sexta-feira, maio 28, 2010

Os Assassinos da Banca, acolitados pelos políticos e pelos media, preparam-se para destruir o país e os portugueses. Aux armes...

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Bancos vão cortar no crédito para as famílias e empresas

Preparem-se. O cinto vai apertar e é para todos. Bancos, Estado, empresas e famílias. O crédito fácil acabou e será seguramente mais escasso e mais caro nos próximos tempos. Com maior ou menor ênfase, foi este o ponto central do discurso dos líderes dos cinco principais bancos nacionais, que ontem participaram no Fórum Banca e Mercado de Capitais organizado pelo Diário Económico.


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Banco Espírito Santo

          Lucros em 2006 = 420 milhões de euros
          Lucros em 2007 = 607 milhões de euros
          Lucros em 2008 = 402,3 milhões de euros
          Lucros em 2009 = 522 milhões de euros
          Lucros no 1º Trimestre de 2010 = 119,1 milhões de euros


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Banco Millennium bcp

          Lucros em 2006 = 780 milhões de euros
          Lucros em 2007 = 563 milhões de euros
          Lucros em 2008 = 201,2 milhões de euros
          Lucros em 2009 = 225 milhões de euros
          Lucros no 1º Trimestre de 2010 = 96,4 milhões de euros


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BPI – Banco Português de Investimento

          Lucros em 2006 = 308,8 milhões de euros
          Lucros em 2007 = 355 milhões de euros
          Lucros em 2008 = 150,3 milhões de euros
          Lucros em 2009 = 175 milhões de euros
          Lucros no 1º Trimestre de 2010 = 45,1 milhões


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Banco Santander Totta

          Lucros em 2006 = 425 milhões de euros
          Lucros em 2007 = 510 milhões de euros
          Lucros em 2008 = 517,7 milhões de euros
          Lucros em 2009 = 523 milhões de euros
          Lucros no 1º Trimestre de 2010 = 131,1 milhões de euros


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Jornal de Negócios – 27.05.2010

O Banco de Portugal reitera o aumento dos "spreads" [lucros dos bancos] na concessão de crédito, quer às famílias quer às empresas, e sublinha que o "agravamento das condições de financiamento dos bancos", por via dos receios que imperam em relação à dívida europeia "tenderá a repercutir-se numa maior restritividade na concessão de crédito ao sector privado não financeiro".


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As recessões são deliberadamente criadas pelos bancos para se apropriarem da riqueza dos países ao preço da chuva


Numa Economia é necessária uma adequada
Disponibilidade de Moeda


Uma disponibilidade de moeda adequada é indispensável a uma sociedade civilizada. Podemos privar-nos de muitas outras coisa, mas sem dinheiro, a indústria paralisava, as propriedades rurais tornar-se-iam unidades auto-sustentadas, excedentes de alimentos desapareceriam, trabalhos que precisem mais do que um homem ou uma família fixariam por fazer, remessas e grandes movimentos de produtos cessariam, pessoas com fome dedicar-se-iam à pilhagem e matariam para permanecer vivas, e todo o governo, excepto a família ou a tribo, deixaria de funcionar.

Um exagero, dirão? Nada disso. O dinheiro é o sangue da sociedade civilizada, o meio pelo qual são feitas todas as transacções comerciais excepto a simples troca directa. É a medida e o instrumento pelo qual um produto é vendido e outro comprado. Removam o dinheiro ou reduzam a disponibilidade de moeda abaixo do que é necessário para levar a cabo os níveis correntes de comércio, e os resultados são catastróficos.

Como exemplo, bastará debruçarmo-nos sobre a Depressão Americana nos princípios dos anos 30 do século XX.


Depressão Bancária de 1930

Em 1930 os Estados Unidos não tinham falta de capacidade industrial, propriedades rurais férteis, trabalhadores experientes e determinados e famílias laboriosas. Tinham um amplo e eficiente sistema de transportes ferroviários, redes de estradas, e canais e rotas marítimas. As comunicações entre regiões e localidades eram as melhores do mundo, utilizando telefone, teletipo, rádio e um sistema de correios governamental perfeitamente operacional.

Nenhuma guerra destruiu as cidades do interior, nenhuma epidemia dizimou, nem nenhuma fome se aproximou do campo. Só faltava uma coisa aos Estados Unidos da América em 1930: Uma adequada disponibilidade de moeda para negociar e para o comércio.

No princípio dos anos 30 do século XX, os banqueiros, a única fonte de dinheiro novo e crédito, recusaram deliberadamente empréstimos às indústrias, às lojas e às propriedades rurais. Contudo, eram exigidos os pagamentos dos empréstimos existentes, e o dinheiro desapareceu rapidamente de circulação. As mercadorias estavam disponíveis para serem transaccionadas, os empregos à espera para serem criados, mas a falta de dinheiro paralisou a nação.



Com este simples estratagema a América foi colocada em "depressão" e os banqueiros apropriaram-se de centenas e centenas de propriedades rurais, casas e propriedades comerciais. Foi dito às pessoas, "os tempos estão difíceis" e "o dinheiro é pouco". Não compreendendo o sistema, as pessoas foram cruelmente roubadas dos seus ganhos, das suas poupanças e das suas propriedades.


Sem Dinheiro para a Paz, mas com muito Dinheiro para a Guerra

A Segunda Guerra Mundial acabou com a "Depressão". Os mesmos banqueiros que no início dos anos trinta não faziam empréstimos em tempos de paz para a compra de casas, comida e roupas, de repente tinham biliões ilimitados para emprestar para material militar, rações de combate e uniformes.

Uma nação que em 1934 não conseguia produzir alimentos para venda, repentinamente podia produzir milhões de bombas para enviar para a Alemanha e para o Japão.

Com o súbito aumento da quantidade de dinheiro, as pessoas eram contratadas, as propriedades rurais vendiam os seus produtos, as fábricas começaram a funcionar em dois turnos, as minas foram reabertas, e "A Grande Depressão" acabou!

Alguns políticos foram considerados culpados pela depressão e outros ficaram com os méritos por ter acabado com ela. A verdade é que a falta de dinheiro causada pelos bancos trouxe a depressão, e a quantidade adequada de dinheiro acabou com ela. Nunca foi dito às pessoas a simples verdade de que os banqueiros que controlam o nosso dinheiro e crédito usaram esse controlo para saquear a América e colocá-los a todos na escravidão.

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quarta-feira, maio 26, 2010

Dra. Ella Lingens - uma médica testemunha de Auschwitz



No Wikipedia:

O objetivo principal do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (casos de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objetivo, equipou-se o campo com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na Primavera de 1942.

Os prisioneiros eram trazidos de comboio de toda a Europa ocupada pelos alemães, chegando a Auschwitz-Birkenau diariamente. Na chegada ao campo, os prisioneiros eram separados em dois grandes grupos – aqueles marcados para a exterminação imediata, e os que fiavam registados como prisioneiros. O primeiro grupo, cerca de três quartos do total, era levado para as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau em questão de horas; este grupo incluía todas as crianças, todas as mulheres com crianças, todos os idosos, e todos aqueles que, após uma breve e superficial inspecção pelo pessoal das SS, não se mostravam em condições de trabalhar.


