sexta-feira, dezembro 28, 2012

MAIS IGUALDADE MENOS "LIBERDADE"


"A desigualdade é corrosiva. Ela apodrece as sociedades a partir de dentro. A repercussão das diferenças materiais leva algum tempo a mostrar-se: mas a seu tempo aumenta a concorrência pelo estatuto social e bens; as pessoas experimentam uma sensação crescente de superioridade (ou de inferioridade) segundo as suas posses; cristaliza-se o preconceito para com as posições inferiores da escala social; o crime aumenta e as patologias do desfavorecimento social vão-se acentuando cada vez mais. O legado da criação de riqueza não regulada é realmente amargo".

Tony Judt em «Um tratado sobre os nossos atuais descontentamentos.»

Tony Judt (Londres, 1948 — Nova Iorque, 2010) foi um historiador, escritor e professor universitário britânico. Nos últimos anos, Judt lecionou na Universidade de Nova York, a cadeira de Estudos Europeus. Em 2006 foi finalista do Prémio Pulitzer com o livro "Pós-Guerra", uma análise na Europa de meados da década de 1940 até os primeiros anos do novo milénio.


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14 comentários:

Jorge disse...

O Passos Coelho pediu no facebook numa carta aos portugueses que: "procurem a força para, quando olharem os vossos filhos e netos, o façam não com pesar mas com o orgulho de quem sabe que os sacrifícios que fazemos hoje, as difíceis decisões que estamos a tomar, fazemo-lo para que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor".

Homónimo disse...

A raça humana é aquela onde a diferença social é infinitamente maior do que em qualquer outra espécie da natureza.

Insurgente disse...

Que absurda sociedade é esta em que os desperdícios de uns constituem os meios de sobrevivência de outros? Como se criou tal desigualdade? Como é que a admitimos passivamente, parecendo quase um fenómeno natural? Onde está o nosso amor-próprio? Enterrado sob milhões de horas de propaganda de telejornais?

Anónimo disse...

Para começar seria necessário que as pessoas rejeitassem os princípios base que regem o jogo social e económico das suas sociedades. Coisa que nem sequer concebem conceptualmente. E dentro dos que entendem grande parte está indisponível para tal. Depois seria necessária criatividade para criar algo novo. Mas o que existe em termos populares é um entusiasmo pelas “reformas” do que já existe, não por mudanças demasiado reais.

A um nível mais pessoal, a igualdade (em qualquer das suas formas e feitios) tal como a liberdade (palavra tão gasta que já não quer dizer muito) exige uma vontade colectiva. Algo que falha. Depois da vontade é ainda necessário uma série sacrifícios para manter um sistema saudável e estável. Sacrifícios para os quais quase todos estão indisponíveis.

Assim sendo tais pretensões são insustentáveis.

Diogo disse...

Harmódio,

A evolução tecnológica tem vindo a acelerar exponencialmente em todos os campos, sobretudo a partir dos finais do século XIX. Hoje, o conhecimento na informática, na automação, nas telecomunicações, na inteligência artificial e em milhentos de outros campos, está a duplicar anualmente.

O desemprego que se sente hoje, embora em parte conjuntural (com a destruição da economia por parte da Grande Finança e a concorrência da mão de obra escrava dos países pobres), deve-se (o desemprego) sobretudo à evolução tecnológica: o facto é que os empregos estão a desaparecer em todas as áreas.

Donde, sem empregos, não há salários. Sem salários, não há vendas. Sem vendas não há investimento privado. Logo, a propriedade privada dos meios de produção, os lucros e as fortunas tornam-se impossíveis.

Dentro em pouco, viveremos num mundo em que só as máquinas produzirão todos os bens que tivermos necessidade, e aos indivíduos serão distribuídas senhas de consumo (dinheiro) que cada um usará como lhe aprouver.

Anónimo disse...

Diogo,

Não dou devoto da religião do progresso. De inevitável nada tem. O desemprego tem causas complexas que têm mais relação com custos laborais por hora e consumos de energia do que qualquer “inovação” da nossa parte. Em Portugal dá um pouco a ilusão que se trata apenas de um desfasamento de qualificações porque embarcámos na ficção do “país de serviços”. A questão em termos muito simples é a seguinte, houve países que tiveram visão e planearam para isto e outros que não tiveram visão e mesmo que ela tivesse existido não existido vontade para planear nem um piquenique (o nosso caso). Futurologia não faço mas aviso que já vi essa previsão há várias décadas e até agora as regras do jogo continuam a ser mesmas e não têm relação com a “técnica”.

Diogo disse...

Enclavept,

Desde a Renascença que não conheço qualquer retrocesso na evolução tecnológica. Muito pelo contrário – esta tem vindo a crescer exponencialmente. Basta ver os casos da agricultura, dos navios-fábrica, da automatização das fábricas e dos serviços.

Por outro lado, nenhum país se preparou para isto. Grassa em todo o planeta, de uma forma crescente, o desemprego. Basta, portanto, ver as tendências em todos os campos e todos eles são taxativos: a máquina está crescentemente a substituir o homem na produção.

Carlos disse...

