quarta-feira, abril 24, 2013

A crescente bipolarização social no acesso ao crédito




*************************************




Paulo Morais, professor universitário - Correio da Manhã – 23/4/2013


Não (em)prestam



O primeiro-ministro veio culpar os banqueiros. Acusa-os de serem responsáveis pela crise. Segundo Passos Coelho, ao não concederem crédito às empresas para investimentos, como se haviam comprometido, os bancos asfixiam a economia.

Mas, por sua vez, os banqueiros vieram garantir que até têm dinheiro disponível, mas as empresas é que não pedem empréstimos. Este passa-culpas seria próprio de miúdos num infantário, mas inadmissível em governantes e banqueiros, que não deveriam comportar-se como garotos.

Uma parte significativa do apoio financeiro externo a Portugal, concedido pela troika, foi canalizada para a Banca. Aos bancos foram garantidos doze mil milhões de euros, para que se pudessem recapitalizar e, de seguida, financiar as empresas. Só assim estas poderiam garantir investimentos, manter e criar novos empregos. Ao fim de dois anos de amarga ajuda externa, verifica-se agora que os bancos foram apoiados com largos milhares de milhões, mas que esse dinheiro não chega à economia. Sabe-se agora, pela voz de Passos Coelho, que este dinheiro não serviu para nada. Deplorável.

Por sua vez, os administradores dos bancos vêm manifestar a sua perplexidade pelas afirmações de Passos Coelho. Lobo Xavier, do BPI, acusa-o de estar mal informado, Fernando Ulrich amua com Passos Coelho e Nuno Amado, do BCP, vem mesmo dizer que a ausência de empréstimos resulta do facto de as empresas não pedirem porque não precisam. Esta argumentação não convence ninguém, e muito menos os empresários.

A situação é patética, alguém nos anda a enganar. Das três, uma. Ou Passos Coelho está muito mal informado sobre a situação da Banca e das empresas e deve demitir--se já. Ou os banqueiros desviaram os dinheiros da ajuda externa para outros fins e devem ser investigados. Ou se, como estes afirmam, os empresários, que estão falidos e descapitalizados, já nem sequer recorrem à Banca, pois desistiram de vez – então o que aqui se passa já não é só falta de crédito bancário, é toda uma economia que abdicou de existir. À falta de credibilidade do sistema financeiro, junta-se a incapacidade do governo para gerir a situação. Os bancos não emprestam, o governo não presta e a economia desistiu de empreender.


*************************************


Já que os banqueiros não emprestam e os políticos (a soldo dos primeiros) não prestam, evitemos que empestem a totalidade do país com o flagelo da indigência, incinerando-os a todos num ambiente crepitante.

Amarrados aos postes e com as chamas a lamberem-lhes a ganância, podem-se observar na imagem (da direita para a esquerda) Ricardo Salgado, Passos Coelho, Vítor Gaspar, Fernando Ulrich, José Sócrates, Teixeira dos Santos, etc.

quinta-feira, abril 18, 2013

Nunca existiu nenhum massacre de judeus em Lisboa a 19 de Abril de 1506!




O Wikipédia descreve o massacre de Lisboa de 1506 mas reconhece que este episódio foi «apagado da memória colectiva» e que são muito poucos os historiadores que se lhe referem:

No Wikipedia: O Massacre de Lisboa na historiografia: O Massacre de 1506 ficou como que apagado da memória colectiva, um pedaço de vergonha esquecida que não está nos livros de História, caiu no esquecimento e são poucos os historiadores que lhe fazem referência. O horror e a violência foram descritos e reproduzidos por Damião de Góis, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Garcia de Resende, Salomon Ibn Verga e Samuel Usque.


Damião de Góis (1502 - 1574), faz um relato do Massacre de Lisboa de 1506 na sua "Chronica do Felicissimo Rey D. Emanuel da Gloriosa Memória" escrita em 1566-1567. Damião de Góis tinha quatro anos na altura do massacre e escreveu sobre o mesmo sessenta anos depois dos acontecimentos.


