sexta-feira, fevereiro 24, 2017

Sobre o "Terrorismo Islâmico" - dois palhaços da SIC Notícias ridicularizados por um humorista dos Monty Python

Martim Cabral, Terry Jones (dos Monty Python) e Nuno Rogeiro


A dupla da SIC Notícias (Martim Cabral - Nuno Rogeiro), entrevistou em 2007 o humorista dos Monty Python, Terry Jones, no programa "Sociedade das Nações".

Martim Cabral e Nuno Rogeiro, os grandes arautos da "Guerra ao Terrorismo" na SIC, trouxeram à baila, evidentemente, a intolerância religiosa islâmica, o Iraque, o 11 de Setembro e o terrorismo em geral.

Terry Jones, de sorriso no lábios, explicou-lhes, candidamente, que a "Guerra ao Terrorismo" constitui um excelente negócio para a indústria do armamento, e que certos governos fazem dela um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Contou-lhes, ainda, que Geoge W. Bush é um presidente patético ao serviço das grandes empresas do armamento.

A SIC Notícias passou, prudentemente, esta entrevista às 20:10 (à hora dos telejornais) do dia 28/12/2007, e às 3:30 da madrugada do dia 29/12/2007, porque, como afirma Alcides Vieira, Director de Informação da SIC, este canal o que pretende é que "quando um telespectador olha para a informação da SIC, veja que todos os jornalistas que aparecerem no ecrã estão a falar verdade e não estão ao serviço de um interesse. Porque essa é uma marca da SIC."




Os principais momentos da entrevista a Terry Jones:

Terry Jones: Quando fizemos "A Vida de Brian" lembro-me de ter dito ao resto da equipa: "Sabem que isto pode ser muito perigoso. Podemos ter um fanático religioso a fazer de nós alvos." E eles responderam: "Não há problema." Mesmo nessa altura em 1978, achei que seria uma área potencialmente perigosa de abordar. Mas acho que não hesitava em retratar a vida de Maomé.


Martim Cabral: Acha que alguém o apoiaria? Não acha que existe uma atmosfera internacional em que ninguém considera sequer fazer este tipo de paródia, especialmente se recordarmos os problemas que houve devido aos cartoons de uma revista norueguesa?

Terry Jones: Sim, seria quase impossível obter apoio, mas não pensei em fazer isso. Não vejo o Islão como a grande fonte do Mal, como as pessoas dizem e como Bush quer fazer parecer. Em 1998… Não, em 1990, antes da primeira Guerra do Golfo, li uma revista interna da indústria do armamento, chamada "Weapons Today", que tinha grandes caças na capa. Era uma revista interna da industria do armamento e o editor-chefe escreveu: "Graças a Deus que Saddam existe." O editorial dizia que, com a queda do comunismo, o sector do armamento estava a atravessar uma crise. Não havia encomendas. "Mas agora temos um inimigo ao qual ninguém põe objecções, que é Saddam Hussein." Depois o editorial sugeria: "No futuro, podemos esperar que o Islão substitua o comunismo, porque haverá mais encomendas de armas." E podem apostar que, desde 1990, o sector do armamento tem promovido um conflito entre o Cristianismo e o Islão e é isso que temos visto desde então.


Martim Cabral: Já não é divertido nem legítimo fazer sátiras sobre religião, no ambiente em que vivemos actualmente.

Terry Jones: Concordo, mas não sei se esta situação se deve ao Islão ou à nossa indústria do armamento, que atiça e provoca o Islão.


Rogeiro: É curioso porque Chesterton, que era católico, comentou: "A superioridade de uma religião reflecte-se no facto de podermos satirizar com ela." Se pudermos gozar com ela, então, é uma religião superior.

Terry Jones: É um bom argumento para o Catolicismo.


Rogeiro: O que o irrita mais na conjuntura mundial actual? Sei que a questão do Iraque é algo que lhe custa a digerir.

Terry Jones: Sim, acho que o Iraque é o verdadeiro… Antes de invadirem o Iraque… A reacção ao 11 de Setembro foi completamente estúpida.


Rogeiro: O que significou, para si, o 11 de Setembro?

