, entrou numa luta com o suspeito e acabou por ficar ferido. Foi a acção do mediador que travou o alegado agressor.

Segundo a PSP, o suspeito «foi funcionário da Moviflor, de onde saiu após um acidente de trabalho», na sequência do qual andava a ser seguido por médicos da Açoreana. «Presume-se que isto (os tiroteios) esteja relacionado com as indemnizações. Parece que foi um ajuste de contas»,

Na origem do homicídio estará um diferendo que José Silva mantinha com a Moviflor, de onde foi despedido. Teresa Albuquerque, da administração da empresa, assegurou ao DN que o suspeito "esteve de baixa de Janeiro de 2006 a Março de 2007 porque teve um acidente, no seu carro, quando regressava a casa. Como tinha uma incapacidade acabou por ser despedido".

Mas no círculo de relacionamentos do alegado homicida corre outra versão. "Ele teve um acidente há dois anos quando saiu do trabalho. Esteve de baixa, foi operado e regressou ao trabalho", revelou Manuel Poças, dirigente do Corpo de Salvação Pública, em São Pedro do Sul, onde o suspeito era bombeiro de segunda classe. Também o comandante dos bombeiros referiu ao DN que "ele mudou o comportamento desde o acidente de viação quando regressava a casa do trabalho na Moviflor". António Almeida referiu que "andava um pouco revoltado, de vez em quando exaltava-se, mas nunca a ponto de fazer isto".

Moviflor em Viseu

José Manuel Duarte Silva, de 29 anos, foi funcionário de armazém na Moviflor de Viseu até Abril de 2007, altura em foi despedido por faltar muitas vezes sem justificação. O que o levou ao desespero terá sido um grave acidente de viação que sofreu há cerca de dois anos, quando se deslocava, no seu carro, do trabalho para casa, em Novais, S. Pedro do Sul. Desde então, entrou em conflito com a Açoreana, responsável pelos seguros da Moviflor, porque esta não considerou o sinistro um acidente de trabalho. Esteve de baixa vários meses mas, como "os médicos da seguradora não lhe reconheceram incapacidade total, teve de voltar ao trabalho", conta António Almeida, comandante dos Bombeiros de Salvação Pública de S. Pedro do Sul, onde o indivíduo era voluntário. "Como tinha muitas dores e não conseguia fazer tudo, deram-lhe um outro trabalho que ele não aceitou de bom grado e deixou de aparecer no serviço, acabando por ser despedido".

O atirador continuou a reclamar uma indemnização, apesar de ter sido despedido. José Silva estava, por isso, em "guerra" com a companhia de seguros e com o gerente da Moviflor.

No quartel, os bombeiros ficaram incrédulos porque o suspeito era considerado "uma pessoa humilde mas desde que teve o acidente ficou abalado". Uma funcionária da loja afirmou ao DN que "depois do acidente ele ainda veio trabalhar. Mas como não conseguia, faltava muita vez e sempre exigiu a indemnização. O gerente, que tinha um feitio especial, acabou por despedi-lo mas ele nunca deixou de exigir a indemnização".

Todas as estradas da região estão vigiadas mas no fecho desta edição o suspeito dos disparos continuava a monte.

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E no dia seguinte - 9 de Abril de 2008


Correio da Manhã - 09 Abril 2008:

O autor dos disparos na Moviflor – onde matou o supervisor – e na Açoreana em Viseu, morreu na madrugada de ontem, num aparatoso despiste de automóvel, em Belazaima do Chão, Águeda. O Seat Ibiza com que José Silva, de 29 anos, andava fugido da polícia desde o final da manhã de segunda-feira foi encontrado por um automobilista, pelas 03h00, completamente enfaixado num eucalipto, na berma da EN336, que liga o Luso a Águeda.

No início, não havia qualquer indicação quanto à identidade do único ocupante da viatura, cuja frente e lateral esquerda ficaram desfeitas. O condutor, de acordo com o que o CM apurou, já estava morto e o corpo irreconhecível quando os bombeiros chegaram.

Confirmada a morte do autor dos disparos, que na manhã de segunda-feira vitimaram o supervisor da loja Moviflor, resta agora apurar as condições em que o despiste aconteceu, o que está a cargo da PJ e do Núcleo de Investigação Criminal da Brigada de Trânsito de Aveiro. Acidente ou suicídio são duas hipóteses para explicar a morte, uma vez que no local – uma longa recta – não havia qualquer vestígio de travagem. Pelo estado em que ficou a viatura, o condutor iria com velocidade excessiva.
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terça-feira, outubro 13, 2009

France Télécom - Chamam-lhe gestão de terror e suicidam-se por causa dela



Revista VISÃO - 8 de Outubro de 2009:

As contas dos últimos meses na France Télécom: 24 suicídios e 12 tentativas falhadas.


QUANDO O TRABALHO MATA

Fazer parte de uma empresa cotada nas principais bolsas de todo o mundo, com mais de 186 milhões de clientes em 30 países, poderia ser o sonho de qualquer trabalhador. Para o funcionário da France Télécom que, a 28 de Setembro, se atirou de uma ponte, na auto-estrada A41, na região da Alta Sabóia, não foi, todavia, mais que um pesadelo. Antes de pôr fim à própria vida, o homem de 51 anos, casado e pai de dois filhos, que trabalhava num call-center, em Annecy-le-Vieux, deixou no carro uma carta em que atribuía a culpa do seu acto ao ambiente profissional insuportável.

Pouco tempo antes, a 14 de Julho, o testemunho de um colega de Marselha, que também se suicidou, foi ainda mais corrosivo. Especialista em redes móveis e antigo maratonista, deixou claro que «a única causa» por detrás da sua morte foi o emprego na France Télécom.


