quinta-feira, dezembro 26, 2013

As nove coisas que vão desaparecer das nossas vidas...


Artigo enviado por um amigo por email.

(Em português-Brasileiro)

(Tenciono comentá-lo mais tarde)


1. O Correio

Prepara-se para viver um mundo sem Correios. Eles estão a descair tanto com problemas financeiros que provavelmente não há maneira de os aguentar por muitos mais anos. O e-mail, Facebook e SMS, têm praticamente dizimado as cartas, que é como quem diz a receita mínima necessária para manter os Correios a funcionar. O pouco do que ainda recebemos pelo correio, todos os dias, não passa de ”lixo” e contas.


2. O Cheque

A União Europeia já está a preparar o terreno para acabar com o cheque até 2018. O processamento de cheques custa biliões de euros por ano ao sistema bancário. Cartões de plástico e transacções on-line, ou pelo telefone, vão levar à eventual extinção do cheque. Isto tem ligação directa com a morte dos Correios. Se ninguém nunca pagar as suas contas pelo correio e nunca receber as pensões pelo correio, os Correios ficam em absoluto fora do negócio.


3. O Jornal

A geração mais jovem simplesmente não lê o jornal. Eles certamente não se deslocarão a um quiosque para procurar um jornal impresso. Foi o que já aconteceu com o leiteiro e o padeiro. Quanto ao ler o jornal on-line, preparem-se para ter de pagar por isso. O aumento dos dispositivos móveis com Internet e e-readers, tem motivado todos os jornais e editoras de revistas para criar alianças. Eles reuniram-se com a Apple, Amazon, e outras grandes empresas de telefonia móvel para desenvolver um modelo de serviços de assinatura paga.


4. O Livro

Vocês podem dizer que nunca vão desistir do livro físico, que seguramos na mão enquanto lemos e vamos virando as páginas. Eu disse a mesma coisa sobre o download de música do iTunes. Eu queria que o meu CD tivesse cópia impressa. Mas eu rapidamente mudei de ideias quando descobri que poderia obter os álbuns pela metade do preço, sem sair de casa, para conseguir os últimos êxitos. A mesma coisa está a acontecer com os livros. Hoje já podemos navegar nas livrarias on-line, e até mesmo ler um capítulo pré-visualizado antes de comprar. E o preço é menos da metade do de um livro em papel. É só pensar na conveniência! Assim que começares a passar os dedos pelo ecrã, em vez do livro, vais entrar na história como se fizesses parte dela, e a desejar mais ver o que acontecerá a seguir, esquecendo logo de que estás a segurar um gadget em vez de um livro.


5. O Telefone Fixo

Já hoje não precisamos do telefone fixo. A maioria das pessoas ainda o mantém simplesmente porque sempre o tiveram. Até a própria Telecom aproveita a linha do telefone mais para serviços, como o da televisão, do que para o telefone. Inclusivamente todas as empresas de telemóveis oferecem serviço fixo gratuito porque ele já é inexpressivo.


6. A Música

Esta é uma das partes mais tristes da história da mudança. A indústria discográfica está a definhar de morte lenta. E não é só por causa de downloads ilegais. É a falta de oportunidade para a nova música inovadora chegar às pessoas que gostariam de ouvi-la. A ganância e a corrupção é que é o problema. As gravadoras e os conglomerados de rádio estão simplesmente a autodestruir-se. Mais de 40% das músicas compradas hoje são "Anexos dos Catálogos", o que significa música tradicional, com a qual o público está familiarizado. Os artistas mais antigos e consagrados. Isto também é verdade no circuito de concertos ao vivo.


7. A Televisão

As receitas dos canais televisivos tem caído drasticamente. Não apenas por causa da crise. As pessoas estão a preferir assistir a televisão e filmes a partir dos seus computadores. E, ao mesmo tempo, elas jogam e fazendo muitas outras coisas, que ocupam o tempo que costumava ser gasto assistindo a ver televisão. Programas do horário nobre descambam abaixo do menor denominador comum. A publicidade roda a cada 4 minutos e 30 segundos. Eu digo boa viagem para a maior parte de tudo isso. Está na hora das empresas do cabo serem postas de fora da nossa miséria. Deixem as pessoas escolher o que querem assistir on-line através do Netflix.


8. As coisas que hoje usamos

Muitos dos bens que usamos e possuímos já não poderemos realmente possui-los no futuro. Eles podem simplesmente ficar na "nuvem ". Hoje os nossos computadores ainda têm um disco rígido, onde guardamos as nossas fotos, músicas, filmes e documentos. O software está num CD ou DVD, sempre podemos reinstalá-lo, se for necessário. Mas tudo isso está a mudar. Os serviços de Internet oferecem "serviços em nuvem" gratuitos. Isso significa que assim que ligamos o computador, a Internet é incorporada ao sistema operativo. Assim, se clicar num ícone, ele vai abrir algo na Internet. Se guardar alguma coisa, ela será salva na nuvem. Neste mundo virtual, podemos aceder à nossa música, ou aos nossos livros, ou qualquer coisa do género, a partir de qualquer computador portátil ou dispositivo móvel. Não é porque as coisas estejam mais seguras, mas porque essa é a realidade do futuro.


9. A nossa privacidade

Se já houve um conceito, com que podemos olhar para trás com nostalgia, é o da privacidade. Isso já acabou. Ela foi-se já há muito tempo, de qualquer maneira. Vivemos a era do "big-brother". Há câmaras nas ruas, na maior parte dos edifícios, e até mesmo no nosso computador e telemóvel. E vocês podem ter certeza que funcionam 24 horas por dia, 7 dias na semana, "Eles" sabem quem és e onde estás, até as coordenadas GPS, e o Google Street View. Se comprarem alguma coisa, isso é colocado num trilião de perfis, e passam a receber anúncios reflectido essa escolha. Neste momento é possível conferir todos os teus passos, desde que te levantas até que te deitas, documentando-os em filmes ou fotografias.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

O mundo vai ter que mudar em breve. Como? Da maneira habitual, à força, à bruta, com violência libertadora - por mim, não me importo de regressar à véspera de um qualquer "1789"


Esta imagem fui buscá-la à NET. O texto da legenda é meu:



Um público exausto e furioso com os reais efeitos da «Austeridade» faz perder a cabeça a um comentador habitué da SIC Notícias, acérrimo defensor do Memorando de Entendimento.


Quem também está sujeito a perder a cabeça com a «Austeridade», num futuro que não se afigura longínquo, poderão muito bem ser:

a) Os banqueiros nacionais, que não passam de gerentes de conta dos grandes bancos internacionais (sem o apoio dos quais não beneficiariam das enormes benesses que o Estado lhe garante);

b) Todos os governantes (todos corruptos) e figurantes do «Two-Party Scam». Esta é uma fraude que consiste na fundação e financiamento pela Banca de dois partidos políticos (PS + PSD) que surgem aos olhos do eleitorado como antagónicos, mas que, de facto, constituem um partido único. O objetivo é fornecer aos eleitores a ilusão de liberdade de escolha política e serenar possíveis sentimentos de revolta contra a elite dominante;

c) Os grandes accionistas e administradores de grandes empresas que vivem à sombra de negócios, raramente transparentes, com o Estado;

d) Um Presidente da República (cercado de amigos e negócios duvidosos) e que é da opinião que os brutais sacrifícios que os cidadãos estão a sofrer, têm valido a pena;

e) Todos os deputados do «arco da governação» (todos eles corruptos), que acumulam a função parlamentar com a de administrador, diretor ou consultor de empresas que desenvolvem grandes negócios com o Estado;

f) Os juízes do Tribunal Constitucional - composto por treze juízes, sendo dez eleitos pela Assembleia da República — por maioria qualificada de dois terços dos Deputados (ou seja, eleitos pelos deputados do «arco da governação», que, como já sabemos, primam pela corrupção). Aparentam fazer uma certa oposição ao governo, chumbando algumas medidas mas deixando passar o que de facto o governo quer;

g) Os juízes do Tribunal de Contas, cuja missão deveria ser velar pela racionalidade e boa gestão dos gastos do Estado, mas que têm permitido todo o tipo de obras estapafúrdias a custos pornográficos, tudo à custa dos contribuintes - «TVI - Derrapagem: obras públicas custam até 7 vezes mais que previsto»;

h) Os procuradores-gerais da república – indivíduos que em vez de investigar o Grande Crime, estão mais empenhados em abafá-lo.

i) O batalhão de jornalistas e comentadores venais que papagueiam, até ao vómito, nas televisões, jornais e rádios, as grandes vantagens da «Austeridade» para a economia do país, e que resultam no empobrecimento, no desemprego, na miséria, na fome e na morte dos portugueses.



***************************************************


Desespero


Artigo surripiado ao Quarta República

Artigo do Professor Massano Cardoso



Noto uma onda de desespero, vejo nuvens aterradoras, negras, pesadas, sinto a força de um vento destruidor, cruzo-me com almas sem alento e sem esperança e toco em corpos febris tremendo de frio e nem sei se de fome também. O mundo que me cerca está diferente, vazio de alegria e esfomeado de justiça e de dignidade.

A natureza humana, a selvagem, a destruidora, consegue vencer os defensores da igualdade e da liberdade, que, humilhados, olham silenciosos uns para os outros sem compreender muito bem o que está a acontecer. O mundo regrediu, os valores e princípios filhos de revoluções libertadoras foram apagados. O mundo rege-se por uma velha ordem que pensavam ter sido destruída. Não, não foi, apenas hibernou e, agora, regressa com força, com violência, com raiva impondo os seus desejos e ignorando os direitos e valores daquilo que se poderia esperar da dignidade humana.

O mundo vai ter que mudar em breve. Como? Da maneira habitual, à força, à bruta, com a violência libertadora, com a única arma que lhe resta para fazer afronta ao comportamento ameaçador e destruidor de forças primitivas.