Caro Diogo

“A desigualdade é corrosiva.”
Penso que a natureza nunca leu nada sobre isso... :)
Ao contrário da desigualdade, a igualdade, não existe.
A imposição da igualdade é igualmente corrosiva.
Penso que a melhor forma será elaborar leis que previnam a possibilidade, ou reduzam a possibilidade, do homem ser explorado. Desde que haja vontade.
Um 2013 cheio de coisas boas.

Anónimo disse...

“A desigualdade é corrosiva.”
"Penso que a natureza nunca leu nada sobre isso... :)
Ao contrário da desigualdade, a igualdade, não existe."

Clap Clap.

Diogo disse...

«“A desigualdade é corrosiva.” Penso que a natureza nunca leu nada sobre isso... :)»

A desigualdade que é aqui referida é entre seres humanos, não entre um leão e um rato. Entre os leões e entre os ratos (nem entre nenhuns seres à face da terra) existe um bilionésimo da disparidade que entre os humanos. :)

infinitoamanajé disse...

Caros amigos.
Bom ano para todos! Todas as bençãos!
Foi e é ótimo conviver com todas as diferenças, os infinitos espelhos e ângulos desta unidade que emana do centro criador de onde tudo vem e para onde tudo vai. Continuemos nosso treinamento de amor incondicional, este é o propósito de nossas existências, seja na beira mar ou no interior, todos buscam sempre mais amor.
Os dedos nas mágoas do mundo são para não perdermos de vista o necessário perdão aos que pensaram poder nos ferir. Perdão a nós mesmos, com nossos programas e memórias escravagistas, nossos verdadeiros únicos escravizadores carcereiros.

Que o ano traga-nos a luz que extingue esta escuridão que nos impede ver o quão vazio é este labirinto do nada em que nos deixamos aprisionar.

Que cada um nesta noite possa admirar as miríades de estrelas e refletir sobre a imensidão da oportunidade deste momento.

Feliz oportunidade nova a cada agora deste 2013, a todos; sem exceções.
Bendita seja a Internet. Longa e saudável vida a todos.
Vos amo e sou grato.

Anónimo disse...

Aldo luiz és um kidooo...

alf disse...

Este é um ponto essencial, a chave de todos os problemas, a Natureza Humana. O nosso cérebro está programado para decidir segundo as nossas conveniências, aquilo que ele entende ser a nossa conveniência. Somos todos assim.

Aqueles que pouco ou nada têm são a favor da igualdade, da redistribuição; à medida que as pessoas começam a ter mais do que os outros, começam a querer conservar o que têm, o seu entendimento do mundo modifica-se, começam a achar que se têm é porque "merecem", depois porque são superiores, depois olham para os que não têm como um empecilho, descartável, selecionado pelas grandes leis da natureza. Não percebem que também eles acabarão por ser "selecionados para baixo" porque este processo competitivo seleciona um número cada vez mais pequeno de pessoas.

A nossa classe média está agora a começar a sofrer este processo; até agora foi indiferente à desigualdade, esteve-se nas tintas para pobreza nacional, achou muito mal que "toda a gente quizesse ser doutor", está ansiosa por voltar ao sistema que obriga os filhos dos operários a serem operários; só que à escala europeia, estão do lado de baixo e agora vão entrar no caminho descendente que fatalmente lhes cabe à escala europeia

Carlos disse...

Caro Diogo

“A desigualdade que é aqui referida é entre seres humanos,...”
É sobre isso que estou a falar. Então acertei.

O alf acaba de expor o que tenho andado a dizer. “A natureza humana”
Muitas das teorias políticas, económicas, sociais, etc, que o homem tem inventado e propagandeado como se da algo excepcional se tratasse, por um lado, não têm levado em conta, por conveniência, por ignorância, ou até por maldade, a natureza humana. E por outro, fazem um aproveitamento vergonhoso das facetas pouco dignas do ser humano. O que invariávelmente acaba em desastre.

“Aqueles que pouco ou nada têm são a favor da igualdade,...(*) ...à medida que as pessoas começam a ter mais do que os outros,… ...o seu entendimento do mundo modifica-se, ...” “O nosso cérebro está programado para decidir segundo as nossas conveniências, aquilo que ele entende ser a nossa conveniência.”

*A inveja é danada. Não do trabalho, mas do produto desse trabalho, o carro, a casa, as férias, etc.

Uma forma de contornar esse problema foi criar um sistema de aumento progressivo dos impostos. Satisfez a maioria, mas é injusto. A porção afectada voltou a contornar o problema criado (a injustiça praticada só contra eles, um grupo restrito), criando a possibilidade de haver deduções à colecta. Claro que como também são humanos exagerou (praticaram também eles uma injustiça) e ficaram em muitos casos a pagar/contribuir menos, do que se a 1ª injustiça (aumento progressivo dos impostos ) não tivesse sido praticada.

Seria uma verdadeira revolução se os governantes mandassem às málvas a progressividade dos impostos e as deduções à colecta e aplicassem uma taxa igual para todos os rendimentos, independentemente de ser singular ou colectivo. As fugas legalizadas aos impostos deixariam de existir. O estado faria uma pipa de massa e moralizaria a sociedade tornando-a mais justa.
Os governantes não são pessoas de bem quando fingem penalizar os de maior rendimento, ou perpetuam essa ideia, e realmente entalam os de menor rendimento. É aqui que entram as teorias tão badaladas para dar uma ajudinha...