domingo, agosto 16, 2015

As mentiras do Governo sobre os reais números do desemprego (29%) em Portugal


Por Nuno Serra - 29 de Julho de 2015


Conseguem as estatísticas oficiais reflectir adequadamente a realidade do desemprego em Portugal? Um primeiro exercício de resposta a esta pergunta foi aqui feito, há mais de meio ano, permitindo desmascarar os expedientes do governo para camuflar a verdadeira dimensão do problema. Nos termos desse exercício associaram-se, ao número oficial de desempregados, os desempregados ocupados, os inactivos desencorajados e os emigrantes em idade activa, assumindo que estas situações configuram formas de desemprego não reconhecidas pelas estatísticas oficiais. Posteriormente, essa análise seria revista e aprofundada, interpretando adicionalmente o subemprego como uma outra forma, mitigada, de desemprego. Ao actualizar as séries de dados para o primeiro trimestre de 2015 (a informação disponível mais recente), obtém-se o resultado que o gráfico seguinte procura traduzir.



Nestes termos:

1. Ao contrário do que diz a despudorada propaganda governamental, o desemprego não está a diminuir, sendo mais correcto falar na sua estabilização em patamares muito elevados. Com efeito, enquanto os números oficiais apontam para uma redução da Taxa de Desemprego na ordem dos 3,8 pontos percentuais, entre o primeiro trimestre de 2013 e o primeiro trimestre de 2015, a estimativa da Taxa de Desemprego Real mostra que essa descida é de apenas 0,4 pontos percentuais no mesmo período e de 0,5 pontos percentuais, caso se considere o Desemprego Real + o Subemprego.

2. Mesmo excluindo o subemprego (isto é, os activos empregados que trabalham a tempo parcial e que gostariam de poder trabalhar mais tempo) enquanto forma oculta de desemprego, uma estimativa realista da Taxa de Desemprego aponta para um valor que ronda os 25% no final do primeiro trimestre de 2015 (muito superior, portanto, aos 14% que os números oficiais apregoam). Para a divergência crescente entre estas duas taxas (Desemprego Oficial e Desemprego Real), conta sobretudo o contingente de desempregados ocupados (que passam de 23 mil em Março de 2011 para 161 mil em Março de 2015), bem como o volume de migrantes em idade activa, que constituem, no fundo, desempregados não contabilizados pelas estatísticas (apenas por terem saído do país) e que em termos acumulados passam de 12 mil para 322 mil, no período considerado.

3. Poderá argumentar-se que os números oficiais deixaram sempre de fora estas situações de desemprego, não reconhecidas como tal pelas estatísticas. E sendo isso verdade, há contudo aqui algo de substancialmente novo e que aponta para o peso crescente que essas formas ocultas de desemprego assumem, nos últimos anos, face ao desemprego total. Com efeito, se no primeiro trimestre de 2011 o Desemprego Oficial representava cerca de 61% do Desemprego Real, no período homólogo de 2013 já só representava 56% e, em Março de 2015, apenas 41%. Ou seja, a maior parte do desemprego que hoje existe em Portugal, nas suas diferentes formas, está estatisticamente oculto. Como se simplesmente não existisse.

Tem pois razão o Fundo Monetário Internacional quando afirma, como fez recentemente (contrariando o Secretário de Estado Bruno Maçães), que «Portugal precisa de 20 anos para regressar ao desemprego que tinha antes da crise». Da continuada estagnação do desemprego, nos níveis elevados em que a «austeridade expansionista» o colocou - e sem uma verdadeira alternativa às políticas de empobrecimento que a troika impôs e que o actual governo entusiasticamente abraçou - outra coisa não seria de esperar.

segunda-feira, agosto 10, 2015

O «paradoxo da produtividade», ou melhor, o fim do emprego e da propriedade privada dos meios de produção devido ao avanço exponencial da tecnologia




A informática e a robotização tendem a reduzir a zero os custos de produção e possuem a capacidade de diminuir drasticamente a necessidade de trabalho.

É por esse motivo que o produto interno bruto (PIB), que representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos, caracteriza cada vez menos a economia real.