Esperar por soluções "civilizadas"? Impossível. Essas soluções constituem o garante da sobrevivência do "ancien régime", que regressou das profundezas do Hades com uma força que nunca teve nos seus velhos tempos. Solução drástica? Talvez. Comportamento pessimista? Talvez. Exagero de apreciação? Talvez. Pode ser tudo isso, mas o mundo "civilizado" em que vivemos tem de ser morto, digo morto e não apagado, e mesmo assim tenho receio da sua capacidade para ressuscitar novamente no eterno retorno de vida e morte. Por mim, não me importo de regressar à véspera de um qualquer "1789" [tem início a Revolução Francesa]. Se for preciso, porque não? Mesmo que isso custe sofrimento ou mesmo a vida é sempre preferível do que viver neste teatro de faz-de-conta, onde a honra, a lealdade, o respeito e a dignidade humana deixaram de ter significado ou valor.

Viver assim cansa, e é fonte de desespero.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

Bancos admitem cobrar comissões pelos levantamentos no Multibanco. Os descomunais roubos que praticam diariamente, e que conduzem milhões à miséria, parecem não os satisfazer...


As empresas de distribuição vieram lembrar que o sector bancário "poupa cerca de 300 milhões de euros por ano pelo facto dos consumidores efectuarem levantamentos e depósitos em ATM e não nos seus balcões".

*********************




Para prevenir mais este roubo que a banca prepara, talvez a solução passe por atestar todas as caixas multibanco com vários géneros de líquidos, que as inutilize e não permita fazer levantamentos, obrigando-nos a todos a invadir e a abarrotar as agências bancárias. É uma forma de evitar que mais 300 milhões de euros por ano se vão juntar aos milhares de milhões que os ladrões empocham regularmente à nossa custa.


*********************


Jornal Público - 04/12/2013

Os bancos admitem começar a cobrar comissões pelos levantamentos/pagamentos através das caixas automáticas Multibanco, uma ideia que surge periodicamente e que recebe forte contestação. 



Esta possibilidade surge como resposta à legislação que está a ser preparada em Bruxelas, e que fixa um limite máximo, em termos europeus, para os bancos cobrarem comissões à actividade do retalho (supermercados, lojas, grandes superfícies) pelas transacções via rede ATM. 

A informação foi dada esta manhã, durante a conferência sobre o sistema de pagamentos promovida por um grupo de trabalho, que inclui a SIBS, que se reúne no quadro da Associação Portuguesa de Bancos (APB), onde se discutiu o impacto no sector financeiro da adopção de um limite máximo, em termos europeus, à cobrança de comissões pela banca junto do mercado do retalho (lojas, supermercados, grandes superfícies) pela utilização da rede de pagamentos electrónica. 

No encontro, onde foi orador, o presidente da APB, Faria de Oliveira, que representa o sector financeiro, alertou para a actual fase do ciclo "muito negativo" para os bancos, e admitiu a possibilidade do sector fazer repercutir o agravamento dos custos sobre os consumidores que usam cartões electrónicos para fazer pagamentos. Outra alternativa pode levar ao aumento do preço de emissão dos cartões, o que se reflectirá também nos consumidores. 

"Há várias modalidades. Mas tudo o que agrava a actividade bancária, em termos de custos, para melhorar a rentabilidade, tem que ter uma contrapartida de obtenção de receitas de uma outra qualquer via". Faria recordou que 95% das operações com cartões decorrem no mercado doméstico, pelo que "o princípio da subsidiariedade está a ser posto em causa com este tipo de legislação, que não atende à situação específica dos Estados-membros". 






Recorde-se que, em 2010, Portugal criou legislação que impede os bancos de cobrarem aos seus clientes (particulares) comissões pelo levantamento de dinheiro na rede ATM (Multibanco) e qualquer decisão nesse sentido terá de envolver mudanças legislativas. 

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) veio esta tarde lembrar dados do Banco de Portugal, segundo os quais o sector bancário "poupa cerca de 300 milhões de euros por ano pelo facto dos consumidores efectuarem levantamentos e depósitos em ATM e não nos balcões". Por esta razão, as empresas de distribuição não compreendem a intenção dos bancos de começar a “cobrar pelos levantamentos nas ATM”. 

A entidade liderada por Ana Isabel Trigo, no mesmo comunicado, veio "aplaudir a legislação europeia para limitar as comissões pagas à banca pelos comerciantes pelos pagamentos com cartões electrónicos" por considerar que em Portugal "são das mais elevadas entre os Estados-membros", o que "cria uma situação de grande injustiça e retira competitividade ao comércio português". A APED rejeita ainda "a ideia de que os bancos vão perder dinheiro com o sistema de pagamentos português". 

"O que está aqui em causa é que os bancos vão ter uma falta de receita por via de legislação europeia, que quer limitar as taxas, e, por isso, sentem-se tentados a cobrar comissões por levantamentos no Multibanco, o que até agora é proibido por lei em Portugal." 

Com a aprovação da legislação europeia, "os retalhistas terão mais liberdade de escolha, pois poderão contratar estes serviços em Portugal e junto de qualquer outro operador que opere no mercado europeu". 



*********************




Aos beneméritos Faria de Oliveira (CGD) e Ricardo Salgado (BES), entre outros,

a solução passa por dar-lhes uma boa regadela e chegar-lhes um fósforo

quarta-feira, dezembro 11, 2013

O CDS-PP defendeu esta terça-feira (10-12-2013) que existe um sentimento cada vez mais generalizado da retoma económica em Portugal



Paulo Portas: "este traço a preto mostra o ponto de inflexão do agravamento da Crise
e da tão desejada recuperação económica do país, de que, há muito, temos vindo a falar..."


**********************************************

O ponto de «inflexão da austeridade» observado à lupa


O indicador do Portas, a mosca, e a curva do Gráfico


**********************************************


10 Dezembro 2013 - Lusa

O CDS-PP defendeu esta terça-feira que as previsões do Banco de Portugal são sinais que dão "coerência" e "consistência" à ideia que a economia portuguesa está "perante um novo ciclo", existindo um sentimento "cada vez mais generalizado" de crescimento.

De acordo com o Boletim Económico de Inverno, hoje divulgado, o banco central voltou a melhorar as previsões económicas para este ano, esperando agora uma recessão de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), acima das perspectivas do Governo, que calcula uma contracção de 1,8%.

"Estes dados, por mais uma instituição que é o Banco de Portugal, confirmam não só que os dados quase duplicam no crescimento económico de Portugal, de 0,3 para 0,8, estão em linha com aquilo que são as previsões do Governo e dão que há uma coerência e uma sustentabilidade à ideia de que a economia portuguesa está a crescer", afirmou o deputado do CDS-PP Hélder Amaral.

"Se olharmos, por outro lado, para os dados da recessão, os dados do Banco de Portugal confirmam também que há uma coerência e uma sustentabilidade de que a economia portuguesa já está a crescer e estamos perante um novo ciclo", acrescentou.

Hélder Amaral afirmou que, não só "as exportações continuam a crescer", como Portugal está a "ganhar quota de mercado à Espanha, à Itália e à Irlanda", gerando "cada vez mais postos de trabalho cá dentro".


Hélder Amaral do CDS-PP

Tout le monde sait que les mouches sont attirés par la merde. C’est leur milieu naturel...


"São ainda sinais ténues, mas são sinais evidentes, dão coerência, consistência. Há um sentimento que é cada vez mais generalizado de que a economia portuguesa está, de facto, a crescer", declarou.

"Acredito que nas empresas, nos trabalhadores, nos empresários, em quem tem mérito, nomeadamente nas exportações, começam a sentir e a perceber que há aqui uma esperança e uma janela de oportunidade e isso é visível nos dados e, ainda que modo ténue, na vida dos portugueses", considerou.

Para 2014, o Banco de Portugal espera que Portugal regresse a terreno positivo, antecipando um crescimento de 0,8%, uma previsão que coincide com a do Governo e com a da ´troika' (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu).

O Banco de Portugal estima também uma redução de 2,9% do emprego em 2013, uma tendência que deverá desacelerar em 2014, e calcula uma redução acumulada do emprego de 8% desde 2011 até 2015.


**********************************************




A deputada do BE, Catarina Martins (uma cara bonita) destacou esta terça-feira a perda de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) em Portugal após quase três anos de Governo da maioria PSD/CDS-PP e acordo com a troika.

"Entre 2011 e 2013, Portugal perdeu seis por cento do seu PIB. Nos três anos em que PSD, CDS e a ´troika' governaram este país, Portugal perdeu mais nove mil milhões (de euros) às mãos da recessão causada pela austeridade e políticas agressivas contra os salários", disse, em reacção ao boletim de inverno do Banco de Portugal (BdP), na Assembleia da República.

"Tudo aquilo que este país vai produzir na próxima década vai ser apenas para recuperar a riqueza que perdemos em três anos de austeridade e vamos fazê-lo enquanto pagamos uma dívida que é hoje 40 mil milhões superior em relação àquela que era em 2011", contrariou a parlamentar bloquista.


quarta-feira, dezembro 04, 2013

Alvin Toffler: A mudança revolucionária de dependermos de representantes eleitos para nos passarmos a representar a nós próprios.


DEMOCRACIA DIRECTA (II Parte)




Texto meu: «No último século e meio, o mundo civilizado só conheceu dois tipos de governo: o Ditatorial e a Democracia Representativa – qual deles o mais perverso. Entretanto, hoje, a evolução da Informática e das Telecomunicações está em condições de colocar o poder de decisão nas mãos dos cidadãos. De que é que estamos à espera?»




"A Terceira Vaga", do sociólogo Alvin Toffler, foi editado em 1980. Lançou o «slogan» da «terceira vaga» e dividiu a história humana até à data em três vagas: a primeira que correspondeu à revolução agrária, a segunda baseada na revolução industrial, e a terceira nascida desde o final da Segunda Guerra Mundial baseada no conhecimento. É a obra mais conhecida do autor e que o consagrou como futurólogo. Trinta anos depois, as suas palavras permanecem actuais.