Terry Jones: Para mim, o 11 de Setembro resumiu-se a umas quantas pessoas que desviaram uns aviões para... Acho que o 11 de Setembro teve origem devido à situação no Médio Oriente com a Palestina, aquilo que os israelitas estão a fazer à Palestina, com a protecção e o aval dos Estados Unidos. O 11 de Setembro resumiu-se a isso. Claro que foi uma oportunidade imperdível para que os neo-conservadores norte-americanos transformassem isso numa cruzada contra o Islão.


Martim Cabral: Se fosse presidente dos Estados Unidos, como reagiria a um ataque como o das Torres Gémeas? O que faria? Como reagiria?

Terry Jones: Quando se é um presidente patético ao serviço das grandes empresas e do sector do armamento transformamos isso em algo politicamente vantajoso e fazemos disso um motivo para criar o caos no Médio Oriente, para que haja um estado permanente de guerra. Cria-se um estado permanente de guerra contra o "terror". É uma guerra que nunca pode ser vencida.


Martim Cabral: Mas o que faria? Imagine que está na Casa Branca.

Terry Jones: Foi um acto criminoso. Não podíamos apanhar os culpados porque estavam mortos. Tinha de haver operações secretas para descobrir os mentores. Não se fazem anúncios públicos, do género: "Achamos que estão escondidos no Afeganistão. Vamos bombardear-vos daqui a três semanas, está bem?" Isso dá à Al-Qaeda tempo suficiente para sair do Afeganistão e ir para outro local. Só então é que se bombardeia o Afeganistão.


Rogeiro: Escreveu no "The Guardian" que a gramática é vítima da guerra, penso eu, e defende que é impossível combater algo abstracto.

Terry Jones: Sim, na guerra contra o terror, estamos a enfrentar um substantivo abstracto.


Rogeiro: O terrorismo, além de ser abstracto, é algo muito concreto que mutila pessoas, que destrói vidas e cidades.

Terry Jones: Mas precisamos de um inimigo. Não podemos combater um conceito abstracto. É impossível combater o terrorismo. É como a luta contra a droga. É um conceito abstracto. Temos de saber quem vamos enfrentar. Temos de descobrir quem está por detrás disso para depois os capturar. Não se anuncia ao mundo onde estão os suspeitos para depois bombardear esses locais e criar ainda mais animosidade contra nós. É essa a intenção. A ideia não é salvar o Iraque, mas sim criar animosidade contra o Ocidente, para que haja um estado permanente de guerra.


Rogeiro: Porque acha que os britânicos reelegeram Tony Blair, depois de ele se ter envolvido na questão do Iraque?

Terry Jones: Porque reelegeram Tony Blair? Não faço ideia. Há muita… Até sei, mas não devia dizer isto. Acho que muita gente rema conforme a maré. Não sei.


Martim Cabral: Correndo o risco de sermos os três alvos de uma fatwa, não acha que Osama bin Laden seria uma personagem ideal para os Monty Pyton? Seria impossível inventar uma personagem como ele.


Terry Jones: Acho que ele (Osama bin Laden) deve ter sido influenciado pelos Monty Python.



A entrevista completa a Terry Jones, aqui:

quinta-feira, fevereiro 23, 2017

Qual é o mal do Acordo Ortográfico? As pessoas são contra apenas porque sim?



Anaísa Gordino (foi Investigadora do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e é, presentemente, Formadora e Consultora de Ciberdúvidas da Língua Portuguesa), no CIBERDÚVIDAS da Língua Portuguesa, aponta alguns dos podres da ortografia portuguesa:


Sobre o alegado papel das consoantes mudas na abertura das vogais que as precedem.

Em primeiro lugar, quanto à questão da dupla grafia, é preciso referir que existem duas situações:

a) Dupla grafia em espaços geográficos diferentes, dado as diferentes variantes do português apresentarem, para uma mesma palavra, pronúncias distintas; neste caso, distingue-se a variante luso-africana da variante brasileira, apresentando cada uma destas variantes a sua grafia própria para a palavra. É exemplo deste tipo de situação a dupla grafia da palavra facto/fato, que é grafada como facto em Portugal (ou seja, o "c" tem de ser mantido, pois é pronunciado) e fato no Brasil (o "c" não se pronuncia na variante brasileira, logo, foi eliminado);

b) Dupla grafia no mesmo espaço geográfico, dado os falantes apresentarem oscilações de pronúncia dentro de uma mesma variante, neste caso, a portuguesa; é neste tipo de situação que se inscreve espectador/espetador, um caso de dupla grafia dentro da nossa variante, o que, na prática, significa que, em Portugal, os falantes poderão escrever a palavra com ou sem "c", consoante o pronunciem ou não.

