segunda-feira, abril 09, 2012

«Bem pensado – mas nunca substituirão o cavalo», disseram os cépticos quando viram os primeiros automóveis.

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Uma resposta aos que se agarram desesperadamente a um paradigma que surgiu com a revolução industrial – O Emprego – quando se percebe que este está a agora desaparecer em todo o lado a uma velocidade vertiginosa. Tudo devido à evolução tecnológica exponencial a todos os níveis.

O fim do emprego trará também o fim do capitalismo e, a cereja em cima do bolo, o fim do parasitismo financeiro.


The Benz Patent Motor Car Velocipede Of 1894


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* Nos primeiros tempos da aviação, o astrónomo americano William Pickering, que predisse a existência de Plutão, preveniu o público de que: «A mente popular imagina frequentemente gigantescas máquinas voadoras atravessando o Atlântico a grandes velocidades e transportando numerosos passageiros como um moderno paquete… Parece-me seguro afirmar que tais ideias são totalmente visionárias, e mesmo que uma máquina conseguisse atravessar o Atlântico com um ou dois prisioneiros, os custos seriam proibitivos…» Três décadas mais tarde, em Julho de 1939, foi inaugurada a primeira linha aérea transatlântica com um hidroavião Boeing 314, o Yankee Clipper da Pan American, transportando 19 passageiros.




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* Em 1924, o engenheiro electrotécnico inglês Alan Archibald Swinton, um dos pioneiros do de raios catódicos, fez uma palestra na Radio Society da Grã-Bretanha sobre «Visão à Distância». Diria então: «Provavelmente não valerá a pena que alguém se dê ao trabalho de consegui-la.» Quatro anos mais tarde, a General Electric Company inaugurava, no estado de Nova Iorque, a primeira rede de televisão do Mundo.




* «História dos Grandes Inventos - Selecções do Reader’s Digest – 1983, pág 62».


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A automação e a inteligência artificial têm tido um desenvolvimento avassalador. A máquina, de forma crescente, possui mais dados, mais conhecimento e melhor capacidade de decisão. Cada vez é mais inteligente e mais autónoma. E cada vez menos precisa de ser dirigida pelo homem.

A tecnologia está cada vez mais próxima de produzir sozinha. O desenvolvimento tecnológico é exponencial em todos os campos que se considere. Donde, no binómio homem-máquina na produção, o homem tem cada vez menos peso. Em breve não terá praticamente nenhum e a máquina produzirá sozinha.

Nessa altura, a fábrica totalmente automatizada não poderá ser privada. Porque não existirão trabalhadores com salários, e sem salários não há poder de compra. Sem poder de compra não há vendas. Sem vendas não há lucros. Sem lucros não há empresas privadas. Qualquer empresa automatizada, seja o que for que produza, terá necessariamente de pertencer ao grupo, à comunidade, à sociedade.

O número crescente de desempregados a par do desenvolvimento exponencial do hardware e do software estão aí para prová-lo. Vamos acelerar a transição ou vamos permanecer agarrados a um passado de emprego condenado ao desastre social?

É a tecnologia que está a substituir o homem no trabalho. É por isso que o velho paradigma do emprego está moribundo. É necessário criar rapidamente, com o auxílio da tecnologia, um mundo mais justo, mais redistributivo e mais humano.




Comentário

O processo paradigmático acima descrito não tem necessariamente de ficar à espera de uma revolução tecnológica completa que o conclua. Muito sofrimento humano pode ser evitado com revoltas, ora pacíficas, ora violentas, consoante os casos, contra a vermina financeira (e respetivos serviçais – na política, na justiça e nos media) que carcome, devora e parasita a humanidade.
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19 comentários:

HORIZONTE XXI disse...

É isso mesmo, tenho dito com frequencia, e até mais, não devemos lutar pelo direito ao trabalho mas sim pelo direito a não trabalhar.

Abraço livre.

Paulo disse...

Muito interessante, a matéria que se ensina nas faculdades de Economia vem do tempo do Ramalho Ortigão.

Anónimo disse...

Diogo,estou alinhado consigo sobre o fim da exploração humana.
Mas não queira ser como eu ou o pobre do Pickering,que falhamos todas as previsões.
O lobo encontrará sempre uma maneira de comer a ovelha.

Diogo disse...

Caro Anónimo,

Até agora o lobo tem tido necessidade de comer a ovelha para sobreviver. Mas a evolução exponencial da tecnologia criará em laboratório toda a carne (mais tenra, menos gordurosa e mais saborosa), que os lobos precisarão para se empanturrar. E criará, também de forma automatizada, toda a erva fresca e viçosa de que todas as ovelhas tenham necessidade.

JCG disse...

O seu raciocínio tem um erro de base: o "emprego" ou "o trabalho" manual não está a ser reduzido anulado como se depreende do que escreve: está a ser transferido (deslocalizado, para usar o termo da moda) !!

Diogo disse...

Caro JCG,

Aí é que você se engana. Experimente entrar numa qualquer fábrica mais moderna e o que vê é braços robotizados por todo o lado com um tipo de bata branca ao fundo a tirar notas.

