As declarações não são de agora. Foram publicadas no vol. 385 (Abril, 2015) no artigo “5 Sigma da Ciência”, como um balanço do simpósio sobre reprodutibilidade e fiabilidade da pesquisa biomédica, organizado pela Academia de Ciências Médicas do Reino Unido. Para Richard Horton, Editor-Chefe da The Lancet, “o caso contra a ciência é muito claro: muita da literatura científica, talvez metade, pode simplesmente ser falsa”.
“Muito do que é publicado é incorrecto”, diz Horton logo no início do seu artigo. Trata-se de um desabafo entre muitos que vai ouvindo nos meandros da pesquisa científica. Mas não pode revelar quem lho disse, pelo “ambiente tenebroso de severas restrições à liberdade de expressão” em que se vivia, já em 2015, sobretudo entre aqueles que trabalham para agências governamentais ou dependem dos cheques do governo.
O Editor aponta várias razões para a falsidade e fraude na pesquisa científica, entre elas o “flagrante conflito de interesses”, a “obsessão pelo que está na moda”, e a tendência que os cientistas de hoje têm de contar histórias cativantes, fazendo encaixar os dados na sua “teoria sobre o mundo”.
Com efeito, estas preocupações não são exclusivas de Horton, mas de tal forma afectam a comunidade científica que foram discutidas no referido simpósio da Academia de Ciências do Reino Unido, justamente sobre a fiabilidade da pesquisa biomédica (Reproducibility and Reliability of Biomedical Research). Na declaração oficial do encontro, podemos ler que os casos de conduta imprópria, fabricação ou falsificação de dados são raros. Mas o problema reside sobretudo na pobreza metodológica e do processo experimental, bem como na análise estatística inadequada.
Formado em medicina pela Universidade de Birmingham, Richard Horton foi conselheiro da ONU, nomeado por Ban Ki-moon, membro externo da OMS para a Região da Europa e o primeiro Presidente da Associação Mundial de Editores de Medicina, antes de assumir o cargo de Editor-Chefe da The Lancet, uma das mais prestigiadas revistas científicas na área.
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