Em segundo lugar, quanto à questão da necessidade da manutenção das consoantes mudas ("c" ou "p") para abrir a vogal anterior, muitos de nós aprenderam, «corretamente ou não», que estas consoantes mudas serviam para abrir as vogais anteriores. Ora, diria que aprendemos «incorretamente» e que não existe uma regra ou uma correlação direta entre a presença de uma consoante muda e a abertura da vogal anterior (e, consequentemente, entre a queda dessa consoante muda e uma qualquer alteração na pronúncia da vogal), o que fica claro se olharmos para os dados.


Assim, esta questão tem também de ter em conta duas vertentes:

1. Da (alegada) relação causa-efeito entre a presença das consoantes mudas e a manutenção da abertura da vogal Não há uma regra ou correlação direta entre a presença das consoantes mudas e a abertura da vogal anterior, seja em sílaba tónica ou em sílaba átona, o que fica patente se pensarmos nos dados do português e nas palavras que até agora mantinham estas consoantes mudas:

i) Por um lado, há palavras com consoante muda antes de uma vogal em sílaba átona em que a vogal é fechada, apesar da presença dessa consoante, a qual, a acreditarmos numa pretensa regra, deveria abrir a vogal (vejam-se casos como actual, actualidade, actividade), ao mesmo tempo que, noutras palavras, a vogal se mantém aberta (activa, afectivo, espectador); se existisse uma regra, tendo as consoantes mudas essa função específica de abertura das vogais, por que razão ela se aplicaria nuns casos e não noutros?

ii) Por outro lado, quando temos consoantes mudas antes de vogais que se encontram em sílaba tónica em palavras graves, o facto de haver palavras com sílaba tónica na mesma posição (ou seja, na penúltima sílaba), umas com consoante, outras sem qualquer consoante muda, em ambos os casos com uma vogal aberta, demonstra bem que não é a consoante muda que nos indica qual o timbre da vogal (tal deriva de regras fonológicas e de questões lexicais, não da presença de uma consoante muda) – veja-se completo (que nunca teve consoante muda) versus tecto ou dialecto, ou contrato (de trabalho), que já teve consoante muda "c" e a perdeu, mantendo, naturalmente, a abertura da vogal tónica, da mesma forma como deverá acontecer com exacto;

iii) por fim, no caso de palavras esdrúxulas, com a consoante muda a seguir à vogal tónica, é óbvio que a presença da consoante é redundante, pois o acento gráfico destas palavras cumpre a dupla função de indicar a sílaba tónica e de dar informação sobre o timbre da vogal (veja-se didáctica, eléctrico, óptimo); note-se ainda, como curiosidade, que o Acordo de 1945 já tinha eliminado as consoantes mudas de palavras como práctico/a, mas manteve-as em palavras como didáctico/a.

Tendo em conta os argumentos anteriores e ao analisarmos alguns exemplos de palavras podemos, de facto, perceber que não existe uma regra ou um processo linguístico subjacente à presença de consoantes mudas e à abertura das vogais que as precedem. Se assim fosse, como explicar as assimetrias em palavras que, inclusivamente, apresentam uma relação morfológica, mas que têm diferentes comportamentos? Como explicar, por exemplo, que em exacto/exactidão/exactamente, a vogal seja ora aberta, ora fechada, do ponto de vista da presença da consoante muda?

Claramente, não é a presença das consoantes mudas que determina a abertura ou não das vogais, o que nos leva a perceber que o que aqui está em causa são processos fonéticos, fonológicos e morfofonológicos, em alguns casos, mas também questões lexicais, noutros casos. São essas as verdadeiras razões para a manutenção da abertura das vogais, sobretudo das vogais átonas (já que, nas vogais tónicas, a abertura da vogal é algo natural, digamos assim) e, em particular, para a abertura das vogais nestes casos de (queda das) consoantes mudas.


