Bem pior que a violência imaginária sobre meia-dúzia de legisladrões contumazes, angustia-me e comove imensamente mais a violência real, metódica e quotidiana dessa meia-dúzia sobre milhares, e o desamparo da queda dum país e dum povo inteiros às patas dessa vil e irrecuperável corja.
Redução, não!
Não vou ao ponto de proclamar (como faz, peremptório, o meu sócio e compadre Ildefenso Caguinchas), que sou a favor da redução de deputados no palramento, de preferência a tiro. Embora, ao ponderar mamíferos da envergadura dum Sérgio Sousa Pinto ou dum Francisco Assis, a tentação seja grande. Não que sejam muito piores que qualquer um dos outros (tudo aquilo é avulso, amorfo e aleatório): são apenas mais pesporreicos e irritantes. Para falar com franqueza, até nem sou a favor da redução de deputados: penso mesmo que a defenestração seria o tratamento mais adequado. Isto, para a generalidade. Porque para os cabecilhas de bando, eufemística e pomposamente catalogados de "lideres de grupo parlamentar", entendo que devem reservar-se honras de "devarandação". O certo é que, via janela ou via varanda, há todo um excedente que urge evacuar, catapultando. Que esse excedente coincida com o plenário, isso já é detalhe onde o assombro compete com a evidência, e o estado de semi-falência das finanças públicas apenas agudiza e amplifica.
Eu sei. Algumas almas mais sensíveis e delicadas estão já, debulhadas em lágrimas, a deplorar a violência e o desamparo da queda; outros, que sempre os há calculistas e maquiavélicos nestas ocasiões, hão-de desaprovar porque assim só promoveremos os criminosos a mártires; outros ainda, os mais básicos e mentecaptos, engrenarão na ladainha do nazi, fássista e mais não sei quê, que, lá bem no fundo do armário psico-seboso, lhes preenche as titilações libidorreicas; etc, etc, bla-bla-bla.
Aos primeiros, respondo que, bem pior que esta violência imaginária sobre meia-dúzia de legisladrões contumazes, me angustia e comove imensamente mais a violência real, metódica e quotidiana dessa meia-dúzia sobre milhares, e o desamparo da queda dum país e dum povo inteiros às patas dessa vil e irrecuperável corja. Aos segundos, direi que antes fazer deles mártires do que permitir que eles continuem, ad aeterno, a martirizarem-nos a nós. Finalmente, aos terceiros, que posso eu dizer? Devolvê-los expressamente, e em passo de corrida, ao orifício matriz seria baldado e duvidoso: é inextricável que tenham saído pela frente ou por trás (embora, tendo em conta o odor do raciocínio, qualquer indivíduo adulto não constipado aposte sem hesitar na cloaca do esgoto).
Quanto ao edifício propriamente dito, não é destituído de beleza arquitectónica. O problema, nos últimos cem anos, ou coisa que o valha, tem sido a frequência. Da União Nacional à Desunião Nacinhal, a diferença é a que medeia entre o estábulo do regime e o templo da democracia. Ou dito mais lucidamente: entre a estrebaria e a casa de putas.
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Eu sei. Algumas almas mais sensíveis e delicadas estão já, debulhadas em lágrimas, a deplorar a violência e o desamparo da queda; outros, que sempre os há calculistas e maquiavélicos nestas ocasiões, hão-de desaprovar porque assim só promoveremos os criminosos a mártires; outros ainda, os mais básicos e mentecaptos, engrenarão na ladainha do nazi, fássista e mais não sei quê, que, lá bem no fundo do armário psico-seboso, lhes preenche as titilações libidorreicas; etc, etc, bla-bla-bla.
