segunda-feira, setembro 15, 2008

Aristides de Sousa Mendes - Quando o Memorando atraiçoa a "Memória"

Aristides de Sousa Mendes

Para uns, Sousa Mendes é recordado como um «homem bom e justo» que, em Junho de 1940, contrariando as ordens do Governo de Lisboa, emitiu vistos e passaportes e, nalguns casos, chegou mesmo a atribuir falsamente a identidade portuguesa a milhares de foragidos, sobretudo judeus, que pretendiam a todo o custo alcançar os lugares tidos por seguros, como Portugal, que Salazar conseguiu manter neutral no conflito.

Para outros, o cônsul está longe de justificar o papel de «herói» que muitos lhe atribuem e, aqui e ali, tentam repor a verdade àquilo a que chamam «falsificação da História» e, através de factos, muitos deles documentados, desmistificam a «lenda» Sousa Mendes.



Portugal, os Cônsules, e os Refugiados Judeus (1938-1941)

Texto de Avraham Milgram

(Tradução minha)


No site Yad Vashem – SHOA Resource Center


(...) Uma curta análise das listas e vistos passados por Aristides de Sousa Mendes aos Judeus e não-Judeus em Maio e Junho de 1040, mostra – sem diminuir a grandeza da sua atitude – que o número de vistos concedidos pelo cônsul era menor do que os que são mencionados pela literatura, levantando uma série de questões relativas a Portugal e à entrada de refugiados Judeus.

Foi provavelmente Harry Ezratty o primeiro a mencionar, num artigo publicado em 1964, que Aristides de Sousa Mendes tinha salvo 30,000 refugiados, dos quais 10,000 judeus, um número que desde então tem sido repetido automaticamente por jornalistas e académicos. Ou seja, Ezratty, imprudentemente, pegou no número total de judeus que passaram por Portugal e atribuiu-o ao trabalho de Aristides de Sousa Mendes. De acordo com a lista dos vistos emitidos no consulado de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes passou 2,862 vistos entre 1 de Janeiro e 22 de Junho de 1940. A maioria, ou seja, 1,575 vistos, foram passados entre 11 e 22 de Junho, nos últimos dias da sua carreira consular em Bordéus. Nunca saberemos exactamente quantos vistos terá passado nos sub-postos de Bayonnne e na cidade de Hendaye, lugares por onde ele passou ao ser chamado a Lisboa por insubordinação; nestes lugares Aristides passou vistos sem o selo consular e apenas escritos à mão, e portanto não foram registrados em lado nenhum.

Por forma a ter uma ideia do exagero no número de judeus que na realidade entraram em Portugal por um lado, e do número de judeus que se acredita terem entrado graças a Sousa Mendes por outro, basta citar que, no relatório do HICEM (organização judaica que ajudava os judeus a emigrar), 1,548 Judeus que vieram para Portugal como refugiados sem vistos para outros países, saíram de navio de Lisboa na segunda metade do ano 1940, e 4,908 Judeus, com a ajuda do HICEM, partiram durante 1941. A este número, devemos acrescentar aproximadamente 2,000 Judeus que vieram directamente de Itália, Alemanha, e de outros países anexados por alemães e possuidores de vistos americanos.

No total, em dezoito meses, de Julho de 1940 Dezembro de 1941, o HICEM tomou conta do transporte por navio de 8,346 Judeus que deixaram Lisboa para países de além-mar. Tudo indica que temos de acrescentar a estes números os Judeus que transitaram e deixaram Portugal pelos seus próprios meios. Mesmo assim, a discrepância entre a realidade e o número de vistos passados por Aristides de Sousa Mendes é grande. De qualquer forma, devemos concluir que a maioria dos Judeus que, no Verão de 1940, conseguiram atravessar os Pirinéus e a Espanha e chegar à fronteira portuguesa, o fizeram graças a Aristides de Sousa Mendes. (...)


As contribuições para instituições de caridade (de Aristides)

(...) Outro episódio que irritou o MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros), e que finalmente levou Sousa Mendes a ser chamado de volta ao consulado geral, tem a sua origem num memorando enviado pela embaixada britânica em Lisboa ao MNE, queixando-se do comportamento do Cônsul português em Bordéus que pedia taxas extras aos cidadãos britânicos que pediam vistos: O Cônsul Português de Bordéus tem estado a adiar para depois das horas de serviço todos os pedidos de vistos e tem cobrado uma taxa especial; em pelos menos um caso, ao requerente foi também pedido que contribuísse para um fundo de caridade português antes do visto ser concedido. Memorando da Embaixada Britânica em Lisboa de 20 de Junho de 1940, AMNE RC M 779.

