segunda-feira, novembro 17, 2014

Para reformular e simplificar significativamente a ortografia portuguesa


Proposta de simplificação da Ortografia Portuguesa



Para que este tipo de «escrita» se torne cada vez menos frequente


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Excerto de um texto de Miguel Esteves Cardoso:

«Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.»


E agora, exactamente o mesmo texto com a nova proposta de simplificação ortográfica:

«Ux amigux nüca säu para ax ocaziöix. Säu para sëpre. A idaia utilitária da amizáde, comu ëtreajuda, prötu-sucorru mútuu, tróca de favorex, depózitu de cöfiäsa, sosiedáde de dezabáfux, méte noju. A amizáde é puru prazêr. Näu se póde cötaminár cö favorex i ajudax, laia-se dívidax. Péde-se, dá-se, recébe-se, excése-se i näu se fála maix nisu.»



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As diferenças nas regras ortográficas vão muito mais além do que seria necessário pelas diferenças entre os sons das diferentes línguas. E muito menos justificação existe para as regras, no interior da mesma língua, não serem nem sistemáticas nem coerentes.

Um tipo de incoerência é que numa mesma língua um mesmo som ou fonema se represente com grafias diferentes segundo os casos. É o caso das palavras homófonas - pronunciam-se de forma idêntica, mas escrevem-se de forma diferente: a) Ela vai coser roupa / b) A carne está a cozer.

A incongruência é ainda maior quando com uma mesma letra ou combinação de letras se representam sons diferentes. É o caso das palavras homógrafas – escrevem-se do mesmo modo, mas pronunciam-se de forma diferente: a) Uma colher de sopa / b) Ele foi colher maçãs.

A primeira consequência destas incongruências é que frequentemente quando ouvimos uma palavra não temos a certeza de como se escreve correctamente e, por outro lado, quando vemos uma palavra escrita nem sempre sabemos como se pronuncia.

Estas incoerências do sistema ortográfico dificultam a aquisição da língua escrita (quanto tempo e quanta energia se têm de dedicar a uma tarefa que começa na primeira infância e nunca se pode considerar terminada).



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A 14 Agosto 2009, no blogue «A Biblioteca do Jacinto», Maria Clara Assunção (MCA), na foto, decididamente contrária ao Acordo Ortográfico, escreveu um post muito bem conseguido de nome «O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa», onde ironiza simplificações da ortografia portuguesa.

Afirmou Maria Clara Assunção (MCA): «Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.»

Acontece que eu considerei muitas das propostas da Maria Clara Assunção para a simplificação da ortografia portuguesa bastante inteligentes e plausíveis, de tal forma que decidi juntar mais umas quantas propostas da minha lavra e compilar um conjunto de regras, nada complicadas, que, em minha opinião, simplificariam bastante a ortografia portuguesa e evitariam as ambiguidades que levam as nossas pobres crianças a dar tantos erros e a perder tanto tempo inútil na aprendizagem da escrita.



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As novas regras da Ortografia Portuguesa


Em termos de timbre e fonética o som das vogais pode ser: "Aberto", "Neutro", "Fechado" e "Nasal". O termo que eu utilizo "Neutro" é também chamado "Reduzido" e "Átono".

No entanto, nem todas as vogais possuem estas quatro características. Todas podem ser abertas ou nasais, mas nem todas podem ser neutras ou fechadas.

Assim sendo, pode-se convencionar o seguinte:


Regra nº 1: Como todas as vogais podem ser abertas, estabelece-se que o "a", o "e" e o "o" são sempre acentuadas com o acento agudo ("á", "é" e "ó") quando forem abertas. Exemplos:

Alto passa a escrever-se álto (...) aberto passa a escrever-se abérto (...) farol passa a escrever-se faról.

As letras "i" e "u" são um caso à parte.



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Regra nº 2: Todas as vogais neutras não levam acento. Exemplos:

Na letra "a" como nas palavras: "da", "costa" ou nos dois "as" da palavra "cabeça".

Na letra "e" como nas palavras: "vinte", "cidade" ou nos dois "es" da palavra "veneziano".



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Regra nº 3: A vogal fechada "e" leva sempre o acento circunflexo "^" como nas palavras: "pêra", "acêsa" ou "mêsa".

A outra vogal que pode ser fechada, a letra "o" nunca leva acento circunflexo, como nas palavras: "boda" ou "favor".



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Regra nº 4: Todas as vogais nasais levam o acento trema:

O som "an", "am" e "ã" passa a escrever-se ä.