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Dr. Ella Lingens

A austríaca Dr. Ella Lingens foi enviada como médica para o campo de prisioneiros [de Auschwitz], e conseguiu salvar muitos judeus da morte nas câmaras de gás. Seguiu depois na marcha da morte de Auschwitz para Dachau, e conseguiu sobreviver até ao fim da guerra. A 3 de Janeiro de 1980, o Memorial israelita Yad Vashem reconheceu-a (e ao marido) como "Justos Entre as Nações".


Excerto do «Procedimento judicial contra Mulka e outros», geralmente conhecido por:

«Julgamento de Auschwitz».

Autor: Bernd Naumann - Frankfurt am Main - 1965

Colecção «Os Grandes Processos da História» - Edição «Livros do Brasil».


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Ella Lingens, doutora em Medicina e em Filosofia, nascida na Alemanha e agora cidadã austríaca, reside em Viena e trabalha no Ministério de Administração Social austríaco. Foi levada para Auschwitz em 1943, como prisioneira política, em virtude de ter ajudado judeus a fugir, e era a única médica não judaica prisioneira no campo. Considerava o «Auschwitz cooperativo austro-germânico» uma infâmia tão grande que ainda não se conseguiu refazer desse sentimento. A testemunha falou das probabilidades de sobrevivência:

- O acaso desempenhava um papel decisivo. As primeiras semanas determinavam a vida ou a morte. Dependia tudo de se ter a sorte de arranjar ou não trabalho interno.

Acrescentou que também ficara a dever a vida ao acaso:

- O oficial médico Dr. Rohde perguntou-me onde estudara. Quando lhe respondi que estudara em Marburgo, redarguiu-me: «Então deve-me ter conhecido.» E mencionou o nome de uma taberna onde bebera muitos copos de vinho. Pensei para comigo que talvez aquilo fosse uma sorte e repliquei: «Com certeza, Herr Untersturmführer, conheci-o de vista.» Ele convenceu-se de que me salvou a vida, e eu tenho a certeza de que o fez por razões sentimentais, por lhe lembrar a sua juventude. Salvou-me a vida, é verdade. mas mandou para a morte dezenas de milhares de pessoas. Creio não existir nenhum SS que não se possa gabar de ter salvo a vida a alguém. Não havia sádicos e o número de criminosos patológicos, no sentido clínico, não ia além de cinco a dez por cento; os outros eram homens perfeitamente normais e conscientes da diferença entre o bem e o mal. Todos eles sabiam o que se passava.E acreditavam seriamente que - como Rohde disse à prisioneira Ella Lingens - os sobreviventes daquele inferno poderiam «beber um copo de vinho juntos, depois da guerra».

Segundo a testemunha, as condições de vida no campo «melhoraram um pouco, com o passar do tempo, mas com uma lentidão terrível. Os prisioneiros tinham de viver com um máximo de 700 a 800 calorias por dia, e o prisioneiro médio não resistia mais de quatro meses. Nenhum prisioneiro chegado a Auschwitz antes do Verão de 1944 sobreviveu, a não ser que tivesse um trabalho especial».

A Dra. Lingens falou a seguir de uma leva de duas mil mulheres, chegadas a Auschwitz, algum tempo antes dela:

- Quando cheguei, ainda estavam vivas duzentas e sessenta. As outras tinham todas morrido. Não foram gaseadas; morreram, simplesmente.

A Dra. Lingens nunca assistiu ao injectamento (sic) nem ao gaseamento de prisioneiros, mas teve conhecimento de alguns pretextos usados para pronunciar tais sentenças de morte. Um dia, por exemplo, o oficial médico pediu uma lista dos internados atacados de malária, a fim de serem transferidos para outro campo, onde não havia mosquitos.

- Acreditei nas suas palavras e fiz uma lista de todos os doentes nessas condições, mas uma médica checa abordou-me e disse-me: «Por favor, mencione apenas os que estiverem muito doentes.» Expliquei-lhe que a transferência seria a melhor coisa que se poderia fazer aos doentes de malária e declarei que mencionaria todos. «Meu Deus, que vai fazer? Serão todos mortos.» Foi a primeira indicação que tive do que se passava em Auschwitz. Risquei da lista a maioria dos que inscrevera. Por singular coincidência, esses prisioneiros foram, de facto, transferidos e eu senti-me cheia de remorsos e arrependi-me de não ter indicado todos, como fora minha intenção inicial. Só mais tarde vim a saber que tinham sido levados para Lublin e gaseados. Nunca sabíamos quando os mandávamos para a câmara de gás ou para a liberdade.

Noutra ocasião, o Dr. Mengele teve a ideia de retirar do campo as mulheres grávidas. Uma patologista indicada pela Dra. Lingens foi, realmente, transferida e continuou a encarregar-se de trabalhos laboratoriais para Mengele, em Cracóvia.

- Mengele mandou-lhe flores e felicitou-a pelo nascimento do filho. Também aconteciam coisas destas. Por tudo isto, desempenhávamos um papel, mas na realidade ignorávamos o que fazíamos. Não raro, as mulheres lambiam a comida como cães. A única torneira ficava ao lado da latrina, e o fio de água que dela escorria servia também para arrastar os excrementos. As mulheres bebiam ou tentavam levar com elas um pouco de água, nalguma vasilha, enquanto, ao seu lado, as suas companheiras de sofrimento se sentavam nas latrinas. Ao mesmo tempo, as guardas batiam-lhes, com cacetes, e homens das SS andavam de um lado para o outro, a observar.


Latrinas em Birkenau

O Inverno de 1943-1944 foi verdadeiramente horrível: «No Outono, éramos trinta mil, no campo das mulheres; na Primavera. o número baixara para vinte mil, principalmente devido a subnutrição e doença. Vi doenças que só costumamos encontrar nos livros de estudo. Nunca imaginei que me seria dado ver algumas delas, como, por exemplo, o pênfigo, uma doença raríssima, em virtude da qual grandes extensões de pele se desprendem e o paciente morre ao fim de poucos dias.»

As doenças mais correntes eram o tifo, uma diarreia teimosa - a «doença do campo» -, a febre tifóide e paratifóide, a erisipela e a tuberculose. No hospital da Dra. Lingens encontravam-se setecentos enfermos «e no mesmo bloco, com todas essas pessoas doentes, também nasciam crianças. Nem sequer as podíamos lavar; limpávamo-las o melhor possível, com papel de seda. Lembro-me de que, uma vez, a mulher do comandante Höss mandou um casaquinho cor-de-rosa, com desejos de felicidades, para aquele inferno. Li que em todos os relatos das atrocidades cometidas se tem falado muito em parques infantis e coisas semelhantes. Não existe nada de falso em tal afirmação. Eu própria vi um homem desenhar bonequinhos encantadores nas paredes do bloco das crianças, por lhe parecerem apropriados. Havia impulsos humanos deste género, mas estavam em contradição absoluta com a realidade».