Excerto de "A Terceira Vaga" de Alvin Toffler:



CAPÍTULO 28 - DEMOCRACIA SEMIDIRECTA


O segundo bloco de construção dos sistemas políticos de amanhã deve ser o princípio da «democracia semidirecta», uma mudança de dependermos de representantes para nos representarmos a nós próprios. A mistura das duas coisas é a democracia semidirecta.

Como já vimos, o colapso do consenso subverte o próprio conceito de representação. Sem acordo entre os votantes no círculo eleitoral, quem representa realmente o representante? Ao mesmo tempo os legisladores têm vindo a depender cada vez mais de apoio de pessoal e de peritos exteriores para a formulação das leis. Os membros do Parlamento britânico são notoriamente fracos em relação a burocracia de Whitehall porque lhes falta apoio de pessoal adequado, o que faz transitar mais poder do Parlamento para o serviço administrativo não eleito.

O Congresso dos Estados Unidos, num esforço para contrabalançar a influência da burocracia executiva, criou a sua própria burocracia: um Gabinete do Orçamento do Congresso, um Gabinete de Avaliação Tecnológica e outras agências e apêndices necessários. Por isso, o pessoal do Congresso aumentou de 10.700 para 18.400 na década passada. Mas isso serviu meramente para transferir o problema de extramuros para intramuros. Os nossos representantes eleitos sabem cada vez menos acerca da miríade de medidas acerca das quais tem de decidir e são obrigados a depender cada vez mais do critério de outros. O representante já nem sequer se representa a si mesmo.

Mais fundamentalmente, os parlamentos, os congressos ou as assembleias eram lugares onde, teoricamente, as reivindicações de minorias rivais podiam ser conciliadas. Os seus «representantes» podiam negociar por elas. Com os antiquados e rombos instrumentos de hoje nenhum legislador pode sequer manter-se ao corrente dos muitos pequenos grupos que ele ou ela nominalmente representa, quanto mais servir de medianeiro ou negociar efectivamente por eles. E quanto mais sobrecarregado ficar o Congresso americano, ou o Bundestag alemão, ou o Storting norueguês, tanto pior se tornará a situação.



Isto ajuda a explicar por que motivo os grupos políticos de pressão mono-problemáticos se tornam intransigentes. Vendo que é limitada a oportunidade de negociação ou reconciliação sofisticada através do Congresso ou das legislaturas, as suas exigências ao sistema tornam-se não-negociáveis. A teoria do governo representativo como supremo negociador também se desmorona.

O colapso da negociação, a pressão das decisões e o agravamento da paralisia das instituições representativas significam, a longo prazo, que muitas das decisões agora tomadas por pequenos grupos de pseudo-representantes podem ter de ser gradualmente retransferidas para o próprio eleitorado. Se os nossos negociadores eleitos não podem negociar por nós, teremos de o fazer nós próprios. Se as leis que eles fazem são cada vez mais longínquas das nossas necessidades, ou as satisfazem cada vez menos, teremos de fazer as nossas próprias leis. Para isso, no entanto, precisaremos de novas instituições e de novas tecnologias.

Os revolucionários da Segunda Vaga que inventaram o conjunto das instituições básicas de hoje estavam perfeitamente conscientes das possibilidades da democracia directa em oposição a democracia representativa. Houve vestígios de democracia directa, tipo faça-você-mesmo, na constituição revolucionaria francesa de 1793. Os revolucionários americanos sabiam tudo acerca dos municípios da Nova Inglaterra e da formação de consenso orgânico em pequena escala. Mais tarde, na Europa, Marx e os seus partidários invocaram frequentemente a Comuna de Paris como modelo da participação dos cidadãos na feitura e execução das leis. Mas as limitações da democracia directa eram igualmente bem conhecidas - e, nesse tempo, mais persuasivas.

«Em - The Federalist - foram levantadas duas objecções a tal inovação», escreveram McCauley, Rood e Johnson. Autores de uma proposta para um plebiscito nacional nos Estados Unidos. «Primeiro, a democracia directa não permitia nenhuma contenção ou dilação [adiamento] das reacções públicas temporais e emocionais. E, segundo, as comunicações desse tempo não podiam manobrar a mecânica do processo



Problemas legítimos, esses. Como teria um público americano frustrado e inflamado de meados da década de 1960, por exemplo, votado sobre se era de deitar ou não uma bomba atómica sobre Hanói? Ou coma votaria um público oeste-alemão furioso com os terroristas Baader-Meinhof, sobre uma proposta para instalar campos para «simpatizantes»? Que teria acontecido se os Canadianos tivessem feito um plebiscito a respeito de Quebec uma semana depois de René Lévesque assumir o poder? Presume-se que os representantes eleitos são menos emotivos e mais deliberativos do que o público.

O problema da reacção pública exageradamente emocional pode no entanto ser vencido de várias maneiras, tais como a exigência de um período de «arrefecimento» ou de uma segunda votação antes da implementação de decisões importantes tomadas via referendo ou outras formas de democracia directa.

Uma solução imaginativa e sugerida por um programa posto em prática pelos Suecos em meados da década de 1970, quando o governo pediu ao público que participasse na formulação de uma política energética nacional. Reconhecendo que à maioria dos cidadãos faltava conhecimento técnico adequado das várias opções energéticas, da solar à nuclear ou à geotérmica, o governo criou um curso de dez horas sobre energia e convidou qualquer sueco que o frequentasse, ou a qualquer curso equivalente a fazer recomendações formais ao governo.

Simultaneamente, sindicatos, centros de educação de adultos e partidos de um extremo ao outro do espectro político criaram os seus próprios cursos de dez horas. Esperava-se que participassem uns 10.000 suecos. Para surpresa de todos, apareceram 70.000 a 80.000 para discussões em casas e instalações comunitárias - o equivalente, na escala americana, a cerca de 2.000.000 de cidadãos a tentar pensar juntos a respeito de um problema nacional. Podiam empregar-se facilmente sistemas similares para anular as objecções à «sobre-emotividade» em referendos ou noutras formas de democracia directa.

A outra objecção também pode ser vencida, pois as limitações das antigas comunicações já não se atravessam no caminho da democracia directa alargada. Progressos espectaculares da tecnologia das comunicações abrem pela primeira vez uma espantosa gama de possibilidades de participação directa do cidadão na tomada de decisões políticas.

Não há muito tempo, tive o prazer de registar um acontecimento histórico - o primeiro «salão municipal electrónico» do mundo - na TV por cabo Qube, em Columbus Ohio. Utilizando esse sistema de comunicação interactivo, residentes de um pequeno subúrbio de Columbus participaram de facto, via electrónica, numa reunião política da sua comissão de planeamento local. Carregando num botão da sua sala, podiam votar instantaneamente propostas relacionadas com problemas práticos como divisão por zonas locais, códigos habitacionais e a proposta de construção de uma auto-estrada. Podiam não apenas votar «sim» ou «não», mas também participar na discussão e falar para serem ouvidos. Podiam até, pelo mesmo sistema de carregar no botão, dizer à pessoa que detinha a presidência quando devia passar para o ponto seguinte da agenda.




Esta é apenas a primeira e mais primitiva indicação do potencial de democracia directa do amanhã. Usando computadores avançados, satélites, telefones, cabo, técnicas de votação e outros instrumentos, uma cidadania instruída pode, pela primeira vez na história, começar a tomar muitas das suas próprias decisões políticas.

O problema não é uma questão de ou isto ou aquilo. Não se trata de democracia directa versus indirecta, de representação própria versus representação por outros.

Ambos os sistemas tem vantagens e há maneiras altamente criativas e ainda subutilizadas de combinar a participação directa dos cidadãos com a «representação» num novo sistema de democracia semidirecta.

Podemos, por exemplo, decidir fazer um referendo sobre uma questão controversa como o desenvolvimento nuclear, como a Califórnia e a Áustria já fizeram. Em vez de entregar a decisão definitiva directamente aos votantes, podemos, porém querer um corpo representativo - o Congresso, digamos - para debater e finalmente decidir.

Assim, se o público votasse pró-nuclear, um certo «pacote» de votos pré-designado poderia ser entregue aos defensores do pró-nuclear, no Congresso. Estes poderiam, com base na força da resposta pública, ficar com uma «margem» automática de 10 ou 25% no próprio Congresso, consoante a foça do voto «pró» no plebiscito. Deste modo, não há nenhuma implementação puramente automática dos desejos dos cidadãos, mas esses desejos têm algum peso específico. Trata-se de uma variante da proposta de Plebiscito Nacional mencionada atrás.

Muitos outros arranjos imaginativos se podem inventar para combinar a democracia directa e indirecta. Neste momento, membros do Congresso e muitos outros parlamentos ou legislaturas organizam as suas próprias comissões. Não existe nenhuma maneira de os cidadãos forçarem os legisladores a criar uma comissão para tratar de qualquer questão descurada ou altamente controversa. Mas porque não poderão os votantes ser directamente dotados, através de petição, com a capacidade de competir com um corpo legislativo a estabelecer comissões para tópicos que o publico - e não os legisladores – consideram importantes?


Insisto nestas propostas a favor do público não porque as aprove sem hesitar, mas meramente para sublinhar o ponto mais geral onde quero chegar: há maneiras fortes de abrir e democratizar um sistema que se encontra perto do colapso e em que poucos, se alguns, se sentem adequadamente representados. Mas temos de começar a pensar fora dos sulcos gastos dos passados 3oo anos. Já não podemos resolver os nossos problemas com as ideologias, os modelos ou as estruturas que sobraram do passado da Segunda Vaga.

Cheias de implicações incertas, estas novas propostas requerem cuidadosa experimentação local antes de as aplicarmos em larga escala. Mas seja qual for a maneira como sintamos a respeito desta ou daquela sugestão, as antigas objecções à democracia directa estão a tornar-se mais fracas precisamente na altura em que as objecções à democracia representativa se estão a tornar mais fortes. Por perigosa ou até excêntrica que possa parecer a alguns, a democracia semidirecta é um princípio moderado, capaz de ajudar-nos a conceber novas instituições exequíveis para o futuro.

terça-feira, dezembro 03, 2013

José Pedro Aguiar-Branco, um homem cuja dimensão moral, humana e ética só fica (abissalmente) abaixo da sua estatura física...