O som "en" ou "em" passa a escrever-se ë.

O som "in" ou "im" passa a escrever-se ï.

O som "on", "om" e "õ" passa a escrever-se ö.

O som "un" e "um" passa a escrever-se ü.



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Regra nº 5: Quando uma vogal se lê com o som de outra vogal, o que se escreve é a outra vogal.



A frase «O cão "e" o gato» passa a escrever-se «U cãu "i" u gátu».



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As novas regras para as cinco vogais


Letra "A" -» O som da letra "a" pode ser aberto, neutro e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "a" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "mar", "mudado" e "votar". Como as vogais abertas "a" e "e" levam sempre acento agudo, as palavras "mar", "mudado" e "votar", passam a escrever-se: "már", "mudádu" e "vutár".


O som da letra "a" pode ser neutro, tal como se lê nas palavras: "cama", "da", "vela" e "Anabela". Como todas as vogais neutras não levam acento, as palavras "cama", "da", "vela" e "Anabela" passam a escrever-se: "cama", "da", "véla" e "Anabéla".


O som da letra "a" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "rã", "antigo", "ângulo", "amputar" e "âmbito". Como todas as vogais nasais levam o acento trema: "ä", "ë", "ï", "ö" e "ü".

As palavras "rã", "antigo", "ângulo", "amputar" e "âmbito" passam a escrever-se: "rä", "ätigu", "ägulu", "äputár" e "äbitu"


Em suma, e juntando as novas regras, a palavra "sandália" passa a escrever-se "sädália", a palavra "candidata" passa a escrever-se "cädidáta", etc.


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Letra "E" -» O som da letra "e" pode ser aberto, neutro, fechado e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "e" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "Alberto", "certo" e "correto ". Como as vogais abertas "a" e "e" levam sempre acento agudo.

As palavras "Alberto", "certo" e "correto" passam a escrever-se: "Álbértu", "sértu" e "currétu".


O som da letra "e" também pode ser neutro, tal como se lê nas palavras: "de", "caridade" e "feliz". Como as vogais neutras não levam acento, as palavras "de", "caridade" e "feliz" passam a escrever-se: "de", "caridáde" e "felix".


O som da letra "e" também pode ser fechado, tal como se lê nas palavras: "ter", "fazer" e "quê". Como as vogais fechadas (excepto o "o") levam o acento circunflexo como em "ê".

A palavra "ter" passa a escrever-se "têr", a palavra "fazer" passa a escrever-se "fazêr" e a palavra "quê" passa a escrever-se "cê".


O som da letra "e" também pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "entorna" ou "emplastro". Como todas as vogais nasais levam o acento trema como em "ë".

A palavra "entorna" passa a escrever-se "ëtórna" e a palavra "emplastro" passa a escrever-se "ëpláxtru".



Quando o "e" se lê "i", deverá ser substituído pelo "i" = o homem e a vida -» u ómëi i a vida.

Quando o "e" se lê "a", deverá ser substituído pelo "a" = "canteiro -» cätairu.

Quando o "o" se lê "u", deverá ser substituído pelo "u" = o carro -» u cárru.


Têm passa a escrever-se täiäi -» T + an + i + an + i = T + ä + i + ä + i

Vêem passa a escrever-se vêäi -» vê + an + i = vê + ä + i

Vêm passa a escrever-se väiäi -» v + an + i + an + i = v + än + i + ä + i





«O Manuel e a Maria apanharam um valente aguaceiro e tiveram de se refugiar no celeiro».

«U Manuél i a Maria apanháräu ü valëte águasairu i tivéräu de se refujiár nu selairu».



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Letra "I" -» O som da letra "i" só pode ser aberto ou nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "i" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "inerte", "início" e "ir". A palavra "inerte" continua a escrever-se "inerte", a palavra "início" passa a escrever-se "iniciu" (porque o 2º "i" é aberto e portanto não leva acento, e a palavra "ir" continua a escrever-se "ir".

O som da letra "i" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "infante" e "importante". A palavra "infante" passa a escrever-se "ïfäte" e a palavra "importante" passa a escrever-se "ïpurtäte".

Na Letra "i", se a sílaba tónica não é nasal então leva acento agudo: Em "íntimo" (de pessoal) e "intimo" (do verbo intimar), ambas as palavras têm mais do que um "i". Na primeira palavra o "i" tónico é o primeiro "ín". Mas como é nasal não leva acento agudo, mas um trema: "ï", como todas as vogais nasais:  ïtimu. Na segunda palavra, "intimo" (do verbo intimar), o segundo "i" tem a carga tónica e, portanto, leva acento agudo: ïtímu.

