Excerto de - UMA ESTRANHA DITADURA - de Viviane Forrester
«Que bem desejamos para nós?» Uma pergunta que deveríamos poder fazer permanentemente a nós próprios em vez de termos que nos perguntar incessantemente a que mal nos é mais urgente escapar. «Que bem desejamos para nós?» Pergunta proibida: seria bonito ver reclamar coisas supérfluas, ou mesmo uma norma favorável, ou uma travessia cativante e harmoniosa da existência, quando o indispensável se torna um género em vias de desaparecimento! Será razoável preocuparmo-nos com condições de trabalho ou de vida, quando é preciso procurar tanto, esfalfarmo-nos tanto para encontrar esses empregos impostos e recusados num mundo em que a sobrevivência depende deles, mas em que eles faltam?
«Que bem desejamos para nós?» Deveria ser, no entanto, o embaraço da escolha a perturbar-nos. Este tempo da História, o nosso, detém uma capacidade até aqui desconhecida de se revelar benéfico para a maioria, precisamente graças às fabulosas novas tecnologias, capazes de oferecer abundantes possibilidades de escolha de vida, em vez de as esgotar.
Sem por isso nos perdermos na utopia nem sonharmos com um paraíso terrestre, seria possível hoje em dia imaginar que fossem permitidas vidas levadas de maneira inteligente e também mais divertidas que, libertas de tantos constrangimentos, encontrassem todas um sítio onde fossem bem-vindas! Temos meios para isso. Adquirimos os meios para isso. A nossa espécie adquiriu-os. Deixou-se extorquir por alguns que os atribuíram a si próprios ou os perverteram. Mas são recuperáveis.
Libertados pelas tecnologias da maioria das tarefas penosas, ingratas ou destituídas de sentido, todos poderíamos e deveríamos tornar-nos infinitamente mais disponíveis em oportunidades mais alargadas - e não, como actualmente, alargadas ao desemprego. Oportunidades de agir num mundo em que os dons, os gostos já não têm as mesmas razões para serem reprimidos, guardados para benefício de tarefas daqui em diante transferidas para as máquinas;, poderiam, finalmente, ser tidos em conta, ter pelo menos as suas possibilidades de desabrochar, ser dedicados a valores, a necessidades reais, sem ligação obrigatória à rentabilidade.
Hoje devia desenvolver-se como nunca a prática de misteres, de ofícios, de empregos indispensáveis, mas cuja penúria se torna paradoxalmente cada vez mais manifesta. A educação. gratuita e obrigatória, a democratização dos estudos, deram, no entanto, à maioria, a capacidade de os exercer. Elas prepararam para isso. Ora, vê-se por um lado esses empregos desaparecerem a uma velocidade vertiginosa, ou tornarem-se caricaturas de empregos, pagos com remunerações de gozo, enquanto, por: outro lado, os misteres e os ofícios são ignorados, automaticamente negligenciados, postos de lado sem terem sido tomados em consideração, condenados como luxos extravagantes, como caras velharias passadas de moda, armadilhas de prejuízo, de desperdício, o sumo da não rentabilidade. A prova concreta de que, fora dos caminhos da especulação, não há salvação possível.
É alucinante que nestes tempos de luta proclamada contra o desemprego e a favor do emprego, profissões inteiras, repita-se, tenham uma falta cruel de efectivos. A ponto de, por exemplo, liceais, estudantes, desçam à rua com os seus professores para reclamar em vão docentes em número aceitável, pessoal cuja necessidade é evidente e cuja falta é angustiante. Que resposta lhes é dada, expressa ou subentendida? Demasiado caro. Que ar daríamos em Bruxelas e noutros locais, «enfarpelados» com tais despesas públicas? E vá de continuar a suprimir lugares, a comprimir virtuosamente os efectivos. Ou, quando a contestação começa a provocar desordem, utilizar contratados a prazo impedindo-os de entrar no quadro, desencantar antigos professores não reciclados. Os quais terão todos em comum serem mal pagos, entregues à insegurança. Sorte a que estão destinados tantos desses estudantes que tentam escapar-lhe.
Será verdadeiramente razoável deixar a vida económica depender de lógicas tais que se possa - e até que «seja preciso», segundo os seus postulados! - deitar fora homens e mulheres como se fossem escovas de dentes gastas, a fim de aumentar a produtividade, em vez de rever o sistema que defende essas lógicas? Será necessário prosseguir o nosso regresso ao século XIX, exigir uma forma de sociedade obsoleta e retrógrada, em vez de adaptar o real às necessidades dos vivos?