Pintura Mural na parede esquerda da área comum da barraca das crianças de Auschwitz-Birkenau:


A testemunha disse lembrar-se do Dr. Mengele, «exactamente como costumava parar, com os polegares enfiados no cinturão da pistola. Lembro-me também do Dr. König e, para ser justa, devo dizer que; antes de fazer certas coisas, se embriagava sempre muito, assim como o Dr. Rohde. Mengele, porém, não precisava disso; fazia-as a sangue-frio».

Capesius? Ouvira apenas dizer que administrava a farmácia do campo.

Havia uma «ilha de paz» no campo de Auschwitz: o campo de trabalho Babice.

- Era obra de um único homem, do Oberscharführer Flacke. Não sei como o conseguia, mas o seu campo estava limpo e a comida era asseada. As mulheres tratavam-no por «paizinho», e ele até arranjava ovos, no exterior. Mais tarde foi para Birkenau e os homens da sua zona disseram: «Flacke veia para, cá; há-de correr tudo bem.» Não sei o que lhe aconteceu. Falei com ele uma vez e disse-lhe: «Tudo quanto fazemos é tão horrível, tão inútil! Quando esta guerra terminar seremos todos assassinados; não se deixará sobreviver nenhuma testemunha.» E ele respondeu-me: «Espero que sejamos bastantes para evitar isso.»

- Pretende dizer que, em Auschwitz, cada um podia escolher, por si, ser bom ou mau? - perguntou o juiz à testemunha.

- É isso, exactamente, o que pretendo dizer.

Em fins de 1943, a Dra. Lingens viu, pela primeira vez, como as pessoas eram conduzidas para as câmaras de gás. Camiões carregados de mulheres aos gritos tinham parado perto dos guardas, ao portão.


Câmara de Gás de Auschwitz

- Sabíamos que iam morrer e desejávamos dizer-lhes qualquer coisa, mas ignorávamos o quê.

O juiz Hofmeyer observou constar que lançavam crianças às chamas, ainda vivas, e perguntou à testemunha o que sabia a tal respeito.

- Vimos uma grande fogueira e pessoas a andar à sua volta e a atirar coisas para as chamas, Vi um homem transportar algo que mexia a cabeça e observei: «Meu Deus Marushka, ele vai lançar ao fogo um cão vivo!» E a minha companheira respondeu-me: «Não é um cão; é uma criança.» Pensei que não podia ser, que era impossível que fosse uma criança. Desejo esclarecer, a este respeito, que sou míope e me tinham dado, no campo, uns óculos. Mas não me atrevi a pô-los, pois não desejava acreditar em semelhante monstruosidade, não queria ver se era, realmente, uma criança. Mais tarde, porém, outras internadas confirmaram que tal acontecia e, por isso, tive de acreditar.

Pintura de um sobrevivente do Holocausto

[...]

A testemunha declarou julgar que o espaço disponível, no campo, contribuía para determinar quantas pessoas tinham de ser mandadas para as câmaras de gás. Falou a seguir dos corpos empilhados próximo do seu bloco, a todo o comprimento deste e com uma altura de cerca de noventa centímetros.


Declarou ser verdade os ratos roerem os cadáveres, assim como mulheres inconscientes, e disse ter visto arrancar cobertores a mulheres escolhidas para extermínio, com as palavras: «Não precisará mais dele.» Nas barracas do hospital encontravam-se seiscentas mulheres doentes, ou mais, em cento e oitenta camas. Estavam infestadas de piolhos, os portadores do tifo, mas os despiolhamentos eram muito temidos e, aliás, três dias depois da limpeza havia tanta bicharada como antes.

Até que chegou Mengele. Foi o primeiro a livrar de piolhos todo o campo das mulheres: mandou gasear todas as ocupantes de um bloco, desinfectou-o, instalou uma banheira e deixou as ocupantes do bloco contíguo tomarem lá banho, e assim sucessivamente. Depois desta operação, o Recinto A ficou livre de piolhos. Mas começou tudo com o gaseamento de setecentas e cinquenta mulheres do primeiro bloco.


segunda-feira, maio 24, 2010

The Tipping Point - Uma lição de economia a marxistas e a defensores do mercado livre



Excerto do livro «The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future [As luzes no Túnel: Automação, Tecnologia em Aceleração e a Economia do Futuro]» de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley, autor e empresário.

[Tradução minha]



O Ponto de Viragem

Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo, Desemprego e o fim da Economia de Mercado

[Qualquer actividade produtiva utiliza uma determinada combinação de factores produtivos para a produção de bens e serviços. Quanto à intensidade da utilização dos factores produtivos, podem ser de capital-intensivo (utilizam mais intensivamente o capital – tecnologia, máquinas), ou trabalho-intensivo, que utilizam intensivamente o trabalho ou mão-de-obra.]

Podemos situar qualquer indústria algures no espectro que vai desde o grau mais trabalho-intensivo até ao grau mais capital-intensivo. Na nossa economia actual, algumas das indústrias de cariz mais trabalho-intensivo estão na venda a retalho, hotelaria e pequenos negócios. Supermercados, cadeias de lojas, restaurantes e hotéis têm todos de contratar bastantes empregados.

Indústrias de capital-intensivo, por outro lado, empregam relativamente poucas pessoas e, em vez disso, requerem investimento em tecnologia: maquinaria e equipamento avançados e em sistemas computadorizados. Indústrias de alta tecnologia tal como fabrico de semicondutores, biotecnologia e companhias baseadas na Internet são todas de capital intensivo.


Trabalho-Intensivo versus Capital-Intensivo


Com o tempo, à medida que a tecnologia evolui, a maior parte das indústrias tornam-se mais capital-intensivas e menos trabalho-intensivas. A tecnologia também cria indústrias completamente novas, e estas são quase sempre capital-intensivas. Este facto tem sido assim há séculos, e historicamente tem sido uma coisa positiva. Se se comparar as indústrias numa nação desenvolvida, como os Estados Unidos, com as indústrias de uma nação do Terceiro Mundo, descobre-se invariavelmente que a economia americana é muito mais capital-intensiva. Foi a introdução da tecnologia avançada que aumentou a produtividade e tornou ricas as nações mais desenvolvidas.

A razão deste facto remonta à explicação dos economistas da «Falácia Ludita»:

Wikipedia - [O Ludismo é o nome do movimento contrário à mecanização do trabalho trazida pela Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo Ludita (do inglês Luddite) identifica toda a pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias. Os Luditas invadiram fábricas e destruíram máquinas, que, segundo eles, por aquelas serem mais eficientes que os homens, lhes tiravam os seus empregos. Os Luditas ficaram lembrados como "estoira-máquinas"]

À medida que a nova tecnologia é adoptada pelas indústrias, a produção torna-se mais eficiente. Isto resulta na perda de alguns empregos, mas também provoca preços mais baixos para bens e serviços. Por outras palavras, coloca mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Estes consumidores vão então comprar todo o tipo de coisas, e o resultado é um aumento da procura dos produtos de toda a espécie de indústrias.

Algumas destas indústrias são muito trabalho-intensivas, e portanto enquanto se esforçam para fazer face a este aumento da procura, são forçados a contratar mais trabalhadores. E desta forma, o emprego na sua totalidade mantém-se estável ou até aumenta. Por vezes, evidentemente, este resultado traduz-se numa transição desagradável para alguns trabalhadores: podem perder um emprego bem remunerado na indústria e acabar com um emprego mal pago como caixa de um supermercado.