Aguiar-Branco, ministro da Defesa, em revista a uma parada militar


O secretário-geral da CGTP exigiu que seja feito um inquérito à subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) ao grupo Martifer, por suspeita de favorecimento ao setor privado com este negócio.

Todo o processo é obscuro: a empresa que obteve a concessão [Martifer] tem um passivo maior que os estaleiros; o mesmo Estado que vai pagar 30,1 milhões aos trabalhadores despedidos não tinha três milhões para começar a construir navios já encomendados.

De janeiro a setembro, os resultados líquidos consolidados apresentados pela Martifer ascendem a 48,7 milhões de euros negativos, o que corresponde a um agravamento de 47,7% face aos prejuízos de 33 milhões registados em igual período de 2012.

A Mota-Engil, cujo presidente é Jorge Coelho, é detentora de uma participação de 37,5% na Martifer. E é sabido que a probidade da Mota-Engil e de Jorge Coelho é inquestionável.

A eurodeputada Ana Gomes levantou suspeitas sobre negócios do escritório de advogados do ministro Aguiar-Branco com a Martifer, grupo que ganhou a subconcessão dos Estaleiros de Viana.

O eurodeputado comunista João Ferreira classificou hoje como "mentiroso" o argumento das ajudas públicas invocado para encerrar os estaleiros de Viana, aludindo a uma resposta da Comissão Europeia que diz ainda não ter decidido sobre o assunto. "Aquilo que constatamos é que o argumento invocado para o encerramento é um argumento mentiroso, como já foram os anteriores", afirmou João Ferreira,

Na entrega dos estaleiros de Viana à empresa Martifer, o Estado vai gastar 30,1 milhões de euros para pagar as indemnizações por despedimento dos atuais 609 trabalhadores. Ora, recordou Arménio Carlos, em 2012 o mesmo governo não teve três milhões de euros para comprar a matéria-prima necessária para o início da construção de dois navios asfalteiros encomendados pela Venezuela.

"Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Por um lado há um prejuízo do interesse público com o encerramento dos ENVC, é o governo que é o responsável, e depois o favorecimento ao setor privado, com este negócio", acusou Arménio Carlos.

Por outro lado, a Martifer tem um passivo de 370 milhões de euros, que é superior ao dos estaleiros, que rondará em 2013 os 300 milhões de euros.

"Se isto não é caso para justificar um inquérito e acima de tudo a paragem deste processo, de forma a impedir o encerramento dos ENVC, então o que será necessário fazer mais para que a Democracia funcione", observou o secretário-geral da CGTP.

A comissão de trabalhadores e a Câmara de Viana do Castelo assumiram nas últimas horas posições idênticas, reclamando uma investigação, pelo Ministério Público, a este processo.



Striking down on the minister meathead

Despedir 609 pessoas e oferecer mais uma empresa pública viável a privados. Mais uma sticada fatal no País e nos portugueses...

quinta-feira, novembro 28, 2013

Um vice-primeiro-ministro com tanto de mentiroso, como de vicioso e lariloso (ou panascoso como é costume dizer-se no Parque Eduardo VII)


"2013 será o melhor ano de sempre das exportações"
garante o Paulinho das Feiras


O vice-primeiro-ministro voltou a referir uma viragem económica para o país. As declarações de Portas foram feitas à margem da abertura de mais uma edição do "Portugal Exportador". O governante afirmou que nos últimos cinco anos, o peso das exportações no Produto Interno Bruto (PIB) passou de 28% para 41%. A economia portuguesa está em crescimento há 2 trimestres, tendo saído do buraco da recessão técnica.

[Público - Sem os combustíveis, as exportações teriam crescido 1,5% e não 4,1% até Maio. Mais de dois terços do crescimento das exportações de bens registado durante os primeiros cinco meses do ano é explicado pelo aumento da venda de combustíveis transformados em Portugal, algo que teve o contributo decisivo da entrada em funcionamento de uma nova unidade de refinação da Galp em Sines. O acréscimo de produção para exportação tem vindo a aumentar, à medida a que se assiste a uma quebra muito acentuada da procura interna.]

[As empresas exportadoras representam uma percentagem muito pequena do total de empresas portuguesas. Em Portugal, segundo o INE, existem cerca de um milhão de empresas, e menos de 0,5% é que exportam. As restantes, que são mais de 99,5%, vivem apenas do mercado interno.
]


*********************



Paulo Portas, embora radiante com o exponencial aumento das exportações dos nossos jovens mais qualificados, saliva pesaroso por ver os produtos tão do seu agrado (exceto moçoilas) terem de ir para fora do país... para tão longe dele, de São Bento, de Lisboa, do Parque Eduardo VII...


*********************



Por motivo de uma política assassina, levada a cabo por funcionários bancários que a Grande Finança colocou à frente do governo português, os maiores ativos do país - jovens licenciados, jovens com mestrados e jovens doutorados – são exportados às pazadas para países que agradecem receber por tuta e meia uma riqueza que foi paga e produzida num Estado cada vez mais pária.


*********************


Expresso – 29.11.2012

A melhor geração está de partida

Olhamos à nossa volta e vemos, todos os meses, milhares de jovens emigrar. Ouvimos amigos e filhos de amigos falar dos seus planos para partir. Não com a satisfação de quem procura novas experiências, mas com a frustração de quem sente que o País onde nasceu não lhe dá nem lhe dará no futuro qualquer oportunidade.

Comparamos muitas vezes esta emigração com a do passado. É incomparável. O que estamos a perder agora são as primeiras gerações de gente qualificada. Qualificada graças a um investimento que, no discurso dominante, é tida como um luxo incomportável.

[...] O emigrante atual é jovem, qualificado e procura carreira, e não apenas dinheiro para sobreviver no estrangeiro e depois regressar. [...] Esta vaga de emigração não terá apenas um efeito catastrófico no já desastroso equilíbrio demográfico do País. Terá efeitos profundos na sustentabilidade da segurança social, na competitividade da nossa economia, na capacidade de inovação e em todos os domínios do futuro de Portugal. Envelhece, desqualifica e atrasa o País.

[...] Estes emigrantes são sobrequalificados para o tecido empresarial português, que, por culpa própria e do Estado, não acompanhou o investimento público na qualificação do trabalho. O modelo de desenvolvimento que este governo defende, com uma aposta na competitividade pela redução dos custos de produção, não dá aos jovens emigrantes qualquer esperança de regresso. Portugal acentua todas as razões que os levam a partir.

[...] Pode até acontecer que esta seja a última vaga de emigrantes qualificados. Por uma simples razão: se o nosso modelo económico despreza a qualificação, deixaremos, com o tempo, de qualificar os nossos jovens. [...] E agora, que os nossos amigos, os nossos filhos e os nossos netos partem, porque os que sempre viram estas conquistas como "demasiado generosas" finalmente levaram a melhor, choramos por o que estamos a perder.

segunda-feira, novembro 25, 2013

Sobre a diferença dos que veem o Governo como uma caterva de incompetentes (com uma ideologia neoliberal suicida), e dos que o veem como um grupo de criminosos (a soldo da ganância assassina dos que controlam a Finança)


PAPA FRANCISCO INCITA À VIOLÊNCIA

Jornal Público - 26/11/2013

Papa Francisco: "ESTA ECONOMIA MATA"!

O Papa Francisco atacou o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e advertiu que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão", na sua primeira exortação apostólica, divulgada nesta terça-feira pelo Vaticano.

O Papa Francisco expressa mais claramente do que nunca as posições que tem vindo a assumir de luta contra a pobreza e a exclusão neste documento. Apelou aos políticos para que garantam a todos os cidadãos “trabalho digno, educação e cuidados de saúde”, e aos ricos para que partilhem a sua fortuna: "Tal como o mandamento 'Não matarás' impõe um limite claro para defender o valor da vida humana, hoje também temos de dizer 'Tu não' a uma economia de exclusão e desigualdade. Esta economia mata", afirma Francisco na exortação apostólica.


********************


Mário Soares: "o sr presidente e o governo devem demitir-se (...), enquanto ainda conseguem ir para casa pelo próprio pé".

Mário Soares não teve meias palavras na abertura do encontro que promoveu na Aula Magna, em Lisboa, descrevendo a situação do país como "de grande risco" e mesmo "a caminho da ditadura". O ex-chefe de Estado pediu a demissão do governo e do actual Presidente e afirmou que "a violência está à porta".

Mário Soares considerou a acção de Cavaco Silva "inaceitável", porque "jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição e não o está a fazer". "Só protege um único partido, que é o seu próprio", disse Soares convidando o Presidente e o governo a demitirem-se "enquanto ainda podem ir para as suas casas pelo seu próprio pé". Se isto não acontecer, de acordo com a tese do ex-presidente, "serão responsáveis pela onda de violência que aí virá e que os vai atingir".

Para Mário Soares, Cavaco Silva "é o principal responsável da situação inaceitável a que se chegou. Porque é o protetor do seu partido e também não dialoga com ninguém, porque tem medo de sair à rua e falar com as pessoas. Lá saberá porquê", remata o histórico socialista, depois de chamar a atenção para a "situação de desespero em que as pessoas estão, que pode conduzir à violência". Soares defende ainda que só um novo Governo e um novo Presidente poderão criar condições para "dialogar com as pessoas, lutar contra o desemprego e evitar os suicídios, o desespero, a criminalidade, a emigração e a miséria".


