sexta-feira, abril 24, 2009

A Deportação dos Judeus Húngaros - Parte 2


Retirado de Scrapbookpages

(Tradução minha)


A fotografia acima, tirada a 26 de Maio de 1944, mostra um processo de selecção de um grupo de judeus húngaros que teve lugar imediatamente a seguir à saída do comboio que os levou para o campo de Birkenau (pertencente ao complexo de Auschwitz). Os homens e as mulheres tinham de formar duas filas separadas para serem examinados por um oficial das SS que decidia quem viveria e quem seria imediatamente enviado para a câmara de gás. Repare-se nas estrelas amarelas que os judeus húngaros eram forçados a usar nos seus casacos.

O campo de Auschwitz II, também conhecido por Birkenau, tinha pavilhões suficientes para acomodar 200 mil prisioneiros, e outra secção, chamada México pelos prisioneiros, estava em construção. Quando estivesse acabada, a nova secção iria fornecer alojamento a 50 mil prisioneiros.

Segundo Daniel Goldhagen, o autor do livro best-seller intitulado "Hitler's Willing Executioners" [Os solícitos Carrascos de Hitler], os nazis estavam num frenesim para completar o genocídio dos judeus antes do fim da guerra. Embora estivessem desesperados por mão-de-obra nas suas fábricas de munições, era mais importante para os nazis levar a cabo a Solução Final da Questão Judaica, segundo Goldhagen que escreveu o seguinte:

"Por fim, a devoção dos alemães ao seu projecto genocida era tão grande que parece desafiar a compreensão. O mundo deles estava a desintegrar-se à sua volta, e no entanto persistiram na matança genocida até ao fim."

Destruction of the Jewish People by David Olère


O comandante Rudolf Höss escreveu na sua autobiografia que o Reichsführer-SS Heinrich Himmler ordenou o extermínio de todos os judeus no verão de 1941, seis meses antes da Solução Final ter sido planeada na Conferência de Wannsee a 20 de Janeiro de 1942. A citação seguinte é retirada da autobiografia de Höss:

"A sub-secção (da RSHA) relacionada com os judeus, controlada por Eichmann e Gunther, não tinha dúvidas sobre o seu objectivo. De acordo com ordens dadas por Heinrich Himmler no verão de 1941, todos os judeus deviam ser exterminados. O Reich Security Head Office (RSHA) levantou fortes objecções quando Himmler, por sugestão de Oswald Pohl, ordenou que os judeus saudáveis fossem separados dos outros [e colocados a trabalhar em fábricas]."


Na fotografia abaixo estão membros das famílias Pinkas e Gutmann de Maramaros. Estão à espera da sua vez para a câmara de gás de Birkenau, segundo o museu Yad Vashem que possui o original desta foto do Álbum de Auschwitz:


Em Junho de 1944, Adolf Eichmann deportou 20 mil judeus húngaros para Auschwitz e depois transferiu-os para o campo de trabalho de Strasshof, perto de Viena. Isto foi uma tentativa para extorquir dinheiro da comunidade judaica na Hungria, segundo Laurence Rees que escreveu no seu livro "Auschwitz, a New History" [Auschwitz, uma História Nova], Eichmann convenceu os líderes judaicos que estava a ir contra as suas ordens ao abrir uma excepção para estes judeus e depois pediu dinheiro para comida e medicamentos porque tinha salvo 20 mil judeus das câmaras de gás de Auschwitz. David Cesarani escreveu em "The Last Days" [Os Últimos Dias], que o líder judaico Rudolf Kastner foi capaz de convencer Eichmann a enviar estes judeus para a Áustria onde três quartos deles sobreviveram à guerra.

O último transporte em massa de 14,491 judeus húngaros para Auschwitz chegou a 9 de Julho de 1944, segundo um livro intitulado "Die Zahl der Opfer von Auschwitz" [O número total de mortos em Auschwitz], de Franciszek Piper, o director do Museu de Auschwitz. Depois deste transporte de judeus ter deixado a Hungria a 8 de Julho de 1944, Horthy ordenou que a deportação de judeus húngaros terminasse.

Por essa altura, um mínimo de 435 mil judeus húngaros, a maior parte dos quais a viver em vilas e cidades pequenas, tinha sido levada para Auschwitz, segundo provas apresentadas no julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém em 1961, nas quais as listas de transporte compiladas por Laszlo Ferenczy, o chefe da polícia na Hungria, foram apresentadas.