Por outro lado, a automação está a tornar-se mais barata, muito mais rápida e muito mais precisa que a mão-de-obra escrava.

Abraço

alf disse...

Diogo

Há de facto uma grande transformação e a verdade é que cada vez menos vai ser preciso trabalhar para sobreviver.

Ao estar assegurada a sobrevivência (não é que esteja, mas podia estar com um sistema social melhor)as pessoas vão descobrir que querem outras coisas para além da sobrevivência; e então vão fartar-se de trabalhar para conseguir essas outras coisas. Porque muito mais realizador do que não fazer nada é fazer coisas.

As pessoas precisam de se sentir úteis, admiradas, etc.

Eu livrei-me do meu emprego para ter tempo para trabalhar, ou seja, para fazer as coisas que me interessa fazer. Prefiro perder uma data de dinheiro mas poder "trabalhar" do que estar numa situação em que era bem paga mas as minha capacidades estavam subaproveitadas.

Mas nem toda a gente tem de ser como eu e não é preciso que seja; é por isso que eu já apresentei em posts antigos ("Mais sobre o sistema") umas continhas que mostram que desde que as pessoas não-activas recebam em média metade do PIB per capita, um sistema de SS como o que temos é indefinidamente sustentável. E esse é, na minha opinião, o caminho, porque assegura não só a sobrevivência como a existência de consumidores. E tem uma vantagem: deixa o trabalho para quem quer trabalhar. Isto de as pessoas terem de ter emprego para sobreviverem enche os postos de trabalho com pessoas que não querem trabalhar e só atrapalham os que querem.

Mas as coisas têm de ficar bem definidas à partida: o rendimento médio de quem não trabalha não pode ultrapassar uns 40% do PIB per capita.

Diogo disse...

Alf: Há de facto uma grande transformação e a verdade é que cada vez menos vai ser preciso trabalhar para sobreviver.

Diogo: De acordo!


Alf: Ao estar assegurada a sobrevivência (não é que esteja, mas podia estar com um sistema social melhor) as pessoas vão descobrir que querem outras coisas para além da sobrevivência; e então vão fartar-se de trabalhar para conseguir essas outras coisas. Porque muito mais realizador do que não fazer nada é fazer coisas.

Diogo: Mas você pode fazer aquilo que quiser. Compor uma música, construir à mão uma cabana junto de um lago, pintar um quadro, reconstruir um carro antigo, etc…


Alf: As pessoas precisam de se sentir úteis, admiradas, etc.

Diogo: Porquê? O prazer de se ser útil só advém do facto de podermos fazer algo que satisfará outros e pelo posterior sentimento de reconhecimento desses outros. Mas se as máquinas dizerem tudo infinitamente melhor do que você… Se você não puder ser útil a ninguém…


Alf: Eu livrei-me do meu emprego para ter tempo para trabalhar, ou seja, para fazer as coisas que me interessa fazer. Prefiro perder uma data de dinheiro mas poder "trabalhar" do que estar numa situação em que era bem paga mas as minha capacidades estavam subaproveitadas.

Diogo: Isso é outra coisa. Você trocou uma atividade que não lhe dava prazer (embora bem paga), por outra(s) que lhe dão mais prazer e menos dinheiro. Foi uma opção.


Alf: Mas nem toda a gente tem de ser como eu e não é preciso que seja; é por isso que eu já apresentei em posts antigos ("Mais sobre o sistema") umas continhas que mostram que desde que as pessoas não-activas recebam em média metade do PIB per capita, um sistema de SS como o que temos é indefinidamente sustentável. E esse é, na minha opinião, o caminho, porque assegura não só a sobrevivência como a existência de consumidores. E tem uma vantagem: deixa o trabalho para quem quer trabalhar. Isto de as pessoas terem de ter emprego para sobreviverem enche os postos de trabalho com pessoas que não querem trabalhar e só atrapalham os que querem.

Diogo: Mas a evolução tecnológica está a acabar com todos os empregos…


Alf: Mas as coisas têm de ficar bem definidas à partida: o rendimento médio de quem não trabalha não pode ultrapassar uns 40% do PIB per capita.

Diogo: É uma questão de contas. Mas a evolução tecnológica vai fazer disparar o PIB per capita e simultaneamente acabar com os empregos. Este processo será irreversível.

Nelo disse...

"...É apenas no sec.XVIII que se começa a falar de progresso para o espírito humano, de maneira geral (Fontenelle), progresso da razão (Voltaire), progresso da civilização (Turgot), progressos das ciências (Enciclopédia).

A ideia de um progresso do homem inscito na sua história nasce no século das luzes e não é uma ideia assim tão estranha pensar que estas luzes eram meramente burguesas...toda a ideia de progresso é um fenómeno burguês, ligado a essa classe...a ideia de progresso precede o verdadeiro desenvolvimento lógico e universal das ciências... no início do sec.XIX deixou de se falar de progresso da razão, progresso da ciência,..., para se falar de progresso "tout court".

