quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Devido à evolução tecnológica os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos...



Euronews - 04/01/2017

Por Sean Welsh, investigador na área da ética robótica na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.

Os robôs vão substituir muitos seres humanos, talvez mesmo a maior parte, no local de trabalho. Desde a Revolução Industrial que o processo de automação tem vindo a eliminar postos de trabalho ocupados por homens e mulheres. No cenário que temos, os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos, até os trabalhadores da construção civil. Na verdade, mesmo as actividades de elevado estatuto cognitivo, como o Direito e a Medicina, se encontram ameaçadas pela automação.

Carl Frey e Michael Osborne, da Oxford Business School, falam na ocorrência de um fenómeno de desemprego massivo no sector das tecnologias nos próximos 20 a 30 anos – estão em risco, dizem, entre metade a três quartos dos empregos que existem actualmente. Por isso, a questão é mais que pertinente: vão ser criados novos postos de trabalho para compensar aqueles que serão perdidos para os robôs?

Só o tempo poderá responder. Se Frey e Osborne estiverem certos, as empresas vão começar a optar pela racionalização de recursos em grande escala: poupa-se nos salários e aumenta-se exponencialmente a capacidade de trabalho.

Provavelmente, teremos camiões automatizados sem motoristas, por exemplo. As cargas que transportam poderão ser colocadas e retiradas por robôs. O atendimento aos clientes que procuram esses produtos poderá a vir a ser realizado por autómatos.

A lógica desta realidade deixa milhões e milhões de pessoas sem emprego.


Tim Dunlop, autor da obra “Why the Future is Workless” [Porque é que no futuro não haverá empregos], afirma que os governos têm de parar de fingir que os níveis de emprego vão regressar ao que eram antes e começar a reflectir num mundo pós-trabalho. Tal como muitos outros especialistas, Dunlop defende um rendimento básico universal como a medida política necessária na transição social para um mundo onde o trabalho deixa de ocupar um lugar central no dia a dia das pessoas.

É certo que previsões não são factos. Pode ser que estas preocupações sejam infundadas. As empresas até poderão vir a criar outros postos de trabalho, que ainda não concebemos hoje em dia.

No entanto, é verdade que os observadores apontam o dedo às novas tendências que sobressaem no mundo da tecnologia. Há várias startups, com um número de trabalhadores ínfimo, a atingirem uma valorização astronómica. Empregando simplesmente algumas dezenas de pessoas, o YouTube, o Instagram e o WhatsApp foram comprados em negócios de milhares de milhões. Por outro lado, as funções eminentemente tecnológicas não serão uma resposta para uma quantidade massiva de camionistas, lojistas ou outros trabalhadores à procura de emprego.

Imaginemos, mais uma vez, um cenário onde 1 em cada 10, ou até 1 em cada 5, ou mesmo 1 em cada 2 seres humanos fica sem trabalho e sem perspectivas realistas de arranjar outro, porque os robôs operam mais rapidamente, com menos custos, 24 horas por dia, e nem sequer se queixam. As limitações que, nos dias que correm, já sugerem que o do Bem-estar Social iriam agravar-se e muito com do domínio da máquina na actividade produtiva.



Martin Ford, que escreveu “The Rise of the Robots” [A Ascensão dos Robôs], conta uma história que envolve Henry Ford II e Walter Reuther, responsável sindical do sector automóvel. Ambos estavam a visitar uma nova fábrica de carros automatizada. Ford provoca Reuther: “Como é que vai fazer para que os robôs paguem as quotas do sindicato?”. Resposta de Reuther: “E como é que senhor vai fazer para que eles comprem os seus carros?”.

Segundo o economista francês Thomas Piketty, a sociedade já está a regredir rumo às desigualdades extremas, em termos de distribuição de rendimentos, que se viviam na altura de Austen e Balzac. Se os robôs vierem a substituir totalmente a força de trabalho, que rendimento disponível terão as pessoas para comprar os produtos feitos por esses mesmos robôs?

Há quem diga que é por esta razão que o sistema capitalista poderá vir a apoiar o conceito de rendimento básico universal. Outras alternativas apontam para um aumento dos impostos para suportar as despesas do Estado social ou a aplicação de políticas proteccionistas “anti-robôs”.

É verdade que os robôs estão substituindo muitos seres humanos. Se irá ou não haver novos postos de trabalho suficientes, esse será um dos grandes desafios com que a sociedade se irá debater.

4 comentários:

João disse...

Diogo, será que teremos "computadores" capazes de fazer e responder a perguntas totalmente abstractas, como "Quem sou eu?" "Por que estou aqui?" "O que é Deus?"

A pergunta óbvia para os humanos é porque é que os computadores precisam de pessoas? A resposta óbvia é que os computadores não precisarão de nós.

Os " computadores " tornar-se-ão outra espécie ou grupo de espécies que serão iguais aos Humanos de muitas maneiras e superiores em muitas outras?

Simões disse...

Só há mesmo uma solução, taxar as unidades de produção, quais quer que elas sejam, uma vez que todas as empresas tenderão a ser de capital intensivo e, como tal, também terão que ser chamadas a assumir responsabilidades sociais. Não será por acaso que Bruxelas já começou a abrir a pestana e a falar na necessidade de ser instituído um rendimento garantido generalizado a todos os cidadãos europeus. Agora há que encontrar uma solução para obter os meios que permitam pagá-lo bem como financiar a Segurança Social, uma vez que o modelo atual, baseado na taxação do fator trabalho, vai falir, a curto prazo. É por isso que a discussão à volta da TSU, é uma mera medida destinada a manter os incautos dos cidadãos distraídos. Não adianta o Vieira da Silva andar a inventar e a meter a cabeça na areia. O atual modelo de financiamento da SS é insustentável, a curto prazo, e há que encontrar alternativas que terão, obrigatoriamente, que ser discutidas e encontradas, no mínimo ao nível da Europa,

João disse...

A meu ver poderá não ser assim tão dramático. A questão é já antiga. Parece-me que desde já deverá ser criado um imposto tecnológico que se agrava ou alivia em função do grau de desempregabilidade. Alimentaria a Segurança Social nos fundos para melhor apoio social em eventual acréscimo de desemprego, por um lado. Por outro, desincentivaria a penetração rápida das novas tecnologias no processo produtivo e pós venda. Fica aqui esta ideia!

Diogo disse...

João,

Eu julgo que não terá nada de dramático se as pessoas perceberem de facto que vão ser todas substituídas por robôs.

Esse imposto tecnológico poderá facilitar nesta fase de transição, assim como um rendimento básico universal. Mas única solução passará por socializar as máquinas e a produção, distribuindo uma mensalidade a todos.

O desincentivo da penetração das novas tecnologias é contraproducente.