Número de empregados e respectivos salários médios nas seguinte empresas:

McDonalds - 400.000 empregados - 59.000 dólares

Wal-Mart - 2.100.000 empregados - 180.000 dólares

Intel - 83.000 empregados - 456.000 dólares

Microsoft - 91.000 empregados - 664.000 dólares

Google - 20.000 empregados - 1.081.000 dólares



Pode este processo continuar indefinidamente? A tecnologia da automação vai progressivamente invadir os restantes sectores do trabalho-intensivo da economia. Quando isto acontecer, que indústrias restarão para absorver todos os trabalhadores substituídos? Atente-se na tabela acima. O que é que acontecerá quando a McDonalds começar a ficar mais parecido [em termos de empregos] com a Google?

Um exercício simples de senso comum mostra-nos que existe um limiar a partir do qual a economia no seu todo se torna demasiado capital-intensiva. Assim que isto aconteça, preços mais baixos resultantes de aperfeiçoamentos tecnológicos não se traduzirão em mais emprego. Depois deste limiar ou ponto de viragem, as indústrias que constituem a nossa economia já não necessitarão de contratar os trabalhadores suficientes para compensar a perda de empregos resultantes da automação; serão, em vez disso, capazes de encontrar algum aumento na procura principalmente investindo em mais tecnologia. Este ponto marca a derrocada da fé dos economistas na Falácia Ludita, e marca também o princípio de uma espiral económica decrescente pela simples razão de que os trabalhadores são também os consumidores de tudo o que é produzido na nossa economia.

O que é que devemos esperar que aconteça se a generalidade da economia se estiver a aproximar deste ponto de viragem, a partir do qual as indústrias deixam de ser suficientemente trabalho-intensivas para absorver os trabalhadores que perderam os seus empregos devido à automação? Devemos provavelmente assistir um aumento gradual do desemprego, congelamento de salários e aumentos significativos na produtividade (output por hora de trabalho) à medida que as indústrias forem sendo capazes de produzir um maior número de bens e serviços com menos trabalhadores.



Isto parece desconfortavelmente parecido com o que tem estado a acontecer nos anos que conduziram à actual recessão. Em Agosto de 2003, o "The Economist" escreveu que a "Agência de Estatística do Trabalho expressou a mais recente prova do renascimento da produtividade americana: a produtividade por trabalhador aumentou em 5,7% no segundo trimestre, calculada a um período de um ano. Mas nos tempos actuais, menos exuberantes, o número levantou a triste possibilidade de crescimento sem criação de empregos." Três anos depois, num artigo intitulado "O caso dos Empregos Desaparecidos," a BusinessWeek disse: "Desde 2001, com a ajuda de computadores, modernização das comunicações, e com operações fabris ainda mais avançadas, a produtividade industrial americana, ou o total de bens e serviços que um trabalhador produz numa hora, disparou para uns impressionantes 24%... Em suma: estamos a fazer mais com menos gente." Não há forma de saber com segurança a que distância estamos da estagnação permanente da criação de emprego na economia. Contudo, estas estatísticas são seguramente uma causa de preocupação.



O Trabalhador Médio e a Máquina Média

Outra forma de expressar esta ideia de um ponto de viragem é imaginar num trabalhador médio a utilizar uma máquina média algures na economia. Obviamente, no mundo real existem milhões de trabalhadores a utilizar milhões de máquinas diferentes. Com o tempo, evidentemente, estas máquinas vão-se tornando mais sofisticadas. Imagine-se uma máquina típica que represente de modo geral todas as máquinas na economia.

A determinada altura, essa máquina pode ter sido uma nora de um moinho. Depois, pode ter sido uma máquina movida a vapor. Mais tarde, uma máquina industrial alimentada a electricidade. Hoje, a máquina é provavelmente controlada por um computador ou por microprocessadores embutidos.



À medida que a máquina típica se vai tornando cada vez mais sofisticada, os salários dos operários que nela trabalhavam foram aumentados. Máquinas mais sofisticadas tornam a produção mais eficiente e tal traduz-se em preços mais baixos e, portanto, mais dinheiro nos bolsos dos consumidores. Os consumidores vão então gastar esse dinheiro extra, e isso cria empregos para mais trabalhadores que, de igual forma, vão operar máquinas que continuam a evoluir.

De novo, a questão a colocar é: Pode este processo continuar para sempre? Estou convencido de que a resposta é NÃO, e o gráfico seguinte ilustra este facto.


Valor Acrescentado (Salário) do Trabalhador Médio a operar uma Máquina Média:


O problema, evidentemente, é que as máquinas se estão a tornar cada vez mais autónomas. Pode-se observar isto no gráfico no ponto onde a linha pontilhada (conhecimento convencional) e a linha contínua divergem. À medida que mais máquinas começarem a trabalhar sozinhas, o valor que o trabalhador médio acrescenta começa a declinar. É de lembrar que estamos a falar de trabalhadores médios. Para melhor perceber o gráfico acima, atente-se na distribuição de rendimentos nos Estados Unidos e depois retirem tanto as pessoas mais ricas como as mais pobres. Depois veja-se o rendimento médio dos "típicos" restantes (a maioria dos consumidores) ao longo do tempo. Se, ao invés, se observar o Produto Interno Bruto per capita, chegar-se-á a um gráfico semelhante, mas a divergência entre as linha pontilhada e a linha contínua irá ocorrer um pouco mais tarde. Isto acontece porque as pessoas mais ricas (que são donas das máquinas ou com altos níveis de especialização) irão beneficiar inicialmente da automação e, por isso, elevam a média.

Logo que as linhas começam a divergir, as coisas vão ficar muito feias. Isto acontece porque o mecanismo básico que coloca o poder de compra nas mãos dos consumidores está a falhar. Com o tempo, desemprego, baixos salários – e talvez o mais importante – a psicologia do consumidor irá causar uma muito grave retracção económica.

Como o gráfico mostra, dentro do contexto das nossas actuais regras económicas, a ideia das máquinas serem "completamente autónomas" é apenas uma meta teórica que nunca poderá ser alcançada.

Algumas pessoas podem pensar que estou a ser demasiado simplista em relacionar "o progresso tecnológico" com "máquinas mais autónomas". No fim de contas, a tecnologia não são apenas máquinas físicas; são também técnicas, processos e conhecimento distribuído. A realidade, contudo, é que a distinção histórica entre máquinas e capital intelectual está a tornar-se pouco distinta. É agora muito difícil separar processos inovadores da tecnologia de informação avançada que quase sempre torna possível e está na base deles. Sistemas avançados de gestão de inventários e marketing informatizado são exemplos de inovações técnicas, mas que assentam grandemente em computadores. De facto, é possível pensar em quase qualquer processo ou técnica como "software" – e, portanto, parte de uma máquina.

Se ainda tiver problemas em aceitar este cenário, pode colocar a si próprio algumas questões: (1) É possível continuar a aperfeiçoar uma máquina para sempre sem que por fim se torne autónoma? (2) Mesmo se for possível, então não chegará um dia em que a máquina se tornará tão sofisticada que a sua operação estaria para além da grande maioria das pessoas com um grau de formação normal? E não conduziria isto directamente à autonomia da máquina?




