
Tenho ouvido técnicos, governantes e até o primeiro-ministro dizerem, em tom científico, que “Portugal não pode ficar fora da rede europeia de alta velocidade”. E ponto final: ninguém lhes pergunta porquê, qual a razão por que não pode. Será uma questão de orgulho nacional, uma exigência de Bruxelas? Porque será que um país como a Suécia - imensamente mais rico, mais desenvolvido, com um sector exportador muito mais forte e até um território muito mais extenso - vive bem sem TGV e nós não?
Mas, enfim, por princípio há que acreditar que quem governa sabe o que está a fazer - até prova em contrário. Para meu espanto, porém, acabo de ler que o governo, através da secretária de Estado dos Transportes, anunciou que um bilhete Lisboa-Madrid no TGV vai custar 100 euros, um preço que ela afirma ser “altamente competitivo, sobretudo face à aviação comercial”.

Em resumo, o governo propõe-se:
a) fazer um investimento público brutal, de que jamais se espera poder amortizar um cêntimo;
b) praticar preços mais caros que serviços congéneres no estrangeiro e mais caros que a concorrência aérea;
c) e, mesmo assim, teme-se que o serviço seja deficitário, porque, muito provavelmente, não haverá procura que o sustente.
Ou eu estou a ver tudo mal ou alguém perdeu o juízo.
Ora, Miguel Sousa Tavares já tinha respondido a si próprio há cerca de um ano e picos:
Miguel Sousa Tavares [Expresso – 07/01/2006]
«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

Na imagem, um ilustre elemento do «inner circle» sorri embevecido com a perspectiva de um investimento público de 16 mil milhões de euros, de que jamais se espera poder amortizar um cêntimo.
13 comentários:
Tenho apenas 25 anos e já estou desapontadíssimo com políticos, inclusivamente com alguns que conheço (vereadores) que utilizam a boa vontade das pessoas e das instituições para se promoverem de maneira indecente e corrupta.
já agora,
http://devaneiosdesintericos.blogspot.com/2007/05/comparaes.html
Numa altura em que a fraca economia do país assenta essencialmente no transporte rodoviário e isto porque não faz sentido o uso do transporte ferroviário, que obriga a transbordo até ao destinatário. A CP antes de existir a actual rede viária, tinha um grande volume de transporte de carga que foi perdendo a favor das empresas de transporte rodoviário. O mesmo fenómeno acontece com a quebra de
passageiros sobretudo ao nível das deslocações de longo curso. Fica mais barato 4 pessoas deslocarem-se em viatura própria de Lisboa ao Porto do que as mesmas utilizarem o comboio, que apenas as leva da estação de embarque até ao destino.
De resto os comboios aparentemente cheios da CP a maioria dos passageiros não pagam bilhete porque são familiares de ferroviários que usam desse benefício. Daí a CP somar anos a fio prejuízos de exploração. Pelo exposto julgo que o investimento no TGV é um perfeito disparate e uma opção absurda sem qualquer justificação, que irá sobrecarregar as gerações vindouras. Mas se tivermos em linha de conta que as Empresas de Obras Públicas e de Construção Civil, financiam as campanhas eleitorais e promovem os políticos, julgo que está encontrada a explicação para esta opção. Um abraço do Raul
Um blog que encontrei por aí e que me parece bastante completo. Formativo e informativo.
http://worldtransport.blogspot.com/
Seguindo um estudo que vi no blogue "Devaneios de Intéricos", concluí que os preços de uma viagem de avião pela Ryanair, de Faro para Madrid, custa, supreendentemente, 20 euros; e que pela TAP, 70 euros, ambos muito abaixo dos 100 euros do TGV.
Logo, contemplando Portugal até à data de hoje, nada mais resta do que o povo sair para a rua e enfrentar o cacetete!
Como Fausto canta:
"Venha no que vier a dar
assim não podmos ficar"
gosto sobretudo da ironia do artigo do Miguel Sousa Tavares... "em princípio temos que acreditar que o governo sabe o que está a fazer"... bestial, sobretudo para depois desenrolar as provas do "na realidade, podemos ver que o governo não sabe o que está a fazer"...
Ola companheiros.
Gostaria de puxar para a discusão um velho tema que tem andado muito arredado de quase todas as conversas, devido talvez ao incomodo que tal situação causa, refiro-me a uma parte do territoria nacional ilegalmente ocupada por espanha,mais concretamente a nossa localidade de Olivença.
No dia 20 Maio 1801 - Num acto de agressão sem provocação, tropas espanholas de Manuel Godoy em aliança com os franceses, invadem o Alentejo e ocupam Olivença (traída pelo comandante mercenário Clemont) , e outras terras alentejanas.
Faz portanto este mês 206 anos que este povo Portugues começou a ser vitima do mais terrivel etnocidio da nossa história.
Apesar de em 9 Jun 1815 - O Tratado de Viena,na sua Acta Final 105, reconhecer os direitos e justiça de Portugal sobre os territórios de Olivença e seu termo (ainda ocupados por Espanha, estes mais de 700 km quadrados nunca foram restituidos a Portugal.
Um abraço a todos
Eu sempre disse que estava mais contra o TGV do que contra a OTA. É de uma estupidez colossal!
O sorriso embevecido de Sócrates com a fortuna que o país vai enterrar no TGV é esclarecedor. Sousa Tavares não tem medo das palavras. Faltam cá muitos como ele.
meu caro isso de Olivença é um problema chamado Guerra das Laranjas. Parece que o Godoy era o verdadeiro pai de Carlota Joaquina. Foram-se uma data de diamantes da coroa para a Maria Luísa de Parma. Vejam o retrato de Goya do Prado, está on-line. Mas aquilo também acabou mal lá para ela... os diamanetes foram parar ao Napoleão. Dá muito jeito seguir o rastro de diamantes históricos para ver a força e a sucessão dos poderes, ainda hoje.
Além de que é divertido.
py
E o povo não se levanta contra esta pouca vergonha? Não, continua a resmungar refastelado no sofá!
Não me levem a mal a pergunta mas ela encerra a resposta a tudo o que foi dito até agora; alguém viu o filme "O triunfo dos porcos"?
E porque ela me faz lembrar o dito popular "...atirar pérolas aos porcos", aqui fica mais uma pergunta; o que é feito das jóias da coroa portuguesa, roubadas do museu holandês onde iam ser expostas?
Vocês sabem quem é o responsável na CEE (escrito de propósito) pelas redes de alta velocidade para o SW Europeu? Não?
Então tomem lá:
Sua Excelência o Visconde Étienne Davignon, Chairman dos Bilderberg meetings e uma das mais tenebrosas eminências pardas Bilderbergianas conhecidas.
Assim não estará tudo explicado?
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