sexta-feira, dezembro 28, 2012

MAIS IGUALDADE MENOS "LIBERDADE"


"A desigualdade é corrosiva. Ela apodrece as sociedades a partir de dentro. A repercussão das diferenças materiais leva algum tempo a mostrar-se: mas a seu tempo aumenta a concorrência pelo estatuto social e bens; as pessoas experimentam uma sensação crescente de superioridade (ou de inferioridade) segundo as suas posses; cristaliza-se o preconceito para com as posições inferiores da escala social; o crime aumenta e as patologias do desfavorecimento social vão-se acentuando cada vez mais. O legado da criação de riqueza não regulada é realmente amargo".

Tony Judt em «Um tratado sobre os nossos atuais descontentamentos.»

Tony Judt (Londres, 1948 — Nova Iorque, 2010) foi um historiador, escritor e professor universitário britânico. Nos últimos anos, Judt lecionou na Universidade de Nova York, a cadeira de Estudos Europeus. Em 2006 foi finalista do Prémio Pulitzer com o livro "Pós-Guerra", uma análise na Europa de meados da década de 1940 até os primeiros anos do novo milénio.


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quinta-feira, dezembro 20, 2012

José Gomes Ferreira, subdiretor da informação da SIC (principal canal de propaganda da Alta Finança), está a ser elevado à categoria de novo herói nacional contra a corrupção política


O jovem e mediático José Gomes Ferreira, subdiretor da informação da SIC, é a nova coqueluche mediática fabricada pelo Grande Dinheiro para "combater" a corrupção, cujo principal beneficiário é precisamente o Grande Dinheiro. O povoléu, simultaneamente fascinado e atemorizado pela coragem do jovem paladino, grita em desespero:

"Apoiemos a investigação de José Gomes Ferreira! Depressa, antes que matem o nosso menino!"



O propagandista José Gomes Ferreira acompanhado do seu alter-ego a soldo


O povoléu, de curta memória, esquece uma lição que nalguns países já tem centenas de anos:

Em qualquer «Democracia» os dois partidos do «Arco da Governação», que se sucedem ininterruptamente no Poder, não passam de um único partido que obedece exclusivamente ao Grande Dinheiro.


A fraude dos dois partidos que não passam, afinal, de um só
The Establishment's Two-Party Scam


Chris Gupta: Esta fraude consiste na fundação e financiamento pela elite do poder de dois partidos políticos que surgem aos olhos do eleitorado como antagónicos, mas que, de facto, constituem um partido único. O objectivo é fornecer aos eleitores a ilusão de liberdade de escolha política e serenar possíveis sentimentos de revolta contra a elite dominante.


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Quem me chamou a atenção para esta corajosa entrevista de José Gomes Ferreira, lembrou, oportunamente, que: «é nestes momentos que se vê a diferença entre os fala-baratos de café, Blogues e FaceBook, e os que querem agir com bases e POSSIBILIDADES concretas».

Ora, é precisamente para isso que servem os fala-baratos dos Blogues e do FaceBook, para disponibilizarem informação que é omitida, truncada e enviesada nos jornais e telejornais...

Só que, infortunadamente,  José Ferreira Gomes age como o branqueador do atual governo PSD, atirando todas as culpas da atual situação para o governo anterior de Sócrates (um biltre que, juntamente com Passos Coelho, deviam ser enforcados). Não devemos levar a mal o José. É pago para isso mesmo. Será devidamente justiçado a seu tempo.


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José Gomes Ferreira, na SIC, antes e depois das eleições legislativas de 2011 (na passagem de Sócrates para Coelho):

• Em 31 de Março: 'O pior é que os investidores, que têm o dinheiro em Singapura, em Hong-Kong e nos outros países onde há dinheiro para investir, eles sabem disto. E, portanto, estes ratings dos bancos e da nossa dívida que estão todos os dias a cair, refletem o quê? O conhecimento dos investidores desta realidade. E nós, cidadãos portugueses, andamos aqui a enganarmo-nos. Acho que já chega.'

• Em 6 de julho: '(...) só os ingénuos acreditam que esta descida do ratings da Moody’s em quatro pontos tem a ver com critérios puramente técnicos. Só os ingénuos acreditam.'


E no programa «Querida Júlia», José Gomes Ferreira defende corajosamente as atuais medidas de austeridade impostas por Passos Coelho.

terça-feira, dezembro 18, 2012

D. João II resolveu o problema dos grandes grupos económicos que mandavam no país, matando o duque de Bragança, o duque de Viseu e o duque de Aveiro (o poder financeiro da altura)


Vídeos do debate na "Associação 25 de Abril", a 6 de Dezembro de 2012, com Paulo Morais e Pedro Bingre.