Longe de serem pequenas ilhas num universo de 187 mil colaboradores (102 mil só em França), estes dois homens fazem parte de um arquipélago de angústia maior que estrangula grande parte dos quadros do terceiro maior operador móvel europeu. À semelhança do que aconteceu na também francesa Renault, os 24 casos verificados desde Fevereiro de 2008 obrigaram a France Télécom a recuar, no braço-de-ferro com os sindicatos, e a reconhecer a urgência de um plano que ponha água na fervura, a curto prazo, e permita fazer diferente, daqui em diante.

Os números, tomados isoladamente, podem ser enganadores. Uma resposta inequívoca à pergunta sobre o real aumento da taxa de suicídios na multinacional esbarra na ausência de estatísticas entre 2004 e 2007. Mas recuando até aos 22 casos registados em 2003 e aos 29 ocorridos no ano anterior, estes parecem não estar muito desfasados dos dados do último ano e meio. Porquê o grito de alerta só agora?


O drama humano, por si só, não explica que os acontecimentos na France Télécom tenham saltado para o centro da arena mediática, nem a consternação social e política que se fizeram sentir, nos últimos dias. Se assim fosse, não teriam passado praticamente incólumes os 22 mil postos de trabalho suprimidos entre 2006 e 2008 e a alarmante taxa de absentismo, por doença, que disparou para a média de um mês por cada funcionário.


GESTÃO TERRORISTA

O que permanecia oculto, e que a onda de 24 suicídios e 12 tentativas falhadas dos últimos meses veio pôr a nu, foi a existência de um fio comum que liga todas estas mortes: uma «gestão pelo terror», nas palavras de um dos malogrados colaboradores, posta em marcha na telefónica francesa, desde a sua privatização, em 1997.

Anunciada em 1990, a entrada de capital privado na France Télécom e a sua exposição às leis da concorrência resultaram no abandono da cultura de serviço público. Em contrapartida, o culto da máxima rentabilidade sacrificou os recursos humanos da empresa que, desde 2002, se vêem forçados a mudar de posto todos os 27 meses e de local de trabalho de três em três anos. Os traba1hadores são, aliás, o elo mais fraco de uma cadeia que tem o Estado à cabeça, com uma posição no grupo, de 27 por cento. O Executivo francês privatizou a empresa, mas não pode alterar os estatutos de função pública de 65% do pessoal. O que, à partida, poderia parecer um trunfo para a maioria da força laboral da France Télécom, imune à ameaça do despedimento, tornou-se no seu calcanhar-de-aquiles. Para se tomar lucrativo, o gigante das telecomunicações teve de reduzir drasticamente a massa salarial, o que só tem vindo a ser alcançado pela saída dos funcionários, pelo seu próprio pé.

Funcionários da France France Télécom reunidos em memória de um colega que se suicidou em Julho último (AFP).


Quando as regalias financeiras para quem quisesse abandonar os quadros. se revelaram insuficientes, o passo seguinte foi declarar guerra aos assalariados que não estavam a acompanhar a evolução da empresa. Em seminários internos, os gestores foram mobilizados para uma estratégia de vigilância e humilhação constantes sobre os seus subordinados.

A precariedade e o assédio enredaram os trabalhadores numa espiral de sofrimento, mas bastarão para justificar que alguém ponha termo à vida? Segundo Marianne Lacomblez, coordenadora do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, «cada pessoa tem em si uma dose de fragilidade psicológica, mas quando as condições de trabalho exigem que ultrapasse os seus limites, o seu estado de saúde, físico e psicológico, irá, inevitavelmente, sofrer um processo de degradação».


A RAIZ DO MAL

Questionada sobre a influência da política de mobilidade nos suicídios, a direcção da France Télécom começou por refutar uma responsabilidade institucional por estas mortes. Mas, encostado às cordas pelos meios de comunicação social, a opinião pública, os sindicatos e os partidos Socialista e Comunista franceses, que exigiram a sua demissão, o presidente-executivo Didier Lombard foi obrigado a retractar-se do modo atabalhoado como classificou os acontecimentos do Verão de «pequeno choque» ou «moda dos suicídios».

Didier Lombard, o presidente-executivo da France Télécom

Desprezado por grande parte dos seus empregados, Lombard não é uma figura consensual, nem para o Governo. Depois de Christine Lagarde e Xavier Darcos, ministros da Economia e do Trabalho, terem dado um voto de confiança ao líder da operadora, Christian Estrosi, titular da pasta da Indústria, admitiu que considera Lombard «um pouco responsável» pelo sucedido.

No rescaldo da tragédia, há um inquérito a decorrer sobre as condições em que ocorreram as mortes e a satisfação dos trabalhadores e foi declarado o fim do princípio de mobilidade sistemática a cada três anos, para alívio de quem ainda está nas fileiras da France Télécom. Entretanto, o nº2 da companhia, Steophane Richard, ex-conselheiro da ministra francesa da Economia, não resistiu à polémica e apresentou a demissão. Mantém-se Lombard, olhado por muitos como a raiz dos problemas na empresa. O gestor enfrenta, agora, o desafio de, até 2011 - ano em que termina o seu mandato - criar um plano que, sem hipotecar a política de dividendos, tenha em conta o bem-estar de todos, dentro do grupo, para que a saúde financeira passe a ser sinónimo de saúde de quem trabalha.


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Comentário

A necessidade de um Thermidor na France Télécom

E assim, o funesto funcionário da France Télécom, colocado ao nível da mais miserável maquineta da empresa, feito girar de lugarejo para terriola como um pião demente, espiado, fiscalizado e controlado como se fora um ratoneiro, é conduzido ao desespero, à desorientação e ao suicídio, tudo em nome dos direitos divinos da máxima rentabilidade, sob a batuta assassina do presidente-executivo, Didier Lombard, o louvado «Guru da Gestão pelo Terror».

