«Bem pensado, mas nunca substituirão o cavalo», disseram os cépticos quando viram os primeiros automóveis.
O falecido e grande economista Wassily Leontief respondeu há 35 anos àqueles que defendiam que a tecnologia nunca seria realmente capaz de substituir o trabalho das pessoas: As máquinas substituíram os cavalos, não foi?
Os cavalos ainda resistiram durante algum tempo como força de trabalho mesmo depois de terem sido desafiados pela primeira vez pelas tecnologias de comunicação "modernas", como o telégrafo e a ferrovia, o transporte de material e de pessoas. Mas, quando o motor de combustão interna chegou, os cavalos - como componente crítico da economia mundial - passaram à história.
Cortar as rações dos cavalos pode ter atrasado um pouco a sua substituição por tractores mas, passados alguns uns anos, a única solução para os 20 milhões de cavalos recém-desempregados foi pô-los a pastar.
Quando o motor de combustão interna chegou, a solução foi pôr os cavalos a pastar
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Diário de Notícias - 19/08/2016
Artigo de Ricardo Simões Ferreira
Nada vai escapar à supremacia da inteligência artificial
Com o deep learning, em vez de serem pessoas a escrever os programas informáticos, são os dados que escrevem os programas.
O mundo vive hoje à beira de uma transformação que fará que a Revolução Industrial pareça uma nota de rodapé nos compêndios de História. O desenvolvimento da verdadeira inteligência artificial (AI na sigla inglesa) vai mudar a maneira como trabalhamos, como aprendemos, enfim, como vivemos, de formas que mal conseguimos imaginar.
Não é exagero. Nos últimos anos, as redes informáticas de alta velocidade e o poder de processamento das máquinas têm permitido a criação de algoritmos de "aprendizagem" que há bem pouco tempo nem existiam. Um deles, um processo chamado deep learning, recolhe dados em bruto dos universos informáticos em que se desenvolve para se autoprogramar. "Em vez de serem pessoas a escrever programas informáticos, são os dados que escrevem os programas", sintetiza à The Economist o presidente do fabricante de processadores NVIDIA, Jen-Hsun Huang.
O mundo vive hoje à beira de uma transformação que fará que a Revolução Industrial pareça uma nota de rodapé nos compêndios de História. O desenvolvimento da verdadeira inteligência artificial (AI na sigla inglesa) vai mudar a maneira como trabalhamos, como aprendemos, enfim, como vivemos, de formas que mal conseguimos imaginar.
Não é exagero. Nos últimos anos, as redes informáticas de alta velocidade e o poder de processamento das máquinas têm permitido a criação de algoritmos de "aprendizagem" que há bem pouco tempo nem existiam. Um deles, um processo chamado deep learning, recolhe dados em bruto dos universos informáticos em que se desenvolve para se autoprogramar. "Em vez de serem pessoas a escrever programas informáticos, são os dados que escrevem os programas", sintetiza à The Economist o presidente do fabricante de processadores NVIDIA, Jen-Hsun Huang.
O software assim criado pode ser qualquer coisa. O deep learning está na sua infância e é hoje já usado para caçar utilizações fraudulentas de cartões de crédito, filtrar correio eletrónico não solicitado, reconhecer comandos de voz, fazer traduções e pesquisas na internet, criar objetos "de arte", conduzir automóveis autónomos e, até, escrever notícias. (O The Washington Post está neste momento a fazer a cobertura dos Jogos Olímpicos no seu blogue nas redes sociais através de um sistema de escrita automática baseado num processo deste género).
Que lugar terá o ser humano num mundo em que os computadores potencialmente conseguirão tudo fazer?
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Nos princípios do século XX, só um louco imaginaria que ainda no seu tempo de vida poderia ser trivial viajar a 10 km de altitude a 1000 km/h, que seria comum uma transplantação do coração, do fígado, dos pulmões, dos rins, etc., que com um telemóvel poderia falar em tempo real com outra pessoa no outro lado do mundo (vendo a imagem do seu interlocutor no ecrã), ou que poderia ter quase todo o conhecimento do mundo na ponta dos dedos (num computador ligado à Internet).
A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, de forma crescente, possui mais dados, mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.
A tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.
Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá necessariamente de pertencer ao grupo, à comunidade, à sociedade.
O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego condenado ao desastre social?
É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. É necessário criar rapidamente, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.
A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, de forma crescente, possui mais dados, mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.
A tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.
Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá necessariamente de pertencer ao grupo, à comunidade, à sociedade.
O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego condenado ao desastre social?
É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. É necessário criar rapidamente, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.