segunda-feira, maio 09, 2005

Um TGV in«dispensável»



No Expresso na edição de 30 de Abril de 2005, o ex-presidente da CP, Ernesto Martins de Brito afirmava sabiamente:

AS Alterações propostas pelo ex-ministro das Obras Públicas, António Mexia, ao projecto da rede de alta velocidade, são, segundo o ex-presidente da CP, Ernesto Martins de Brito, duplamente negativas para Portugal.

Em primeiro lugar, condenam a utilização da alta velocidade entre Lisboa e Porto, mantendo um troço de 70 quilómetros da actual linha do Norte, por onde circula 85% do tráfego ferroviário nacional, incluindo o de mercadorias e o serviço regional. Em segundo lugar, reduzem o investimento global em cerca de € 6000 milhões, «cortando substancialmente o efeito dinamizador que este projecto teria na economia portuguesa».

Martins de Brito defende que o projecto de alta velocidade deveria ser concretizado na perspectiva de um investimento viável a longo prazo, que dote o país de uma infra-estrutura ferroviária competitiva. «Não faz sentido investir menos, se esse investimento não constituir uma solução de longo prazo», refere, adiantando, por outro lado, que «esses cortes também não fazem sentido se o projecto seguir o modelo de Parceria Público-Privada (PPP). O investimento público ficaria dentro dos valores que podem ser suportados pelo Estado. O restante seria investido por privados».

«Também não acredito que o troço de 70 quilómetros da actual linha do Norte a ser utilizado pela rede de alta velocidade contribua significativamente para a redução de € 6000 milhões, o que colocaria o custo de cada quilómetro de linha construída nos valores mais elevados dos projectos de alta velocidade até hoje realizados, tornando-o mais caro que a linha ferroviária do túnel da Mancha», argumenta Martins de Brito. Outra questão preocupante é a da ligação a Madrid: «Portugal deve garantir que a ligação será feita do lado espanhol com velocidades superiores a 300 quilómetros por hora».



Aníbal Rodrigues, jornalista do Público, escreveu a 17 de Dezembro de 2003:

Manuel Queiró acredita que o traçado do TGV, anunciado na Cimeira Ibérica do mês passado, "não é um projecto do Governo", mas sim de "um grupo exterior". "Este não é um projecto de um Governo, é um projecto de um grupo exterior que se impôs sucessivamente aos dois [últimos] Governos", denunciou o dirigente do CDS/PP, anteontem à noite, em Coimbra, num debate onde foi discutido o impacte do transporte ferroviário de grande velocidade na região centro.

"É de um grupo exterior que não tem rosto, que não aparece ou só dá a cara fugazmente", reforçou o ex-deputado centrista, sem contudo nomear responsáveis. Intervindo na qualidade de membro da assistência, Manuel Queiró considerou que o projecto do TGV, "sendo o mais estruturante, será porventura o mais anti-nacionalista que poderíamos ter." Na sua opinião, "é o menos transparente do ponto de vista político, [uma vez que] não foi apresentado à opinião pública, ao Parlamento e nem sequer ao Conselho de Ministros."

Na opinião do antigo parlamentar do CDS/PP o conjunto de traçados dado a conhecer na Cimeira Ibérica realizada na Figueira da Foz (Porto-Vigo, Aveiro-Vilar Formoso, Lisboa-Porto, Lisboa-Badajoz e Évora-Faro-Huelva) "foi apresentado ao país como um facto consumado; três dias depois foram aprovados os fundos comunitários."
Circunstâncias que o levaram a considerar: "Isto é uma 'blitzkrieg' [guerra relâmpago]."

Prevendo que "a história vai emitir um julgamento muito severo sobre isto", Queiró manifestou-se esperançado pelo facto de dois dos oradores convidados, o socialista Henrique Neto e o especialista em transportes, Manuel Tão, terem também criticado a solução preconizada pelo Governo. "Os participantes que estão na mesa dão-me alguma esperança de que ainda haja alguma reacção no país", disse, acrescentando: "Os espanhóis já tiveram aquilo que queriam e nós escusamos de fazer mais asneiras do que aquelas que já fizemos."

Para Manuel Queiró, outro erro seria a construção de mais uma ponte sobre o rio Tejo: "Fazer uma asneira seria gastar os fundos comunitários que nos restam numa terceira travessia sobre o Tejo, que tornaria a estação do Oriente obsoleta." Por último, o político deixou o repto aos cerca de 70 participantes no debate: "É preciso começar a actuar para emendar a asneira - se não for possível parar esta asneira, é sinal de que já não há cidadania."

Em declarações ao PÚBLICO após o debate, Manuel Queiró apelou a uma "reacção construtiva" por parte das regiões da faixa atlântica portuguesa, nomeadamente Castelo Branco, Santarém e Leiria, que classifica como "as mais sacrificadas no novo esquema ferroviário", mas também Coimbra, Aveiro e Porto, "já que a opinião generalizada dos técnicos é a de que não haverá nem mercado nem recursos para mais do que uma ligação transversal a Espanha".

O facto de criticar uma terceira ponte sobre o Tejo prende-se com a convicção de que é possível manter o acordo com Espanha e a linha de Lisboa a Madrid pelo Alentejo e Badajoz, "através da ponte 25 de Abril e utilizando a estação do Oriente, fazendo ao mesmo tempo as adaptações necessárias às conexões com o Centro e Norte do país". Só que, para isso, advoga, "é preciso não consumir os recursos disponíveis numa nova ponte e numa nova estação em Lisboa, e aplicá-los antes nas conexões com Badajoz da linha do Porto a Lisboa e da restante rede ferroviária portuguesa".



Comentário:
Existem poucas dúvidas de que o TGV vai estruturar, dinamizar e consolidar as contas bancárias de uma dúzia de empreiteiros e de alguns políticos camaradas. Será possível que não surja quase ninguém a questionar a obra mais absurda desde a construção de dez estádios de futebol?

1 comentário:

Anónimo disse...

anibal is not spanish name