2. Das verdadeiras razões para a não aplicação da regra do vocalismo átono/contextos que propiciam a não aplicação do vocalismo átono (permitindo a manutenção da abertura da vogal)

Há uma série de exceções à aplicação da regra do vocalismo átono, algumas das quais são regulares, outras das quais não podem ser explicadas através de regras, sendo marcadas no léxico, sem que haja uma regra possível para as descrever ou explicar, ou um contexto específico que possamos identificar sincronicamente (isto é, actualmente, já que alguns podem ser explicados diacronicamente, olhando para a história da língua).

(i) Casos regulares (como a própria designação indica, trata-se de contextos em que a manutenção da abertura da vogal átona apresenta uma regularidade):

a) Vogais em sílabas átonas terminadas pela consoante "l"

Exs.: salgado, relvado;

b) Vogais em sílabas átonas que têm um ditongo decrescente

Exs.: gaiteiro, pautado, endeusar, boiar;

c) Vogais átonas em contexto inicial de palavra

Exs.: operário, obreiro, olhar;

d) Vogais em sílaba átona em palavras formadas por derivação com os chamados sufixos z-avaliativos (-zinho, -zito, -zão) e com o sufixo -mente (aquilo que se designa como a presença de acento secundário)

Exs.: pobrezinho, chazinho, sozinho, belamente, rapidamente (aqui se inclui uma palavra como exatamente).


(ii) Exceções marcadas no léxico:

Aqui se inscreve o caso de espectador/espetador, no qual não podemos explicar a manutenção da abertura da vogal nem através do contexto, nem pela aplicação de uma regra, seja ela puramente fonológica ou morfofonológica. Aquilo que se defende é que há uma marcação no item lexical que determina que a vogal é aberta e que não sofre aplicação da regra do vocalismo átono. Colocando a questão de uma forma simples, as palavras vêm do léxico com um conjunto de informações (como se de um BI ou cartão do cidadão se tratasse) e esta é uma das informações que qualquer palavra traz; a abertura da vogal átona é, por isso, independente da presença ou não de uma consoante muda. Mateus et alii, em Fonética e Fonologia do Português (uma obra alheia às questões do Acordo Ortográfico) reforçam a ideia de que tal se trata de uma mera convenção ortográfica, derivada da etimologia:

"A não redução das vogais átonas nestes casos é por vezes indicada ortograficamente com uma consoante etimológica. Esse aspecto é exclusivamente ortográfico, visto que há palavras com as mesmas características que não têm indicação ortográfica, como se pode ver nos exemplos incluídos em (12) [que aqui retomo]; nas palavras de (12b) as vogais átonas têm origem histórica em duas vogais seguidas que se fundiram, ou seja, que sofreram uma crase."

(a) dilação, invasor, protecção, absorver, baptismo, [espectador]

(b) mestrado, pregar [um sermão], corar, aquecer

Na palavra espectador/espetador (segundo a nossa pronúncia da consoante), a verdadeira razão, do ponto de vista linguístico, para a abertura da vogal é, então, a marcação no léxico desse aspecto, ou seja, a informação que a palavra traz do léxico de que aquela vogal é aberta e não será sujeita à aplicação da regra do vocalismo átono, mantendo-se por isso aberta num contexto em que, de outra forma, tal não seria esperado.

Assim, quer mantenhamos ou eliminemos o "c" de uma palavra como espectador, a pronúncia da vogal manter-se-á inalterada, à semelhança de todas as outras palavras que sofrerão a queda das consoantes mudas.

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

As diferenças entre a capa de um álbum musical e os Atentados de 11 de Setembro às Torres Gémeas do World Trade Center

Meses antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001, o duo de rap «The Coup» publicou uma imagem promocional do seu álbum "Party Music", no web site da sua companhia de publicidade, que representava explosões nas Torres Gémeas do World Trade Center, quase exactamente nos mesmos pontos em que os aviões pirateados atingiram as Torres.




Jornal Expresso – 15 de Setembro de 2001 (quatro dias após o 11 de Setembro de 2001):

«A coincidência é chocante: a capa de um disco do grupo musical The Coup, criado muito antes dos atentados do dia 11, antecipou a realidade. Nessa capa as torres do World Trade Center explodem, proporcionando imagens muito semelhantes às que a tragédia real viria a registar.»

terça-feira, fevereiro 14, 2017

quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Dissonância cognitiva: incapacidade de um indivíduo equacionar racionalmente novas informações (p. ex. "teorias da conspiração"), que contradigam crenças anteriores já enraizadas.