********************


Àqueles (cada vez menos) que consideram um apelo à violência as palavras de Mário Soares e que dizem: "o Governo foi eleito democraticamente", "as instituições parecem funcionar normalmente", "estamos a respeitar os nossos compromissos (porque somos um Estado de bem)", é necessário fazê-los compreender que o Estado está sequestrado por uma Máfia Financeira, cujos tentáculos dominam:


1 - O Governo: um bando de "funcionários bancários" que passam por políticos e que tem por único propósito enriquecer a Banca à custa do Estado, das Empresas e da População;

2 - A Assembleia da República (que não passa de um centro de corrupção e de uma grande central de negócios);

3 - Os Grandes Escritórios de Advogados que redigem legislação perfeitamente impercetível, com muitas regras para ninguém perceber nada, muitas excepções para beneficiar os amigos e um ilimitado poder discricionário a quem aplica a lei;

4 - A Procuradoria-Geral da república que, não só não investiga, como trava as investigações;

5 - Os Media: os jornais e as televisões com os seus exércitos de propagandistas mentirosos a entrarem-nos diariamente em casa.


E, sabendo disto, não terá a população motivos mais que suficientes para se revoltar violentamente? As condições não estarão reunidas para que cidadãos civis, polícias e militares iniciem a caça à escumalha que nos está atirar a todos para a miséria, a fome, o desemprego, a criminalidade, o suicídio e a morte?

A política deste governo tem sido de uma violência inaudita contra milhões de portugueses. E numa situação em que um povo inteiro está sonegado de todas as entidades que o deveriam defender contra a Máfia do Dinheiro, acolitada por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores a soldo, só existe uma solução para resolver a «Crise»... Somos 10 milhões contra algumas centenas de sanguessugas... e não há buracos suficientes para elas se esconderem...


********************


Não há um único indivíduo honesto em cargos de alguma relevância política e sobretudo no Governo. Toda esta escumalha ascendeu a cargos políticos de importância por decisão, a priori, da Banca. Somente por já estarem vendidos, à partida, à Grande Finança é que esta os colocou em cargos de poder político.

A Banca escolheu para "governar" o país uma escória que sabia lhe iria ser submissa, sem rebuço, sem vergonha e com um pingo de humanidade. Sem o apoio da Banca, esta canalha nunca teria chegado a cargos de poder. E, naturalmente, depois do trabalhinho feito, depois de tudo terem feito para encher a mula à Banca, esta recompensa-os com cargos muito bem pagos, tanto nas suas fileiras como em grandes empresas por ela controladas.

A recompensa aos governantes por terem colocado a riqueza do país e dos cidadãos nos bolsos do Poder Financeiro:


Banca é refúgio para ex-ministros

Jornal Expresso - 2 de Outubro de 2010



Dirigentes do Bloco estudaram o percurso de 115 ex-governantes: 84 foram para a Banca ou tiveram uma ligação ao sector bancário, passando por órgãos sociais dos mais diversos bancos. Mais interessante ainda: desses 84 ex-governantes com ligação à banca, na grande maioria dos casos (56, ou seja, dois terços,) essa ligação não tinha antecedentes, e só surgiu depois da passagem pelo Governo.

Os dados apurados permitem aos autores sustentar a tese da integração sistémica assegurada por estes dirigentes... A generalidade dos bancos reconhece a importância deste "ativo estratégico" e vai buscar ex-ministros e secretários de Estado (sobretudo os que passaram pelas finanças e economia, mas não só...

A banca é o máximo denominador comum neste universo, mas os ex-governantes ganharam destaque nas mais variadas empresas e grupos económicos. Destaque-se o Grupo Mello, as empresas públicas ou aquelas onde o Estado tem participação relevante também se tornam autênticos albergues de ex-governantes — veja-se a CGD, a PT ou a EDP...

Por outro lado, esta contaminação entre política e negócios permite "a promoção de uma meteórica mobilidade social ascendente", pois a passagem pelo Governo é "um condão que transforma dezenas de quadros técnicos, docentes universitários ou responsáveis partidários em administradores de empresas privadas ou participadas, com acesso a rendimentos absolutamente incomparáveis com os auferidos anteriormente”.

Os bloquistas apontam um terceiro aspeto deste fenómeno: a "forte promiscuidade", com “governantes que transitam diretamente da tutela para a gestão de topo de empresas cujo quadro de atuação condicionaram imediatamente antes”. Há bons exemplos nas obras públicas (Ferreira do Amaral, Jorge Coelho, Luís Parreirão) e na energia (Pina Moura, Fernando Pacheco). A grande maioria dos ex-governantes portugueses que se dedicaram aos negócios privados têm ou tiveram uma ligação ao sector bancário...


********************


A ilusão da livre escolha entre Direita e Esquerda




The Establishment's Two-Party Scam

Chris Gupta: Esta fraude consiste na fundação e financiamento pela elite do poder de dois partidos políticos que surgem aos olhos do eleitorado como antagónicos, mas que, de facto, constituem um partido único. O objectivo é fornecer aos eleitores a ilusão de liberdade de escolha política e serenar possíveis sentimentos de revolta contra a elite dominante.

**********

Dr. Stan Monteith: "De há muito, o principal problema da vida política americana tem sido tornar os dois partidos congressionais (o partido Republicano e o partido Democrata) mais nacionais. O argumento de que os dois partidos deviam representar políticas e ideias opostas, uma, talvez, de Direita e a outra de Esquerda, é uma ideia ridícula aceite apenas por teóricos e pensadores académicos. Pelo contrário, os dois partidos devem ser quase idênticos, de forma a convencer o povo americano de que nas eleições pode "correr com os canalhas", sem na realidade conduzir a qualquer mudança profunda ou abrangente na política."

**********

George Wallace (foi candidato à Presidência norte-americana. Este afirmou: "... não existe diferença nenhuma entre Republicanos e Democratas."
"... A verdade é que a população raramente é envolvida na selecção dos candidatos presidenciais; normalmente os candidatos são escolhidos por aqueles que secretamente mandam na nossa nação. Assim, de quatro em quatro anos o povo vai às urnas e vota num dos candidatos presidenciais seleccionados pelos nossos 'governantes não eleitos.' Este conceito é estranho àqueles que acreditam no sistema americano de dois-partidos, mas é exactamente assim que o nosso sistema político realmente funciona."

**********

O Professor Arthur Selwyn Miller foi um académico da Fundação Rockefeller. No seu livro «The Secret Constitution and the Need for Constitutional Change» [A Constituição Secreta e a Necessidade de uma Mudança Constitucional], que foi escrito para aqueles que partilhavam os segredos da nossa ordem social, escreveu:

"... aqueles que de facto governam, recebem as suas indicações e ordens, não do eleitorado como um organismo, mas de um pequeno grupo de homens. Este grupo é chamado «Establishment». Este grupo existe, embora a sua existência seja firmemente negada; este é um dos segredos da ordem social americana. Um segundo segredo é o facto da existência do Establishment – a elite dominante – não dever ser motivo de debate. Um terceiro segredo está implícito no que já foi dito – que só existe um único partido político nos Estados Unidos, a que foi chamado o "Partido da Propriedade." Os Republicanos e os Democratas são de facto dois ramos do mesmo partido."

**********

O Professor Carroll Quigley, foi o mentor de Bill Clinton quando este era um estudante na Universidade de Georgetown.  O Professor Quigley deu aulas tanto na Universidade de Harvard como na de Princeton antes de se fixar na Universidade de Georgetown.

No seu livro «Tragedy and Hope: A History Of The World In Our Time» - [Tragédia e Esperança: uma história do Mundo dos nossos dias], Quigley documenta as origens da sociedade secreta que controla os nossos partidos políticos hoje e que se manifesta nas posições chave ocupadas pelo Council on Foreign Relations [Conselho das Relações Exteriores].

"... De forma optimista, podem sobreviver para o indivíduo comum os elementos da escolha e liberdade no sentido em que ele será livre de escolher entre dois grupos políticos antagónicos (mesmo que estes grupos tenham pouca latitude de escolha política dentro dos parâmetros da política estabelecida pelos especialistas), e o indivíduo tenha a oportunidade de escolher mudar o seu apoio de um grupo para outro. Mas, em geral, a sua liberdade e poder de escolha serão controlados entre alternativas muito apertadas"...


********************






Discurso integral de Pacheco Pereira:

Como é que vos (nos) devo (devemos) tratar?

Queria evitar o frémito que Mário Soares provocou na última destas reuniões ao me chamar "camarada", coisa que gerou alguma excitação nas hostes. Devo por isso dirigir-me ao nosso anfitrião como "companheiro", a fórmula de conveniência, que se usa, ou melhor, usava no PSD? Ou, na tradição republicana, "correlegionário"? Ou devo lembrar que "camarada" é, entre outras coisas, uma fórmula de tratamento que os nossos militares aqui presentes reconheceriam nos seus "camaradas de armas"? Ou, se ainda houvesse tipógrafos, lembrar que esta era uma forma de tratamento comum entre profissionais de vários ofícios, para além dos ideais políticos de cada um? Ou, para fugir à carga das palavras, sinal também ela da crise que atravessamos, usar uma fórmula de tratamento esquecida, usada pelos velhos operários esperantistas, "samideano", no seu significado de "com as mesmas ideias", ou numa tradução de um dicionário esperantista, "co-idealista"? Não devo, porque há muitos materialistas na sala e não há palavra, nem em esperanto, para co-materialista.

Vou usar outra fórmula, aquela que o Manuel Alegre conhece bem, que vinha da Rue Auger, Alger, Algerie e que iniciava as emissões da Rádio Voz da Liberdade, com um tonitruante "Amigos, companheiros e camaradas".

Como membro de uma minoria em extinção, pelo menos no topo do meu partido, o PSD, a dos social-democratas, não se espere de mim nem uma palavra de justificação por aqui estar. Bem pelo contrário, farei a muitos a pergunta de por que razão não estão aqui de corpo, já que de espírito muitos estarão. Não os represento, não represento ninguém a não ser a mim próprio e mesmo assim de forma bastante imperfeita, mas os tempos não estão para inércias nem para confortos, nem para encontrar pretextos do passado, ou diferenças no futuro, para não se lutar, não pelas mesmas coisas, mas contra as mesmas coisas. Em momentos de profunda crise, tem que ser assim, sempre foi assim, e esse é o sentido mais profundo deste tipo de iniciativas de Mário Soares. O incómodo que geram, no poder e na oposição, vem disso mesmo.

