quarta-feira, abril 22, 2009

A Deportação dos Judeus Húngaros - Parte I

Judeus húngaros à chegada a Auschwitz-Birkenau, 26 de Maio de 1944

Retirado de Scrapbookpages

(Tradução minha)


Foi só em Maio de 1944, quando os judeus húngaros foram deportados, que Auschwitz-Birkenau se tornou no maior lugar de assassínio em massa da história moderna e o epicentro da Solução Final. Quase metade de todos os judeus que foram mortos em Auschwitz eram judeus húngaros que foram gaseados num período de 10 semanas em 1944. Até à primavera de 1944, foram os três campos da Operação Reinhard - Treblinka, Belzec, Sobibor, e não Auschwitz - que constituíram os principais centros de matança de judeus pelos nazis.

Em 1942, os nazis já tinham assassinado 2,7 milhões de judeus, incluindo 1,6 milhões nos campos de concentração da Operação Reinhard (Treblinka, Belzec e Sobibor), mas apenas 200 mil judeus foram gaseados em Auschwitz nesse ano em duas velhas casas rurais convertidas para o efeito. Esta informação provém do livro "Auschwitz, a New History" [Auschwitz, uma Nova História] de Laurence Rees, publicada em 2005.

Em Outubro de 1940, a Hungria tinha-se tornado aliada das potências do Eixo ao juntar-se ao Acto Tripartido. Fazia parte do acordo que a Hungria recuperasse o norte da Transilvânia, uma província que tinha sido entregue à Roménia depois da Primeira Guerra Mundial. Soldados húngaros participaram na invasão alemã da União Soviética em Junho de 1941.

A 17 de Abril de 1943, depois da Bulgária, outro aliado da Alemanha, ter recusado permitir que os seus judeus fossem deportados, Hitler encontrou-se com o almirante Miklos Horthy, o líder húngaro, em Salzburgo, e tentou persuadi-lo a permitir que os judeus húngaros fossem "recolocados" na Polónia, segundo Martin Gilbert no seu livro intitulado "Never Again" [Nunca mais]. O almirante Horthy rejeitou o pedido de Hitler e recusou a deportação dos judeus húngaros.

Desde o princípio da perseguição aos judeus pelos nazis em 1933, até Março de 1944, a Hungria era um lugar relativamente seguro para os judeus e muitos judeus da Alemanha, Áustria, Eslováquia e Polónia procuraram refúgio nas suas fronteiras. Contudo, em 1938, a Hungria promulgou leis similares às leis nazis na Alemanha, que discriminavam os judeus.

A 3 de Setembro de 1943, a Itália assinou um armistício com os Aliados e virou-se contra a Alemanha, o seu ex-aliado. Horthy teve esperança de negociar um acordo semelhante com os Aliados Ocidentais para travar a invasão soviética da Hungria.

O "Sonderkommando Eichmann", um grupo especial de soldados SS sob o comando de Adolf Eichmann, foi constituído a 10 de Março de 1944 com o objectivo de deportar os judeus húngaros para Auschwitz; o pessoal deste Comando de Acção Especial foi reunido no campo de concentração de Mauthausen na Áustria e depois enviado para a Hungria a 19 de Março de 1944, durante a celebração do Purim, um feriado judeu.


As grandes deportações para os campos de concentração 1942-1944

Auschwitz, situado no coração da "Grande Alemanha", funcionava como centro distribuidor dos outros campos de concentração:


A 18 de Março de 1944, Hitler teve um segundo encontro com Horthy em Schloss Klessheim, um castelo próximo de Salzburgo na Áustria. Foi conseguido um acordo no qual Horthy prometeu deixar que 100 mil judeus fossem enviados para o Reich alemão para a construção de fábricas subterrâneas para a produção de aviões de caça. Estas fábricas estavam localizadas em Mauthausen e nos onze sub-campos de Dachau na região de Kaufering. Os judeus eram enviados para Auschwitz, e então transferidos para os campos na Alemanha e na Áustria.

Quando Horthy, o líder húngaro, regressou à Hungria, viu que Edmund Veesenmayer, um chefe de brigada SS, se tinha instalado como o efectivo administrador da Hungria, sob a responsabilidade directa dos Negócios Estrangeiros Alemães e de Hitler.

