segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Elites urbanas

Na edição de 18 de Fevereiro de 2005, a dois dias das eleições, o Expresso revelava o resultados das sondagens na primeira página: PS - 45%, PSD – 31%, CDU – 8%, CDS – 8% e BE – 6%.

Na sua coluna semanal, o director do Expresso, José António Saraiva, desenvolveu uma tese. Concordando, embora, com os resultados do PS, PSD e CDU, tinha, quanto ao CDS e BE uma perspectiva curiosa:


“Mas agora as coisas serão mais complicadas. Sobretudo por uma razão: porque Paulo Portas entrou na área do poder. A sua associação ao PSD no Governo deu-lhe um acréscimo de respeitabilidade - e tornou-o «um amigo» aos olhos dos sociais-democratas.

A forma leal como Portas cumpriu o seu papel no Executivo, a forma hábil como geriu a saída do poder, transformou-o numa boa alternativa de voto para muitos simpatizantes do PSD desiludidos com o comportamento imprevisível de Santana Lopes. Julgo, por isso, que o CDS vai ser a grande surpresa destas eleições. Digamos que aos 9% que teve em 2002 poderão somar-se 3% vindos da área social-democrata - o que lhe daria cerca de 12%.”

“Quanto a Louçã, tem um problema complicado a resolver: a sua grande arma era a frescura, a criatividade, a forma aparentemente nova como apresentava algumas ideias velhas.

Ora a frescura começa a perder-se. As causas que o Bloco de Esquerda lançou (como o aborto ou os homossexuais) começam a banalizar-se. E não é nesta altura claro para ninguém como conseguirá dar o salto de «partido engraçado» para «partido instalado».
Esta campanha revelou mesmo que nesse salto poderá estar a morte do artista - ou seja, o fim de um ciclo político que atirou Louçã e mais uns tantos para a ribalta. Por isso, o BE poderá crescer muito menos do que se espera. Dificilmente chegará aos 5%.”


Uma semana depois, o nosso bom José António Saraiva, na sua coluna semanal, rectificava suavemente a sua tese em post scriptum:


“P .S. - Nas previsões aqui feitas há oito dias, acertei nos resultados de três partidos: PS, PSD e PCP. Mas falhei redondamente em dois: CDS e BE. Acreditei que Portas não seria penalizado por ter feito parte do Governo e que receberia muitos votos de «fugitivos» do PSD. Ora o CDS recebeu de facto muitos votos de ex-eleitores sociais-democratas mas perdeu ainda mais para a abstenção e para outros partidos.

Quanto ao BE, provou-se que as «causas» que defende - ligadas à homossexualidade ou ao aborto -, aliadas a uma certa ideia de que é a voz moderna dos desesperados, continuam a render votos em tempo de crise social e de valores, e entram como faca em manteiga em certas elites urbanas com pretensões intelectuais.”


É sabido, José António Saraiva, que você não tem pretensões intelectuais. Ninguém, aliás, lho poderia exigir. Contudo, se, como afirma, há causas que entram como faca em manteiga em certas elites urbanas, há colunistas, urbanos também, onde a racionalidade sente enorme dificuldade em penetrar.

Você observa que no Bloco de Esquerda a frescura começa a perder-se. Não tenho a certeza. Quanto a certas colunas do Expresso, aí, sem dúvida, a necessidade de arejamento é gritante.

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