Aos primeiros, respondo que, bem pior que esta violência imaginária sobre meia-dúzia de legisladrões contumazes, me angustia e comove imensamente mais a violência real, metódica e quotidiana dessa meia-dúzia sobre milhares, e o desamparo da queda dum país e dum povo inteiros às patas dessa vil e irrecuperável corja. Aos segundos, direi que antes fazer deles mártires do que permitir que eles continuem, ad aeterno, a martirizarem-nos a nós. Finalmente, aos terceiros, que posso eu dizer? Devolvê-los expressamente, e em passo de corrida, ao orifício matriz seria baldado e duvidoso: é inextricável que tenham saído pela frente ou por trás (embora, tendo em conta o odor do raciocínio, qualquer indivíduo adulto não constipado aposte sem hesitar na cloaca do esgoto).
Quanto ao edifício propriamente dito, não é destituído de beleza arquitectónica. O problema, nos últimos cem anos, ou coisa que o valha, tem sido a frequência. Da União Nacional à Desunião Nacinhal, a diferença é a que medeia entre o estábulo do regime e o templo da democracia. Ou dito mais lucidamente: entre a estrebaria e a casa de putas.
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16 comentários:
Eu sou a favor de um ambiente saudavelmente respirável.
Se para esse ambiente existir em S. Bento se torna necessário reduzir o número de deputados, que assim seja.
Em abono da verdade e volto a dizer, que o nosso grande problema não está em quem nos governa, mas sim nos governados.
Não há dúvida quanto à qualidade da prosa do autor.
Já quanto à substância: é a litania do costume entre a ralé...
O anónimo das 14:02 que sabe muito bem o que é disparar o termo ralé nos dias de hoje. A ralé, aquela gentezinha bacoca que só atrapalha, só diz mal e que nunca vêm o lado positivo das coisas.
A parte negra do povo, essa ralé, que não deveria ter o direito a existir, por ser contrária aos mantras do politicamente correcto, mesma coisa, que ladrões e bandidos que por circunstâncias muito complexas fazem as leis por onde todos nós nos temos que reger.
Existe outro termo que define esse tipo de comentário, ele é reles. O seu comentário é reles de todo.
Abraço.
Elite.
Massa.
Ralé.
A ralé é o fundo do poço - o lixo das outras classes (a elite também pode segregar pessoas directamente para a ralé...por exemplo, antigas "estrelas televisivas" caídas em desgraça). Enquanto as massas querem bem-estar material para viver com conforto, tranquilidade e previsibilidade e se agitam durante as crises (porque sentem fugir-lhes o tapete da previsibilidade do amanhã de baixo dos pés), a ralé é constituída por quem deseja mais que isso (às vezes são lunáticos convencidos que são génios sem reconhecimento) mas não tem nenhum talento específico reconhecível socialmente que lhe permita ascender a um estatuto de elite (seja que tipo de elite for). Também rejeita ferozmente a "covardia" e a "passividade" das massas (que, leia-se, só querem viver tranquilamente, em família, com os amigos, etc.). Portanto, na categoria da ralé enquadra-se todo o tipo de aventureiro que deseja a mudança pela mudança, mas não sabe para quê (em política: desconhece o que é um sistema político, um sistema partidário, um sistema eleitoral, etc.), a não ser para tentar alcandorar-se a um estatuto de elite que dentro do sistema vigente nunca poderia alcançar (por ignorância, incapacidade, falta de qualificações formais, etc.).
Um exemplo: o frustrado que sai de um emprego precário (tipo call center), chega a casa, se senta ao computador e se entretém a explicar porque é que todas as suas frustrações são culpa de um "sistema injusto orquestrado por homens maus" que é "urgente mudar". Só não sabe para quê - mas qualquer coisa para ele é melhor que o presente.
http://ofogodavontade.wordpress.com/2011/02/12/soem-os-alarmes/#respond
As elites são aquelas pessoas que comem todos os dias, mas nunca plantaram uma couve nem batata, vivem em brutas casas com brutas piscinas, mas nunca na vida colocaram um tijolo. A ralé são aquelas pessoas covardes e passivas que passam o dia a plantar couves e batatas e a colocar tijolos porque não têm talento para mais. (leia-se, para viver à custa dos outros).
Não. Não percebeu nada. Leia outra vez. Isto é como na segunda classe, é preciso ler várias vezes para compreender.