A 19 de Março de 1944, no mesmo dia em que o Sonderkommando Eichmann chegou, as tropas alemãs tomaram o poder na Hungria. A invasão da Hungria pela União Soviética estava iminente e Hitler suspeitava que Horthy estava a planear passar para o lado dos Aliados. À medida que se ia tornando cada vez mais previsível que a Alemanha ia perder a guerra, os seus aliados a começaram a desertar para o lado vencedor. A Roménia mudou-se para a parte Aliada a 23 de Março de 1944.

Depois da formação do Reich Central Security Office (RSHA) [Órgão Central de Segurança do Reich] em 1939, Adolf Eichmann foi colocado ao comando da secção IV B4, o departamento do RSHA que tratava da deportação dos judeus. Uma das suas primeiras missões foi desenvolver o plano nazi de enviar os judeus europeus para a ilha de Madagáscar junto à costa oriental de África. Este plano foi abandonado em 1940.

Segundo Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, "Eichmann tinha-se interessado pela questão judaica desde a sua juventude e possuía um extenso conhecimento da literatura sobre o assunto. Eichmann viveu durante muito tempo na Palestina de forma a aprender mais sobre os sionistas e o desenvolvimento do estado judeu".

Em 1937, Eichmann foi para o Médio Oriente investigar a possibilidade de uma emigração em massa dos judeus para a Palestina. Encontrou-se com Feival Polkes, um agente da Haganah (milícia judaica criada na década de 1930 com o objetivo de proteger os judeus da Palestina, mas também atacava a população árabe), com quem discutiu o plano sionista de criar um estado judeu. Segundo o seu testemunho, no seu julgamento em 1961, em Jerusalém, foi negada a Eichmann a entrada na Palestina pelos britânicos que se opunham a um estado judeu na Palestina, e assim a ideia de deportar todos os judeus europeus para a Palestina foi abandonada.

Na Conferência de Wannsee a 20 de Janeiro de 1942, na qual a Solução Final para a Questão Judaica foi planeada, foi atribuído a Eichmann a missão de organizar o "transporte para Leste" que era um eufemismo para enviar os judeus europeus para serem assassinados em Treblinka, Sobibor, Belzec, Majdanek e Auschwitz-Birkenau.


Crianças judias húngaras caminham para as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau


No dia seguinte à ocupação da Hungria pelas forças alemãs, Adolf Eichmann chegou para supervisionar o processo de deportação dos judeus húngaros. Havia 725 mil judeus a viver na Hungria em 1944, incluindo muitos que viviam antes na Roménia, segundo Laurence Rees, que escreveu "Auschwitz, a New History" [Auschwitz, uma Nova História]. Os judeus nas vilas e nas cidades pequenas foram imediatamente reunidos e concentrados em guetos.


Judeus húngaros caminham em direcção às câmaras de gás nos Crematórios IV e V


A foto acima mostra crianças judias húngaras, demasiado jovens para trabalhar, a caminho do gaseamento imediato após a sua chegada a Auschwitz, a 26 de Maio de 1944. Estão a caminhar ao longo de uma estrada interior que atravessa de norte a sul, pelo meio, o campo de Auschwitz, também conhecido como Birkenau. Nesta foto, tirada por um soldado das SS, as crianças viraram as suas caras para a máquina fotográfica; as câmaras de gás dos Crematórios IV e V estão do lado norte do campo, atrás deles ao fundo.

Os judeus que eram seleccionados para trabalhar no campo seguiam por esta mesma estrada interior para a Sauna Central onde os prisioneiros recém-chegados tomavam um duche, as suas cabeças eram rapadas e um número era tatuado nos seus braços.


Mulheres húngaras que acabaram de chegar num transporte ferroviário


Mulheres húngaras que foram seleccionadas para trabalhar em Auschwitz-Birkenau


A foto acima mostra mulheres húngaras caminhando para a secção de mulheres no lado sul do campo de Auschwitz-Birkenau depois de terem tomado um duche e mudado de roupa. Atrás delas está um comboio de transportes e ao fundo à esquerda encontra-se um dos guardas do campo. A mulher com o cabelo preto no centro da foto é Ella Hart Gutmann que está na linha exterior olhando para dentro. Ao lado dela está Lida Hausler Leibovics; ambas as mulheres eram de Uzhgorod. As suas cabeças foram rapadas num esforço para controlar os piolhos que propagavam o tifo.