Artigo retirado DAQUI

Tradução minha:

Porque é que a Internet não ajudou a economia americana a crescer tanto como os economistas esperavam?

Se esteve presente nalgum cocktail de economistas no mês passado, então ouviu provavelmente falar do e-book de Tyler Cowen, The Great Stagnation [A Grande Estagnação]. O livro procura explicar porque é que os salários médios cresceram tão pouco desde os anos 1970 e começaram a declinar na última década. Cowen aponta para um problema novo: até aos anos 1970, o país [EUA] estava ainda cheio de mercados acessíveis para alimentar o crescimento do Produto Interno Bruto. Nos 40 anos anteriores a 1970, inovações impressionantes na mudança e melhoria da qualidade de vida – como tinham sido a penicilina, os jardins-de-infância para todos, casas de banho, aviões, automóveis – tornaram-se, em 1970, mais difíceis de atingir, fazendo baixar as taxas de crescimento do mundo industrializado.




"Mas esperem"! Dirão muitos. Nos anos 1970, a indústria Americana começou a produzir tecnologias sensacionais para a mudança e melhoria da qualidade de vida. Tivemos calculadoras com gráficos, sistemas de processamento de dados, finanças modernas, GPS, chips de silício, ATMs, telefones celulares e uma data de outras inovações. Não terá a Internet, o mais revolucionário avanço tecnológico nas comunicações desde que Gutenberg inventou a imprensa, feito nada para o crescimento do Produto Interno Bruto? A resposta, os economistas concordam de um modo geral, foi: é pena, mas não – pelo menos, não tanto como seria de esperar.

Há um quarto de século atrás, com as novas tecnologias a saturarem os lares americanos e os negócios, os economistas olharam à sua volta esperando encontrar em algum lado crescimento induzido pela informática. Mas sinais de um aumento de produtividade ou de um reforço do crescimento eram pequenos e raros. Evidentemente, os computadores e a Web transformaram milhares de negócios e centenas de indústrias. Mas, no conjunto, as coisas pareciam estar na mesma. A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto não aumentou significativamente, nem a produtividade. Como afirmou o economista Rober Solow em 1987: "É possível observar a influência do computador em tudo menos nas estatísticas da produtividade."




Surgiu todo um conjunto de teorias sobrepostas para explicar o fenómeno, muitas vezes designado o "paradoxo da produtividade." Talvez as novas tecnologias beneficiassem umas empresas e indústrias e prejudicassem outras, não permitindo um ganho líquido. Talvez os sistemas informáticos ainda não fossem suficientemente fáceis de usar de forma a reduzir o esforço dos trabalhadores para executarem uma determinada tarefa. Os economistas também colocaram a hipótese de que talvez fosse ainda necessário algum tempo – talvez bastante tempo – para que os ganhos se tornassem uma realidade. No passado, as tecnologias de informação tendiam a precisar de um período de incubação antes de produzirem ganhos no crescimento económico. Tome-se o caso da imprensa de Gutenberg: embora a tecnologia tenha transformado radicalmente a forma como as pessoas guardavam e transmitiam notícias e informação, os economistas não encontraram provas de que a imprensa tenha acelerado o rendimento per capita ou o crescimento do Produto Interno Bruto nos séculos XV e XVI.

Houve um momento em que alguns economistas pensaram que a idade do ouro induzida pela Internet tinha finalmente chegado nos finais dos anos 1990. Entre 1995 e 1999, as taxas de crescimento da produtividade excederam de facto as do boom do período 1913 – 1972, significando talvez que a Web e a computação tinham trazido finalmente a "Nova Economia". Mas esse período de veloz crescimento desvaneceu-se rapidamente. E alguns estudos descobriram que os ganhos desses anos não foram tão impressionantes e tão alargados como se pensara inicialmente. Robert Gordon, um professor de economia de Chicago, por exemplo, chegou à conclusão de que os computadores e a Internet ajudaram geralmente a aumentar a produtividade na produção de bens duráveis – ou seja, na produção de coisas como computadores e semicondutores. "O nosso tema central é que os computadores e a Internet não chegam ao nível das Grandes Invenções do fim do século XIX e princípios do século XX, e que, por isso, não merecem a classificação de Revolução Industrial," escreveu Gordon.