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«Que bem desejamos para nós?» Deveria ser, no entanto, o embaraço da escolha a perturbar-nos. Este tempo da História, o nosso, detém uma capacidade até aqui desconhecida de se revelar benéfico para a maioria, precisamente graças às fabulosas novas tecnologias, capazes de oferecer abundantes possibilidades de escolha de vida, em vez de as esgotar.
Sem por isso nos perdermos na utopia nem sonharmos com um paraíso terrestre, seria possível hoje em dia imaginar que fossem permitidas vidas levadas de maneira inteligente e também mais divertidas que, libertas de tantos constrangimentos, encontrassem todas um sítio onde fossem bem-vindas! Temos meios para isso. Adquirimos os meios para isso. A nossa espécie adquiriu-os. Deixou-se extorquir por alguns que os atribuíram a si próprios ou os perverteram. Mas são recuperáveis.
Libertados pelas tecnologias da maioria das tarefas penosas, ingratas ou destituídas de sentido, todos poderíamos e deveríamos tornar-nos infinitamente mais disponíveis em oportunidades mais alargadas - e não, como actualmente, alargadas ao desemprego. Oportunidades de agir num mundo em que os dons, os gostos já não têm as mesmas razões para serem reprimidos, guardados para benefício de tarefas daqui em diante transferidas para as máquinas;, poderiam, finalmente, ser tidos em conta, ter pelo menos as suas possibilidades de desabrochar, ser dedicados a valores, a necessidades reais, sem ligação obrigatória à rentabilidade.
Hoje devia desenvolver-se como nunca a prática de misteres, de ofícios, de empregos indispensáveis, mas cuja penúria se torna paradoxalmente cada vez mais manifesta. A educação. gratuita e obrigatória, a democratização dos estudos, deram, no entanto, à maioria, a capacidade de os exercer. Elas prepararam para isso. Ora, vê-se por um lado esses empregos desaparecerem a uma velocidade vertiginosa, ou tornarem-se caricaturas de empregos, pagos com remunerações de gozo, enquanto, por: outro lado, os misteres e os ofícios são ignorados, automaticamente negligenciados, postos de lado sem terem sido tomados em consideração, condenados como luxos extravagantes, como caras velharias passadas de moda, armadilhas de prejuízo, de desperdício, o sumo da não rentabilidade. A prova concreta de que, fora dos caminhos da especulação, não há salvação possível.
É alucinante que nestes tempos de luta proclamada contra o desemprego e a favor do emprego, profissões inteiras, repita-se, tenham uma falta cruel de efectivos. A ponto de, por exemplo, liceais, estudantes, desçam à rua com os seus professores para reclamar em vão docentes em número aceitável, pessoal cuja necessidade é evidente e cuja falta é angustiante. Que resposta lhes é dada, expressa ou subentendida? Demasiado caro. Que ar daríamos em Bruxelas e noutros locais, «enfarpelados» com tais despesas públicas? E vá de continuar a suprimir lugares, a comprimir virtuosamente os efectivos. Ou, quando a contestação começa a provocar desordem, utilizar contratados a prazo impedindo-os de entrar no quadro, desencantar antigos professores não reciclados. Os quais terão todos em comum serem mal pagos, entregues à insegurança. Sorte a que estão destinados tantos desses estudantes que tentam escapar-lhe.
Será verdadeiramente razoável deixar a vida económica depender de lógicas tais que se possa - e até que «seja preciso», segundo os seus postulados! - deitar fora homens e mulheres como se fossem escovas de dentes gastas, a fim de aumentar a produtividade, em vez de rever o sistema que defende essas lógicas? Será necessário prosseguir o nosso regresso ao século XIX, exigir uma forma de sociedade obsoleta e retrógrada, em vez de adaptar o real às necessidades dos vivos?
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8 comentários:
Quem já leu «A Estranha Ditadura», deveria também ler o seu irmão gémeo «O Horror Económico»; qualquer das obras esclarece de modo evidente e inteligível, que a democracia está a ser usada como útero emprestado, onde está em gestação adiantada a mais perniciosa forma de ditadura que até agora existiu. É a própria vida na terra que está em causa!
Bom post! Entretanto, em Portugal o fosso entre os que ganham mais e os trabalhadores que ganham menos continua a aumentar.
Agradeço-lhe a lembrança deste livro de Viviane Forrester que irei à procura o mais rapidamente possível.