Rudolf Höss deixou de ser comandante do complexo de Auschwitz em Novembro de 1943 e foi promovido para a Direcção Geral de Administração Económica em Oranienburg. A 8 de Maio de 1944, voltou novamente a Auschwitz para supervisar o gaseamento dos judeus húngaros. Höss escreveu o seguinte na sua autobiografia, a respeito da deportação dos judeus húngaros:

"Por ordens de Pohl fiz três visitas a Budapeste de forma a obter uma estimativa do número de judeus saudáveis que poderiam ser esperados [...] Eichmann estava completamente obcecado com a sua missão e também convencido que a acção de extermínio era necessária para preservar o povo alemão no futuro das intenções destrutivas dos judeus. Eichmann era também um oponente determinado da ideia de não seleccionar para as câmaras de gás os judeus que estavam aptos para trabalhar. Ele considerava isso como um perigo como um perigo constante para o seu plano de uma "solução final", porque a possibilidade de fugas em massa ou qualquer outro acontecimento poderia fazer com que esses judeus sobrevivessem. "


Eichmann fez aparentemente uma mudança de 180 graus desde os dias em que viajou para a Palestina e estudou hebreu de forma a implementar o seu plano de transportar os judeus para o seu próprio estado judeu na Palestina.

Apesar da desaprovação de Eichmann, "dezenas de milhares de judeus foram retirados de Auschwitz para trabalhar em projectos de armamento", segundo o que Höss escreveu na sua autobiografia.

Höss queixou-se do processo de selecção em Auschwitz, no qual judeus que não eram suficientemente fortes para trabalhar, na sua opinião, eram salvos da câmara de gás. Escreveu o seguinte na sua autobiografia:

"Se Auschwitz tivesse seguido os meus conselhos constantemente repetidos, e tivesse apenas seleccionado para trabalhar os judeus mais saudáveis e vigorosos, então o campo teria obtido uma verdadeira força de trabalho útil que teria durado mais, embora seja verdade que seria numericamente inferior."


Segundo Höss:

"Os doentes pejavam os campos de concentração, privando os saudáveis de comida e espaço e não fazendo trabalho nenhum, e, de facto, a sua presença fez com que muitos dos que podiam trabalhar fossem incapazes de o fazer."
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7 comentários:

J. Lopes disse...

Há muitas contradições sobre o que aconteceu em Auschwitz neste artigo.

Carlos Marques disse...

Eichmann e o seu superior Herbert Hagen foram enviados em Setembro de 1937 à Palestina para examinar as oportunidades da emigração em massa dos judeus da Alemanha para a Palestina. Quando chegaram a Haifa só conseguiram obter um visto de trânsito e seguiram para o Cairo.

No Cairo, encontraram-se com um membro da Haganah mas o assunto do encontro é controverso. Também tinham pensado encontrar-se com líderes Árabes na Palestina, mas tal foi-lhes negado pelos britânicos.

Depois redigiram um relatório com advertências contra a emigração dos judeus em larga escala para a Palestina tanto por razões económicas como porque contradizia a política alemã de evitar a fundação de um estado Judaico aí.

Em suma, é tudo uma grande baralhada.

Xá disse...

Finkelstein disse que a história fornece munições àqueles que reivindicam que o holocausto é um embuste.

Ligiana disse...

Muito bom o artigo! Sou descendente de hungaros. Obrigada!

Anónimo disse...

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lili disse...

Carlos Marques, os judeus que, provavelmente, seguiriam para a Palestina teriam de pagar uma fortuna aos nazis, assim como pagaram, outros judeus, antes de Wansee.

Helena marques disse...

Carlos Marques, provavelmente, os judeus que seguiriam para a Palestina teriam de paga uma fortuna, como pagaram os que podiam, antes de Wansee. O incremento da economia alemã do III Reich deve-se em parte à confiscação dos bens dos judeus e do dinheiro que ganharam com a venda de passes, antes de elaborar, de todo, a Solução Final, que era, realmente que Hitler e os seus gangsters queriam.