Esta simples mudança constitui um corte radical: a partir desse momento progresso deixa de significar desenvolvimento de qualquer coisa e, por conseguinte, deixa de ser qualificado por aquilo a que se aplica como um bem ou como um mal. Em si, o progresso, passa a ser positivo: o que se acrescenta é válido e portanto como não entender que esta absolutização do termo, pela validação do que aumenta, está justamente ligado ao quantitativo, quer dizer, à produção económica...então pode afirmar-se que o progresso é o conteudo da história,... a passagem da tirania à democracia, da penúria à abundância pela produção industrial, da religiâo à ciência, da sujeição às forças naturais à sua posse. É uma passagem irresistível: " o progresso não para!". E o progresso é a passagem para o estado de realização da felicidade tal como burguês o concebeu...", dizia Jacques Ellul e terminava, dizendo, que tudo isso não passa de mera ideologia. Acrescentaria eu que é a idolatria dos tempos modernos...

Abraço

Diogo disse...

O progresso científico pode ir muito além de uma mera ideologia (ou de uma idolatria vã).

A partir do momento em que a tecnologia possa penetrar e manusear o cérebro – a nossa caixa onde se produzem as emoções – então podemos aspirar a sentimentos permanentes de satisfação, alegria, amor e bem-estar "espiritual". Portanto, progresso tecnológico pode significar muito mais do "simplesmente" matar a fome a toda a gente…

Abraço

Zorze disse...

Diogo,

O teu post é muito bom, só que falha nalgumas conexões.
Carece do lado negro da tecnologia.

Quem financia a pesquisa e o I&D?
Quem são os accionistas das multinacionais que as vão comercializar, publicitar e manipular?
Quem paga os salários dos cientistas?
De quem são os laboratórios, em que pesquisam?

Este tema, por mais que se debata, volta-se sempre ao mesmo, tal como a moeda, tem duas faces.

Abraço.

Diogo disse...

Caro Zorze,

Pareço ter pintado um quadro demasiado otimista, mas não tenho dúvidas que a curto/médio prazo isto vai-se tornar num pandemónio com imensas vítimas (já hoje está a acontecer).

Mas repara, eu sei que quem financia a pesquisa e o I&D são os grandes acionistas das multinacionais que as pretendem comercializar todo esse novo hardware e software.

Só que, esse novo hardware e software vai acabar com o emprego. E sem empregos não há salários. E sem salários não há vendas. E sem vendas não há lucros. Para quê possuir uma fábrica completamente automatizada que pode produzir uma infinidade de produtos para os quais não há-de haver compradores?

Não! Toda essa tecnologia acabará mais cedo ou mais tarde por estar ao serviço de todos. Qualquer outra hipótese não faz sentido.

Abraço

Nelo disse...

"A partir do momento em que a tecnologia possa penetrar e manusear o cérebro..." rejubila o Diogo, embora vociferando contra o "manuseamento" virtual que se faz todos os dias nas TVs. Não! O que o Diogo quer são mesmo implantes, ele deseja que sejamos todos uns Robots para então aspirarmos a "sentimentos permanentes de satisfação, alegria,amor e bem estar espiritual", espiritual entre aspas.Bem manuseadinhos, seremos todos muito felizes! O Ellul se o ouvisse acrescentaria outro capítulo à "Metamorfose do burguês". A propósito desses seus estimáveis desejos robotizados ocorre-me citar Pascal: "Estou convencido que o nosso grande pecado é o da omissão:bem não feito, responsabilidade não vivida,gestos bons e deveres não cumpridos,compromissos desatentos"

Carlos disse...

“A partir do momento em que a tecnologia possa penetrar e manusear o cérebro ...”
Estaremos todos quilhados.

Sabe-se que depois de haver actividade cerebral, o ser humano exprime um pensamento.
Só não se sabe é se o pensamento provoca essa actividade cerebral ou o contrário.

“Não! Toda essa tecnologia acabará mais cedo ou mais tarde por estar ao serviço de todos. Qualquer outra hipótese não faz sentido.”
A guerra também não faz qualquer sentido, as bombas atómicas também não, a fome, etc.
Todo este avanço tecnológico vai inevitavelmente, imperativamente, estar ao serviço de todos. Uns, poucos, servindo-se e outros o resto do maralhal, servindo... lol

Diogo disse...

Caro Nelo,

Eu vocifero contra o manuseamento virtual forçado que se destina a espoliar o humano. Não contra o manuseamento virtual aceito que tem por único objetivo dar a felicidade às pessoas (sendo a felicidade aquilo que as pessoas desejam). Pascal não tem lugar aqui.

Abraço

Diogo disse...

Carlos, não percebo...

Carlos disse...

Ai não percevejo...

Carlos disse...

pirata... :)

Diogo disse...

Quando a tecnologia puder disponibilizar os bens necessários a toda a gente, que necessidade há de alguém «se aproveitar»?

Pensemos no «ar atmosférico». Existe em tal quantidade que não lembraria a ninguém comercializá-lo ou monopolizá-lo.