E por falar em Gestão de Terror, vale a pena lembrar o período da Revolução Francesa, no qual Robespierre, através do Tribunal Revolucionário, iniciou um período que ficou conhecido como "la Terreur" [o Terror], que consistiu no exercício de amplos poderes ditatoriais usados para instigar execuções em massa e purgas políticas.

A repressão acelerou em Junho e Julho de 1794, um período denominado "la Grande Terreur" [O Grande Terror], e acabou com o golpe de 9 de Thermidor (27/7/1794), na qual vários líderes do Reino do Terror foram guilhotinados, incluindo o seu principal responsável, Robespierre.

Pode acontecer que a desmedida apetência de Didier Lombard por "la Gestion du Terreur", tal como sucedeu a Robespierre duzentos anos antes, o leve a perder o discernimento e a cabeça...

A execução de Robespierre (gravura da época)

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quinta-feira, setembro 24, 2009

Post destinado à carneirada que se limita a ler o Expresso, a ver os telejornais, e que vai votar candidamente no Centrão – PS / PSD

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Ricardo Araújo Pereira, dos Gatos Fedorentos, questionou o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, no programa "Esmiuçar os Sufrágios" de 23/9/2009:

"Sr. Ministro, quando, enfim, essa vida atarefada acabar e sair do Governo, já escolheu em que grande empresa, daquelas que têm negócios com o Estado, é que vai ser Director-Geral? A Caixa [Geral de Depósitos], eu sei lá, a EDP, a Galp, a Mota Engil, o que é que lhe apetece?"

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O Mecanismo do Poder e a «Democracia»



Rui Mateus em "Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido, 1996":

"Para além da ausência de regras que permitam, pela via individual, o acesso do cidadão à actividade política, não existem regras idóneas de financiamento dos partidos nem de transparência para os políticos. Um pouco à semelhança dos pilares morais do regime, a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa, de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus governantes e dos seus magistrados se tratasse de algo suspeito, de algo subversivo."


João Cravinho (Revista Visão – 4/10/2007):

"Um dos nossos grandes problemas é a corrupção de Estado, a apropriação de órgãos vitais de decisão ou de preparação da decisão por parte de lóbis. [...] Não pode estar a promover-se uma pseudo-economia de mercado, em que o Estado serve de muleta aos grandes e até aos pequenos negócios. Muitos acham que deve ser essa a originalidade do neoliberalismo à portuguesa. [...]"


Miguel Sousa Tavares (Jornal Expresso 07/01/2006):

"Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre."


Fernando Madrinha (Jornal Expresso - 1/9/2007):

[...] Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.
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terça-feira, dezembro 30, 2008

Bispo de Setúbal exorta os portugueses: não se calem nem cruzem os braços


Diário de Notícias - 24/12/2008

(...) O actual bispo de Setúbal, D. Canavarro Reis, aconselhou os mais atingidos pela crise a terem esperança, a não cruzarem os braços e a não se calarem. "Eu diria a estas pessoas que estão pior que gritem. Não fica mal a ninguém gritar. Ficar em casa sem comer ou ficar em casa desesperado é o pior que pode acontecer. Gritem e Deus, através desses gritos, está mais próximo do que se poderia imaginar e estou certo que lhes dará resposta".

(...) O bispo resignado de Setúbal, D. Manuel Martins, junta-se às vozes que alertam para a pobreza no País, o que considera dever ser uma missão. "A Igreja vai alertando, mas penso que é sem grande convicção. Desejava que mergulhasse bem na situação do país e chamasse a atenção para as situações de injustiça, podendo ter como base precisamente o combate ao espírito do novo Código de Trabalho.



Comentário:

Em face da crise, o actual bispo de Setúbal aconselhou as pessoas a não cruzarem os braços e a não se calarem. Mas se o grito dos mais atingidos continuar a ser abafado pelo ruído incessante dos Media, os venais megafones do poder financeiro e político, então que se utilize com mais vigor a linguagem gestual:

segunda-feira, maio 26, 2008

Escassez do petróleo ou excesso de lucros? Mercado ou oligopólio?

Por que não nacionalizar?

Se o mercado não consegue disciplinar os preços, os lucros nem o selvático prendar dos recursos empresariais com os vencimentos multimilionários dos executivos, então por que não nacionalizar os petróleos e tentar outros modelos? Quem proferiu este revolucionário comentário foi Maxine Waters, Democrata da Califórnia, durante o inquérito conduzido pelo Congresso, em Washington, às cinco maiores petrolíferas americanas. Face à escalada socialmente suicidária dos preços dos combustíveis, o órgão legislativo americano convocou os presidentes para saber que lucros tinham tido e que rendimentos é que pessoalmente cada um deles auferia. Os números revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos. Desde os 40 mil milhões de dólares de lucro da Exxon no ano passado, ao milhão de euros mensais do ordenado base do chefe Executivo da Conoco-Phillips, às cifras igualmente astronómicas da Chevron, da Shell e da BP América. Esta constatação do falhanço calamitoso do mecanismo comercial, quando encarada no caso português, ainda é mais gritante. Digam o que disserem, o que se está a passar aqui nada tem a ver com as leis de oferta e procura e tem tudo a ver com a ausência de mercado onde esses princípios pudessem funcionar.

Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente:

- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos

- Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.

Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.



Os números dos lucros revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos:


«Exxon bate recorde de lucros»:

«Nova Iorque (CNNMoney.com) – a Exxon Mobil fez história na Sexta-Feira reportando os maiores lucros trimestrais e anuais de sempre de uma companhia norte-americana, aumentados em grande parte pela subida dos preços do crude.»