Em suma

Com o fim do emprego e dos salários, ou seja, do poder de compra, que futuro poderá ter a propriedade privada dos meios de produção?
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sexta-feira, maio 21, 2010

Morreu o Banqueiro Horácio Roque. O dono do Banif era possuidor de uma fortuna calculada em 1,12 mil milhões de euros

Horácio Roque (1944-2010)

Jornal i - 20.05.2010

[...] O presidente do Banif, Horário Roque, morreu hoje (19.05.2010) com 66 anos. Aos 14 anos (1958), Roque deixou a aldeia natal do Mogadouro para zarpar de Lisboa para Luanda, só com 500 escudos no bolso. Lá, teve os dois únicos "empregos" da sua vida: caixeiro-aprendiz e empregado de restaurante.

Em 1988 [30 anos depois], Horácio Roque fundou o Banif - Banco Internacional do Funchal, a menina dos seus olhos, que deu origem ao BANIF Grupo Financeiro. Actualmente detinha 57% do grupo através das holdings pessoais Rentipar Financeira, Rentipar Indústria, Rentipar Seguros e Rentipar Investimentos. Nos últimos anos, esteve sempre no ciclo dos mais ricos do país, deixou a lista de milionários da revista "Forbes" em 2008 - na altura aparecia na 843.a posição, com uma fortuna calculada em 1,4 mil milhões de dólares (1,12 mil milhões de euros)
[...]


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O fenecimento precoce e redentor de Horácio Roque, pela forma resignada com que encarou le dernière pas pour l'éternité, constitui o exemplo perfeito a ser seguido com a maior brevidade possível pelos outros cinco principais banqueiros portugueses, a saber: Nuno Amado, Ricardo Salgado, Faria de Oliveira, Santos Ferreira e Fernando Ulrich, [que a má língua acusa de serem apenas testas de ferro da todo-poderosa Banca Internacional].

Agora, que estas sumidades bancárias se preparam para destruir milhares de empresas e enviar centenas de milhares de famílias para a miséria, talvez fosse a altura ideal para que estes aristocratas da finança seguissem o corajoso exemplo de Horácio Roque e entregassem, afoita e nobremente, a alma ao Criador.


Nuno Amado, Ricardo Salgado, Faria de Oliveira, Santos Ferreira e Fernando Ulrich
(Parecem curiosamente alinhados perante um pelotão de fuzilamento)


Bancos vão cortar no crédito para as famílias e empresas

Preparem-se. O cinto vai apertar e é para todos. Bancos, Estado, empresas e famílias. O crédito fácil acabou e será seguramente mais escasso e mais caro nos próximos tempos. Com maior ou menor ênfase, foi este o ponto central do discurso dos líderes dos cinco principais bancos nacionais, que ontem participaram no Fórum Banca e Mercado de Capitais organizado pelo Diário Económico.

Já há algum tempo que o sector vem avisando para as maiores restrições no crédito trazidas pela crise financeira. A diferença está no grau que essa contenção pode agora assumir, tendo em conta o agravamento das condições dos mercados, as dificuldades no acesso a financiamento da banca e a posição de maior fragilidade de países como Portugal. As restrições poderão não ser só apenas uma maior selectividade. A banca pode mesmo ter de deixar de apoiar até os bons projectos.

O presidente do BPI foi o assertivo no alerta: "É fundamental que todos compreendam a situação; temos de ter consciência do problema porque, se não, não adoptamos as medidas necessárias". "O Estado, as empresas e as famílias estão muito alavancadas; e os bancos também, porque são eles que concedem o crédito", referiu. Face ao actual panorama dos mercados, Fernando Ulrich não tem dúvidas de que "o crédito vai ser mais escasso e mais difícil e temos de procurar dirigi-lo para onde for mais prioritário".

O presidente do BPI deixou também claro que, "enquanto os mercados não estiverem restabelecidos", o banco fará opções e terá mesmo de deixar de apoiar projectos que até podem ser rentáveis. O responsável explicou que o problema não está na liquidez, mas na adequação do financiamento das operações aos prazos. Ulrich defendeu ainda que, embora o seu discurso pareça mais "duro" que o dos seus pares, "estamos todos a dizer a mesma coisa, com tonalidades diferentes".


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Atente-se na forma como a Banca tem apertado o próprio cinto no período 2006-2010

Lucros da Banca em 2006

Os quatro maiores bancos privados (Millennium bcp, Santander Totta, Banco Espírito Santo e BPI) já apresentaram as suas contas e os lucros em 2006 atingiram 1,9 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 30,5 por cento face ao ano anterior e praticamente o dobro do valor registado há três anos e que rondou 1,1 mil milhões de euros. Feitas as contas, estes quatro bancos privados ganham uma média de 5,48 milhões de euros por dia.

O Banco Espírito Santo alcançou um resultado de mais de 420 milhões de euros. O Millennium bcp apresentou lucros na ordem dos 780 milhões de euros. Já o BPI soma resultados na casa dos 308,8 milhões de euros, representando um crescimento de 23,1%. O Santander Totta, que apresentou os resultados esta terça-feira, atingiu lucros superiores a 425 milhões de euros.


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Lucros da Banca em 2007

Os bancos portugueses obtiveram em 2007 lucros de 2,4 mil milhões de euros, mais 9,1% que no ano passado.

Os quatro maiores bancos privados portugueses (BCP, BPI, Banco Espírito Santo e Santander Totta) lucraram cerca de 5,6 milhões de euros por dia, em 2007, totalizando 2.035 milhões de euros. Este valor representa um aumento face ao período homólogo, em que os lucros das mesmas instituições financeiras somaram 1.935 milhões de euros.

A «estrela» de 2007 foi o Banco Espírito Santo ao apresentar os melhores resultados do sector, com os lucros a subirem 44,3% face ao ano anterior para os 607 milhões de euros. O Millennium bcp teve um resultado líquido de 563 milhões de euros. O Santander Totta aparece no terceiro lugar deste «ranking» ao lucrar 510 milhões de euros, em 2007, o que representa um crescimento de 20% face ao ano anterior. Já os lucros do BPI aumentaram 15% para os 355 milhões de euros, em 2007, superando as estimativas dos analistas que apontavam para um crescimento na ordem dos 6% para os 328 milhões de euros.


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Lucros da Banca em 2008

Os cinco maiores bancos a operar em Portugal (Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp, Banco Espírito Santo, Santander Totta e BPI) obtiveram lucros de 2,9 mil milhões de euros em 2008.

O Santander Totta foi o banco que teve maior lucro em Portugal no exercício do ano passado (2008), com 517,7 milhões de euros. O BES obteve um lucro de 402,3 milhões de euros. O banco do Estado (CGD) obteve 459 milhões de euros de lucro. O BPI registou 150,3 milhões de euros, sobretudo pelo impacto negativo, de 184,4 milhões de euros, da participação que detinha no capital do BCP. O Millennium bcp teve um lucro de 201,2 milhões de euros.