Num telegrama enviado para o ministério dos negócios estrangeiros em Berlim, a 11 de Julho de 1944, por Edmund Veesenmayer, foi relatado que 55,741 judeus foram deportados da Zona V a 9 de Julho, como planeado, e que o total número de judeus deportados das Zonas I a V na Hungria foi de 437,402.

Num livro intitulado "The World Must Know" [o Mundo tem de saber], que constitui o livro oficial do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, Michael Birnbaum escreveu:

"Entre 14 de Maio e 8 de Julho de 1944, 437,402 judeus de cinquenta e cinco localidades húngaras foram deportados para Auschwitz em 147 comboios. A maior parte foi gaseada em Birkenau logo após a sua chegada. O sistema ferroviário foi esticado até aos limites para fazer face às capacidades do campo, onde cerca de 12 mil pessoas eram gaseadas diariamente."


Robert E. Conot escreveu no seu livro "Justice at Nuremberg" [Justiça em Nuremberga] que 330 mil judeus húngaros foram enviados directamente para as câmaras de gás de Auschwitz. A Enciclopédia do Holocausto estima em cerca de 550 mil o número total de judeus que morreram em Auschwitz-Birkenau entre Maio e Julho de 1944, a maioria deles gaseado. Raul Hilberg afirmou no seu livro "The Destruction of the European Jews" [A Destruição dos judeus europeus] que para cima de 180 mil judeus húngaros morreram em Auschwitz-Birkenau.

Segundo Francizek Piper, a maioria dos judeus húngaros que foram enviados para Auschwitz-Birkenau, foram gaseados imediatamente. Um folheto adquirido no Museu de Auschwitz afirma que 434,351 judeus húngaros foram mortos logo à chegada. Se estes números estiverem correctos, apenas 3,051 judeus húngaros, de um total de 437,402 que foram enviados para Auschwitz, foram registados no campo. Contudo, Francizek Piper escreveu que 28 mil judeus húngaros foram registados.


Judeus húngaros incluindo dois médicos com braçadeiras


Alguns dos mesmos homens depois de um duche e uma mudança de roupa


O site da Internet do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos confirma que mais de 100 mil húngaros foram usados para trabalhar, como fora acordado entre Hitler e Horthy a 18 de Março de 1944, e que alguns deles foram transferidos para outros campos de concentração poucas semanas depois da sua chegada a Birkenau.

O seguinte é uma citação do site da Internet do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos (USHMM)

"Entre Abril e princípios de Junho de 1944, aproximadamente 440 mil judeus húngaros foram deportados, e destes, 426 mil foram para Auschwitz. Os SS enviaram aproximadamente 320 mil deles para as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau e distribuíram aproximadamente 110 mil como força de trabalho forçado pelo complexo de campos de concentração de Auschwitz. As autoridades SS transferiram muitos destes judeus húngaros, poucas semanas depois da sua chegada a Auschwitz, para outros campos de concentração na Alemanha e na Áustria."

Se apenas 28 mil judeus húngaros tivessem sido registados em Auschwitz-Birkenau, tal como foi afirmado por Franciszek Piper, isto significaria que milhares de judeus húngaros foram transferidos de Auschwitz para campos de trabalho sem terem sido registados.


Segundo os registos guardados pelos alemães no campo de concentração de Dachau, entre 18 de Junho de 1944 e 9 de Março de 1945, um total de 28,838 judeus húngaros foram enviados de Auschwitz-Birkenau para Dachau e daí para Landsberg am Lech para trabalhar na construção de fábricas subterrâneas nos onze sub-campos de Kaufering de Dachau.

Nerin E. Gun foi um jornalista turco que esteve preso em Dachau em 1944; o seu trabalho era tomar nota dos nomes e informação vital de mulheres judias húngaras que iriam ser gaseadas na falsa câmara de gás no crematório de Dachau.

Na câmara de gás de Dachau pode ler-se num painel a seguinte frase em cinco línguas diferentes:

CÂMARA DE GÁS – disfarçada de "sala de chuveiros" – nunca foi usada como câmara de gás

A fotografia deste painel pode ser observada no site de "The Holocaust History Project" [O Projecto de História de Holocausto].


