segunda-feira, dezembro 10, 2012

Paulo Morais - Os negócios dominam a vida política. A promiscuidade entre os actores políticos e os grupos económicos é obscena




Correio da Manhã - 4 Dezembro 2012

Texto de Paulo Morais, Professor Universitário


Tolerância zero

Este fenómeno começa por se fazer sentir no Parlamento, mas chega a todo o lado. Há dezenas de deputados que acumulam a função parlamentar com a de administrador, director ou consultor de empresas que desenvolvem grandes negócios com o Estado. Em todas as comissões relevantes há conflitos de interesses, reais ou potenciais. A mais importante, a que acompanha o Programa de Assistência Financeira, tem por funções fiscalizar as medidas previstas no memorando de entendimento com a Troika, nomeadamente as privatizações ou o apoio à Banca. Pois nesta comissão tem assento Miguel Frasquilho que trabalha na Essi, empresa do grupo financeiro BES que, ainda por cima, assessorou os chineses na compra da EDP; a que se junta Adolfo Mesquita Nunes, advogado da poderosa sociedade Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva, justamente o escritório de referência da eléctrica. Na comissão de agricultura, o deputado Manuel Isaac fiscaliza um ministério que influencia a atribuição de subsídios à empresa de que é administrador. O presidente da comissão de Segurança Social, José Manuel Canavarro, é consultor do Montepio Geral, banco cuja actividade se desenvolve na área da solidariedade. Os exemplos sucedem-se.

A promiscuidade contamina até o insuspeito Banco de Portugal, em cujo conselho consultivo têm assento Almerindo Marques, ligado ao BES, ou António de Sousa, até há pouco presidente da Associação de Bancos. O banco central tem a sua actividade vigiada por aqueles que deveria supervisionar.

Pelo lado dos privados, os grupos económicos que beneficiam desta promiscuidade estão sempre disponíveis para acolher os que os favorecem. Não por acaso, ex-ministros das obras públicas transitam para as empresas com maior participação nas parcerias público-privadas. Ferreira do Amaral preside à Lusoponte, Jorge Coelho e Valente de Oliveira administram a Mota-Engil.

Para erradicar esta teia de negócios que domina a política, o Parlamento deve criar um regime de incompatibilidades muito restritivo para os detentores de cargos públicos. Que deve, num período transitório de higienização, ser de exclusividade total.


Comentário


Ou, em alternativa, para erradicar esta teia de negócios que domina a política, justiçá-los um a um, como se esmagam aranhas.

5 comentários:

Rui disse...

Se quase toda a população sabe o que é esta canalha, porque é que os órgãos institucionais não fazem nada? E se o presidente da república, o ministério público e a justiça não fazem nada, porque razão não deverá ser o povo a fazê-lo? Não seria da mais elementar justiça?

Pacífico disse...

Como combater uma classe política usurpadora e gananciosa que rapina tudo à sua volta? Pelo voto e com este sistema democrático, não é seguramente.

Miguel disse...

O caso é que a maioria das pessoas suporta o sistema corrupto.
Uns porque dele beneficiam directa ou indirectamente,outros porque aspiram a beneficiar.
Os que não apoiam dividem-se entre aqueles que o combatem à sua medida e vão sofrendo prejuízos pessoais e os que incitam os outros,por falta de coragem de enfrentar a perseguição e o isolamento.
Um dia,se houver maioria,não é difícil correr com eles.
Mas,deve ter-se a noção que combater as quadrilhas políticas,é combater as falanges de oportunistas que os apoiam e todos os coniventes no aparelho judicial e imprensa.
E,não é necessário que o combate seja ideológico,como muitas vezes se lê por aqui.
Trata-se de uma questão criminal.

PEDRO LOPES disse...

O Paulo Morais tem de ser silenciado.
Sempre a mandar bojardas esse gajo.
Que vá mazé trabalhar e esteja caladinho. E aponta nomes assim sem mais nem menos? E que tal uma queixa por difamação?

Deixem trabalhar este governo em paz, que só quer o bem da nação.
O Passos Coelho é um grande estadista, tal como o Portas e o Relvas, este ultimo um exemplo de honestidade e elevação intelectual e moral.

Deixando o sarcasmo de lado, já viram que o Paulo Morais aponta nomes, chama os bois pelos nomes, já há uns tempos para cá, e nenhum dos visados aparece a defender a honra nem a ameaçar com queixa por difamação?
Ficam caladinhos que nem ratos pois sabem que este fala a verdade.

O Medina já viu o nome dele envolto no caso "Monte de Merda", portanto em breve devem fazer o mesmo ao Paulo Morais, pois matá-lo dava muito nas vistas.
E podem querer que o povo que vota neles cai na esparrela e passam a ver o Paulo Morais como mais um que vai á Televisão falar.

Diogo disse...

Rui - Exacto! Tem de ser o povo, mas recorrendo às mais modernas tecnologias de informação. Não podem ser manadas a atacar às cegas.


Pacífico - Quando os órgãos «democráticos» estão sequestrados pelo Grande Dinheiro, a única forma de os combater é esvaziá-los.


Miguel - Há grande e pequena corrupção. A pequena, além de ser impossível de combater, tem pouco peso (quero com isto dizer que, os beneficiados dessa corrupção são tantos que o benefício do seu combate não compensa. Com a Grande Corrupção, o caso muda totalmente de figura.

Os que não apoiam a Grande Corrupção dividem-se em quatro grandes grupos: 1 Os que não fazem rigorosamente nada, 2 - Aqueles que o combatem à sua medida e vão sofrendo prejuízos pessoais, 3 - Os que incitam os outros para que o acompanhem no combate 4 – Os que se limitam a incitar os outros.

Aqui não se lê que a corrupção é uma questão ideológica. Aqui lê-se, muito claramente que é uma questão criminal mas que só pode ser resolvida violentamente, porque, como você bem disse, o aparelho judicial é conivente.


Pedro Lopes - Eu nunca vi ninguém como o Paulo Morais. Nunca vi tamanha frontalidade.