O trabalho de Gordon conduziu a outra teoria, esta defendida pelo próprio Cowen. Talvez a Internet não seja tão revolucionária como pensamos. Evidentemente, as pessoas podem tirar muito prazer dela – a sua tendência para melhorar a qualidade de vida das pessoas é inegável. E claro, pode ter revolucionado a forma como encontramos, compramos e vendemos produtos e serviços. Mas mesmo assim, tal não significa necessariamente que seja uma transformação da economia como foram, por exemplo, os caminhos-de-ferro.




Isto acontece em parte porque a Internet e os computadores tendem a reduzir os custos a zero, e têm a capacidade de reduzir a necessidade de trabalho. Você está, evidentemente, a ler este artigo de graça num site da Web sustentado financeiramente não por subscrições, mas por publicidade. Você lê provavelmente muitos artigos online, e presumivelmente não paga nada por isso. Por causa do declínio das subscrições, maior competição por dinheiro de publicidade e outras dinâmicas induzidas pela Web, os lucros e o emprego no jornalismo têm diminuído na última década. (O facto de Cowen escrever num blogue de acesso livre e publicar as suas ideias num e-book de 4 dólares em vez de num lustroso livro de capa dura de 25 dólares não pode deixar de ser salientado aqui.) Mais ainda, a Web e o sector tecnológico dependente dos computadores não emprega muita gente. Tal como não aumenta o número de trabalhadores: O Gabinete de Estatísticas do Trabalho calcula que o emprego nas tecnologias de informação será menor em 2018 do que era em 1998

Pode ser difícil acreditar que a Internet não tenha produzido um boom económico, Cowen admite. "Temos uma memória colectiva histórica de que o progresso tecnológico traz consigo uma grande e previsível fonte de receitas de um crescimento que abarca a maior parte da economia," escreve. "No que toca à Web, estas suposições mostram-se erradas ou enganadoras. Os sectores de maior rendimento da nossa economia têm vindo a diminuir e os maiores ganhos tecnológicos têm vindo de sectores de pouca rentabilidade."




Mas o rendimento não é sempre o objectivo final – mesmo em economia. Isto conduz-nos à explicação final: Talvez não seja o crescimento que é deficiente. Talvez aconteça que o parâmetro que usamos para o medir que não seja o adequado. O professor do MIT Erik Brynjolfsson explica o conceito utilizando o exemplo da indústria musical: "Pelo facto de tanto eu como você termos deixado de comprar CDs, a indústria musical contraiu-se, segundo os rendimentos e o Produto Interno Bruto. Mas nós não estamos a ouvir menos música. Nunca houve tanto consumo de música como hoje." O aumento da escolha, da variedade e da disponibilidade de música deve ter algum valor para nós – mesmo que seja difícil quantificá-lo. "No papel, e pela forma como o Produto Interno Bruto é calculado, a indústria musical está a desaparecer, mas na realidade não está. Estão a desaparecer as receitas da música mas não aquilo que mais nos interessa – que é a música."

À medida que as nossas vidas são cada vez mais vividas online, Brynjolfsson pergunta-se se isto se pode vir a transformar num grande problema: "Se todos nos concentrarmos a medir apenas a parte da economia que produz dólares, estaremos a deixar cada vez mais de fora aquilo que as pessoas apreciam e consomem. A discrepância será cada vez maior."

Mas arranjar uma medida alternativa do que produzimos ou consumimos baseado no valor que as pessoas obtêm do Wikipedia ou do Pandora (arquivo nacional australiano) mostra-se um desafio extraordinário – na verdade, nenhum economista jamais o fez. Brynjolfsson afirma que é possível, talvez, somando várias "mais-valias do consumidor," medidas em termos de quanto é que os consumidores estariam dispostos a pagar por um determinado bem ou serviço, versus o quanto eles pagam de facto (uma pessoa pode pagar $10 por um CD, mas porque é que o faria se este fosse grátis?). Isto pode dar uma ideia aproximada do valor em dinheiro daquilo que a Internet tende a fornecer de graça – e dar-nos um sentido alternativo do valor que as tecnologias têm para nós, senão mesmo, a sua capacidade de produzir crescimento e rendimento para nós.