Em "dízima" (de décima) e "dizima" (do verbo dizimar), ambas as palavras têm mais do que um "i". Na primeira palavra o "i" tónico é o primeiro. E como não é nasal leva acento agudo (dízima). Na segunda palavra "dizima" os dois "is" não são tónicos e, portanto, nenhum leva acento agudo (dizima).



«O infante, lá no seu íntimo pensou: antes a morte honrosa que o cativeiro indigno sob o jugo de infiéis que adoram ídolos pagãos»

«U ïfäte, lá nu sêu ïntimu pësou: ätex a mórte öróza ce u cativairu ïndignu sob u jugu de ïfiaix ce adóräu ídulox pagäux »


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Letra "O" -» O som da letra "o" pode ser aberto, fechado e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

Quando o som da letra "o" é aberto leva sempre o acento agudo, tal como se lê nas palavras: "amora", "embora" e "hora". Estas palavras passam a escrever-se "amóra", "ëbóra" e "óra".

Quando o som da letra "o" é fechado, tal como se lê nas palavras: "avô", "dador" e "pôr", passam a escrever-se sem acento circunflexo: "avo", "dador" e "por". A palavra "por" em «e por isso» passa a escrever-se «i pur isu»

O som da letra "o" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "dom", "ontem" e "põe"; A palavra "dom" passa a escrever-se "" e o mesmo para a palavra "ontem" que passa a escrever-se "ötëi" e a palavra "põe" que passa a escrever-se "pöi".

Quando o "o" se lê "u", deverá ser substituído pelo "u". Em português, as palavras "o", "dado", "Mário" e "João" passam a escrever-se "u", "dádu", "Máriu" e "Juäu".

A frase: «O Mário e o João foram ao teatro» passa a escrever-se: «U Máriu i u Juäu foräu áu teátru».



Na Roménia, a palavra «Telejornal» escreve-se «Telejurnal»



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Letra "U" -» O som da letra "u" pode ser aberto e nasal.

E utilizando as novas regras da acentuação de vogais:

O som da letra "u" pode ser aberto, tal como se lê nas palavras: "alucinado", "lúcio" e "luz"; A palavra "alucinado" continua a escrever-se "alusinádu", a palavra "lúcio" passa a escrever-se "lúsiu" e a palavra "luz" passa a escrever-se "lúx".

O som da letra "u" pode ser nasal, tal como se lê nas palavras: "umbilical" e "untar". A palavra "umbilical" passa a escrever-se "übilicál" e a palavra "untar" passa a escrever-se "ütár".
Na letra "u", se a letra é tónica e não é nasal então leva acento agudo:

Em "último" (de derradeiro), o "u" tónico é o primeiro "u" e portanto leva acento agudo (últimoúltimu). Em "ultimo" (do verbo ultimar), nenhum dos "us" são tónicos e portanto nenhum leva acento(ultimoultímu).


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Regra nº 6: Todas as vogais e consoantes mudas (que não se lêem) são eliminadas da escrita já que não existem na oralidade. As chamadas consoantes mudas c e p nas sequências interiores: cc, cç, ct, pt, pc e pç, (cc -» c; cç -» ç; ct -» t; pt -» t; pc -» c; pc -» c e pç -» ç) que não sejam proferidas são apagadas.

A vogal «u» quando é muda, não se escreve: «que» passa a escrever-se «qe» / «guetu» passa a escrever-se «getu»;


Exemplos de consoantes que são eliminadas quando são mudas:

«haver» deve escrever-se «aver». O "h" é eliminado -» avêr.

«accionista» deve escrever-se «acionista». O "c" é eliminado -» ásiunixta.

«acção» deve escrever-se «ação». O "c" é eliminado -» ásäu.

«espectador» deve escrever-se «espetador». O "c" é eliminado -» expétador.

«baptismo» deve escrever-se «batismo». O "p" é eliminado  -» bátixmu.

«decepcionar» deve escrever-se «dececionar». O "p" é eliminado  -» desésiunár.

«recepção» deve escrever-se «receção». O "p" é eliminado  -» resésäu.