Nós somos de facto muito diferentes entre nós, somos aquilo que no mundo anglo-saxónico se chamaria "strange bedfellows", estranhos companheiros de cama. Não se assustem as almas pudibundas, porque a expressão vem de Shakespeare e refere-se ao manto em comum que protege os marinheiros da tempestade, "misery / acquaints a man with strange bedfellows".

Na verdade, estranha assembleia esta que junta quem quer rasgar o memorando e colocar delicadamente a troika na rua, quem a quer colocar na rua menos delicadamente, com quem aprovou o chamado Pacto Orçamental, com quem pensa que o memorando, filho da necessidade extrema, podia ser aplicado de modo muito diferente, sem o rastro de incompetências e mistelas ideológicas deixado nestes dois anos.

É ambígua essa "unidade"? É sem dúvida, mas seria muito mais perigoso não ter qualquer forma de entendimento quando o mal que se está a fazer ao país, a Portugal, a tempestade que nos assola, é tão grave que considerações de conveniência só servem o Deus dos trovões e da chuva que nos quer afundar o navio. Sim, até porque muitos marinheiros já estão na água, como aqueles a quem se chama eufemisticamente "desempregados de longa duração", ou seja, aqueles portugueses cuja vida está estragada até ao fim dos seus dias.

E nem sequer estou certo que o que nos une seja o lema deste encontro: "Em defesa da Constituição, da democracia e do estado social". Não me entusiasma como lema, ninguém se mobiliza por uma lei, mas por aquilo para que essa lei serve, ou aquilo que essa lei defende: democracia, confiança, soberania, contrato social. Ninguém se mobiliza pelo “estado social” que é muitas vezes uma abstracção ideológica. Mobiliza-se por que todos possam ter uma vida decente, saúde, educação, segurança, – muita gente esquece-se que existe também um direito à segurança, – e para que ninguém possa ser excluído desses bens básicos porque não tem dinheiro. E se alguns podem, devem apoiar os que não podem, não como caridade ou assistência, mas como forma natural de viver em sociedade. Tão simples como isso. Vem no Programa do PSD escrito por Sá Carneiro, vem na doutrina social da igreja.

Mas, acima de tudo, custa-me a ideia de que o papel dos que aqui estão seja apenas "defender" como se estivessem condenados a travar uma luta de trincheiras. Não, os que aqui estão não estão a defender coisa nenhuma, mas a atacar a iniquidade, a injustiça, o desprezo, o cinismo dos poderosos para quem a vida decente de milhões de pessoas é irrelevante, não conta, é um "custo" que se deve "poupar". A transformação da palavra "austeridade" numa injunção moral serve para um Primeiro-ministro, apanhado pelo sucesso dos celtas, sorrir cinicamente para nos dizer que a "lição" da Irlanda é a ainda precisamos de mais austeridade, ainda precisamos de mais desemprego, ainda precisamos de mais pobreza. E sorri muito contente consigo mesmo.

O discurso de contínua mentira e falsidade que nos diz como se fosse uma evidência, que “as empresas ajustaram, as famílias ajustaram, só o estado não o fez”, como se as três entidades fossem a mesma coisa e o verbo "ajustarem" significasse o retorno a um estado natural das coisas de que só o vício de quererem viver melhor afastou os portugueses. Na verdade, pode-se dizer que "as empresas ajustaram". Sim algumas "ajustaram", mas a maioria "ajustou" falindo e destruindo o emprego, - que para quem não tem outra "propriedade" é o seu modo de vida. As famílias não "ajustaram", empobreceram e estão a empobrecer muito, para ter que ouvir como insulto os méritos de perderem a casa ou o carro, ou a educação superior para os seus filhos, e o valor moral de deixar de comer bife e passarem a comer frango.

No entanto, há uma coisa em que estou de acordo, de facto o estado não "ajustou", continua religiosamente pagar os desmandos dos contratos leoninos das PPPs, a negociar com vantagem para o sistema financeiro, os contratos swap, em vez de receber a lição do sucesso judicial de empresários que recorreram aos tribunais, a baixar uns impostos para algumas empresas ao mesmo tempo que continua a permitir que um contínuo entre um establishment no poder ligado ao sector financeiro capture as decisões políticas, tornando intangíveis os seus interesses na razão directa em que viola todos os contratos com os homens e mulheres comuns, destruindo toda a confiança que numa sociedade democrática é a garantia do contrato social.

Nos comícios da oposição antes do 25 de Abril cantava-se muito o hino nacional. No grande comício de Norton de Matos no Porto, em 1949, deve-se ter cantado pelo menos meia dúzia de vezes, nem que seja pelo prazer de gritar o "às armas", que mais do que um grito "às armas", - estejam sossegados não é isso que quero dizer, - era um grito pela resistência da nação face aos seus inimigos. Não sei se os organizadores desta sessão previram esse acto, mas deviam ter pensado nisso porque é de Portugal que se trata e o hino não é só para usar no futebol.

Quem sente Portugal como uma comunidade, dos pescadores do Algarve, da Nazaré, das Caxinas, dos pequenos empresários de Leiria ou de Viseu, dos operários têxteis do Ave, dos professores de todo o país, dos agricultores dos Açores, do Minho ou do Ribatejo, dos comerciantes do Porto e de Lisboa, dos universitários de Aveiro ou de Braga, dos funcionários públicos que permitem o funcionamento de escolas, tribunais, municípios e hospitais, dos trabalhadores da indústria metalomecânica, da cortiça, dos moldes, dos transportes, dos agentes das forças de segurança e militares, dos reformados e pensionistas, percebe a enorme destruição desta crise, que atinge avós, pais e netos, todas as gerações, que atinge quem tem muito pouco e quem ainda tem alguma coisa, mas que não atinge quem tem muita coisa. Esta é que é a nossa comunidade, um Portugal cuja mera enunciação viola a afrontosa redução de tudo e todos à ambígua designação de "empreendedores" de um lado e "piegas" gastadores do outro. Ou que torna inaceitável o obsceno uso da palavra soberania ou do protectorado para desresponsabilizar o governo e os seus apoiantes de políticas que abraçaram com todos os braços, e que agora, quando correm mal, fazem de conta que não é com eles.

O que nos une aqui é um outro dilema, a "questão que temos connosco mesmos" do poema de Alexandre O’Neil:

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso,
fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes,
sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós . . .

É para não termos esse remorso que estamos aqui, não à defesa, mas ao ataque. Ao ataque por todos os meios constitucionais.

Por aquilo a que chamávamos no passado "a nossa pátria amada".


quarta-feira, novembro 20, 2013

Alvin Toffler: O governo da maioria, o princípio legitimador-chave da era da Segunda Vaga, está crescentemente obsoleto. Não são as maiorias, e sim as minorias, que contam.


DEMOCRACIA DIRECTA (I Parte)


Texto meu: «No último século e meio, o mundo civilizado só conheceu dois tipos de governo: o Ditatorial e a Democracia Representativa – qual deles o mais perverso. Entretanto, hoje, a evolução da Informática e das Telecomunicações está em condições de colocar o poder de decisão nas mãos dos cidadãos. De que é que estamos à espera?»




"A Terceira Vaga", do sociólogo Alvin Toffler, foi editado em 1980. Lançou o «slogan» da «terceira vaga» e dividiu a história humana até à data em três vagas: a primeira que correspondeu à revolução agrária, a segunda baseada na revolução industrial, e a terceira nascida desde o final da Segunda Guerra Mundial baseada no conhecimento. É a obra mais conhecida do autor e que o consagrou como futurólogo. Trinta anos depois, as suas palavras permanecem actuais.


Excerto de "A Terceira Vaga" de Alvin Toffler:




CAPÍTULO 28 - DEMOCRACIA DO SÉCULO XXI


A obsolescência de muitos dos governos de hoje não é um segredo qualquer que só eu tenha descoberto. Tão-pouco é uma doença apenas da América. O facto é que construir uma nova civilização sobre as ruínas da antiga implica a concepção de estruturas políticas novas e mais apropriadas em muitas nações ao mesmo tempo.

Segundo todas as probabilidades exigirá uma batalha demorada para renovar - ou sequer desmontar - o Congresso dos Estados Unidos, os comités centrais e os politburos dos estados comunistas industrializados, a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, a Câmara dos Deputados francesa, o Bundestag, a Dieta, os gigantescos ministérios e as entrincheiradas administrações civis de muitas nações, as constituições e os sistemas judiciais - em resumo, grande parte do aparelho pesado e cada vez mais impraticável de governos supostamente representativos.

Esta onda de luta política tão-pouco parará ao nível nacional. Ao longo dos anos e das décadas futuras, toda uma «máquina de leis» mundial - das Nações Unidas, numa extremidade, ao concelho municipal, na outra - enfrentará eventualmente uma crescente, e finalmente irresistível, exigência de reestruturação.

Todas estas estruturas terão de ser fundamentalmente alteradas, não por serem inerentemente más, nem sequer por serem controladas por esta ou aquela classe ou por este ou aquele grupo, mas sim porque são cada vez mais inviáveis, por já não corresponderem às necessidades de um mundo radicalmente mudado.



Estas estruturas já não corresponderem às necessidades de um mundo radicalmente mudado.

Essa tarefa envolverá muitos milhões de pessoas. Se tal mudança radical encontrar resistência rígida, isso poderá desencadear derramamento de sangue. Consequentemente, a pacificidade do processo dependerá de muitos factores - da flexibilidade ou intransigência das elites existentes, da mudança ser acelerada por colapso económico, de ocorrerem ou não ameaças externas e intervenções militares. Claramente, os riscos são grandes.

No entanto, os riscos de não mudarmos as nossas instituições políticas são ainda maiores, e quanto mais depressa começarmos tanto maior será a segurança.