Atente-se na responsabilidade quase total pelo massacre que Damião de Góis atribui aos marinheiros de naus vindos da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens:


«…Nos dois derradeiros capítulos desta primeira parte, tratarei de um tumulto e levantamento que, a dezanove de Abril de 1506, Domingo de Pascoela, houve, em Lisboa, contra os Cristãos-novos.


No mosteiro de São Domingos existe uma capela, chamada de Jesus, e nela há um Crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que deram foros de milagre, embora os que se encontravam na igreja julgassem o contrário. Destes, um Cristão-novo (julgou ver, somente), uma candeia acesa ao lado da imagem de Jesus. Ouvindo isto, alguns homens de baixa condição arrastaram-no pelos cabelos, para fora da igreja, e mataram-no e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao alvoroço acudiu muito povo a quem um frade dirigiu uma pregação incitando contra os Cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro com um crucifixo nas mãos e gritando: “Heresia! Heresia!” Isto impressionou grande multidão de gente estrangeira, marinheiros de naus vindos da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens. Juntos mais de quinhentos, começaram a matar os Cristãos-novos que encontravam pelas ruas, e os corpos, mortos ou meio-vivos, queimavam-nos em fogueiras que acendiam na ribeira (do Tejo) e no Rossio. Na tarefa ajudavam-nos escravos e moços portugueses que, com grande diligência, acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo. E, nesse Domingo de Pascoela, mataram mais de quinhentas pessoas.

A esta turba de maus homens e de frades que, sem temor de Deus, andavam pelas ruas concitando o povo a tamanha crueldade, juntaram-se mais de mil homens (de Lisboa) da qualidade (social) dos (marinheiros estrangeiros), os quais, na Segunda-feira, continuaram esta maldade com maior crueza. E, por já nas ruas não acharem Cristãos-novos, foram assaltar as casas onde viviam e arrastavam-nos para as ruas, com os filhos, mulheres e filhas, e lançavam-nos de mistura, vivos e mortos, nas fogueiras, sem piedade. E era tamanha a crueldade que até executavam os meninos e (as próprias) crianças de berço, fendendo-os em pedaços ou esborrachando-os de arremesso contra as paredes. E não esqueciam de lhes saquear as casas e de roubar todo o ouro, prata e enxovais que achavam. E chegou-se a tal dissolução que (até) das (próprias) igrejas arrancavam homens, mulheres, moços e moças inocentes, despegando-os dos Sacrários, e das imagens de Nosso Senhor, de Nossa Senhora e de outros santos, a que o medo da morte os havia abraçado, e dali os arrancavam, matando-os e queimando-os fanaticamente sem temor de Deus.

Nesta (Segunda-feira), pereceram mais de mil almas, sem que, na cidade, alguém ousasse resistir, pois havia nela pouca gente visto que por causa da peste, estavam fora os mais honrados. E se os alcaides e outras justiças queriam acudir a tamanho mal, achavam tanta resistência que eram forçados a recolher-se para lhes não acontecer o mesmo que aos Cristãos-novos.

Havia, entre os portugueses encarniçados neste tão feio e inumano negócio, alguns que, pelo ódio e malquerença a Cristãos, para se vingarem deles, davam a entender aos estrangeiros que eram Cristãos-novos, e nas ruas ou em suas (próprias) casas os iam assaltar e os maltratavam, sem que se pudesse pôr cobro a semelhante desventura.

Na Terça-feira, estes danados homens prosseguiram em sua maldade, mas não tanto como nos dias anteriores; já não achavam quem matar, pois todos os Cristãos-novos, escapados desta fúria, foram postos a salvo por pessoas honradas e piedosas, (contudo) sem poderem evitar que perecessem mais de mil e novecentas criaturas.