«A Exxon, a muito publicitada maior empresa comercial de petróleo do mundo, informou que os resultados líquidos do quarto trimestre de 2007 aumentaram 14%, para 11,66 mil milhões de dólares, ou 2,13 dólares por acção. A companhia ganhou 10,25 mil milhões de dólares, ou 1,76 dólares por acção no período de um ano (2007).»

«O lucro ultrapassou o prévio recorde trimestral da Exxon de 10,7 mil milhões de dólares, alcançado no quarto trimestre de 2005, que foi também o maior de sempre de uma empresa americana.»

«"A Exxon pode distribuir alguns valores espantosos e este é um desses casos," afirmou Jason Gammel, analista sénior da Macquarie Securities de Nova Iorque.»

«A Exxon alcançou também um recorde anual de lucros ganhando 40,61 mil milhões de dólares no ano passado – ou cerca de 1300 dólares por segundo em 2007. Isto excedeu o anterior recorde de 39,5 mil milhões de dólares em 2006.»



Comentário:

Obviamente que a sugestão de Mário Crespo de nacionalizar a Galp é ingénua. Há muito que esta empresa está no bolso de uma das quatros irmãs: Conoco-Phillips, Chevron, Shell ou BP América, através das subsidiárias Iberdrola, ENI e Amorim Energia.

Se, de facto, se nacionalizasse a Galp, esta não veria nem mais uma gota de crude. É assim que funciona o «mercado» por causa do qual se invadiu o Iraque.
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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

É a saúde, estúpido!, a saúde dos seus negócios, não a dos cidadãos estúpidos

Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

É a Saúde, estúpido!

Publicado na Visão em 14 de Fevereiro de 2008

Ficou famosa a frase "Is the economy, stupid", pronunciada em 1992 por Bill Clinton para explicar aos republicanos as razões da sua vitória eleitoral. Com ela queria dizer que as preocupações principais dos norte-americanos tinham a ver com o estado da economia e com o modo como este se traduzia no seu bem-estar. E por isso uma das suas promessas eleitorais prioritárias era a criação de um sistema de saúde universal, que se aproximasse dos sistemas de saúde da Europa e do Canadá e que acabasse com o escândalo de no país mais rico do mundo cerca de 30 milhões de cidadãos não terem qualquer protecção na saúde. Como é sabido, as grandes empresas da indústria da saúde (das empresas hospitalares, às seguradoras, à indústria farmacêutica e de meios de diagnóstico) moveram uma das guerras mediáticas mais agressivas de que há memória contra a "medicina socialista" de Clinton e a proposta caiu. Hoje são 49 milhões os norte-americanos sem qualquer protecção. Não havendo sistema público senão para os idosos, os trabalhadores dependem da disponibilidade dos patrões para agregarem o seguro ao contrato de trabalho e tal disponibilidade é cada vez mais escassa. Não é, pois, por acaso, que os candidatos do partido democrático, Barak Obama e Hilary Clinton, voltem a pôr no centro dos seus programas eleitorais o financiamento público da cobertura universal dos meios de saúde.

«Tem tudo a ver com prioridades. Podemos subornar um xeque sunita para que seja nosso aliado durante uma semana inteira pelo mesmo preço de vacinar 100.000 miúdos pobres contra a gripe.»


Mais do que irónico é trágico que em Portugal se esteja a tentar destruir aquilo que o povo norte-americano tanto aspira. Mais trágico ainda é que, neste domínio, haja desde 2002, com o governo de Durão Barroso, uma continuidade mal disfarçada entre as políticas do PSD e do PS. Descartada a retórica, os objectivos do ministro da saúde de Durão Barroso, Luís Filipe Pereira, e do ex ministro Correia de Campos são os mesmos: privatizar o bem público da saúde, transformando-o num lucrativo sector de investimentos de capital (como dizia recentemente, um quadro de uma grande empresa de saúde: "mais lucrativo que o negócio da saúde, só o negócio das armas"); transformar o Serviço Nacional de Saúde num sistema residual, tecnológica e humanamente descapitalizado, proporcionando serviços de baixa qualidade às populações pobres da sociedade; definir a eficiência em termos de custos e não em termos de resultados clínicos (levado ao paroxismo pela decisão do ex-ministro socialista de limitar o aumento da produção cirúrgica nos hospitais para não aumentar a despesa); eliminar qualquer participação dos cidadãos na formulação das políticas de saúde para poder impor rápida e drasticamente três palavras de ordem: privatizar, fechar, concentrar; promover parcerias público/privado em que todos os riscos são assumidos pelo Estado e as derrapagens financeiras não contam como desperdício ou ineficiência (já que uma e outra são um exclusivo do sector público).

A Correia de Campos, apenas devemos reconhecer a coerência. Desde que passou pelo Banco Mundial assumiu-se como coveiro do Estado Social, seja na saúde ou na segurança social. Na Comissão do Livro Branco da Reforma da Segurança Social, a que pertenci, verifiquei com espanto que os seus aliados na comissão não eram os socialistas, eram precisamente Luís Filipe Pereira (que pouco depois quis privatizar a saúde) e Bagão Félix (que, desde sempre quis privatizar a segurança social). Alguém se recorda que a criação do SNS em 1979 esteve na origem do abandono por parte do CDS da coligação que sustentava o governo do partido socialista? Portanto, de duas uma, ou o PS abandonou os seus princípios ou Correia de Campos está no partido errado? A sua recente demissão parece apontar para a segunda opção mas só a política concreta da nova ministra confirmará ou não se afinal não estamos perante a primeira opção.

