terça-feira, março 14, 2017

Pierre Lévy - A Internet vai acabar com os políticos e instituir a Democracia Directa



Pierre Lévy

UM "CHAT" COM PIERRE LÉVY

Eduardo Veras/Agência RBS - 23/05/2000

Texto em português do Brasil


Num futuro não muito distante, as fronteiras territoriais serão abolidas e ninguém mais vai precisar de líderes. A democracia estará disseminada pelo globo, e a humanidade viverá sob um único governo planetário. Tudo graças à rede mundial de computadores, a Internet. Pelo menos é o que espera o pensador francês Pierre Lévy, 43 anos, tido como o mais optimista dos filósofos europeus contemporâneos. Em sua quinta ou sexta visita ao Brasil (ele perdeu a conta), o autor de A Inteligência Colectiva realiza uma série de conferências sobre cibercultura. Nesta segunda-feira, pela manhã, em Porto Alegre, ele concedeu esta entrevista para a Agência RBS.


Agência RBS – O Sr. diz que a Internet criou um espaço democrático, em que mais gente tem acesso à informação e maior chance de se manifestar. Mas nem todo mundo tem acesso à Internet. Isso não acabaria aumentando a distância entre pobres e ricos, por exemplo?

Pierre Lévy – Os que têm acesso à Internet estão conectados com a inteligência colectiva, todos os conhecimentos possíveis e todas as pessoas, todos os grupos de discussão. É algo vivo e muito democrático. Uma comunicação horizontal, não como a do jornal, do rádio ou da TV, que é vertical. Quem participa do movimento da cibercultura vive num universo cada vez mais democrático. Os que não participam estão obviamente excluídos. Isso é muito inquietante. A boa notícia é que há um aumento do número de conexões. A Internet é o sistema de comunicação que se reproduziu mais rapidamente em toda a história dos sistemas de comunicação. Há 10 anos, havia menos de 1% do planeta conectado. Hoje, em certos países, na Escandinávia, 80% da população está conectada. Em certos Estados norte-americanos, já se ultrapassou 50%.


Agência RBS – Em países pobres é bem diferente.

Lévy – Os dois países do mundo em que o aumento de conexões é mais forte são o Brasil e a China. Você não pode ser impaciente. Já é extraordinária a rapidez com que tudo isso vem ocorrendo. Antes de a Internet chegar a todo mundo, é preciso tempo. Se você pensar que o alfabeto foi inventado há 3 mil anos e somente depois de alguns séculos a maioria da humanidade passou a ler...


Agência RBS – O Sr. acha que vivemos um momento tão importante quanto o do advento da imprensa?

Lévy – Mais importante. Quando se inventou a imprensa, o resultado mais importante foi talvez a criação da comunidade científica, graças aos livros e revistas que traziam números correctos, desenhos correctos. Com a imprensa, a humanidade pôde acumular conhecimento. Os sábios puderam se comunicar uns com os outros. O problema da memória foi resolvido. Os homens puderam se concentrar sobre a observação e a experimentação. Hoje, a participação activa não está mais limitada a um pequeno grupo, a comunidade científica. Todas as pessoas podem participar dessa inteligência colectiva. É uma escala maior. O resultado provavelmente em uma dezena de anos será o fim das fronteiras nacionais, um governo planetário, uma nova forma de democracia, com participação mais directa.


Agência RBS – Não haveria mais os líderes, as pessoas que comandam?

LévyNo futuro, todo mundo vai comandar. Vão acabar as pessoas que comandam.


Agência RBS – É uma utopia.

Lévy – Sim. É uma utopia. Se você houvesse dito no início do século 18 que em dois séculos haveria o sufrágio universal na maioria dos países do mundo, diriam que você estava louco. A cada salto no sistema de comunicação, na inteligência colectiva da humanidade, se tem mais liberdade.


Agência RBS – O Sr. acredita que o advento da Web chega a afectar a construção do pensamento do homem contemporâneo?

Lévy – Isso já começou. As pessoas hoje não aprendem a contar como contavam antes da calculadora. O uso que se faz da memória é completamente diferente. Temos todas as informações disponíveis na Internet. Não precisamos mais saber as coisas de cor. Os instrumentos de percepção se tornaram colectivos. Do Canadá, posso saber o que se passa em Porto Alegre. Posso olhar por tudo, pelo interior do corpo humano, imagens médicas etc. Isso transforma totalmente nossa percepção do mundo.


Agência RBS – Isso muda a vida até de quem não tem acesso à Internet?

Lévy – Sim. Se muda todo o funcionamento da sociedade, muda também a sociedade para aquele que não está conectado.


Agência RBS – Como o Sr. vê o que poderíamos chamar de mau uso que se faz da Internet? A pornografia infantil, por exemplo.

Lévy – A Internet é uma espécie de projecção de tudo que há no espírito humano. No espírito humano, o sexo ocupa uma parte muito grande. É algo biológico. Se não fôssemos obcecados por sexo, não nos reproduziríamos. Temos uma certa agressividade. Se não tivéssemos, a espécie humana teria desaparecido. Essa agressividade nos serviu muito na época pré-histórica. Hoje, é preciso sublimar essa agressividade, assim como se faz com a sexualidade. Podemos sublimar a sexualidade no amor, por exemplo. Mas digamos que o instinto bruto permanece. Os comportamentos agressivos acabam se manifestando. O ciúme, os maus sentimentos que existem no espírito humano também vão aparecer na Internet. É um espaço de pensamento e comunicação em que não há censura. O que é interessante é que há menos hipocrisia.
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3 comentários:

Bruno disse...

Pierre Lévy quis dizer que o mundo está sendo tomado pela cibercultura, que ela é um tipo de inteligência na qual todos compartilham suas diversidades. “É uma inteligência distribuída por toda parte, na qual todo o saber está na humanidade, já que, ninguém sabe tudo, porém todos sabem alguma coisa”. Ou seja, todos sabem de algo e se juntarem seus conhecimentos podem saber muito mais.

Anónimo disse...

Que puta de cromo!

Nunca foi de certeza a uns fóruns onde pensamentos diferentes são censurados e os comentadores bloqueados de comentar...

Enfim... Anda a fumar broca da jeitosa!

nenafea disse...

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