Em 1923, enquanto colocado em São Francisco, Aristides de Sousa Mendes teve um conflito com a comunidade portuguesa local sobre uma contribuição para uma instituição de caridade que os luso-americanos recusaram. O caso, que não chegou a ser reportado ao MNE, chegou à imprensa sob a forma de insultos e o MNE considerou-o um sério erro. (Afonso Rui, Injustiça, pp. 22-26).

Em Bordéus, não foi, portanto, a primeira vez que Aristides de Sousa Mendes se empenhou numa causa caritativa. (...)


Este texto de Avraham Milgram, no site Yad Vashem, confirma em muitos pontos o artigo sobre Aristides de Sousa Mendes, publicado no jornal "O Diabo", no dia 27 de Julho de 2004 (página 20): Embaixador desmistifica «lenda» Sousa Mendes ou aqui - «Voltando à lenda do Sousa Mendes»:

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7 comentários:

Carlos Marques disse...

O Professor Saraiva revela uma conversa com o Professor Leite Pinto:

"Fala, a propósito, na operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irun, na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irun carregados de volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos. A operação foi mantida rigorosamente secreta porque as autoridades espanholas não consentiriam. Segundo um protocolo firmado pelas autoridades ferroviárias dos dois países, os vagões deviam circular selados, quer à ida quer à vinda. Um dos que assim salvaram a vida foi o Barão de Rotschild. O embaixador Teixeira de Sampaio confirmou-me, mais tarde, esses factos.

O salvamento de 30.000 refugiados deu-se ao mesmo tempo que o cônsul de Portugal em Bordéus, em cumplicidade com dois funcionários da Pide, falsificava algumas centenas de vistos, que vendia por bom preço a emigrantes com dinheiro. Um dos que utilizaram esta via supôs que todos os outros vieram do mesmo modo - e assim nasceu a versão, hoje oficialmente consagrada, de que a operação de salvamento se deve ao cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Este, homem muito afecto ao Estado Novo, nem sequer foi demitido, mas sim colocado na situação de aguardar aposentação. Os seus cúmplices da Pide foram julgados, condenados e demitidos".

Anónimo disse...

Amigo Diogo eu mesma já havia falado de Aristides Mendes no meu blog do Multiply
Teci elogios...na (época)
Contigo meu doce amigo estou sempre aprender a actualizar-me....
Obrigada por teres a "minha tertutlia virtual, não seu se subscreves-te futuras postagens, mas tens lá respostas para ti,
Boa semana
Beijos no coraçao

Zorze disse...

Muitas riquezas e pobrezas se fizeram e se destruiram naquela época.

Uma frase de um recente filme americano do qual não me lembro o nome, era:

"Quando as ruas estiverem cheias de sangue, compra imóveis".

Abraço,
Zorze

Johnny Drake disse...

As mentiras "politicamente correctas" terão, um dia, o seu fim!
Este post merecia ser imprimido num folheto e espalhado pela cidade para que certas mentes abrissem os olhos!

Um abraço!

JD

xatoo disse...

é verdade que ASM, que tinha 14 filhos e uma despesa gigantesca para gerir, fez uma falcatruas vendendo vistos a granel e empochando o dinheiro em proveito próprio; o Estado Novo chamou-o à pedra e passou-o compulsivamente à reserva - quem diria que um vígaro destes haveria um dia de ser transformado em "herói" pela Judiaria Sionista - pela mão financeira destes biltres teve até recentemente honras de ser colocado entre "os 10 maiores portugueses de sempre" naquele famigerado concurso da RTP; aqueles paineis publicitários que naquela altura enxamearam o país com as trombas do vigarista Aristides de Sousa Mendes custaram 600 contos por semana cada um. São descomunais os interesses que se ocultam por detrás destas mistificações clandestinamente organizadas.

Anónimo disse...

http://www.vho.org/aaargh/fran/livres7/diabo0603.pdf

Acoral

Diogo disse...

Obrigado Acoral.

Vou poder completar o post com o respectivo link.