Para que esta primeira opção não se confirme é necessário que a actuação do governo se paute, por obras e não por palavras, pelos seguintes princípios.

O SNS é um dos principais pilares da democracia portuguesa, e a ela se devem os enormes ganhos de desenvolvimento humano nos últimos trinta anos; qualquer retrocesso neste domínio é um ataque à democracia. O SNS é um factor decisivo da gestão territorial do país (o país não termina a 50 km da costa). O SNS é um serviço financiado por todos, ao serviço e gerido em função dos ganhos de saúde e de modo a eliminar desperdícios. Nos critérios de eficiência, inclui-se a eficiência na vida dos doentes cujo atendimento pontual é fundamental para que não se perca uma manhã num acto médico que dura 20 minutos.

É urgente modernizar o SNS no sentido de o aproximar dos cidadãos tanto na prestação dos cuidados como na gestão dos serviços (participação dos cidadãos e das associações de doentes na concretização do direito à saúde deve ser incentivada). Promover a todo o custo o regime de exclusividade e terminar com a escandalosa promiscuidade entre a medicina pública e privada para que, por exemplo, não se continuem a acumular fortunas fabulosas com base nas listas de espera ou na falta de equipamentos. Promover a estabilidade e as carreiras, apostar na inovação técnica e científica e democratizar o acesso às faculdades de Medicina. E sobretudo tornar claro o carácter complementar do sector privado antes que os grupos económicos da saúde (Grupo Mello, BES, BPN/GPS, CGD/HPP, etc.) tenham suficiente poder para serem eles próprios a definir as políticas públicas de saúde e, portanto, para bloquear quaisquer medidas que afectem as suas taxas de juro. Quando tal acontecer serão eles a dizer: "É a saúde, estúpido!", a saúde dos seus negócios, não a dos cidadãos estúpidos.


Comentário:

... antes que os grupos económicos da saúde (Grupo Mello, BES, BPN/GPS, CGD/HPP, etc.) tenham suficiente poder para serem eles próprios a definir as políticas públicas de saúde e, portanto...



... para bloquear quaisquer medidas que afectem as suas taxas de juro.


sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O sequestro do Estado Português pelos Bancos e pelos Grandes Empreiteiros




Rui Mateus em "Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido, 1996"

"Para além da ausência de regras que permitam, pela via individual, o acesso do cidadão à actividade política, não existem regras idóneas de financiamento dos partidos nem de transparência para os políticos. Um pouco à semelhança dos pilares morais do regime, a Maçonaria e a Opus Dei, tudo se decide às escondidas, como se o direito dos cidadãos à informação completa e rigorosa, de como são financiadas as suas instituições e dos rendimentos dos seus governantes e dos seus magistrados se tratasse de algo suspeito, de algo subversivo."


João Cravinho (Revista Visão – 4/10/2007)

"Um dos nossos grandes problemas é a corrupção de Estado, a apropriação de órgãos vitais de decisão ou de preparação da decisão por parte de lóbis. [...] Não pode estar a promover-se uma pseudo-economia de mercado, em que o Estado serve de muleta aos grandes e até aos pequenos negócios. Muitos acham que deve ser essa a originalidade do neoliberalismo à portuguesa. [...]"


Miguel Sousa Tavares (Jornal Expresso 07/01/2006)

"Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre."


Fernando Madrinha (Jornal Expresso - 1/9/2007)

[...] Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.
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sábado, janeiro 05, 2008

Um Estado ao serviço de meia dúzia

Daniel Oliveira - Jornal Expresso - 5/1/2008

O pai tirano

«...quando mais o Estado abandona as suas funções sociais e deixa de intervir como árbitro em relações de poder desiguais (como as do trabalho), mais aumenta a sua presença no quotidiano dos cidadãos. Faz sentido. Se o Estado não quer gastar dinheiro com a nossa saúde ou nos deixa morrer ou limita a nossa liberdade. Se o Estado não quer planear as cidades ou dar apoio social põe um polícia em cada esquina. Uma sociedade que desiste do ideal igualitário não pode confiar na liberdade dos seus cidadãos. Eles estão demasiado zangados. Aquilo a que assistimos nos últimos anos em Portugal é um excelente retrato do que nos espera: o mesmo Estado que fecha urgências quer convencer-nos a deixar de fumar. O mesmo Estado que não nos protege do despedimento arbitrário protege-nos dos perigos da bola de Berlim


Mas que Estado é este de que fala Daniel Oliveira? Fernando Madrinha esclarece:


Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 1/9/2007:

«...Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais


Comentário:

É natural que os cidadãos andem demasiado zangados. Apercebem-se, crescentemente, que aquilo que vêem como Estado, é apenas dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos. E que esse poder, cada vez mais absoluto e opressor, é quem paga as campanhas eleitorais das marionetas que nos «governam».


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quinta-feira, dezembro 27, 2007

Recurso ao crédito violento dispara em Portugal



Comentário:

A serem colocadas em prática as propostas de Luís Filipe Menezes, que Sócrates está longe de desdenhar, de "em meia dúzia de meses, liberalizar a legislação laboral e desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem e que oprime as pessoas", este tipo de crédito poderá, a médio prazo, vir a tornar-se o mais popular entre a classe média portuguesa.
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quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Fim do Emprego


O Fim do Emprego - Célia Berleze, Gisabele Parize

Texto em português do Brasil:

É preocupante pensar no futuro em relação ao emprego pois, a sociedade está caminhando para um declínio dos empregos. Esta nova fase é resultado do surgimento de novas tecnologias, como o processamento de dados, a robótica, as telecomunicações e as demais tecnologias que aos poucos vão repondo máquinas nas actividades anteriormente efectuadas por seres humanos. De facto, o que vemos hoje é a automatização de escritórios, comércio e indústria a níveis nunca antes observados. Computadores fazem o trabalho de dezenas de seres humanos; robôs, de milhares e a custos infinitamente inferiores, sem férias, dores de cabeça, TPM ou benefícios.