Em defesa do ego, o ser humano é capaz de contrariar mesmo o nível mais básico da lógica, podendo negar evidências, criar falsas memórias, distorcer percepções, ignorar afirmações científicas e até mesmo desencadear uma perda de contacto com a realidade.

Mentiras reconfortantes - Verdades desagradáveis

A teoria da Dissonância Cognitiva foi inicialmente desenvolvida por Leon Festinger, professor da New School for Social Research de Nova Iorque para explicar que existe uma necessidade nos indivíduos de procurar uma coerência entre as suas cognições (conhecimento, opiniões ou crenças).

Quando as cognições que um individuo possui e acredita serem verdadeiras entram em conflito com novas informações que as vêm contradizer, o indivíduo passa por um conflito ou uma dissonância cognitiva. Quando os elementos dissonantes são de igual relevância ou importância para o indivíduo, o número de cognições inconsistentes determinará o tamanho da dissonância.

As pessoas tendem a procurar uma coerência nas suas crenças e percepções. O que é que acontece quando uma nova crença entra em conflito com outra crença anterior? O termo dissonância cognitiva é usado para descrever as sensações de desconforto que resultam de duas crenças contraditórias. Quando há uma discrepância entre crenças, algo tem de mudar, a fim de eliminar ou reduzir a dissonância.

A teoria da dissonância cognitiva afirma que cognições contraditórias entre si podem servir como estímulos para que a mente obtenha ou produza novos pensamentos ou crenças, ou modifique crenças pré-existentes, de forma a reduzir a quantidade de dissonância (conflito) entre as cognições. A dissonância cognitiva pode também resultar na negação de evidências e outros mecanismos de defesa do ego.


Para tentar diminuir ou eliminar as dissonâncias cognitivas, os indivíduos optam normalmente por uma das três estratégias seguintes:

1 - Estratégia dissonante: O indivíduo procura substituir um ou mais conhecimentos, opiniões ou crenças que já possuía por outros novos que não sejam conflituantes e não provoquem dissonância:

Por exemplo, O Papa Francisco afirmou que a Teoria da Evolução e o Big Bang são reais (substituindo evolutivamente a tese Criacionista que defende que o Universo, a Terra e toda a vida terrestre foram criados há seis mil anos directamente por Deus). Segundo ele, a criação do mundo "não é obra do caos, mas deriva de um princípio supremo que cria por amor". "O Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas exige-a". O Papa acrescentou dizendo que a "evolução da natureza não é incompatível com a noção de criação, pois exige a criação de seres que evoluem".

Criacionismo versus Evolução
Podem ser ambos verdadeiros?


2 - Estratégia Consonante: O indivíduo procura adquirir novos conhecimentos, opiniões ou crenças que se sobreponham aos que já possuía e que estão a provocar a dissonância:

Por exemplo, pessoas a quem é dito que as emissões de gases dos automóveis provocam o aquecimento global podem experimentar sentimentos de dissonância se conduzirem um veículo com alto consumo de gasolina. A fim de reduzir essa dissonância, elas podem procurar novas informações que contestam a conexão entre gases de efeito estufa e aquecimento global. Esta nova informação pode servir para reduzir o desconforto e a dissonância que a pessoa experimenta.

O Aquecimento Global é real?
Claro! Basta perguntar à fada do Aquecimento Global.


3 - Estratégia da Irrelevância: o indivíduo tenta esquecer ou reduzir a importância de novos conhecimentos, opiniões ou crenças que contradigam os que já possuía e que criem situações de dissonância:

É o caso das pessoas que resistem a novas informações sobre as quais não querem pensar, evitando o aparecimento do conflito cognitivo e o rompimento com as crenças que já possuía. Neste caso a pessoa retém uma consciência parcial da nova informação, sem ceder à aceitação, de maneira a permanecer num estado de negação quanto à mesma. Esta inabilidade para incorporar informação racional é, talvez, a forma mais comum de dissonância cognitiva. Quanto mais enraizada estiver uma crença num indivíduo, mais forte será a reacção de negar crenças opostas.