Paulo Morais, Professor Universitário:

"Nós, enquanto país, só sairemos disto quando tivermos governantes que afrontem os grandes interesses e, nomeadamente, os grandes interesses económicos. Na nossa própria História, D. João II, antes de assinar o Tratado de Tordesilhas, antes de mandar imprimir o primeiro livro em Portugal, antes de fazer um reinado notável, fez uma coisa muito simples: foi aos grandes grupos económicos da altura e fez algo tão simples como matar o duque de Bragança, o duque de Viseu, o duque de Aveiro e resolveu o problema dos grandes grupos económicos que mandavam no país... Hoje o feudalismo é o mesmo – a única diferença é que, na altura, o feudalismo era ter terras e o feudalismo de hoje é na finança".




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"D. João II foi aos grandes grupos económicos da altura e fez algo tão simples como matar o duque de Bragança, o duque de Viseu, o duque de Aveiro e resolveu o problema dos grandes grupos económicos que mandavam no país... Hoje o feudalismo é o mesmo – a única diferença é que, na altura, o feudalismo era ter terras e o feudalismo de hoje é na finança."

Tal como na época feudal eram as terras que possuíam valor e os senhores feudais detinham o poder, nos dias que correm, o que vale é o Dinheiro e quem tem o poder são os banqueiros. Também, ao contrário de outrora, onde um rei podia derrubar os grandes interesses com um exército fiel e disciplinado, agora, terá de ser uma população ligada em rede, informada, corajosa, e com pouco ou nada a perder, a justiçar os senhores do dinheiro (e a escumalha que na política, na justiça e nos Media, os ampara). Ao exército medieval - uma pirâmide com um rei no ápex e peões de brega na base, sucede-se uma malha reticulada de cidadãos desejosos de esmagar sanguessugas e de criar urgentemente uma sociedade mais justa.

D. João II

quarta-feira, dezembro 12, 2012

Artigo dedicado a um porradão de gente que eu conheço no trabalho e fora dele




Texto de Bertolt Brecht


"Não há pior que o analfabeto político"


1 - "Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos"

2 - "O analfabeto político é tão burro que se orgulha de o ser, de peito feito, diz que detesta a política"

3 - "Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política é que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."




A prostituta, o Político-CEO-Corrupto e o menor abandonado

segunda-feira, dezembro 10, 2012

Paulo Morais - Os negócios dominam a vida política. A promiscuidade entre os actores políticos e os grupos económicos é obscena




Correio da Manhã - 4 Dezembro 2012

Texto de Paulo Morais, Professor Universitário


Tolerância zero

Este fenómeno começa por se fazer sentir no Parlamento, mas chega a todo o lado. Há dezenas de deputados que acumulam a função parlamentar com a de administrador, director ou consultor de empresas que desenvolvem grandes negócios com o Estado. Em todas as comissões relevantes há conflitos de interesses, reais ou potenciais. A mais importante, a que acompanha o Programa de Assistência Financeira, tem por funções fiscalizar as medidas previstas no memorando de entendimento com a Troika, nomeadamente as privatizações ou o apoio à Banca. Pois nesta comissão tem assento Miguel Frasquilho que trabalha na Essi, empresa do grupo financeiro BES que, ainda por cima, assessorou os chineses na compra da EDP; a que se junta Adolfo Mesquita Nunes, advogado da poderosa sociedade Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva, justamente o escritório de referência da eléctrica. Na comissão de agricultura, o deputado Manuel Isaac fiscaliza um ministério que influencia a atribuição de subsídios à empresa de que é administrador. O presidente da comissão de Segurança Social, José Manuel Canavarro, é consultor do Montepio Geral, banco cuja actividade se desenvolve na área da solidariedade. Os exemplos sucedem-se.

A promiscuidade contamina até o insuspeito Banco de Portugal, em cujo conselho consultivo têm assento Almerindo Marques, ligado ao BES, ou António de Sousa, até há pouco presidente da Associação de Bancos. O banco central tem a sua actividade vigiada por aqueles que deveria supervisionar.

Pelo lado dos privados, os grupos económicos que beneficiam desta promiscuidade estão sempre disponíveis para acolher os que os favorecem. Não por acaso, ex-ministros das obras públicas transitam para as empresas com maior participação nas parcerias público-privadas. Ferreira do Amaral preside à Lusoponte, Jorge Coelho e Valente de Oliveira administram a Mota-Engil.

