quarta-feira, março 30, 2005

A hora atlântica

João Carlos Espada, consagrado escriba do Expresso, escrevia na sua coluna a 5 de Março de 2005:

A visita de George W. Bush à Europa assinalou o reencontro transatlântico. Não desapareceram as divergências entre os vários parceiros ocidentais - e nenhuma aliança entre povos livres pode existir sem divergências. Mas desapareceu o anti-americanismo militante dos líderes franceses e alemães. Foi o reencontro da aliança atlântica, em grande parte promovido sob a égide no novo presidente português da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

É importante recordar quem ficou de fora deste reencontro: o Sr. Zapatero. Tendo retirado unilateralmente as tropas espanholas do Iraque, Zapatero ficou de fora da família atlântica. É bom lembrar-lhe este facto, pois ele disse que Portugal e Espanha acertaram os relógios com a vitória eleitoral dos socialistas portugueses. Além de típica arrogância espanhola, essa afirmação é deslocada. A nossa hora é atlântica, não a de Madrid.


Ora acontece, meu caro Espada, que a 18 de Março de 2005, treze dias depois do seu avisado comentário, os media noticiaram o seguinte:

O presidente francês, Jacques Chirac, recebeu no Palácio do Eliseu o seu homólogo russo, Vladimir Putin, e os chefes de Governo de Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, e Alemanha, Gerhard Schröder. É a primeira vez que o presidente espanhol participa numa cimeira deste tipo.

Na relação entre a Rússia e a União Europeia (UE), os quatro vêm "a chave para a implementação definitiva da paz, da democracia e do estado de direito no nosso continente", disse o presidente francês, Jacques Chirac, numa conferência de imprensa conjunta.

Chirac evocou a "vontade de construir juntos uma comunidade de destino" entre a UE e a Rússia, e acrescentou que, se bem que isso vá exigir "esforços de adaptação" e "tempo", disse que "estamos resolutos" a trabalhar por ela "juntos", porque é a via da paz e da democracia "na grande Europa".



Donde, estimado Espada, se podem tirar várias conclusões:

1 - Zapatero saiu, por livre iniciativa, do clube dos mentirosos (das armas de destruição maciça no Iraque), que você denomina «família atlântica», para se juntar à família da Grande Europa, como a foto claramente demonstra. Zapatero escolheu, ao contrário do seu antecessor, não se aninhar aos pés de Bush como fizeram Blair, Berlusconi e o «trotskista» José Manuel Barroso.

2 – O Oceano Atlântico abarca seis fusos horários. A que hora atlântica é que se refere? À de Paris, à de Madrid, à de Reykjavik ou à de Washington? Cinco graus, apenas, separam Lisboa e Madrid. São vinte minutos solares. O tempo de beber uma imperial.

3 – Quanto ao anti-americanismo não tenho a certeza do que isso seja. Já quanto ao anti-bushismo e ao anti-neoconservadorismo estão mais fortes que nunca. Em todos os fusos horários. Tanto deste, como do outro lado do Atlântico.

4 - Apelidar de "reencontro transatlântico" a visita de George W. Bush à Europa é um pouco forte. Troque o termo “reencontro” por “desencontro” e talvez consiga transmitir uma imagem mais fidedigna do que se passou.

3 comentários:

Anónimo disse...

cimeira das açores: bush, blair e berlusconi

Anónimo disse...

Zapatero.....outsider ?

Anónimo disse...

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