sexta-feira, outubro 16, 2009

Ricardo Araújo Pereira pergunta a Jorge Coelho, presidente da Mota-Engil, se estão reunidas as condições para podermos alcatroar o país todo

Jorge Coelho, o presidente-executivo da empresa de construção Mota-Engil, foi entrevistado por Ricardo Araújo Pereira no programa do Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios. O ex-dirigente socialista foi convidado para o cargo alguns anos depois de ter sido Ministro das Obras Públicas, sendo mais um caso de um governante a exercer funções de gestão em empresas do sector que tutelou no governo.

Jornal Expresso, 05/04/2008

A Mota-Engil anunciou há mês e meio (31/08/09) ter registado um lucro de 14,3 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, mais do que os 14,1 milhões de euros registados no período homólogo de 2008 e contrariando as expectativas dos analistas, que esperavam em média um recuo para os 12,1 milhões de euros.

E no Jornal de Negócios (16/10/2009): A Mota-Engil acumula uma valorização de 87,28% este ano, tendo subido 25% só nas últimas três semanas. A impulsionar as acções da empresa esteve a eleição do Partido Socialista nas legislativas...


Às questões colocadas por Ricardo Araújo Pereira, o CEO da Mota-Engil, Jorge Coelho, respondia bugalhos, sempre com um sorriso estampado no rosto, que alternava entre o amarelo e o rosa e vice-versa.


Seguem-se algumas das perguntas de Ricardo Araújo Pereira ao socialista da Mota-Engil, Jorge Coelho:

- Bem vindos de novo ao Gato Fedorento esmiúça os sufrágios, o nosso convidado de hoje já teve muito poder quando foi ministro, e agora tem ainda mais, ele é o CEO, que significa chefe, ou presidente, ou quem manda nas sacas de cimento da Mota Engil, é o Dr. Jorge Coelho.

- Sotôr, é muito comum antigos ministros saírem para depois irem trabalhar em grandes empresas. O sotôr acha que no fim desta legislatura o primeiro-ministro, José Sócrates, pode ir parar à Mota-Engil, ou vocês lá só aceitam quem seja mesmo engenheiro?

- Sotôr, eu queria colocar-lhe uma questão, talvez me possa ajudar. Eu precisava de fechar a marquise. A Mota-Engil conseguiu ficar com o projecto dos contentores de Alcântara sem concurso público. Por isso eu perguntava-lhe: como é que eu fecho a marquise evitando essa burocracia toda. Como é que se faz isso?

- Sôtor, acha que, agora que o PS fica no Governo durante mais quatro anos, estão reunidas as condições para podermos alcatroar o país todo?

- Mas o sotôr acha admissível que em pleno século XXI só hajam três auto-estradas entre Lisboa e Porto? Não faz falta construir uma quarta auto-estrada, por exemplo, ao pé da primeira mas dois metros acima?

- O sotôr teve medo nesta eleições que se o PSD ganhasse, que três ou quatro ministros do PS ficassem sem emprego e fossem ocupar o seu lugar na Mota-Engil?



11 comentários:

alf disse...

A Europa vive uma perigosa fase de capitalismo selvagem. Em que as grandes empresas vão abocanhar as outras. Um país sem empresas próprias vai ser um pais fornecedor de empregados para as «France Telecom», sem capacidade de intervir sobre leis do trabalho porque o Esatdo deixa de ter poder sobre as empresas.

A única solução, já que não temos peso para mudar o sistema, é tentar ter empresas grandes o suficiente; é o que se anda a fazer com as EDP e PT por exemplo. Só a Vivo já tem 50 milhões de clientes, não é? A PT desapareceria se a sua dimensão fosse a nacional, num país mais pequeno do que Madrid.

Mas não bastam a PT e a EDP - é preciso uma empresa grande em tanats áreas quanto for possível. E, obviamente, num país cujo sistema de ensino expulsa metade dos jovens e agora parece que já só expulsa 1/3, uma ou duas grandes empresas de construção civil é indispensável.