Para erradicar esta teia de negócios que domina a política, o Parlamento deve criar um regime de incompatibilidades muito restritivo para os detentores de cargos públicos. Que deve, num período transitório de higienização, ser de exclusividade total.


Comentário


Ou, em alternativa, para erradicar esta teia de negócios que domina a política, justiçá-los um a um, como se esmagam aranhas.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Mário Soares avisa Passos Coelho de que "tem Portugal inteiro contra ele, que corre grandes riscos e que tenha cuidado com o que lhe possa acontecer”


Mário Soares, ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República, campeão dos subsídios, das instituições, dos observatórios e das fundações, que asseverou, em 2005, que Portugal só estaria no rumo certo se José Sócrates fosse eleito primeiro-ministro e que considerou, em 2010, que Pedro Passos Coelho era "um líder razoável e sensato", mostra-se agora apoquentado com a agressividade contra os políticos que grassa pelo país.





RTP - 04 Dez, 2012


O antigo Presidente da República Mário Soares escreve hoje no Diário de Notícias um artigo de opinião muito crítico de Passos Coelho, avisando-o de "que corre grandes riscos". "Tem Portugal inteiro contra ele: sacerdotes, militares, de alta e baixa patente, cientistas, académicos, universitários, rurais, sindicalistas, empresários, banqueiros, pescadores, portuários, médicos e enfermeiros e, sobretudo, a maioria dos seus próprios correligionários do PSD", acusa Soares. Para acrescentar: "O povo não existe para o primeiro-ministro e para o seu Governo. Tenha, pois, cuidado com o que lhe possa acontecer".

Num texto carregado de ataques às mais recentes decisões do Executivo, Mário Soares diz que "no Governo de Passos Coelho a regra é ninguém se entender. Desde o terceiro ministro, que devia ser segundo, Paulo Portas, até ao ministro da Segurança Social, que devia chamar-se da insegurança social, passando pelo 'Álvaro', que finalmente compreendeu que a austeridade com a recessão crescente e o desemprego a atingir 17 por cento - o terceiro mais alto da Europa -, tudo o que possamos fazer leva-nos, necessariamente, ao abismo".

Preconizando uma mudança de política, Soares ataca o Governo e não deixa de chamar a atenção para o facto de a situação estar a deteriorar-se de dia para dia: "Com o povo desesperado e, em grande parte, na miséria corre imensos riscos. É preciso e indispensável mudar de política. Com esta política - e a intervenção permanente do ministro das Finanças - tudo vai de mal a pior. São os militantes do PSD que o reconhecem. Será que seremos a Grécia? Ou pior do que ela?".

Vítor Gaspar também não é poupado no texto de Mário Soares. "O ministro das Finanças teve o gosto de voltar a fazer cortes e mais cortes, deixando a maioria dos portugueses no desemprego e a pão e água", escreve o ex-Presidente.

"Entretanto, Passos Coelho lembrou-se de que a Constituição é mais generosa em matéria de ensino do que em saúde e, vai daí, teve a ideia peregrina de anunciar que vai cortar no ensino, até agora gratuito, esquecendo-se ou ignorando o art. 74.º da Constituição, no que foi desautorizado pelo ministro da Educação. Mas isso parece não ter importância para o atual Governo, tanto que o primeiro-ministro já deu o dito pelo não dito, como está a ser seu costume", reforça.


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segunda-feira, dezembro 03, 2012

E quando os violentos começarem a ser dezenas, milhares? E se andar por aí um rastilho subterrâneo a arder, rumo ao coração de multidões, atiçado por cada novo sopro de insensibilidade, de "ai aguentas", de desvergonha autoritária?


Passos Coelho, já fez um aviso àqueles que pensam que podem agitar as coisas de modo a transformar o período que estamos a viver numa guerra com o Governo: "Pode haver quem se entusiasme com as redes sociais e com aquilo que vê lá fora, esperando trazer o tumulto para as ruas de Portugal. Em Portugal, há direito de manifestação, há direito à greve. Nós não confundiremos o exercício dessas liberdades com aqueles que pensam que podem incendiar as ruas e ajudar a queimar Portugal".



Três incendiários sofrem as consequências da política de terra queimada que elegeram para o país

Ao contrário do que pensa o ainda primeiro-ministro, ninguém pretende uma guerra com o Governo. O que um número cada vez maior de portugueses ambiciona é que os elementos que estão a "incendiar e a queimar Portugal" sejam liminarmente justiçados.


