sexta-feira, junho 24, 2011

Dívidas ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis

Não seria razoável e justo pegar naqueles que nos levaram a este estado ruinoso – os que nos têm "governado" deixando-nos totalmente à mercê dos mercados financeiros - e chegar-lhes a roupa ao pêlo?




Rapinado ao Álvaro do blogue PSICANÁLISES (Junho 23, 2011)


"Por uma auditoria à dívida portuguesa"

A petição, intitulada "Por uma auditoria à dívida portuguesa", é assinada por 38 figuras ligadas ao movimento sindical, associativo e ao ensino universitário e defende uma auditoria da dívida "com participação da sociedade civil e do movimento dos trabalhadores", como forma de "determinar que partes da dívida são ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis".

"É urgente, neste contexto, a constituição de uma comissão popular, aberta e de convergência unitária, para uma auditoria à dívida portuguesa", refere o documento, acrescentando que uma auditoria nestes moldes "oferece aos trabalhadores o conhecimento e a autoridade necessários para a definição democrática de políticas nacionais perante a dívida".

Segundo os peticionários, esta auditoria "incentiva igualmente a responsabilidade, a prestação de contas e a transparência da administração do Estado".

"A austeridade e as medidas de privatização pressionam em primeiro lugar os mais pobres, enquanto as 'ajudas' são para quem está na origem da crise. Se as medidas de austeridade anti-populares não forem postas em causa, terão um impacto considerável na Europa durante muitos anos, modificando de forma drástica a relação de forças em favor do capital e em prejuízo do trabalho", conclui a petição. publico.pt


Nota

Aqui temos uma forma bastante reducionista, ainda que lógica, de expôr as coisas. Quem esbanjou os cofres do Estado são os principais responsáveis pelo estado a que chegamos. Esses deveriam ser os primeiros a ser julgados. Depois vieram os especuladores, claro. Mas se o Estado não tivesse sido totalmente desbaratado, a margem de actuação dos especuladores seria pelo menos muito reduzida.




Quer dizer: andaram-se a fazer PPP's e concessões ruinosas para o Estado que por outro lado enriqueceram os privados a quem foram oferecidas. Andaram-se a desbaratar milhões em estudos, assessorias, consultadorias, etc, para coisas que não tinham pernas para andar dado o estado do país (TGV, novo aeroporto). Encheu-se a administração pública e as EP's de boys e girls, equiparados a chefes de serviço sem ninguém para chefiar. Andaram-se a comprar carros e mais carros, chegando-se ao ponto de não se conseguir contabilizar quantos carros o Estado comprou e quantos mantém. E depois de tudo isto quer-se atribuir a responsabilidade exclusivamente aos especuladores internacionais, essa figura abstracta que ninguém sabe exactamente onde agarrar? Não seria mais fácil, razoável e justo pegar naqueles que nos levaram a este estado ruinoso - deixando-nos totalmente à mercê dos tais especuladores - e dar-lhes no "pêlo"? Desculpem o mau jeito mas só assino essa petição depois de lançarem outra a exigir a detenção e julgamento de quem nos conduziu ao estado em que nos encontramos. Despois sim, assino essa contra os especuladores internacionais, esses velhacos.

Mas há aqui qualquer coisa de verdade e é isso que vai acabar por fazer implodir o actual sistema enquanto entidade genérica: as ajudas têm ido parar ás mãos daqueles que estiveram na origem da crise.

No caso de Portugal a responsabilidade é em primeiro lugar de quem nos tem governado. Seguidamente é dos bancos e empresas (contam-se pelos dedos de uma só mão) que participaram activa e consistentemente na delapidação do Estado.

Basicamente, e apesar da primeira parte do meu comentário, uma auditoria à dívida portuguesa é uma ideia que não só tem pernas para andar como é imperativa para se conhecer o estado em que nos encontramos de facto. Mas se não se tirarem consequências (legais e eventualmente criminais) dessa auditoria, o acto não passará de mais um gesto simbólico desprovido de exemplaridade. Seja como fôr, a dimensão e a qualidade da dívida tem de ser conhecida.



Se se tirarem consequências legais e eventualmente criminais...
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6 comentários:

Zorze disse...

Diogo,

Está para breve, com tanto esticar da corda, um dia ela vai-se quebrar... depois ninguém sabe como vai ser!

Abraço.

Carlos disse...

“... como forma de "determinar que partes da dívida são ilegais, ilegítimas, odiosas ou simplesmente insustentáveis".”
Não sei, como é óbvio, a percentagem, mas se se resumisse a quatro não seria nenhuma surpresa.

Caro Diogo, já leste o memorando daquela máfia... ops... troika?

2. Regulação e supervisão do sector financeiro
Depois do blá blá habitual... “...levar a bom termo o caso do Banco Português de Negócios...”

Diogo disse...

Zorze – Também penso que estará para breve. A grande diferença entre as anteriores revolução e a próxima e as é que esta é esta tem como agente agrupador e condutor a Internet. É informação de muitos para muitos sem filtros ou crivos. O que já não era possível à centenas ou milhar de anos.


Carlos – Não, ainda não li o memorando da troika. Vou procurá-lo na Internet.

simon disse...

Auditoria, já, justa e sem contemplações, que, para ser honestaleve os culpados a cumprir pena numa daquelas prisões de da América do Norte, no país liberdade. Pois esse é que era o caminho a seguir pela nossa amada ministra da nova justiça. É que era.

Rick disse...

Querem mesmo fomentar uma revolta a sério??descubram maneira de sabotar toda a forma de transmissão de tv e voçês vão ver em pouco tempo milhões de pessoas na rua a protestar!!

simon disse...

Mas é o que devia ser, uma boa coça neles, e prisa em seguida, pelos milhões de anos.