Uma previsão é que os trabalhos perdidos pelo ser humano para as máquinas nunca mais serão feitos por homens. Jeremy Rifkin , autor do livro “O Fim do Emprego”, desmistifica no seu livro todos os paradigmas promovidos pelos interesses de empresários, que garantem que a automatização de seus empreendimentos, apenas irá estimular o crescimento económico.

O autor afirma que a automatização proveniente de máquinas e computadores oferece um ganho em produtividade e uma redução de custos, que a princípio dá a falsa visão de que mais pessoas poderão entrar no mercado de consumo e adquirir bens. O mesmo produto que era inatingível para alguns consumidores, décadas atrás, está hoje em dia nas prateleiras a preços muito acessíveis. Mas a questão é que as pessoas estarão sendo desempregadas.

A teoria - automatização gera maior produção, o que gera a produtividade, que gera preços baixos, os quais aumentam a procura, aumentando por sua vez a produção que aumenta o nível dos empregos - é rejeitada por Rifkin, já que a cadeia é correcta a não ser na sua conclusão: a produção, hoje, não aumenta o nível dos empregos, mas sim traz mais automatização reduzindo o trabalho dos seres humanos.

Cada nova inovação traz um aumento de produtividade. Cada inovação, no entanto, tem colocado à margem do trabalho milhares de operários cujas funções eram redundantes com o que a nova tecnologia trouxe.

No passado, afirma Rifkin, estas "vítimas" do desemprego causado por novas tecnologias eram absorvidas por outros sectores do ciclo laboral. Desempregados da indústria de alta tecnologia iam para a indústria de baixa, os de baixa para os serviços, os de serviços para a construção, os de construção para a agricultura e assim sucessivamente. Hoje em dia, com tecnologias de ponta até na agricultura, como ceifeiras-debulhadoras automáticas, milhares de trabalhadores estão sendo substituídos por máquinas que fazem o mesmo trabalho a um custo inferior e em turnos ininterruptos.

Uma realidade, no entanto, está prevista por Rifkin: por mais que o nível de empregos decline, nem todos estarão desempregados na nova sociedade baseada na informação. Para ele, um pequeno número de trabalhadores no sector da informação e do conhecimento irá prosperar, já que o seu "know-how" será cada vez mais necessário em criação, desenvolvimento e manutenção dos equipamentos necessários à automação. Os profissionais da tecnologia se constituirão em uma nova elite da sociedade. Outro segmento que irá sobreviver na nova economia global será o da alta administração. Rifkin oferece-nos dados e afirma que os altos executivos actuais são o segmento que mais tiveram os seus rendimentos aumentados nos últimos 50 anos.

As vagas que estão desaparecendo, principalmente nos níveis mais baixos da produção, poderão afectar as taxas de criminalidade nos países mais desenvolvidos, já que o desempregado sem esperança afluirá às ruas em atitudes de descontentamento e violência.

O resultado da introdução da tecnologia tem possibilitado às empresas demitir trabalhadores criando um verdadeiro exército de desempregados. Os que permanecem nos empregos, no entanto, sentem-se obrigados a trabalhar cada vez mais, por salários cada vez menores. As empresas que se auto denominam "competitivas" têm optado por trabalhar com uma folha de pagamento cada vez menor, obrigando os trabalhadores a produzir mais.

Uma solução para contra atacar os impactos criados pela tecnologia cabe aos governos. Consiste em que eles criem um maior apoio para o que Rifkin chama de "Terceiro Sector" ou sector social, onde, diferentemente dos sectores comerciais, as mudanças de ganhos e perdas são menos importantes, e o que importa no fim é o aspecto social.




Comentários de Viviane Forrester:

«Dizem sempre que temos de nos adaptar. Digo que não há razão para se adaptar ao insuportável. Falam do desemprego como se fosse algo natural e inevitável. Na verdade, se se escutar boa parte dos discursos sobre a situação mundial tem-se a impressão de que estamos a sair de uma catástrofe mundial, de que estamos numa situação trágica à qual temos de nos adaptar. Mas onde está a catástrofe? Por que é que na França, que é a quarta economia do mundo, é natural que existam 2 milhões de desempregados e 1,3 de trabalhadores pobres? A estas questões a política ultraliberal não tem resposta

«Mas isso é esquecer que essa empresa já era próspera quando empregava os que actualmente manda embora. Não é o seu volume de negócios que deseja aumentar, mas, justamente porque está próspera, quer aumentar o lucro que tira e que os seus accionistas tiram desse volume de negócios. E não é criando empregos que lá chega, mas expulsando empregados

«Somos intimados a combater 'défices públicos' que são, de facto, 'benefícios para o público': essas despesas consideradas supérfluas, mesmo nocivas, cujo único defeito é não serem rentáveis e serem perdidas para a economia privada, representarem cessações de lucros, insuportáveis para ela. Ora essas despesas são vitais para os sectores essenciais da sociedade, em particular os da educação e da saúde. Não são 'úteis' nem sequer 'necessárias': são indispensáveis, delas dependem o futuro e a sobrevivência de toda a civilização.»

«O que é a economia? A organização, a distribuição da produção em função das populações, do seu bem-estar? Ou a utilização ou a marginalização das populações em função de flutuações financeiras anárquicas, sem ligação com as pessoas, mas exclusivamente ligadas ao lucro, e em detrimento delas? Estaremos numa verdadeira economia ou, pelo contrário, na sua negação

«Não faz sentido mandar desempregados procurar emprego num mundo onde o trabalho já não existe e, mais do que isso, já não interessa.»

