Introdução (minha)
Que aconteceria se um pequeno grupo de resolutos cidadãos europeus, um, dois, três, etc..., fossem Irlandeses, Gregos, Franceses, Espanhóis ou Portugueses, tomassem a decisão de apanhar e executar um indivíduo responsável pela hecatombe social que nos tem vindo a destruir:
a) Um Banqueiro ladrão;
b) Um Governante corrupto;
c) Um Deputado a soldo;
d) Um Administrador habituado a ziguezaguear entre interesses públicos e privados;
e) Um Membro de um escritório de advogados que legisla criminosamente a pedido de vigaristas;
f) Um Procurador cujo único objectivo é travar investigações aos poderosos;
g) Um Comentador ou Jornalista venal empenhado em convencer a população de que a «crise financeira» e a miséria para a qual fomos atirados é o equivalente a um terramoto – são coisas que acontecem e das quais ninguém tem culpa.
Será que, com essa primeira execução, esse pequeno grupo de cidadãos não poderia dar início a uma bola de neve que, com o apoio da Internet, das redes sociais, da rede que permite o contacto de todos com todos, se transformasse numa avalanche capaz de exterminar um polvo assassino que tudo faz para devastar Portugal, a Europa e o Mundo?
********************************
Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de direitos e salários
Concha Caballero é licenciada em Filologia Espanhola e professora de literatura num instituto público. Abandonou a politica decepcionada com a coligação eleitoral do seu partido. Há anos que passou do exercício da politica activa para analista e articulista, social e politica, de vários meios de comunicação, com destaque para o EL PAÍS. É uma amante da literatura e firmemente humana com as questões sociais.
Clique neste link e leia o artigo Original em Castelhano.
Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.
Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objetivos foram claros e contundentes - Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários.
Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o fator determinante do produto; quando tiverem feito ajoelhar todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desespero, então a crise terá terminado.
Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidas, então terá acabado a crise.
Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (exceto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenham destruído todas as pontes de solidariedade. Então anunciarão que a crise terminou.
Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra. Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.
Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.
Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social: Um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e "voilá": A sua obra estará concluída.
Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.