Pessoas que resistem a novas informações sobre as quais não querem pensar

terça-feira, fevereiro 07, 2017

Porque é que os povos dos climas mais frios são mais disciplinados (mas menos calorosos) do que os povos dos climas mais quentes…

À esquerda - réplica de cabana medieval dinamarquesa feita de vime e lama. À direita – reconstrução de uma casa medieval portuguesa em xisto próxima de Arganil.



Pennebaker et al. (1996) concluded that people living in cold climates spend more time dressing, storing food, and planning for winter, whereas people in warm climates have access to one another year-round. Similarly, Andersen et al. (1990) concluded,

In northern latitudes societies must be more structured, more ordered, more constrained and more organized if individuals are to survive harsh winter forces ... in contrast southern latitudes may attract or produce a culture characterized by social extravagance that has no strong inclination to constrain or order their world. (p. 307)

Explanations for latitudinal variations have included energy level, climate, and metabolism (Andersen a al., 1987). Evidently, cultures in cooler climates tend to be more task-oriented and interpersonally "cool," whereas cultures in warmer climates tend to be more interpersonally oriented and inter-personally "warm." The harsh northern cli-mates may explain this difference, because survival during a long winter requires a high degree of task orientation, cooperation, and tolerance of uncertainty. Cultures closer to the equator may not need to plan for winter, but they may need to conserve energy during the heat of summer (Hofstede, 1991).


(Tradução minha)

Andersen et al. (1990: 307) defendeu: nas latitudes mais a norte, as sociedades têm de ser mais estruturadas, mais ordenadas, mais restritas e mais organizadas, se os indivíduos quiserem sobreviver às difíceis condições climatéricas... Em contraste, as latitudes do sul podem atrair ou produzir uma cultura caracterizada por extravagância social e despreocupação sem nenhuma forte inclinação para restringir ou ordenar seu mundo.

Da mesma forma, Pennebaker et al. (1996) sugere que, em climas mais frios, as pessoas gastam mais tempo a preparar-se para o inverno, a agasalhar-se e a armazenar alimentos, enquanto nos climas mais quentes as pessoas têm mais tempo para interacção social. O resultado é que os povos do norte são mais sérios, organizados, preparados e tecnológicos, mas menos calorosos, com menor tendência para confraternizar e menos gregários do que os do sul.

Explicações para as variações latitudinais do comportamento incluem o nível de energia, o clima e o metabolismo (Andersen et al., 1987). Evidentemente, as culturas de climas mais frios tendem a ser mais orientadas para tarefas e a terem relações interpessoais "mais frias", enquanto as culturas de climas mais quentes tendem a ser mais interpessoais e "mais quentes". Os severos climas do norte podem explicar esta diferença, porque a sobrevivência durante um longo inverno requer um alto grau de disciplina, cooperação e tolerância à incerteza. Culturas mais próximas do equador podem não precisar de fazer planos para o inverno, (Hofstede, 1991).

Os habitantes do Norte consideram os povos do sul como frívolos, desorganizados e preguiçosos. As tendências dos povos do sul de se tocarem mais fisicamente e de manterem distâncias mais próximas parecem-lhes (aos no norte) comportamentos invasivos e inadequados.

Inversamente, os povos do sul consideram os povos do norte distantes, tensos e excessivamente organizados. Da mesma forma, Hofstede (2001) observou que as latitudes mais elevadas desencadeiam uma cadeia de eventos que começa com mais planeamento e tecnologia para sobreviver a climas frios. De facto, os estudos globais de Hofstede mostram uma correlação de 0,68 entre latitude e produto nacional bruto. Culturas em latitudes mais elevadas valorizam mais o planeamento e o trabalho do que sociabilidade ou a interacção interpessoal, e o inverso é verdadeiro em latitudes mais baixas.

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

Prof. Dr. Ricardo Augusto Felicio desmonta a farsa do «Aquecimento Global» no Programa do Jô (Soares)

O Prof. Dr. Ricardo Augusto Felicio é graduado em Ciências Atmosféricas - Meteorologia pela Universidade de São Paulo (1998), possui um mestrado em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (2003) e é doutorado em Geografia (Geografia Física) pela Universidade de São Paulo (2007). Actualmente é Prof. Dr. da Universidade de São Paulo.


quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Devido à evolução tecnológica os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos...



Euronews - 04/01/2017

Por Sean Welsh, investigador na área da ética robótica na Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia.