«Está na hora de a sociedade pensar noutra forma de viver, uma forma que não dependa de emprego. Os homens e o seu trabalho são hoje absolutamente desnecessários à economia. Não é mais o trabalho que gera o lucro, é a economia virtual (as aplicações, os papéis, um mundo globalizado que ignora o trabalhador). Os empregos não existem, tampouco passarão a existir no futuro.»

«Está instalada a era do liberalismo, que soube impor a sua filosofia sem ter realmente que formulá-la e nem mesmo elaborar qualquer doutrina, de tal modo estava ela encarnada e activa antes mesmo de ser notada. O seu domínio anima um sistema imperioso, totalitário em suma, mas, por enquanto, em torno da democracia e, portanto, temperado, limitado, sussurrado, calafetado, sem nada de ostentatório, de proclamado. Estamos realmente na violência da calma
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segunda-feira, outubro 08, 2007

João Cravinho - A apropriação do «Governo» por parte dos lóbis privados.

Parte da entrevista de João Cravinho à Revista Visão – 4/10/2007

Via «Pedra do Homem»

Sobre o combate à corrupção - "(...) Fui até ao limite do que podia. Após um processo longo e muitas discussões, formei uma ideia sobre as razões das divergências profundas (...) entre mim e a direcção do grupo parlamentar em questões fulcrais. A primeira tem que ver com um juízo político e ético sobre a situação da corrupção em Portugal e o seu efeito corrosivo sobre o funcionamento das instituições democráticas. Penso que é um fenómeno grave, extenso e sem mecanismos de contenção à altura.(...) Mas também não estávamos de acordo sobre a natureza do fenómeno. Prevaleceu no debate uma noção eminentemente policial da corrupção.(...) Só que a corrupção como fenómeno novo, associado à globalização, torna a concepção policial obsoleta. Um dos nossos grandes problemas é a corrupção de Estado, a apropriação de órgãos vitais de decisão ou de preparação da decisão por parte de lóbis.(...) Foi um dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como que um corpo estranho no corpo ético do PS.(...)"

Sobre a actuação do Governo - "(...) Há anos que a governação em Portugal é neoliberal, com mais ou menos consciência social. O problema não está nas políticas sociais, mas na adopção da ideologia neoliberal como matriz.(...) Não pode estar a promover-se uma pseuso-economia de mercado, em que o Estado serve de muleta aos grandes e até aos pequenos negócios. Muitos acham que deve ser essa a originalidade do neoliberalismo à portuguesa.(...)"

Sobre as relações Governo-Presidente da República. - "(...) O regime está de tal modo fragilizado que, em certo sentido, o Prof. Cavaco Silva, em conjugação com o Eng.º Sócrates, funcionam como uma cavilha de segurança suplementar da granada em que está a transformar-se o nosso sistema político.(...) Mas o que está a perguntar é se existe uma nova forma de bloco central. De certo modo, sim.(...)"


Ainda sobre a apropriação do Estado por parte dos lóbis privados, temos as palavras de Miguel Sousa Tavares no Expresso:

Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»


E ainda sobre o mesmo tema, a opinião de Fernando Madrinha no Expresso:

Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 1/9/2007:

(…) Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. (…)

(…) Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.


Comentário:

Embora concorde com João Cravinho na tese da apropriação do Estado pelo grande dinheiro, noto-lhe ainda uma tentativa inglória de isentar de responsabilidades o «nosso» Primeiro-Ministro:

Diz Cravinho que «[Cavaco] e Sócrates funcionam como uma cavilha de segurança suplementar da granada em que está a transformar-se o nosso sistema político».

Mas Sócrates está longe de ser uma cavilha de segurança. Pelo contrário, o actual Primeiro-Ministro tem servido como espoleta de poderosos interesses financeiros apostados em estilhaçar a sociedade e o país, tranformando-o numa coutada de pilhagem privada.
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segunda-feira, setembro 03, 2007

Boaventura de Sousa Santos – FlexInsegurança

Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

A FlexInsegurança

Publicado na Visão em 2 de Agosto de 2007

Vivemos um tempo em que a estabilidade da economia só é possível à custa da instabilidade dos trabalhadores, em que a sustentabilidade das políticas sociais exige a vulnerabilidade crescente dos cidadãos em caso de acidente, doença ou desemprego. Esta discrepância entre as necessidades do "sistema" e a vida das pessoas nunca foi tão disfarçada por conceitos que ora desprezam o que os cidadãos sempre prezaram ou ora prezam o que a grande maioria dos cidadãos não tem condições de prezar. Entre os primeiros, cito emprego estável, pensão segura e assistência médica gratuita.

De repente, o que antes era prezado é agora demonizado: a estabilidade no emprego torna-se rigidez das relações laborais; as pensões transformam-se na metáfora da falência do Estado; o serviço nacional de saúde deixa de ser um benefício justo para ser um custo insuportável. Entre os conceitos agora prezados, menciono o da autonomia individual. Este conceito, promovido em abstracto para poder surtir os efeitos desejados pelo "sistema", esconde, de facto, dois contextos muito distintos: os cidadãos para quem a autonomia individual é uma condição de florescimento pessoal, a busca incessante de novas realizações pessoais; e os cidadãos para quem a autonomia individual é um fardo insuportável, que os deixa totalmente vulneráveis perante a adversidade do desemprego ou da doença, e que, em casos extremos, lhes dá opção de escolher entre os contentores do lixo do bairro rico ou pedir esmola nas portas do metro.