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Por Luis Rainha no blogue «Vias de Facto»


O tabu da violência


Salazar ficcionou a cómoda brandura dos nossos costumes. Franco, camarada ibérico de barbárie, resumiu-nos como uma nação de cobardes. Governo após governo apostaram no comodismo que nos levaria a preferir o resmungo clandestino às dores e ao sangue do confronto; ideia arriscada, face a um povo que tem por tradição enfrentar touros de mãos nuas.

No dia 14, a aposta começou a esgarçar-se sob uma chuva de fogo, pedras e fúria. A resposta policial foi vista pelo bom senso do costume como inevitável, exemplar até. Sempre ordeiras, as almas consensuais tranquilizaram-nos-nos: trata-se apenas de “uma dúzia” de desordeiros; malta sombria, estranha, talvez estrangeira, anarquistas, quiçá criminosos comuns, de cadastro e tudo. Haja obediência, respeitinho. O monopólio estatal da violência é coisa a venerar, pilar da ponte que vai de quem manda a quem obedece.

E quando os violentos começarem a ser dezenas, milhares? E se andar por aí um rastilho subterrâneo a arder, rumo ao coração de multidões, atiçado por cada novo sopro de insensibilidade, de "ai aguentas", de desvergonha autoritária?

Até Gandhi cartografou as fronteiras entre a cobardia e a autodefesa: "arriscaria mil vezes a violência antes de arriscar a castração de uma raça.” E a Constituição garante-nos o direito "de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública." Se esta se couraça e arma até aos dentes com a fúria cega de feras fardadas e bem treinadas, resta o quê?


Fim do texto de Luis Rainha


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A inutilidade do pacifismo contra genocidas encartados


Um ex-pacifista que se viu sem emprego, sem tecto e sem pão para dar aos filhos


Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada" ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. Nada mais falso!

A violência tanto pode funcionar para subjugar como para libertar

Uma mulher que crave uma lima de unhas no coração de um energúmeno que a arrastou à força para um bosque com o intuito de a violar, está a utilizar a violência de uma forma justa;

Um homem que abate a tiro um assassino que lhe entrou em casa e lhe degolou a mulher, está a utilizar a violência de uma forma justa;

Um polícia que dispara contra um homicida prestes a abater um pacato cidadão, está a utilizar a violência de uma forma justa;

Os habitantes de um bairro nova-iorquino que se juntam para aniquilar um bando mafioso (que nunca é apanhado porque tem no bolso os políticos, os juízes e os polícias locais), estão a utilizar a violência de uma forma justa;

Um povo que se revolta de forma sangrenta contra a Máfia do Dinheiro, coadjuvada por políticos corruptos, legisladores venais, comentadores a soldo, e cujos roubos financeiros descomunais destroem famílias, empresas e o país inteiro, esse povo está a utilizar a violência de uma forma justa.

As sanguessugas são apenas algumas centenas e nós somos milhões. Estamos à espera de quê para as esmagar?


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Paulo Morais, professor universitário - Correio da Manhã – 6/11/2012

Os aumentos de impostos que nos martirizam e destroem a economia têm como maiores beneficiários os agiotas que contrataram empréstimos com o estado português. Todos os anos, quase dez por cento do orçamento, mais de sete mil milhões de euros, destina-se a pagar juros de dívida pública.

Ainda no tempo de Sócrates, e para alimentar as suas megalomanias, o estado financiava-se a taxas usurárias de seis e sete por cento. A banca nacional e internacional beneficiava desse mecanismo perverso que consistia em os bancos se financiarem junto do Banco Central Europeu (BCE) a um ou dois por cento para depois emprestarem ao estado português a seis.

Foi este sistema que levou as finanças à bancarrota e obrigou à intervenção externa, com assinatura do acordo com a troika, composta pelo BCE, FMI e União Europeia. [...] Mas o que o estado então assinou foi um verdadeiro contrato de vassalagem que apenas garantia austeridade. Assim, assegurou-se a continuidade dos negócios agiotas com a dívida, à custa de cortes na saúde, na educação e nos apoios sociais.

[...] A chegada de Passos Coelho ao poder não rompeu com esse paradigma. Nem por sombras. O governo optou por nem sequer renegociar os empréstimos agiotas anteriormente contratados; e continua a negociar nova dívida a juros incomportáveis.

Os políticos fizeram juras de amor aos bancos, mas os juros pagámo-los nós bem caro, pela via dum orçamento de estado que está, primordialmente, ao serviço dos verdadeiros senhores feudais da actualidade, os banqueiros."