quinta-feira, maio 04, 2017

André Rogerie - o estonteante corrupio de um prisioneiro entre os diversos blocos hospitalares de Auschwitz


André Rogerie tinha 21 anos quando foi preso pela Gestapo, a 3 de Julho de 1943, quando tentava juntar-se às tropas francesas no Norte de África. André Rogerie esteve sucessivamente prisioneiro nos campos de concentração nazis de Buchenwald, Dora, Maidanek, Auschwitz, Gross-Rosen, Nordhausen e Harzungen.

Em 1945, escreveu uma obra intitulada "Vivre c’est Vaincre" [Viver é Vencer]. André Rogerie escreveu este livro porque, já desde 1943, estava convicto de que era necessário fazer saber ao mundo o que ele passou e viu nos campos de concentração.

No prefácio da reedição do seu livro, em 1988, escreveu: "Tendo assistido pessoalmente ao que se chama hoje «Holocausto», creio ser o meu dever, como testemunha ocular, imprimir novamente este documento histórico para que aqueles que procuram a verdade sobre este período encontrem um testemunho autêntico". Contra os negacionistas (os que negam o Holocausto Judeu), André Rogerie traz-nos o testemunho de um deportado que observou o genocídio dos Judeus.



Tendo subido ao posto de General, André Rogerie recebeu em 1994 o prémio "Mémoire de la Shoah [Memória do Holocausto Judeu] da Fundação Bushmann. A 16 de Janeiro de 2005, no Hôtel de Ville em Paris, por ocasião da comemoração da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, André Rogerie foi, a par com Simone Veil (a primeira mulher a presidir ao Parlamento Europeu [1979-1982]), um de dois sobreviventes dos campos a testemunhar.

André Rogerie foi deportado para Dora, adoeceu, foi considerado inapto para o trabalho e, depois de algumas peripécias, chega a Auschwitz-Birkenau em Abril de 1944, nessa altura ele não pesa mais de quarenta quilos.

«Os prisioneiros com fatos às riscas estão lá para nos receber. É um comando especial. Em geral são muito simpáticos, ajudam-nos a descer e depois a subir para os camiões. Estamos muito cansados, chegámos extenuados e a ajuda que nos deram não foi inútil» (pág. 63).

André Rogerie, depois de passar pela desinfecção vai para um bloco de quarentena. Ao fim de cinco semanas, pesa 43 kg. Ao ver o seu estado de magreza, o médico envia-o para o campo-hospital (pág. 69): «fomos colocados num bloco muito simpático. O chão está coberto com um pavimento, há janelas, as camas estão espaçadas umas das outras, os cobertores são bons. A sopa é abundante e, pela primeira vez desde há uns tempos, eu comia o suficiente» (pág. 69).


André Rogerie


Ao verificar-se que tinha sarna, foi enviado para o bloco 15, «reservado às doenças de pele» (pág. 70). «Todos os dias, o suplemento de sopa é distribuído àqueles que estão mais magros […] vou portanto para a fila (sempre em camisa) para o meu suplemento». «Em poucos dias, voltei a ter cinquenta quilos. Graças às pomadas do doutor Landemann, a minha pele está completamente sarada» (pág. 71).




No dia em que devia finalmente sair do hospital para trabalhar, André Rogerie ficou com febre: «Os médicos auscultaram-me um após outro e desconfiaram que eu tinha malária. O doutor Herz recolheu uma amostra do meu sangue para que fosse estudada ao microscópio […] o laboratório respondeu na manhã seguinte a dizer que a malária não foi detectada. Eu tenho o sangue muito puro […]. Continuo portanto a viver no bloco 15 com a minha pequena febre semanal […]. Pouco a pouco, graças aos bons cuidados de Piccos (um enfermeiro), a agulha da balança sobe e em Julho eu já peso 56 quilos» (pág. 72).

«Eis que, ainda por cima, eu contraio uma doença do couro cabeludo que é tratada por depilação. É necessário rapar todo o cabelo, pêlo a pêlo. Para isso, sou levado para o campo das mulheres para ir ao aparelho de raios X, porque não falta nada em Birkenau».

Pouco depois, André Rogerie seria inscrito num comando de trabalho de Auschwitz.



Comentário

Poucos deportados terão tido tanta sorte como o prisioneiro André Rogerie. Não só passou incólume por sete campos de extermínio - Buchenwald, Dora, Maïdanek, Auschwitz, Gross-Rosen, Nordhausen e Harzungen, como, dentro do campo de extermínio de Auschwitz, correu quase todos os blocos hospitalares do campo.

André Rogerie, depois de passar pela desinfecção, foi para um bloco de quarentena. Cinco semanas depois, o médico envia-o para o campo-hospital. Ao verificar-se que tinha sarna, foi enviado para o bloco 15, reservado às doenças de pele. Ao contrair uma doença no couro cabeludo, tem de ir ao aparelho de raios X que fica situado no campo das mulheres.

Esta roda-viva pelos diversos blocos hospitalares de Auschwitz não é alheia à recuperação física de André Rogerie. Chegado a Auschwitz, em Abril de 1944, não pesando mais do que 40 kg, ao fim de cinco semanas já pesa 43 kg, atingindo pouco depois os 50 kg, e em Julho do mesmo ano os 56 kg. Pouco tempo depois, André Rogerie já estava suficientemente robusto para ser integrado num comando de trabalho.

Em face da existência de tantos blocos hospitalares no campo de extermínio de Auschwitz, é difícil discordar de André Rogerie: «não falta nada em Auschwitz-Birkenau».

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite Diogo
Livro muito bom na net The Rulers of Russia por Denis Fahey
Carlos

Diogo disse...

Olá Carlos,

Vou ler. Obrigado.

Diogo