No domínio das relações laborais está a emergir uma variante de conceito de autonomia. Chama-se flexigurança. Trata-se de aplicar entre nós um modelo que tem sido adoptado com êxito num dos países com maior protecção social da Europa, a Dinamarca. Em teoria, trata-se de conferir mais flexibilidade às relações laborais sem pôr em causa a segurança do emprego e do rendimento dos trabalhadores. Na prática, vai aumentar a precarização dos contratos de trabalho num dos países na Europa onde, na prática, é já mais fácil despedir. Não vai haver segurança de rendimentos, porque, enquanto o Estado providência da Dinamarca é um dos mais fortes da Europa, o nosso é o mais fraco; porque o subsídio de desemprego é baixo e termina antes que o novo emprego surja; porque o carácter semiperiférico da nossa economia e o pouco investimento em ciência e tecnologia vai levar a que as mudanças de emprego sejam, em geral, para piores, não para melhores, empregos; porque a percentagem dos trabalhadores portugueses que, apesar de trabalharem, estão abaixo do nível de pobreza, é já a mais alta da Europa; porque o factor de maior vulnerabilidade na vida dos trabalhadores, a doença, está a aumentar através da política de destruição do serviço nacional de saúde levada a cabo pelo Ministro da Saúde; porque os empresários portugueses sabem que dos acordos de concertação social só são "obrigados" a cumprir as cláusulas que lhes são favoráveis, deixando incumpridas todas as restantes com a cumplicidade do Estado. Enfim, com a flexigurança que, de facto, é uma flexinsegurança, os trabalhadores portugueses estarão, em teoria, muito próximos dos trabalhadores dinamarqueses e, na prática, muito próximos dos trabalhadores indianos.


Comentário:

Que importância tem que as pessoas vivam próximas da miséria e em constante sobressalto? Desde que os grandes financiadores dos partidos e dos políticos tenham garantido o seu ganha-pão. Não é para isso que os políticos são financiados? Não é por isso que as Somagues prosperam?
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sábado, maio 26, 2007

Luís Nobre Guedes – um bloquista encapotado ou um enfermo afortunado?

Luís Nobre Guedes - Jornal Expresso – 26 de Maio de 2007

“Em Portugal uma concepção liberal seria uma catástrofe social”

Jornalista - "Porque é que um liberal há vinte anos sente que hoje o liberalismo já não é solução?"

Nobre Guedes - "Porque o mundo mudou. Hoje há um fenómeno de globalização completamente incontornável e houve fenómenos que vão ao arrepio daquilo que se pensava que pudesse ser a evolução da sociedade. Hoje há mais ricos e há mais pobres. Há um fosso maior entre ricos e pobres, entre países ricos e pobres. Há uma ideologização do sucesso pelo sucesso, de que o dinheiro é o único valor, coisas com as quais eu não posso concordar."

(…) "tenho dificuldade em aceitar algo como o Compromisso Portugal. É uma visão da sociedade de quem não anda com os pés assentes na terra. Todas essas teorias da revolução liberal cairiam se essas pessoas saíssem dos seus escritórios e das suas consultoras bem instaladas e passassem uma semana no Hospital de São José, a ver o que é a pobreza, ou se fossem à Pampilhosa da Serra ver o que é a desertificação, o Interior. Existem dois milhões de pessoas em Portugal que vivem abaixo de 60% da média nacional, há cerca de 21% da sociedade portuguesa que vive em risco de pobreza, e 15% há mais de dois anos, e as crianças e os idosos são os mais afectados. Contra estes fenómenos todos eu não acho que seja possível substituir o Estado. A primeira preocupação do Estado tem que ser responder a estes fenómenos de extrema injustiça e pobreza, que é crescente em Portugal. Num país como o nosso o Estado não pode deixar de ter uma intervenção que é insubstituível."


Jornalista - "O que está a dizer é que não se pode confiar no mercado para resolver esses problemas. Mas mesmo os liberais admitem que o Estado crie uma rede de segurança que previna situações extremas..."


Nobre Guedes - "Estou a falar de mais do que isso. Acho que o Estado é insubstituível em dois domínios fundamentais. Primeiro, dar alguma segurança e garantia relativamente aos direitos adquiridos em termos de pensão de reforma. Hoje vive-se em Portugal um sentimento novo, o receio generalizado das pessoas ao ver que aquilo que era intocável pode ser tocado – as pensões de reforma. Depois, a saúde. Há que ter a noção que o nosso sistema não é tão mau quanto o pintam, mas pode ser melhor, e é a única forma de dar um mínimo de segurança em termos de saúde às pessoas que não têm outros meios. Eu costumo dizer que estou aqui porque sou rico, se não fosse rico tinha morrido com o [problema de saúde] que tive. Mesmo admitindo que algumas coisas têm que mudar para salvar o essencial, não tenho dúvidas nenhumas que num país como o nosso uma concepção liberal seria uma catástrofe social, por isso não acredito nesses discursos que são muito sedutores, muito retóricos, mas que não têm nada a ver com a realidade."

(…) "E não tenho dúvidas nenhumas de que as soluções liberais, por exemplo para a saúde, são más soluções. Porque as pessoas não têm muitas vezes sequer o dinheiro para o transporte para irem ao hospital, essa é que é a realidade! Não é o Portugal imaginário das estatísticas e das consultoras."


Comentário:

Luís Nobre Guedes afirma que se não fosse rico teria morrido com o problema de saúde que o atingiu. O que nos leva a questionar: quantos portugueses morrem por ano por não terem dinheiro suficiente para se tratarem? E quantos mais morrerão com a privatização da segurança social, verdadeiro cavalo de batalha da rapaziada do «Compromisso Portugal»? Não haverá uma virose pestilenta, resistente a contas bancárias chorudas, que se entranhe nestes bravos paladinos do «laissez faire, laissez mourir»?