Na tarde daquele dia, acudiram à cidade o Regedor Aires da Silva e o Governador Dom Álvaro de Castro, com a gente que puderam juntar, mas (tudo) já estava quase acabado. Deram a notícia a el-Rei, na vila de Avis, (o qual) logo enviou o Prior do Crato e Dom Diogo Lopo, Barão de Alvito, com poderes especiais para castigarem os culpados. Muitos deles foram presos e enforcados por justiça, principalmente os portugueses, porque os estrangeiros, com os roubos e despojo, acolheram-se às suas naus e seguiram nelas cada qual o seu destino. (Quanto) aos dois frades, que andaram com o Crucifixo pela cidade, tiraram-lhes as ordens e, por sentença, foram queimados.»



***********************


Acontece que, por aqueles dias, Lisboa sofria os efeitos de uma gravíssima epidemia de Peste Negra (bubónica):

No site Memorial Brasil Sefarad: «Desde Janeiro de 1506 uma peste assolava Lisboa, sendo que sua intensidade em Abril era tanta que chegavam a morrer cento e trinta indivíduos por dia

No livro - Lisboa 1506, O Massacre Dos Judeus - que se considera o primeiro livro factual (non-fiction) em português, acerca do massacre em Lisboa, é afirmado que: «O massacre ocorreu durante o auge da peste (peste negra) quando mais de 100 pessoas morriam diariamente em Lisboa. (...) A certa altura havia um monte de 400 corpos no Rossio. A certa altura, mercadores Alemães pagaram a lenha para a fogueira, que se tinha esgotado [At one point there was a mound of over 400 dead bodies in the Rossio (the main square of downtown Lisbon). At one point, German merchants paid for wood for the pyre, which had run out].

Em «HISTORY OF CREMATION AND THE CATHOLIC CHURCH» é dito que: «Foi autorizada a cremação em circunstâncias extraordinárias como por exemplo durante os anos da peste na Europa durante a Idade Média mas como regra geral a Igreja Católica ilegalizou a cremação com um acto anti-cristão». [Permission was given to use cremation under extraordinary circumstances such as the years of the plague in Europe during the Middle Ages but as a general rule the Catholic Church outlawed cremation as an un-Christian act].


Comentário:

É sabido que naqueles dias de Abril de 1506, Lisboa foi palco de um grande surto de Peste Negra (Bubónica) que ceifava mais de 100 vidas por dia. Também é verdade que a Igreja Católica autorizava a cremação de corpos em circunstâncias extraordinárias como por exemplo durante os anos da peste. Ter-se-á dado o caso do «massacre» de Lisboa ter sido simplesmente a cremação dos mortos vítimas da peste (mais de 100 por dia), por forma a evitar a propagação da doença?

a) Como é que se explica que, segundo Damião de Góis, «mais de quinhentos marinheiros de naus vindas da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens, se tenham conluiado e começado a matar os Cristãos-novos que encontravam pelas ruas»? Como é que simples marinheiros [não militares] de países diversos tiveram a ousadia de invadir a capital de um país estrangeiro, assassinando, queimando e saqueando milhares de cidadãos que eles «adivinharam» ser Cristãos-novos?

b) E porque razão é que, ainda segundo Damião de Góis, «os estrangeiros que, [após a matança] se acolheram nas suas naus com os roubos e despojos, e seguiram nelas cada qual o seu destino, tiveram a [especial] preocupação de trazer os corpos, mortos [que eles tinham assassinado] e queimá-los em fogueiras que acendiam na ribeira (do Tejo) e no Rossio»? Porquê a preocupação dos malfeitores em trazer os cadáveres das suas vítimas para locais específicos, cuidando ainda de empilhá-los e de queimá-los, chegando alguns «mercadores Alemães a pagar a lenha para a fogueira»?

Incineração de cadáveres - intolerância religiosa ou prevenção epidémica?
.