Porque será que qualquer espanhol, francês, alemão, dinamarquês, inglês, percebe isso e não há maneira de os portugueses perceberem? Porque será que Portugal é o único país onde as pessoas acham que deviam ser as empresas estrangeiras a ganhar os concursos?

Começo a dar razão à Maitê... lá que há qualquer coisa esquisita com este povo, lá isso há...

xatoo disse...

este Alf é um bétinho da primeira apanha. Abençoado, está ao nivel da Maitê.

O problema não está em termos grandes empresas com capacidades globais desde que sejam autosuficientes.
O problema está em que essas empresas, para acumular lucros que possam ser investidos no estrangeiro, recorrem a capital extorquido aos contribuintes nacionais com a conivência dos gestores do Estado que produzem legislação especifica para beneficiar uma espécie de monopólios público-privados.
Por exemplo, podíamos pagar a luz a metade do preço, mas tal torna-se impossivel porque a EDP tem de sacar capital para investir no Brasil ou no cú de judas.
Quem tem uma vida à larga com este esquema é a Oligarquia que se apoderou dos cargos nesse tipo de empresas e na administração pública. A promiscuidade é notória no constante saltar de personalidades politicas para a economia e vice versa.
O contribuinte-consumidor dos mais diversos ramos limita-se a pagar as mordomias adquiridas por estes fulaninhos,,, como o Coelho, o Pina Moura, o Mexia, o Amorim, o Belmiro da Tróia, etc
.

Filipe disse...

xatoo: Acertou em cheio. E ainda há uns "patriotas" que se orgulham muito de termos empresas tão ricas, com lucros fabulosos: EDP, PT, Galp, bancos.

São os otários de serviço. Ou melhor, como são eles que dão o corpo ao manifesto, a trabalhar para estes chulos, ocorre-me outra classificação...

Maria João disse...

Eu não perco um que seja dos "Esmiúça" dos Gatos.

Aliás, será um conjunto de DVDs que comprarei, logo que saia a público, porque este é muito mais que um programa de humor: é um documento Histórico.

Anónimo disse...

Concordo plenamente Maria João, pela lucidez do Ricardo, até lhe desculpo o benfiquismo doentio :)

alf disse...

este xatoo só é mesmo capaz de debitar o que aprendeu, o que se aprende é sempre uma prisão do pensamento. Está a falar no passado.

Os americanos já declararam há muitos anos que a sua política interna anti-monopólio tinha terminado porque agora estavamos em economia global e o que convinha aos EUA é que as suas empresas crescessem o mais possível. Isto é óbvio, é claro, se daqui a uns anos as empresas forem todas chinesas só vai ser bom para os chineses. E daqui a uns a economia estará dominada pelas empresas que forem suficientemente grandes para não serem compradas pelas outras.

Claro que nós somos muito mais espertos que os americas, vamos lá agora fazer o mesmo que eles!!!

Seguindo o raciocínio simplório do xatoo, o que teriamos de fazer era mesmo acabar com toda a produção nacional. Produzir leite para quê? Mais vale comprá-lo aos italianos, produzem em maior escala e mais barato do que nós. Fruta? Compra-se aos franceses ou espanhóis. Carne? Vem de inglaterra. Peixe? é sabido que o peixe espanhol sai bem mais barato do que o nosso. Construção civil? as empresas espanhóis fazem e até trazem os trabalhadores de espanha, como eu já vi em obras para empresas publicas em Lisboa. Etc, etc.