Claro que, se as nossas tecnologias mais radicais e capazes de alterar a nossa vida não estão a aumentar os rendimentos ou a produtividade ou o crescimento, então ainda teremos problemas. Melhorias na qualidade de vida não põem o jantar na mesa nem pagam os benefícios da Segurança Social. Contudo, até mesmo Cowen não vê apenas nuvens negras no horizonte, com os rendimentos a estagnarem indefinidamente à medida que vamos produzindo cada vez mais online e perdendo cada vez mais emprego e dinheiro. Quem sabe que extraordinárias tecnologias podem estar ao virar da esquina?

terça-feira, agosto 04, 2015

Os «Representantes Eleitos», ou melhor, os lacaios do Grande Dinheiro...


Chris Gupta: "A constituição de uma «Democracia Representativa» consiste na fundação e financiamento pela elite do poder de dois partidos políticos que surgem aos olhos do eleitorado como antagónicos, mas que, de facto, constituem um partido único. O objectivo é fornecer aos eleitores a ilusão de liberdade de escolha política e serenar possíveis sentimentos de revolta..."


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Paulo Morais - Professor Universitário



Par(a)lamentar - Dezenas de deputados, ligados a grupos económicos, usam a cadeira do Parlamento para beneficiar de informação privilegiada.

A legislatura chega ao fim. Na próxima semana, terá lugar no Parlamento a última sessão do Plenário. Os deputados que agora cessam funções não deixam saudades. Não dignificaram o mandato, esqueceram a sua função, a de legislar em função dos interesses do povo. São politicamente irrelevantes, estão submissos aos interesses económicos.

Não serviram a Nação que os elegeu. Várias dezenas de deputados estão ligados aos principais grupos económicos. Deste modo, usam a cadeira do Parlamento para beneficiar de informação privilegiada. Neste período, a promiscuidade foi regra, com vários casos de deputados em total conflito de interesses. Exemplos: Miguel Frasquilho integrava o BESI (do grupo BES), que assessorava os interesses chineses na aquisição de capital da EDP e, simultaneamente, fazia parte da comissão parlamentar que fiscalizava o processo; Paulo Mota Pinto representa os interesses da família de José Eduardo dos Santos e, ao mesmo tempo, tutela os serviços de informação, as Secretas! E por aí adiante.



O problema é que 90% dos políticos estão a deixar ficar mal vistos os outros 10%...


Envolvidos em tantos negócios, os deputados de maior peso político parecem depois não ter tempo para legislar; razão pela qual as Leis de maior importância económica são elaboradas nas grandes sociedades de advogados. Estas firmas dominam a produção legislativa, substituem-se ao Parlamento. Além do mais, faturam milhões em pareceres a explicar essas mesmas leis. Os deputados nem sequer exercem o mandato com dignidade. Aceitam a disciplina partidária de forma acrítica. Os da maioria aprovam tudo o que o Governo lhes ordena; os das restantes bancadas são correias de transmissão das direções partidárias. Com este comportamento, os deputados violam até a Constituição, que determina, no seu artigo 155º, que "os deputados exercem livremente o seu mandato". 

Com este balanço lamentável, é com alívio que vemos a saída destes deputados. Venham outros, que respeitem o serviço público e a democracia. Precisamos urgentemente de um Parlamento que não envergonhe o País. 


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Comentário:

É cada vez mais sabido pelos povos de todo o mundo que os deputados parlamentares (com excepção de alguns que não pertencem aos Centrões), não passam de palhaços oportunistas a soldo do Poder Financeiro.

Só a Democracia Directa, que a tecnologia já permite, nos permitirá livrar destas sanguessugas «democraticamente eleitas»…