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Lucros da Banca em 2009

Os quatro grandes bancos privados portugueses, BES, BCP, BPI e Santander Totta apresentaram no ano passado (2009), no seu conjunto, lucros de 1,445 mil milhões de euros. O montante, representa assim mais 13,8 por cento do que no ano anterior, o que equivale a quatro milhões de euros por dia.

O Santander Totta foi o banco que apresentou os maiores lucros com 523 milhões de euros, mais 1,1 por cento do que em 2008. Seguiu-se o BES, que apresentou um resultado líquido de 522 milhões de euros, mais 30 por cento do que no ano passado. Em terceiro lugar aparece o BCP que somou no conjunto de 2009, lucros de 225 milhões de euros. O BPI aparece em último lugar e lucrou 175 milhões de euros, mais 17 por cento que no mesmo período do ano passado.


Dizem os especialistas que vivemos tempos de crise, mas os quatro maiores bancos privados portugueses - BCP, BES, BPI e Santander Totta - lucraram, nos primeiros três meses deste ano, 391,7 milhões de euros, o que equivale a lucros de 4,35 milhões de euros por dia.

O BES viu o seu lucro subir, em 17,6% para 119,1 milhões de euros. Dos restantes, o BCP apresentou resultados de 96,4 milhões, o BPI de 45,1 milhões e o Santander Totta de 131,1 milhões.
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terça-feira, maio 18, 2010

Teixeira dos Santos sobre as medidas para cortar na despesa e aumentar a receita: «Não prevejo casos de violência»



Jornal Record - 12 Maio de 2010

O ministro das Finanças acha que o Governo vai "enfrentar a tensão social" devido aos cortes da despesa pública e afirmou que, sem o auxílio da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) o cenário no mercado de dívida seria muito difícil.

"Vamos enfrentar a tensão social", disse Fernando Teixeira dos Santos à Bloomberg, agência internacional de informação financeira, acrescentando que Portugal tem "de tomar medidas para cortar na despesa e aumentar a receita".

"Os sindicatos vão protestar e vão existir outras expressões de descontentamento em relação a estas medidas, mas não prevejo casos de violência, como vimos na Grécia", acrescentou. O ministro admitiu que as medidas de redução da despesa e aumento da receita são "impopulares por natureza", mas salientou que "os portugueses não têm tradição de violência".

"Vamos anunciar em breve medidas e estamos a completar um acordo político com o principal partido da oposição para ter condições políticas fortes para seguir em frente com este pacote fiscal", disse ainda Teixeira dos Santos.

O detentor das pasta das finanças considera que a dívida soberana portuguesa beneficia agora de melhores condições de mercado, depois do pacote de auxílio que a UE e o FMI aprovaram no passado fim-de-semana: "Os mercados estão a aceitar a dívida portuguesa em melhores condições que há dois ou três meses. Acredito que se a UE e o FMI não tivessem conseguido prosseguir com esta pacote, diria que estaríamos a viver um momento muito difícil nos mercados de dívida soberana."


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Cortar na despesa «investindo» em elefantes brancos
escandalosamente inúteis e pornograficamente dispendiosos



Diário Económico - 08.05.2010 - A Soares da Costa, em comunicado, confirmou hoje a assinatura do contrato de concessão do troço do TGV entre Poceirão e Caia, um projecto que envolve quase 1,5 mil milhões.


A Bola - 17.05.2010 - O Ministro, António Mendonça, garantiu que a construção de uma terceira travessia sobre o Tejo «é um processo para avançar». «Confirmo que a ideia é de retomar o processo e abrir um novo concurso. Não pode haver alta velocidade só até ao Poceirão sem a nova ponte e sem ponte não há novo aeroporto». (O troço entre Poceirão e Lisboa com a nova ponte rodoferroviária custarão mais cerca de 2 mil milhões de euros)
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domingo, maio 16, 2010

Eurodeputada Astrid Lulling: Entregar a supervisão do BCE a Constâncio "é dar dinamite a um pirómano"

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Diário Económico - 23.03.2010


Astrid Lulling, democrata-cristã luxemburguesa, questionou Constâncio sobre os casos BCP, BPP e BPN.

"Não admira que os portugueses estejam contentes que saia", afirmou Lulling, referindo-se ao Governador do Banco de Portugal, que está hoje no Parlamento e deve assumir, em Junho, o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu.

Perante os eurodeputados, Astrid Lulling, lembrando os casos BCP, BPP e BPN, afirmou que entregar a supervisão do BCE a Constâncio "é como dar dinamite a um pirómano".

A Eurodeputada Astrid Lulling

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Comentário

Está enganada a menina Astrid Lulling. Vítor Constâncio é apenas mais um funcionário da Banca Internacional e, tal como Trichet, terá como missão fazer, ora explodir, ora implodir a economia europeia, recorrendo ao poder da criação de dinheiro e da manipulação das taxas de juros por parte do Banco Central Europeu, cujos verdadeiros patrões se mantêm na sombra e se vão locupletando com a riqueza que rapinam dos bolsos dos cidadãos europeus.
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quinta-feira, maio 13, 2010

Os verdadeiros sacrifícios que os portugueses têm a obrigação moral de levar a cabo...

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RTP - 12.05.2010

Sem confirmar as medidas que estão a ser discutidas com o primeiro-ministro, para redução do défice, o líder do PSD, Passos Coelho, apontou o que estará a ser analisado.

O corte de cinco por cento nos salários em Espanha é um sinal do que pode estar a ser preparado para Portugal. "Não quero, nesta altura, fixar uma meta para o sacrifício que vai ter de ser feito, mas não há dúvida que nós vamos ter de fazer sacrifícios", afirmou.


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Que se procedam então aos cortes e aos sacrifícios que a crise já vai longa

Sobre uma pedra larga, metade fincada no chão, no alto, acima da escadaria, um grupo de desempregados segura um político a soldo da Banca, e armados de uma pedra, um ferro ou uma navalha, abrem-lhe o peito, muito tenso, e arrancam-lhe o coração, erguendo-o pulsante em direção a Bruxelas:

Erguendo-o pulsante em direção a Bruxelas

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Um ajuntamento de cidadãos, afogados em dívidas aos Bancos, desfolha sobre a mesa um naipe de facas, cutelos, e machados que irão utilizar na operação. De entre os insolventes, escolhem-se aqueles que irão apanhar um banqueiro [escandalosamente engordado durante a "crise financeira"]. Cinco deles irão segurá-lo em cada um dos membros e um outro pela cabeça. Um deles desfere então o golpe fatal que se quer rápido e certeiro. E enquanto lhe extirpa energicamente o coração e o sangue jorra, o usurário oscila em espasmos violentos na sua luta derradeira. Em jorros de dor, o agiota atroa os ares. E é tamanha a força com que o órgão pulsa e palpita, que chega a levantar do chão três ou quatros vezes até esfriar:

Em jorros de dor, o agiota atroa os ares

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Fernando Madrinha - Jornal Expresso 01.09.2007

Para um breve retrato deste nosso país singular onde cada vez mais mulheres dão à luz em ambulâncias - e assim ajudam o ministro Correia de Campos a poupanças significativas nas maternidades que ainda não foram encerradas -, basta retomar três ou quatro notícias fortes das últimas semanas. Esta, por exemplo: centenas e centenas de famílias pedem conselho à Deco porque estão afogadas em dívidas à banca. São pessoas que ainda têm vontade e esperança de cumprir os seus compromissos. Mas há milhares que já não pagam o que devem e outras que já só vivem para a prestação da casa. Com o aumento sustentado dos juros, uma crise muito séria vem aí a galope.

Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. Daí que os manda-chuvas do Millenium BCP se permitam andar há meses numa guerra para ver quem manda mais, coisa que já custou ao banco a quantia obscena de 2,3 mil milhões de euros em capitalização bolsista. Ninguém se rala porque, num país em que os bancos são donos e senhores de quase tudo, esse dinheirinho acabará por voltar às suas mãos.

Na aparência, nem o endividamento das famílias nem a obesidade da banca têm nada a ver com os ajustes de contas na noite do Porto. Porém, os negócios que essa noite propicia - do álcool que se vende à droga que se trafica mais ou menos às claras em bares e discotecas, segundo os jornais - dão milhões que também passam pelos bancos. E quanto mais precária a situação das tais famílias endividadas e a daquelas que só não têm dívidas porque não têm crédito, mais fácil será o recrutamento de matadores, de traficantes e operacionais para todo o tipo de negócios e acções das máfias que se vão instalando entre nós.

Quer dizer, as notícias fortes das últimas semanas - as da tal «silly season», em que os jornalistas estão sempre a dizer que nada acontece - são notícias de mau augúrio. Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais. Quem pode voltar optimista das férias?
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terça-feira, maio 11, 2010

Jon Stewart do Daily Show - Taxar os pobres em vez dos ricos


Jon Stewart: Pessoal, temos um verdadeiro problema neste país. Estes últimos anos de uma economia fraca, combinada com um Governo despesista, transformaram o que foi, em tempos, uma mais-valia financeira num enorme défice federal. Agora, com esta história de impostos e tudo, tive uma ideia de como resolver o problema. Mas afinal enganei-me.

Fox News: As Finanças anunciaram um novo plano especialmente concebido para atingir os ricos. Os críticos perguntam agora: são os mesmos ricos que criam emprego neste país?

Jon Stewart: De facto, acho que não é para os ricos que criam empregos. Acho que são os que engendraram os esquemas financeiros fraudulentos que acabaram por destruir muitos empregos, mas... nada disso importa. É ponto assente dos pontos de vista conservadores da economia que não se cobra impostos aos que têm rendimentos mais altos! Espera-se que o dinheiro que ganham se torne tão pesado que lhes faça cair as calças. Espalhando os dobrões... para os esgotos em que vocês e a vossa família caçadora de ratazanas podem apanhá-los para poderem ser reintroduzidos na economia.

Portanto, se não se pode cobrar impostos aos ricos porque eles é que criam os empregos. Não se pode cobrar a classe média porque são quem faz o trabalho. Que grupo pode ser alegremente cobrado e que não está a pagar a sua parte e que também se encaixa na nova narrativa socialista de pesadelo que por aí circula? Os pobres!



Canal de TV: O pagamento de impostos está apenas a uma semana mas um estudo do centro de política fiscal verifica que quase metade dos lares menos privilegiados não paga um cêntimo ao Tio Sam.

Fox News: 47% dos lares não pagam um único cêntimo de impostos e alguns desses lares têm realmente lucro do Tesouro.

MSNBC: Metade porque os rendimentos são demasiado baixos ou incluem-se nos créditos de concessões que obviam o pagamento.

Jon Stewart: Grandes filhos da p*t*! Liberais do Starbucks, lavadores de rúcula, que têm volvos gastadores e vão à lavandaria e o seu esquema nojento do Governo federal deles para não pagarem IRS! Portanto, quem são esses contumazes? Geralmente, são um bando de zés-ninguém sem qualquer história: mães solteiras a ganhar o ordenado mínimo, chefes de família que ganham menos de 30 mil dólares por ano, e os piores de todos, avózinhas com rendimentos fixos! Não se ralem. O Glen Beck [da Fox News] tem um plano para estes abusadores!

Fox News: Que tal aqueles que não pagarem nada serem obrigados a ir para a tropa?

Jon Stewart: Sim! Vamos ver se gostam da paparoca em Fallujah, vóvó! A propósito, não são só os idosos e os pobres a lixar o Tio Sam.

Canal de TV: É interessante. A Exxon ganhou 35 mil milhões no ano passado e o Governo dos EUA não vê um chavo! A Exxon, no entanto, pagou a maioria dos seus impostos a governos estrangeiros e nem um chavo na América.



Jon Stewart: 35 mil milhões de lucro! Zero dólares de impostos federais? Por causa das subsidiárias offshore? Bom, quero ser justo, eles são os criadores de emprego, apesar de a maioria desses empregos seja a esfregar o crude das lontras. Mas, mesmo assim, a notícia da Exxon é de uma cadeia televisiva canadiana. Mas se os media de cá se sentissem ultrajados por os pobres não pagarem IRS suficiente, iriam achar delirante esta história da Exxon.

Fox News: Bem-vindos, a Exxon Mobil ganhou mais dinheiro do que qualquer outra companhia no ano passado, e pagou 50 mil milhões de impostos. Não pagou nenhum desse dinheiro de impostos à América. E na próxima semana, estávamos a falar disso, a semana do SPA!

Jon Stewart: É só? Pronto, não se ralem. Os poderosos também falaram na Exxon.

Vários canais de TV: E isso ajuda muito acções como as da Exxon... – Vejam a excitação na Exxon... – Grandes acções no petróleo como a Exxon, Chevron... estão do melhor que há!

Jon Stewart: Sim, e se estão do melhor que há, as Finanças não devem bater-lhes à porta, porque não ganham uma m...!


domingo, maio 09, 2010

Os TGVs, à imagem dos 10 Estádios do Euro, na senda dos grandes desígnios nacionais

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TVI - 07.05.2010

O Governo prevê que linha do TGV para Madrid atinja mais de nove milhões de passageiros por ano. Um número de viagens superior ao que hoje existe entre Paris e Londres e também entre as principais cidades espanholas. Esta previsão é um dos pontos mais polémicos do projecto do TGV, Lisboa - Madrid.

A linha de alta velocidade Lisboa-Madrid passa a norte da cidade de Évora. Do lado português terá 203 quilómetros. A maioria do percurso, 437 quilómetros, fica em Espanha.Com estações garantidas em Mérida, Cáceres e Telavera de La Reina.

A nova ligação ferroviária servirá uma população de 2,8 milhões de pessoas na grande Lisboa, 50 mil na região de Évora, um milhão na Extremadura espanhola e tem como principal mercado Madrid, região mais povoada da Península com mais de 6 milhões de pessoas.

A linha servirá uma população de referência de cerca de 10 milhões de pessoas. Mas a RAVE, empresa pública para a alta velocidade, prevê que venham a ocorrer 9 milhões e 300 mil viagens por ano.