E quanto a "viver à custa dos outros" - chama-se sociedade. Todos vivemos "à custa" uns dos outros. Claro que lhe podia explicar porquê, mas provavelmente você não iria compreender.
Percebi muito bem, não é preciso ter a quarta, nem sequer a segunda classe para percebe-lo. Você aceita muito bem a actual sociedade com as suas desigualdades porque aspira a fazer parte daqueles que vivem à custa dos outros. Viver numa sociedade em que cada um dependesse do seu trabalho é coisa que não lhe passa pela cabeça. Uma pirâmide tem a vantagem de permitir aos mais espertos alojar-se acima.
Não. Não é capaz de compreender. Não vale a pena. Vá, vamos todos plantar batatas e assim "vivemos todos do nosso trabalho". Aconselho-o a emigrar para o meio do Amazonas, para ir viver no meio das tribos selvagens. E olhe que nem aí todos "vivem do seu trabalho". Santa ignorância.
Sim,vamos reduzir o numero de de putados do PSD/CDS/PS!!!!!A escória duma sociedade
Essa lenga-lenga: "vocês são todos uns estupidos" que é como quem diz "a minha inteligencia é muito acima da média" é a doença típica dos portugueses na net (e se calhar não só. Viver do nosso trabalho não significa viver exclusivamente dos bens produzidos pelos próprios, significa que aquilo que tiramos é mais ou menos igual àquilo que damos à sociedade. Não me diga que o parasitismo é o preço a pagar pelo progresso. Mesmo no capitalismo há países onde o nível de desigualdade é significativamente inferior a Portugal.
Inteligência e conhecimento não são conceitos equiparáveis (embora o primeiro facilite a aquisição do segundo).
O valor daquilo que damos à sociedade é intersubjectivo, depende das necessidades das pessoas a cada momento. Para fazer essa sua tabela de distribuição teria que congelar as necessidades das pessoas e atribuir-lhes um valor fixo. Quem definiria esse valor e com base em quê?
Sabe que quem tentou fazer isso congelou também o desenvolvimento e destruiu a liberdade, não sabe?
A melhor maneira de acabar com desigualdades é proporcionar às pessoas a liberdade de subirem na vida. É isso que fazem esses "países capitaistas com menos desigualdades". Nivelar por cima, porque a mentalidade impele as pessoas a aplicarem-se a sério e a preferirem abdicar de prazeres imediatos para subirem na vida. Como não se pode obrigar alguém a aplicar-se até atingir a excelência e como é impossível conceder igualdade de oportunidades total sem destruir completamente a liberdade que é a fonte do desenvolvimento, é preciso transigir com desigualdades.
Balelas livrescas para racionalizar a exploração do mais fraco pelo mais forte.
Pelos visto não há terceira opção,ou exploração ou comunismo,que é exploração,mas com outra racionalização oposta à primeira.
Tolices de quem nunca fez ponta de corno a não ser viver folgadamente da tal sociedade.
Ia ficar MUITO surpreendido com o que eu "faço" e já fiz...mas como se trata de argumentar racionalmente, essa conversa é pacóvia.
Os argumentos não dependem das ocupações das pessoas.
A verdadeira exploração, nua e crua, é o comunismo (ou o capitalismo inglês do século XIX, ou o capitalismo nipónico da era Meiji, etc.). Agora estamos MUITO longe disso (agora queremos distribuir riqueza que não criamos, porque damos "direitos" à riqueza antes de ela ser criada...um ciclo vicioso), apesar da propaganda dos partidos aventureiros e esclerosados querer fazer crer o contrário para poder continuar a agitar a bandeira dos "amanhãs que cantam" (uns mais pela calada que outros). Assim têm razão de viver.
Olhe que temos espaço mais que suficiente para viver sem esse cinismo todo de ver o mundo como "exploração".
http://a4guerramundial.blogspot.com/2011/01/os-senhores-do-mundo-o-governo-mundial.html
- Ó sókras, lá faças o que fizeres, disse o manhoso das finanças, primeiro salvemos os bancos em que o PS tem negócio.
- O PS e o PSD, então, todos boys, quais burros da mesma carroça.
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