Interessante abordagem na sequência aliás de outras que reforçam a ideia de que as democracias existentes no Mundo assentam ou melhor os seus pilares são os grupos económicos que dominam o poder político a quem quando fora do exercício de funções governativas os colocam nos seus conselhos de administração para assim continuarem reféns desses patrões que lhes proporcionam a subida ao poder. O povo que erradamente se julga rever nas falsas promessas desses políticos através das respectivas campanhas eleitorais e na expectativa de ver as suas condições de vida melhorarem patrocinam a ascensão ao poder. Uma vez instalados no poder esses políticos e os partidos que representam colocam-se de imediato ao serviço dos exploradores. Mas o lamentável é que este povo que viveu 48 anos de ditadura, teme as forças de esquerda e insiste nas suas erradas opções continuar a escolher políticos ao serviço dos exploradores e o resultado está à vista.
Estamos a caminhar para o total colapso, a uma velocidade alarmante, enquanto brilhantes cérebros mirram dia-a-dia, lobotomizados por uma espécie de político/correcto.
Não é por acaso que há milhares de anos profetizaram o 21/12.
Como estamos perto, não custa nada assistir!
Pelo meu feeling a coisa vai ser agreste... Mas isto é o meu feeling.
Abraço,
Zorze
O modelo de sociedade desenvolvido no pós-guerra, criado basicamente pelos ocidentais e manipulado pela CIA, que o "conseguiu vender" a todo o mundo, está esgotado. Quem lucrou com isso? As multinacionais espalhadas por todo o mundo e controladas por uma elite com várias caras: políticos, bilderbergers, maçons, rotários, illuminati's,... enfim, uma vasta lista. Estes grupos infiltraram os governos, as ordens de advogados, ordens dos médicos, arquitectos, engenheiros, cientistas... Tomaram tudo, pois só assim o seu modelo favoreceria os seus originais implementadores.
Actualmente limitamo-nos a assistir à derrocada deste modelo que, nos levará a todos, para a ruina social. A verdade dura é que não há solução. E os causadores desta decadência sabem-no bem. Um cataclismo global terá necessariamente de dominar o renascer de uma sociedade, agora realmente global. Este facto tem sido matematicamente discutido em todos estes grupos de elite e sociedades secretas. Eles vão fazê-lo. Uma guerra global envolvendo armas de destruição massiva será a ferramenta para dar solução ao que não tem solução.
Sem dúvida que poderíamos viver uma vida incrível neste planeta maravilhoso, mas o egoísmo e a ganância cegaram 98% da população mundial. Quantos homens e mulheres justos se propõem lutar contra este sistema e por um mundo realmente diferente?
O esforço da humanidade desde sempre é conseguir uma sociedade melhor. O problema é que o melhor para todos conflitua com o melhor para alguns e, assim, cada um tenta «puxar a brasa à sua sardinha» e a sociedade anda aos tropeços.
As formigas têm no seu código genético os parâmetros essenciais da sua sociedade; nós tentamos criar uma sociedade que não está definida nos nossos cromossomas, é um processo evolutivo.
Agora, Evolução é sinónimo de evolução da sociedade humana, já não é evolução das espécies.
A ideia de uma sociedade perfeita é um disparate, se ela existisse a evolução parava; logo, há sempre coisas, muitas coisas, que verificamos que precisam de ser alteradas. E o que precisamos é de descobrir como proceder e fazer escolhas, tomar decisões.
Mas as soluções que precisamos são soluções que conduzam a uma sociedade melhor, não que dêem vantagens a uns em prejuizo de outros.
Revoluções sem objectivos não servem para nada, só para causar retrocesso.
Mas temos um bom guia para percebermos que caminhos buscar - a Evolução da Vida até agora.
É para encontrar esses caminhos que ando a falar de Evolução no meu blogue. Ando a falar pouco mas espero em breve poder falar mais...
De facto, o socialismo tem destas coisas.
J. Lopes – Absolutamente de acordo. A «democracia» representa apenas os vários braços de um polvo financeiro e económico que asfixia crescentemente as populações.
André – O aumento do o fosso entre os que ganham mais e os que ganham menos porque os benefícios da tecnologia estão a ser apropriados apenas por alguns.
Contradições – Os Media são a ferramenta que mantém as pessoas na ignorância.
Zorze – O 12/12 significa 1212? Julgo que o colapso total está muito mais próximo do que isso.
Força Emergente – Será necessário um cataclismo para inverter esta ordem absurda das coisas? Para que são necessários escravos ou lucros descomunais numa sociedade em que a tecnologia fará quase todo o trabalho?
Alf – Continuo à espera desse debate.
Pedrocas – Esta «democracia» é absurda.
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