No seu livro intitulado "The Day of the Americans" [O Dia dos Americanos], publicado em 1966, Gun escreveu o seguinte em relação ao seu trabalho em Dachau:

"Eu pertencia à equipa de prisioneiros encarregue de seleccionar a desgraçada multidão de judias húngaras que eram levadas directamente para a câmara de gás. O meu papel era insignificante: eu fazia perguntas em húngaro e escrevia as respostas em alemão num grande livro de contabilidade. A administração do campo era meticulosa. Queriam registar o nome, a morada, o peso, a idade, a profissão, os certificados académicos, e por aí fora, de todas estas mulheres que daí a poucos minutos seriam cadáveres. Eu não tinha autorização para ir ao crematório, mas sabia por outros o que é que lá se passava."


Alguns do judeus que eram seleccionados para trabalho escravo eram enviados para o campo de concentração de Mauthausen na Áustria e para os seus sub-campos, onde trabalhavam em fábricas de aviões alemães.

Outros eram enviados para o campo de Stutthof, perto de Danzig, segundo Martin Gilbert, que escreveu o seguinte num livro da sua autoria intitulado "Holocaust":

"A 17 de Junho, Veesenmayer telegrafou para Berlim a dizer que 340,142 judeus húngaros já tinham sido deportados. Alguns poucos tiveram a sorte de serem seleccionados para os pavilhões ou enviados para fábricas e campos na Alemanha. A 19 de Junho, cerca de 500 judeus, e a 22 de Junho um milhar, foram enviados para trabalhar em fábricas na região de Munique […] Dez dias depois, os primeiros judeus, 2500 mulheres, foram deportadas de Birkenau para o campo de concentração de Stutthof. De Stutthof, foram enviadas para várias centenas de fábricas na região do Báltico. Mas a maior parte dos judeus enviados para Birkenau continuaram a ser gaseados."

Gassing by David Olère


Segundo o museu do antigo gueto de Theresienstadt, no que é agora a República Checa, 1,150 judeus húngaros foram enviados para Theresienstadt e desses, 1,138 continuavam lá em 9 de Maio de 1945. Outros judeus importantes que foram enviados para Theresienstadt foram transferidos para Auschwitz em Outubro de 1944, incluindo o famoso psiquiatra austríaco Victor Frankl, que não foi registado em Auschwitz, mas foi transferido novamente, depois de passar três dias no campo de Birkenau, para Dachau e depois para o sub-campo Kaufering III.

Os judeus que não eram gaseados nem registados à chegada a Auschwitz, mas que, em vez disso, eram transferidos para um campo de trabalho, eram chamados Durchgangsjuden [judeu de passagem] porque ficavam no campo de passagem na secção do México de Birkenau por um curto período. Este site na Web possui mais informação acerca dos judeus húngaros que estavam nesta categoria.
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4 comentários:

Zorze disse...

A subtileza dos números sempre foi objecto de manipulação de governos.

Poderá a História ser reescrita duma forma verdadeira?

E quem o fará?

A imparcialidade é uma utopia da mente humana...

Diogo disse...

Zorze: «A subtileza dos números sempre foi objecto de manipulação de governos. Poderá a História ser reescrita duma forma verdadeira?»


Caro Zorze, haverá números? Naquilo a que se chama genocídio em câmaras de gás nazis?

Para a História ser reescrita significa que já foi escrita. Haverá sempre uma História mais verdadeira do que outras. Afinal, o mundo é objectivo. Sabemos que um motor funciona. Sabemos que alguma coisa aconteceu no período tal. Qual é a História que melhor corresponde aos factos, às evidências, à lógica, à inteligência e ao bom senso?

xatoo disse...

com os apetrechos técnicos hoje disponiveis a escrita da História é uma ciência - e os factos são infaliveis, dizia Lenine.
Distinguem-se perfeitamente as fraudes das manipulações fabricadas;
excepção feita àqueles que se querem enganar a si próprios. Há efectivamente uma espécie de estigma pessoal, a dissonância cognitiva, através da qual o individuo se recusa a tomar como verdades tudo o que vai contra as suas ideias preconcebidas em função dos seus interesses adquiridos.
É um problema psicológico.
Por exemplo, há gente (católicos, sociais democratas e outros líricos) que acreditam que por desmascarar sistematicamente os ricos eles acabam por lhes entregar de motu próprio parte da sua riqueza contribuindo assim como mecenas para a causa de um mundo baseado na moral e na ética. Mas onde estão os exemplos históricos que comprovem esta teoria? a História é clara: só à porrada meus amigos!
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Daniel Moratori disse...
Este comentário foi removido pelo autor.