segunda-feira, maio 30, 2005

Victor Déficit

Este texto circula na Internet. É muito crítico com Vítor Constâncio. É evidente que não concordo com ele. Mas estou com dificuldade em encontrar o erro de lógica que ele, necessariamente, contém:




Vítor Constâncio propõe o congelamento dos chorudos ordenados dos Funcionários Públicos. Mas Vítor ganha 10 vezes mais que a "média" dos ordenados da Função Pública.

Vítor está preocupado com o estado financeiro do País e com os gastos do Estado. Volta a dizer que estamos de tanga. Vítor está há muito tempo à frente do Banco de Portugal. Em sua casa entram mais de 25.000 euros mensais. O governo do PSD/CDS de Durão Barroso permitiu-lhe que continuasse à frente do Banco de Portugal, desde que viesse de tempos a tempos alertar os portugueses (os que pagam impostos) de que é necessário apertar o cinto. E Vítor cumpriu meticulosamente a sua função, defendendo com unhas e dentes o Discurso da Tanga, versão I, de Durão e Manuela Ferreira Leite. Santana e Bagão mantiveram-no no Poder e ele também cumpriu.

Sócrates fartou-se de prometer de que não haveriam aumentos de impostos, que o emprego iria aumentar e que iriam existir alterações ao Código de Trabalho de Bagão Félix. Mas como Sócrates não quer assumir a responsabilidade da versão 2 do Discurso da Tanga antes das eleições autárquicas, pediu ao seu amigo, Vítor, que viesse a público dizer que a situação está má e apelar ao Presidente da República para convencer os portugueses (os tais que pagam impostos) a apertarem ainda mais o cinto.

Alguém ouviu Vítor apelar a que não construíssem os 10 estádios de luxo no Euro 2004, pagos quase exclusivamente pelo Estado e autarquias e aprovados por Sócrates como Ministro do governo Guterres?

Alguém ouviu Vítor apelar aos governos para que não comprassem submarinos por causa da crise?

Alguém ouviu Vítor pedir aos governos que não comprassem ou adiassem a compra de centenas de blindados e helicópteros de guerra de último modelo?

Alguém ouviu Vítor a chamar a atenção para o facto do TGV ser um luxo inútil de centenas de milhões de contos?

Alguém ouviu Vítor apelar aos governos para serem inflexíveis contra a gigantesca fuga aos impostos dos que mais ganham e que atinge milhares de milhões de contos?

Alguém ouviu Vítor pedir aos governos que acabem com a isenção de impostos sobre os milhões ganhos na especulação bolsista?

Alguém ouviu Vítor apelar aos senhores administradores das grandes empresas, pagos a valores iguais ou superiores aos dos países ricos, para que dêem o exemplo, baixando os seus chorudos vencimentos e prescindindo das dezenas de milhares de contos de prémios anuais?


Não, ninguém ouviu!

Ouve-se agora Vítor a fazer um frete ao amigo Sócrates, por este ter feito promessas que não eram para cumprir, a vir afirmar «isto está pior do que se pensava».

No País mais pobre da U.E., com os mais baixos salários de todos os países, com mais de 2 milhões de pobres, com 200 mil pessoas com fome e o maior fosso entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres nas estatísticas da U.E., o governador do Banco de Portugal apela aos que já estão sobrecarregados de impostos que paguem ainda mais.

Vítor, tente ser um pouco coerente. Apele publicamente aos governos que, devido à crise, o seu salário de vários milhares de contos mensais, deve ser diminuído. Que os carros luxuosos que estão ao seu serviço duram muito mais que 3 anos. Que enquanto a crise perdure, acabem as mordomias de milhares de contos, em cartões de crédito, gasolina, telefones etc.

Queremos ajudá-lo a debelar a crise Vítor. Porque não começar por si? Num caso destes Neil Armstrong diria: «uma pequena diminuição de rendimento para um homem, mas um gigantesco exemplo para todos os contribuintes (e, sobretudo, não contribuintes)».