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Regra nº 7: A cada letra é atribuído um único som. Deixa de haver leitura igual que se faz de letras diferentes e de leituras diferentes que pode ter a mesma letra:

a) Porque é que a palavra "assunção" se escreve com "ss" e depois com "ç", e "tensão" se escreve apenas com "s"?

Seria muito mais fácil atribuir um som único a cada letra até porque, quando aprendemos o alfabeto, é-lhes atribuída um único nome.

Assim, tanto a dupla "ss" como a letra "ç" são eliminadas e substituídas por um simples "s", o qual passará a ter um único som de "ç".

Desta forma, a palavra "assunção" passará a escrever-se "asüsãu".




b) E na palavra "usar", se o "s" tem o som "z" passará a ser sempre representado por um "z". A palavra "usar" escrever-se-á com "z" -» "uzár".

Deixa de haver "coser" (de costura) e "cozer" (de cozinhar). Em ambos os casos utilizar-se-á apenas a palavra "cozer". O significado dependerá apenas do contexto onde está inserida a palavra.


c) Nos plurais, o "s" final não se lê "ç" mas "x". Na palavra bolas, o "s" final não se lê "ç" mas "x" -» bólax.

Outros exemplos: "finais" -» "fináix" / "melros" -» "mélrux" / "carros" -» "cárrux".


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Quanto à letra "c" ler-se-á sempre como nas palavras «caro» ou «concordo» e nunca como nas palavras «centro» ou «cima». Estas palavras passam a escrever-se com "s" -» «sëtru» e «sima».

As palavras «quadro» ou «quebrar» devem ser escritas «cuádro» e «cebrár». E dispensa-se a letra "q".





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O som "ch" passa a ser representado pela letra "x". Tal como o «ph» das antigas (ph)armácias desapareceu sem deixar saudades a ninguém, também o «ch» pode passar à história por não fazer falta nenhuma. Quantas vezes não ouvimos já a pergunta: "esta palavra escreve-se com x ou com ch?".

Também as palavras "simplex" ou "códex" devem ser escritas "simplécs" e "códécs". Neste caso, o som "x" passa a ser escrito com "cs" o que é muito mais conforme à leitura natural.


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Quanto ao caso do som "j". Umas vezes escrevemos este som com "j" outras vezes com "g". Para quê complicar?

Geleia, gente e gigante passam a escrever-se jelaia, jëte e jigäte.

Se usarmos sempre o "j" para o som "j" não precisamos do "u" a seguir à letra "g" pois esta terá, sempre, o som "g" e nunca o som "j". Mais uma letra muda "g" que eliminamos.


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Como se pode ver, eliminaram-se as letras inúteis: "q" e "ç";

Também as letras: "p", "c", "u" "h" e "g", quando não se lêem, são eliminados - (concepção -» conceção / carácter -» caráter / quero -» qero / hei-de -» ei-de / gesto -» jesto).

Também se eliminaram as duplas "ss" e "ch" – (assado -» asado e chaves -» xaves);

Eliminou-se a tripla leitura da letra "s" - (caso "z" -» cazo; casto "x" » caxto);

E eliminou-se a tripla leitura da letra "x" - (córtex -» córteqs; axioma -» acsioma; exemplo -» ezemplo).


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Em Suma




Texto de Miguel Esteves Cardoso, em «Explicações de Português»

Taxtu de Migél Extêvex Cardosu, äi «Êxplicasöix de Purtugêx»



Os Amigos Nunca São para as Ocasiões - Ux Amigux Nüca Säu para ax Ocaziöix



Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.

Ux amigux nüca säu para ax ocaziöix. Säu para sëpre. A idaia utilitária da amizáde, comu ëtreajuda, prötu-sucorru mútuu, tróca de favorex, depózitu de cöfiäsa, sosiedáde de dezabáfux, méte noju. A amizáde é puru prazer. Näu se póde cötaminár cö favorex i ajudax, laia-se dívidax. Péde-se, dá-se, recébe-se, excése-se i näu se fála maix nisu.


A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito.

A decadësia da amizáde ëtre nóx déve-se á ïxtrumëtalizasäu qe täi vïdu a sufrêr. Träxfurmou-se numa expésie de masonaria, uma sëtral de cunhax, palavrinhax, cüplicidádex i cöpadriux. É por iso ce ax amizádex se fázëi i dexfázëi comu se fosäi lásux pulíticux ou comersiaix. Se álgëi «fálta» ou «näu correxpöde», se näu cüpre ax obrigasöix cötratuaix, é lógu cödenádu comu «máu» amigu i sumáriamëte pruxcritu.


Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.

Extá tudu doidu. Só uma mizéria déxtax obriga a dizêr u óbviu: ux amigux säu ax pesoax de ce nóx guxtamux i cö cäie extamux de vêx ëi cuädu. Pudemux näi secér dármu-nux muitu, ou bäi, cö élax. Ou guxtár máix délax du ce élax de nóx. Näu ïterésa. A amizáde é ü goxtu êgoíxta, ou inevitabilidade, u caminhu de ü curasäu äi róda-livre.


Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.
A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.

Ux amigux täiäi de sêr inútaix. Ixtu é, baxtáräi só pur êzixtir i, maravilhózamëte, sobráräi-nux na álma só pur cäi i comu säu. U purcê, u öde i u cuädu näu ïterésäu. A amizade näu täi pötu de partida, näi percursu, näi objétivu. É ïpusívél lëbrármu-nux de comu é ce nux turnámux amigux de álgëi ou pësármux nu futuru ce vamux têr. A glória da amizade é sêr apênax presëte. É pur isu ce dura para sëpre; purce näu cötäi expétativax näi planux näi äsiedáde.

7 comentários:

Augusto disse...

Esta "SIMPLIFICAÇÃO" talvez precisasse de umas aparadelas. Mas que contém meia dúzia de regras que se aprendiam facilmente numa semana e que simplificavam bastante a ortografia, não tenho dúvidas.

Compreendi quase à primeira todo o texto do Miguel Esteves Cardoso com a nova ortografia. E que esta evitaria inúmeros erros ortográficos é evidente.

Thor disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Em grande desacordo com aquilo que defende neste post, sugiro-lhe veementemente a leitura deste trabalho extremamente importante.
http://www.google.pt/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CCEQFjAA&url=http%3A%2F%2Fler.letras.up.pt%2Fuploads%2Fficheiros%2F7679.pdf&ei=f6pqVPD1HYqxafHlgsAL&usg=AFQjCNGb-oVST__2tcPY7X1RGXhS2hLJ2Q&bvm=bv.79908130,d.d2s

Diogo disse...

Anónimo,

Li o artigo que me recomendou e não concordo com ele. A escrita, e, portanto, a ortografia, está dependente da oralidade. Não podemos olhar para a escrita como uma coisa independente, imutável, que nos foi dada pelos deuses e que se manterá eternamente assim.

Quando a escrita se afasta da oralidade, devido a uma codificação ortográfica errada ou a uma fixação absurda, a escrita deixa de ser um instrumento de comunicação para passar a ser uma barreira a esta.

Basta ver os ditados dos alunos dos primeiros anos da escola (e mesmo depois disso), para comprovar as aberrações ortográficas. E quantas horas, quantos meses, quantos anos são perdidos a forçar os jovens a utilizar uma «ortografia» divorciada da fonética? Em nome de quê?

António Faustino disse...

À primeira vista parece basco, mas percebe-se.

Abraço

Anónimo disse...

Diogo,
Tem razão, obviamente, quando diz que a ortografia está dependente da oralidade. Também tem razão quando diz que não podemos olhar para a escrita como uma coisa independente, imutável, que nos foi dada pelos deuses e que se manterá eternamente assim. Mas o autor do texto que lhe recomendei começa precisamente por explicar essas duas coisas! O que depois ele demonstra, com grande conhecimento de causa e duma forma praticamente indiscutível, é que, apesar de dependente da oralidade, a escrita, enquanto código de comunicação, não nasceu da oralidade, mas dum conjunto de convenções de registo que são estranhas à oralidade e, por definição, totalmente arbitrárias, Tão arbitrárias como por exemplo a mesma ideia poder ser oralmente expressa em línguas diferentes de centenas de formas também diferentes. O seu conceito de existência duma relação directa entre a oralidade e a escrita é extremamente simplista e profundamente idealista. Já agora, porque não a existência duma relação directa entre as ideias das coisas e as palavras pelas quais as designamos? Talvez exista, sei lá, alguma língua mais verdadeira e simples que as outras, que justifique até que se promova a eliminação progressiva da «confusa» diversidade linguística que caracteriza a cultura humana. Há quem defenda isso…
Cumprimentos

simon disse...

As palavras em portugues não precisam nunca de acento, em algum caso, e menos de novos grafemas sem sentido, importados, como esse de trema (¨) a significar a nasalação a que propósito, senhores. E nenhuma palavra precisaria, nunca, de acento algum .