Para construir de novo governos viáveis - e para executar o que poderá muito bem ser a tarefa política mais importante do nosso tempo - teremos de arrancar os clichés acumulados da era da Segunda Vaga. E teremos de repensar a vida política em termos de três princípios-chave. Na verdade, eles podem muito bem vir a ser os princípios radicais dos governos de Terceira Vaga de amanhã.



I - PODER DA MINORIA

O primeiro princípio herético do governo da Terceira Vaga é o do poder da minoria. Defende que o governo da maioria, o princípio legitimador-chave da era da Segunda Vaga, está crescentemente obsoleto. Não são as maiorias, e sim as minorias, que contam. E os nossos sistemas políticos devem reflectir cada vez mais esse facto.

Exprimindo as crenças da sua geração revolucionária, foi mais uma vez Jefferson quem afirmou que os governos se devem comportar com «absoluta aquiescência das decisões da maioria». Os Estados Unidos e a Europa, ainda no alvorecer da Segunda Vaga, estavam apenas a iniciar o longo processo que eventualmente os transformaria em sociedades industriais de massas. O conceito de domínio da maioria ajustava-se perfeitamente às necessidades dessas sociedades.



Hoje, como vimos, estamos a deixar o industrialismo para trás e a tornar-nos rapidamente numa sociedade desmassificada. Em consequência disso, esta a ser cada vez mais difícil - muitas vezes até impossível - mobilizar uma maioria ou constituir sequer um governo de coligação. Foi por isso que a Itália, durante seis meses, e a Holanda, durante cinco, estiveram completamente sem governo. Nos Estados Unidos, o cientista político Walter Dean Burnham, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz: «Não vejo a base para nenhuma maioria positiva em coisa alguma, hoje».

Porque a sua legitimidade dependia disso, as elites da Segunda Vaga afirmaram sempre falar em nome da maioria. O governo dos Estados Unidos era «do [...] para o [...] e pelo povo». O Partido Comunista soviético falava pela «classe trabalhadora». Nixon alegava representar a «Maioria Silenciosa» da América. E nos Estados Unidos, hoje, intelectuais neoconservadores atacam as exigências de novas minorias activas coma os negros, as feministas ou os chicanos e afirmam que falam pelos interesses da grande, sólida e moderada maioria do meio da estrada.

Sediados nas grandes universidades do Nordeste e nos depósitos de pensamento de Washington, raramente pondo os pés em lugares como Marietta, no Ohio, ou Salina, no Kansas, neoconservadores académicos aparentemente consideram a «Médio-América» como uma grande massa uniforme e suja de trabalhadores da construção mais ou menos ignorantes e anti-intelectuais e empregados dos escritórios e serviços moradores nos subúrbios. No entanto, estes grupos são muito menos uniformes ou monocromáticos do que parecem, à distância, aos intelectuais e políticos. O consenso é tão difícil de encontrar na Médio-América como noutro lado - na melhor das hipóteses é tremeluzente, intermitente e limitado a muito poucos problemas. Os neoconservadores podem muito bem-estar a envolver a sua política anti-minorias no manto de uma maioria mais mítica do que real.

Na verdade, acontece o mesmo no outro extremo do espectro político. Em muitos países oeste-europeus, partidos socialistas e comunistas alegam falar pelas massas trabalhadoras. No entanto, quanto mais nos afastamos da sociedade industrial de massas, tanto menos sustentáveis são as concepções marxistas. Pois tanto massas como classes perdem muito do seu significado na emergente civilização da Terceira Vaga.



Em lugar de uma sociedade estratificada, na qual alguns blocos maiores se aliam para formar uma maioria, temos uma sociedade configurativa - uma sociedade em que milhares de minorias, muitas delas transitórias, giram e formam padrões muito novos e transitórios, que raramente congelam num consenso de 51 % acerca de problemas importantes. O avanço da civilização da Terceira Vaga enfraquece assim a própria legitimidade de muitos governos existentes.

A Terceira Vaga também desafia todas as nossas ideias convencionais acerca do relacionamento do domínio da maioria com a justiça social. Também aqui, como em muitas outras coisas, assistimos a uma assustadora reviravolta histórica. Durante a era da civilização da Segunda Vaga a luta pelo domínio da maioria foi humana e libertadora. Nos países ainda em industrialização, como a África do Sul de hoje, continua a sê-lo. Nas sociedades da Segunda Vaga o domínio da maioria significou quase sempre uma sorte mais justa para os pobres. Pois os pobres eram a maioria.

Hoje, no entanto, em países abalados pela Terceira Vaga, acontece frequentemente o oposto. Os verdadeiramente pobres já não têm necessariamente a foça dos números do seu lado. Em muitos países, eles - como toda a gente - tornaram-se uma minoria. E, a não ser que se verifique um holocausto económico, assim continuarão.

Portanto, além de já não ser adequado como princípio legitimador, o domínio da maioria deixou de ser necessariamente humanizante ou democrático em sociedades a caminho da Terceira Vaga.

Os ideólogos da Segunda Vaga lamentam rotineiramente a desintegração da sociedade de massas. Em vez de verem nesta diversidade enriquecida uma oportunidade de desenvolvimento humano, atacam-na como «fragmentação e balcanização» e atribuem-na ao «egoísmo» despertado de minorias. Esta explicação trivial substitui a causa pelo efeito. O crescente activismo das minorias não é resultado de um súbito avanço do egoísmo; É, entre outras coisas, um reflexo das necessidades de um novo sistema de produção que requer para a sua própria existência uma sociedade muito mais variada, colorida, aberta e diversa do que jamais conhecemos.

As implicações deste facto são enormes. Significa, por exemplo, que quando os Russos tentam reprimir a nova diversidade ou conter o pluralismo político que a acompanha, estão na realidade (para usar o seu próprio calão) «a acorrentar os meios de produção» - desaceleram a transformação económica e tecnológica da sociedade. E nós, no mundo não comunista, enfrentamos a mesma opção: podemos resistir ao ímpeto para a diversidade num inútil esforço de ultima trincheira para salvar as nossas instituições políticas da Segunda Vaga ou aceitamos a diversidade e mudamos, consequentemente, essas instituições.

A primeira estratégia só pode ser implementada por meios totalitários e está condenada a ter coma resultado a estagnação económica e cultural; a segunda conduz a evolução social e a uma democracia do seculo XXI baseada na minoria.

Para reconstituirmos a democracia em termos de Terceira Vaga, precisamos de abandonar a assustadora, mas falsa ideia de que o aumento de diversidade traz automaticamente um aumento de tensão e conflito a sociedade. Na realidade, pode dar-se precisamente o inverso. O conflito na sociedade não só é necessário, como é também, dentro de certos limites, desejável. Mas se cem homens desejam todos desesperadamente o mesmo anel de latão, podem ser forçados a lutar por ele. Por outro lado, se cada um dos cem homens tem um objectivo diferente, e muito mais compensador para eles negociar, cooperar e formar relações simbióticas. Dentro de condições sociais apropriadas, a diversidade pode contribuir para uma civilização estável e segura.



É a falta, hoje, das instituições políticas apropriadas que agudiza desnecessariamente o conflito entre minorias, até ao gume de faca da violência. É a falta de tais instituições que torna cada vez mais difícil encontrar a maioria.

A solução destes problemas não consiste em sufocar a discordância nem em acusar as minorias de egoísmo (como se as elites e os seus peritos não fossem similarmente egoístas). A solução reside em novos arranjos imaginativos para acomodar e legitimar a diversidade - novas instituições que sejam sensíveis às necessidades rapidamente mutáveis de minorias que mudam e se multiplicam.

O advento de uma civilização desmassificada traz à superfície profundas e perturbadoras questões acerca do futuro do domínio da maioria e de todo o sistema mecanicista de votar para exprimir preferências. Um dia, futuros historiadores podem considerar a votação e a procura de maiorias um ritual arcaico realizado por primitivos comunicacionais. Hoje, no entanto, num mundo perigoso, não nos podemos dar ao luxo de delegar o poder total em alguém, não podemos prescindir sequer da fraca influência popular que existe nos sistemas maioritários, e não podemos permitir que minúsculas minorias tomem grandes decisões que tiranizem todas as outras minorias.

É por isso que devemos rever drasticamente os grosseiros métodos da Segunda Vaga pelos quais procuramos a esquiva maioria. Precisamos de novas abordagens concebidas para uma democracia de minorias: métodos cujo propósito é mais revelar diferenças do que encobri-las com maiorias forçadas ou forjadas baseadas na votação exclusivista, no enquadramento sofístico das coisas ou em processos eleitorais fraudulentos. Precisamos, em resumo, de modernizar todo o sistema a fim de fortalecer o papel de diversas minorias e, ao mesmo tempo permitir-lhes que formem maiorias.

Para isso, no entanto, serão precisas mudanças radicais em muitas das nossas estruturas políticas - a começar pelo próprio símbolo da democracia: a urna dos votos.

Em sociedades da Segunda Vaga, votar para determinar a vontade popular proporcionou uma importante fonte de feedback às elites dominantes. Quando as condições, por qualquer razão, se tomaram intoleráveis para a maioria e 51 % dos votantes manifestaram o seu descontentamento, as elites puderam, no mínimo, mudar de partidos, modificar políticas ou fazer qualquer outra acomodação.

Até mesmo na sociedade de massas de ontem, contudo, o princípio dos 51 % era um instrumento decididamente rombo, puramente quantitativo. Votar para determinar a maioria não nos diz nada a respeito da qualidade das opiniões das pessoas. Pode dizer-nos quantas pessoas em dado momento, querem X mas não com que intensidade o querem. Sobretudo, não nos diz nada acerca do que elas estariam dispostas a trocar por X - informação crucial numa sociedade composta de muitas minorias. Tão-pouco nos assinala quando uma minoria se sente tão ameaçada, ou atribui um significado de vida ou de morte a um único problema, o que talvez justificasse que as suas opiniões tivessem mais do que o peso habitual.