Aliás, é o que muitos portugueses já fazem: só compram produtos estrangeiros. Há cadeias de supermercados que não têm uma peça de fruta portuguesa. Eu já li um comunicado da Eurest, essa empresa francesa que fica com os refeitórios do estado e empresas publicas, a dizer que procurava usar produtos portugueses o mais possível mas que, por exemplo, a fruta tinha de ser toda importada porque, como se sabe, em Portugal não se produz fruta...

na verdade, sai-nos muito mais barato não fazermos cá nada. Só tem um problema: também não haverá ninguém para nos pagar o ordenado. O Estado também não terá dinheiro para subsídios nem reformas porque o país não gera riqueza.

Na verdade, como não estamos aqui para dar nenhuma contribuição ao mundo, até somos perfeitamente dispensáveis, podemos ser riscados do mapa, o mundo ficará por certo melhor porque no mundo só há lugar para quem souber ser útil a ele. É demasiado pequeno para sustentar inuteis.

Há já muitos anos, tive oportunidade de dizer a responsáveis deste país que a política seguida por portugal só era seguida por mais um outro país em todo o mundo «civilizado»: a Argentina. Em Portugal só não aconteceu o que veio a acontecer à Argentina porque estamos na Europa dos subsídios.

Não quer dizer que eu não tenha críticas a fazer a EDP. Tenho. Mas tendo presente que é indispensável haver uma estratégia que permita entrosar o país nas grandes empresas que vão surgir no futuro.

É mais importante o país ter um lugar em conselhos de administração dessas empresas do que um representante na CE.

Filipe disse...

alf: Continuo a não entender porque confunde Portugal e os portugueses, com uma dúzia de empresas que prosperam à nossa conta, são protegidas e ajudadas de forma vergonhosa pelos políticos/gestores (que na prática são os mesmos), e depois investem o NOSSO dinheiro noutros países.

Geram PIB e impostos? Certamente, mas quantos são desviados para off-shores, e quanto do lucro é reinvestido em Portugal? Ou é ingénuo o bastante para acreditar que os lucros fabulosos da Galp, da EDP ou do BES, vão beneficiar-nos enquanto contribuintes (do Estado) ou clientes (dessas empresas)?

O sistema americano, que parece entusiasmá-lo tanto, já mostrou o que vale: dependem de economias débeis, de trabalho infantil nas Ásias da vida, e do controlo da moeda-padrão. É óbvio que qualquer melhoria no nível de vida das restantes economias, ou a perda do acesso directo ao petróleo, ou da moeda-padrão, são os seus piores pesadelos.

Com certeza que temos de produzir, e de EXPORTAR mais do que importamos. No fundo, é simples: temos de criar valor. Mas em vez disso, o que fazemos? Criamos ministérios para "controlar" (que piada) os fundos comunitários. Ministérios para as esmolas que recebemos. E deixamo-nos explorar pela pandilha no poder, tanto do Estado, como dos oligopólios e cartéis que realmente mandam no país.

Daniel Santos disse...

Brilhante.

xatoo disse...

Alf, tenha consideração por si e poupe-nos às suas patetices. Para se avaliar do seu calibre começo por lhe lembrar o seu parágrafo inicial sobre as leis anti-trust aplicadas nos EUA e que por si só teriam acabado com o problema dos monopólios, como se porventura desde então nada mais tivesse evoluido no capitalismo. Essa lei remonta a finais do século XIX e vc acusa-me logo na linha a seguir de ser o meu comentário que se refere ao passado...

Zorze disse...

O Alf tem o seu quê de razão. O Xatoo e o Filipe também têm a sua.
O que não perceberam foi que vivemos num mundo contraditório por natureza.
Não vou entrar pela maturação consciencial e civizicional...

Os Gatos esmiuçados, servem de panela de pressão, perante uma sociedade impávida e serena.
Ganham muito bom dinheiro nessa função.
É uma questão de mercado!

Abraço,
Zorze

Ana Camarra disse...

Diogo

Tu tens mesmo uma mente retorcida o homem está lá por mérito próprio!
Pelas suas qualidades com gestor, nada mais...
Eles nem se lembram dessas coisas.
Só em memntes retorcidas, como a tua e a minha...

beijo