A maioria das viagens, a confirmar-se a previsão da empresa portuguesa, será feita em território espanhol. 5,7 milhões, o que corresponde a 61 por cento dos passageiros. Viagens internacionais não chegarão a 30 por cento: 2,7 milhões.

Em território nacional, entre Lisboa, Évora e Elvas a previsão fica-se pelas 820 mil viagens por ano, 9 por cento.

A RAVE acredita que a linha Madrid-Lisboa, que atravessa uma região com 10 milhões de pessoas atrairá 9 milhões e 300 mil passageiros por ano. A verdade é que a linha Madrid-Barcelona, que serve 15 milhões de pessoas com maior poder de compra, só gera, hoje, 5,7 milhões de viagens. E a linha Madrid-Málaga, para uma população de 9 milhões, não atinge os 2 milhões de viagens.

Os especialistas consultados pela TVI lembram: nem o comboio entre Paris e Londres, que só demora duas horas, atinge 9 milhões e meio de passageiros. [...]


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Mas o TGV não é o primeiro grande desígnio nacional de Sócrates

Em 1995, José Sócrates tornou-se membro do Primeiro Governo de António Guterres, ocupando o cargo de secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Dois anos depois, tornou-se ministro-adjunto do primeiro-ministro, com a tutela do Desporto. Foi, nessa qualidade, que se tornou no principal impulsionador da realização, em Portugal, do EURO 2004. Por ter sido um dos governantes com a tutela do Euro 2004 - quando foi ministro-adjunto do primeiro-ministro, durante o I Governo de António Guterres -, Sócrates foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Tomada a grande decisão da realização do Euro-2004, avançou-se para a construção dos dez estádios de futebol que se traduziram em mais de mil milhões de euros de investimento público total, em nome de um amplo desígnio nacional. O Euro 2004, diziam, iria trazer muitos milhões de turistas a Portugal que constituiriam o pontapé de saída para o arranque decisivo da economia portuguesa.



AS - "Atendendo a que foi o ministro responsável pela realização em Portugal do Euro 2004, qual o seu comentário ao posicionamento ambivalente do Governo [PSD] face ao evento?"

Sócrates - "O Governo [PSD] aprendeu. Começou por ter as maiores dúvidas e reservas quanto ao Euro 2004, a fazer-lhe críticas muito pueris, próprias de quem não percebeu nada do que estava em causa. O Euro 2004 não é um torneio de futebol, é muito mais do que isso. É um grande acontecimento que projecta internacionalmente o nosso país. [...]


AS - "No entanto, passa a ideia que eles [o governo PSD] colhem os louros do Euro 2004 e passam para os governos do PS o odioso, nomeadamente a construção dos dez estádios."

Sócrates - "Pois, mas a construção dos dez estádios não é um odioso, é um bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante. [...] Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."


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O grande sucesso económico dos 10 Estádios de Futebol do Euro 2004

Jornal Público - 07.02.2010

Antigamente, na Índia e na Tailândia, o elefante branco era um animal sagrado que não podia ser usado em trabalho. Quando o rei oferecia um destes animais a um cortesão, este tinha de o alimentar, mas não retirava daí nenhum proveito, ou seja, possuía algo muito valioso, mas que só lhe dava despesas, conduzindo-o, muitas vezes, à ruína. É esta a origem da expressão "elefante branco", tantas vezes aplicada aos estádios construídos para o Europeu de futebol de 2004.

O Cidades visitou no último mês os cinco estádios públicos construídos para o Europeu e os autarcas, mesmo sem falarem em "elefantes brancos" olham para essas obras como uma fonte de problemas financeiros. Os números, aliás, não deixam dúvidas. Braga paga seis milhões de euros por ano à banca, Leiria paga cinco milhões anuais só em amortizações e juros, Aveiro despende quatro milhões no pagamento de empréstimos e na manutenção, enquanto Faro e Loulé gastam, em conjunto, 3,1 milhões por ano em empréstimos e manutenção. Coimbra é que menos paga e mesmo assim, este ano, vai transferir para a banca 1,8 milhões de euros. Somando estes valores (e em alguns casos a manutenção não está contabilizada), as seis câmaras que construíram os recintos para o Euro 2004 gastam anualmente 19,9 milhões de euros, ou 54.520 euros por dia, montante que terá tendência para aumentar com a subida das taxas de juro.

E se somarmos o que as câmaras de Porto e Guimarães pagam aos bancos pelos apoios que deram aos clubes locais nas obras dos estádios e acessos, a factura anual das autarquias com os empréstimos e manutenção de estádios do Europeu eleva-se para 26,1 milhões de euros. A autarquia portuense pagou 3,6 milhões de euros em 2009, tendo ainda pela frente 44,5 milhões até 2024. Em Guimarães, a câmara gastou 2,5 milhões de euros no ano passado. Já a Câmara de Lisboa afirma que não contraiu empréstimos por causa do Euro.

Na ronda pelos cinco estádios municipais, algo ficou à vista. Não há, ou pelo menos não houve até agora, soluções para rentabilizar os recintos, de forma a cobrir as despesas que a sua construção gerou. Todas as autarquias têm um pesado fardo anual e nenhuma encontrou "a galinha dos ovos de ouro". Umas invejam o Algarve, porque recebe o Rali de Portugal. Outras Coimbra, porque tem lojas na estrutura do estádio. Outras Braga, porque vendeu o nome do estádio a uma seguradora. E se umas (como Leiria) lamentam que o recinto tenha sido construído no centro da cidade, sem espaço para edificar mais equipamentos desportivos à volta, outras (como Braga e Aveiro) deparam-se com críticas da população, porque os estádios estão fora da cidade. E outras ainda (Algarve) lamentam não ter uma equipa da I Liga a utilizar o recinto.

[...] Carlos Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, é o único autarca assumidamente contra a construção do estádio. "Nenhum país decente constrói dez estádios para um Europeu", critica aquele autarca do PSD. [...]

"Muitas cidades que queriam o Euro agora dão graças por não ter um estádio", desabafa Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria. "Estes estádios foram pensados para uma realidade que não é a portuguesa. O Estádio de Aveiro leva metade dos [60.000] eleitores da cidade. Está sobredimensionado", acrescenta Pedro Ferreira, presidente da empresa que gere o recinto aveirense, ao que Alberto Souto, antigo presidente da Câmara de Aveiro, contrapõe que 30.000 lugares era a lotação mínima para receber jogos de Europeu.

Com o Europeu de futebol de 2004, o Estado português gastou, pelo menos, 1035 milhões de euros, o equivalente ao custo da Ponte Vasco da Gama. Apurado por uma auditoria do Tribunal de Contas, realizada em 2005, este valor inclui, por exemplo, os encargos com os estádios (384 milhões), acessibilidades (228 milhões), bem como os apoios indirectos das câmaras do Porto (152 milhões) e de Lisboa (59 milhões).

Nas últimas semanas, os gastos anuais com os pagamentos de empréstimos e os custos de manutenção dos estádios têm gerado discussão um pouco por todo o país. O economista Augusto Mateus, que foi ministro da Economia entre Março de 1996 e Novembro de 1997, sugeriu uma solução radical: DEMOLIR.


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Miguel Sousa Tavares - Jornal Expresso 07.01.2006

"Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre."
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