Numa sociedade de massas, essas conhecidas fraquezas do domínio da maioria foram toleradas porque, entre outras coisas, faltava a muitas minorias poder estratégico para perturbar o sistema. Na sociedade apurada de hoje, em que todos nós somos membros de grupos minoritários, isso já não acontece.

Para uma sociedade desmassificada de Terceira Vaga os sistemas de feedback do passado industrial são completamente grosseiros. Assim, teremos de usar a votação e o apuramento de votos de uma maneira radicalmente nova.

Em vez de procurarmos votos simplistas de sim ou não, precisamos de identificar trocas potenciais com perguntas como: «Se eu abandonar a minha posição sobre o aborto, abandonarão a vossa sobre despesas para a defesa ou sobre a energia nuclear?». Ou: «Se eu concordar com um pequeno imposto adicional sobre os meus rendimentos pessoais para o ano, a fim de ser destinado ao vosso projecto, o que é que oferecem em troca?»

No mundo para o qual estamos a correr, com as suas ricas tecnologias de comunicação, há muitas maneiras de as pessoas darem a conhecer tais opiniões sem sequer porem os pés numa cabina de voto. E há igualmente maneiras, como veremos em breve, de transmitir essas opiniões ao processo de tomada de decisões políticas.

Também podemos querer desmantelar as nossas leis eleitorais a fim de eliminar preconceitos anti-minoritários. Há muitas maneiras de o fazer. Um método completamente convencional seria a adopção de uma variante de votação cumulativa. Como a usada hoje por muitas corporações para proteger os direitos dos accionistas minoritários. Tais métodos permitem aos votantes manifestar não somente as suas preferências, mas também a intensidade e a ordem das suas opções.

Teremos quase com certeza de abandonar as nossas obsoletas estruturas partidárias, concebidas para um mundo de mudança lenta, de movimentos de massas e de comercialização em massa, e inventar partidos modulares temporários que sirvam configurações mutáveis de minorias - partidos de ligar e desligar do futuro.

Podemos precisar de nomear «diplomatas» ou «embaixadores» cuja missão não seja mediar entre nações, mas sim entre minorias dentro de cada país. Podemos ter de criar instituições quase políticas para ajudar minorias - quer profissionais, étnicas, sexuais, regionais e recreacionais, quer religiosas - a fazer e desfazer alianças mais rápida e facilmente.




Podemos, por exemplo, precisar de fornecer recintos em que diferentes minorias, numa base rotativa e talvez até ao acaso, se reúnam para comparar problemas, negociar acordos e solucionar disputas. Se médicos, motociclistas, programadores de computadores, adventistas do sétimo dia e panteras cinzentas se reunirem, com a assistência de mediadores treinados para clarificar problemas, estabelecer prioridades e resolver disputas, poderão ser formadas alianças surpreendentes e construtivas. No mínimo, as diferenças de opinião podiam ser apresentadas e a base de troca política explorada. Tais medidas não eliminarão (nem deverão eliminar) todo o conflito. Mas podem elevar a luta social e política a um nível mais inteligente e potencialmente construtivo - especialmente se estiverem ligados ao estabelecimento de objectivos a longo prazo.

Hoje, a própria complexidade dos problemas gera inerentemente uma maior variedade de pontos negociáveis. No entanto, o sistema político não está estruturado para tirar vantagem desse facto. Alianças e trocas potenciais passam despercebidas, aumentando assim desnecessariamente as tensões entre grupos, ao mesmo tempo que sobrecarregam as instituições políticas existentes.

Finalmente, podemos muito bem precisar de dar a minorias o poder de resolver maior número dos seus próprios assuntos e encorajá-las a formular objectivos a longo prazo. Podíamos, por exemplo, ajudar as pessoas de um bairro específico, de uma subcultura bem definida ou de um grupo étnico a formar os seus próprios tribunais de jovens sobre a supervisão do estado, disciplinando assim a sua própria juventude em vez de depender do estado para o fazer. Tais instituições criariam comunidade e identidade e contribuiriam para a lei e para a ordem, ao mesmo tempo que aliviariam as instituições governamentais sobrecarregadas de trabalho desnecessário.

Podemos, no entanto, achar necessário ir muito além de tais medidas reformistas. Para fortalecer a representação da minoria num sistema político concebido para uma sociedade desmassificada, podemos até, eventualmente, ter de eleger pelo menos alguns dos nossos funcionários da maneira mais antiga de todas: à sorte. Assim, algumas pessoas sugeriram seriamente a escolha de membros da legislatura ou do parlamento do futuro do modo como hoje escolhemos membros do júri ou tropas.

Theodore Becker, professor de Direito e Ciência Política da Universidade do Havai, pergunta: «porque será que decisões importantes de vida e de morte podem ser tomadas por pessoas que prestam serviço em [...] júris, mas as decisões quanto ao dinheiro que deverá ser gasto em centros de cuidados infantis e despesas de defesa estão reservadas aos seus "representantes"?».

Acusando as condições políticas existentes de enganar sistematicamente as minorias. Becker, uma autoridade constitucional, recorda-nos que embora os não brancos constituam cerca de 20% da população americana, detinham (em 1976) apenas 4% dos lugares na Câmara dos Representantes e apenas 1 % no Senado. As mulheres, que são mais de 50% da população, detinham somente 4% dos lugares na Câmara e nenhum no Senado. Pobres, jovens, gente inteligente mas sem capacidade de expressão e muitos outros grupos encontram-se em desvantagem similar. Mas isto não é apenas verdade nos Estados Unidos. No Bundestag, apenas 7% dos lugares são ocupados por mulheres e semelhantes preconceitos são evidentes em muitos outros governos. Tão grosseiras distorções não podem deixar de embotar a sensibilidade do sistema para as necessidades de grupos sub-representados.



Palavras de Becker: «Entre 50 e 60% do Congresso americano deveriam ser escolhidos ao acaso entre o povo americano, de modo muito similar, ao que leva as pessoas para o serviço militar, por recrutamento, quando são consideradas necessárias.» Por surpreendente que a sugestão possa parecer a primeira vista, obriga-nos a considerar seriamente se representantes escolhidos ao acaso fariam (ou poderiam fazer) pior papel do que os escolhidos pelos métodos de hoje.

Se nos permitirmos imaginar livremente por um momento, podemos descobrir muitas outras alternativas surpreendentes. Na realidade, dispomos agora das técnicas necessárias para escolher amostras mais genuinamente representativas do que o sistema de júri ou de sorte, com as suas exclusões preferenciais, sempre fizeram. Podemos construir um congresso ou parlamento do futuro ainda mais inovador - e fazê-lo, paradoxalmente, com menos perturbação da tradição.

Não temos de escolher um grupo de pessoas à sorte e remetê-lo literalmente, como outros tantos Mr. Smiths, para Washington, Londres, Bona, Paris ou Moscovo. Podíamos, se quiséssemos, conservar os nossos representantes eleitos, mas permitindo-lhes apenas empregar 50 % dos votos em cada questão, deixando os outros 50 % para uma amostragem de público ao acaso.

Usando computadores, telecomunicações avançadas e métodos de votação, tornou-se simples não só seleccionar uma amostragem ao acaso do público, mas também ir actualizando essa amostragem dia a dia e fornecer-lhe informações de último minuto acerca das questões em causa. Quando uma lei fosse necessária, o complemento total dos representantes tradicionalmente eleitos, reunindo-se do modo tradicional sob a cúpula do Capitólio, ou em Westminster, ou na Bundeshaus, ou no edifício da Dieta, poderia deliberar e discutir, corrigir e estruturar a legislação.

Mas quando chegasse o momento da decisão, os representantes eleitos usariam apenas 50 % dos votos, enquanto a amostragem ao acaso corrente - que não se encontraria na capital, mas sim geograficamente dispersa nas suas próprias casas ou nos seus escritórios - utilizaria electronicamente os restantes 50%. Tal sistema proporcionaria não só um processo mais representativo do que o governo representativo jamais apresentou, mas desferiria também um tremendo golpe nos grupos de interesses especiais e nos lobbies que infestam os corredores da maioria dos parlamentos. Tais grupos teriam de passar a «lobbyzar» o povo e não apenas alguns funcionários eleitos.

Indo ainda mais longe, poderíamos imaginar votantes de um distrito eleitoral a eleger não um único individuo como seu representante., mas sim uma amostra ao acaso da população.

Essa amostra ao caso podia servir directamente no Congresso como se fosse uma pessoa - com as suas opiniões estatisticamente computadas em votos. Ou podia escolher um único individuo, à vez, para o representar, instruindo-o (a ele ou a ela] quanto à maneira de votar. Ou...



As permutações oferecidas pelas novas tecnologias de comunicações são intermináveis e extraordinárias. Se reconhecermos que as nossas instituições e constituições actuais são obsoletas e começarmos a procurar alternativas, apresenta-se-nos subitamente toda a espécie de espantosas opções políticas nunca antes possíveis. Se queremos governar sociedades que correm para o século XXI, temos pelo menos de considerar as tecnologias e os instrumentos conceptuais postos a nossa disposição pelo século XX.

O que é importante aqui não são estas sugestões específicas. Trabalhando juntos no assunto, podemos sem dúvida encontrar ideias muito melhores, mais fáceis de implementar e de concepção menos drástica. O que é importante é o caminho geral que escolhermos percorrer. Podemos travar uma batalha perdida para suprimir ou submergir as minorias que hoje desabrocham, ou podemos reconstituir os nossos sistemas políticos para acomodarem a nova diversidade. Podemos continuar a utilizar os instrumentos toscos dos sistemas políticos ou conceber novos e sensíveis instrumentos para uma democracia de amanhã baseada na minoria.

À medida que a Terceira Vaga desmassificar a velha sociedade de massas da Segunda Vaga, creio que as suas pressões ditarão essa escolha. Pois se a política foi «pré-maioritária» durante a Primeira Vaga e - «maioritária» durante a Segunda, é provável que seja «mini-maioritária» amanhã - uma fusão de governo da maioria com poder das minorias.