Os robôs vão substituir muitos seres humanos, talvez mesmo a maior parte, no local de trabalho. Desde a Revolução Industrial que o processo de automação tem vindo a eliminar postos de trabalho ocupados por homens e mulheres. No cenário que temos, os trabalhadores humanos tornar-se-ão obsoletos, até os trabalhadores da construção civil. Na verdade, mesmo as actividades de elevado estatuto cognitivo, como o Direito e a Medicina, se encontram ameaçadas pela automação.

Carl Frey e Michael Osborne, da Oxford Business School, falam na ocorrência de um fenómeno de desemprego massivo no sector das tecnologias nos próximos 20 a 30 anos – estão em risco, dizem, entre metade a três quartos dos empregos que existem actualmente. Por isso, a questão é mais que pertinente: vão ser criados novos postos de trabalho para compensar aqueles que serão perdidos para os robôs?

Só o tempo poderá responder. Se Frey e Osborne estiverem certos, as empresas vão começar a optar pela racionalização de recursos em grande escala: poupa-se nos salários e aumenta-se exponencialmente a capacidade de trabalho.

Provavelmente, teremos camiões automatizados sem motoristas, por exemplo. As cargas que transportam poderão ser colocadas e retiradas por robôs. O atendimento aos clientes que procuram esses produtos poderá a vir a ser realizado por autómatos.

A lógica desta realidade deixa milhões e milhões de pessoas sem emprego.


Tim Dunlop, autor da obra “Why the Future is Workless” [Porque é que no futuro não haverá empregos], afirma que os governos têm de parar de fingir que os níveis de emprego vão regressar ao que eram antes e começar a reflectir num mundo pós-trabalho. Tal como muitos outros especialistas, Dunlop defende um rendimento básico universal como a medida política necessária na transição social para um mundo onde o trabalho deixa de ocupar um lugar central no dia a dia das pessoas.

É certo que previsões não são factos. Pode ser que estas preocupações sejam infundadas. As empresas até poderão vir a criar outros postos de trabalho, que ainda não concebemos hoje em dia.

No entanto, é verdade que os observadores apontam o dedo às novas tendências que sobressaem no mundo da tecnologia. Há várias startups, com um número de trabalhadores ínfimo, a atingirem uma valorização astronómica. Empregando simplesmente algumas dezenas de pessoas, o YouTube, o Instagram e o WhatsApp foram comprados em negócios de milhares de milhões. Por outro lado, as funções eminentemente tecnológicas não serão uma resposta para uma quantidade massiva de camionistas, lojistas ou outros trabalhadores à procura de emprego.

Imaginemos, mais uma vez, um cenário onde 1 em cada 10, ou até 1 em cada 5, ou mesmo 1 em cada 2 seres humanos fica sem trabalho e sem perspectivas realistas de arranjar outro, porque os robôs operam mais rapidamente, com menos custos, 24 horas por dia, e nem sequer se queixam. As limitações que, nos dias que correm, já sugerem que o do Bem-estar Social iriam agravar-se e muito com do domínio da máquina na actividade produtiva.



Martin Ford, que escreveu “The Rise of the Robots” [A Ascensão dos Robôs], conta uma história que envolve Henry Ford II e Walter Reuther, responsável sindical do sector automóvel. Ambos estavam a visitar uma nova fábrica de carros automatizada. Ford provoca Reuther: “Como é que vai fazer para que os robôs paguem as quotas do sindicato?”. Resposta de Reuther: “E como é que senhor vai fazer para que eles comprem os seus carros?”.

Segundo o economista francês Thomas Piketty, a sociedade já está a regredir rumo às desigualdades extremas, em termos de distribuição de rendimentos, que se viviam na altura de Austen e Balzac. Se os robôs vierem a substituir totalmente a força de trabalho, que rendimento disponível terão as pessoas para comprar os produtos feitos por esses mesmos robôs?

Há quem diga que é por esta razão que o sistema capitalista poderá vir a apoiar o conceito de rendimento básico universal. Outras alternativas apontam para um aumento dos impostos para suportar as despesas do Estado social ou a aplicação de políticas proteccionistas “anti-robôs”.

É verdade que os robôs estão substituindo muitos seres humanos. Se irá ou não haver novos postos de trabalho suficientes, esse será um dos grandes desafios com que a sociedade se irá debater.