segunda-feira, outubro 29, 2007

Os Media, a Política e a Internet

Em 1983, cinquenta corporações controlavam a grande maioria de todos os Media nos Estados Unidos. Nessa altura Ben Bagdikian foi chamado “alarmista” por chamar a atenção para este facto no seu livro, The Media Monopoly [O Monopólio dos Media]. Na quarta edição do seu livro, publicada em 1992, Bagdikian escreveu "Nos Estados Unidos, menos de duas dúzias destes monstros extraordinários possuem e operam 90% dos mass media" – controlando quase todos os jornais americanos, revistas, televisões e estações de rádio, livros, discos, filmes, vídeos, agências noticiosas e agências de imagens.

Ben Bagdikian previu que com o tempo este número diminuiria para cerca de meia dúzia de companhias. Isto foi recebido com cepticismo na altura. Quando a sexta edição do The Media Monopoly foi publicado em 2000, o número tinha caído para seis. Desde então, tem havido ainda mais fusões (…). Em 2004 no revisto e aumentado livro de Bagdikian, The New Media Monopoly, o autor refere que apenas cinco enormes corporaçõesa Time Warner, a Disney, a News Corporation de Murdoch, a Bertelsmann da Alemanha, e a Viacom (outrora CBS)controlam agora a maior parte da indústria dos media nos Estados Unidos.

Evolução do número de corporações (de 1993 até 2004) que controlam a maioria dos Media norte-americanos - jornais, revistas, televisões e rádios, livros, música, filmes, vídeos, agências noticiosas, agências de imagens:



Luiz Brito Garcia, professor venezuelano - "Os meios de comunicação têm donos. A informação tem proprietários. Existem latifúndios, monopólios, impérios mediáticos. A propriedade ilimitada da informação de uns pressupõe a ilimitada desinformação de todos. Somente há comunicação entre iguais".


Daniel Oliveira - Jornal Expresso - 27/10/2007

(...) A fuga de leitores e espectadores da imprensa e da televisão para blogues e documentários resulta do mesmo cansaço: de tanto querer entreter, o jornalismo já só se consegue repetir.

Em todo o mundo milhares de pessoas com uma câmara na mão e milhões de «bloggers» nos seus computadores mostram-nos uma realidade muitíssimo mais variada, profunda e contraditória do que encontramos nas salas de cinema e em frente à televisão. Seja para falar de política ou de qualquer outra coisa. Uns são excelentes outros são péssimos. Mas é nesta ‘rede’ que podemos hoje encontrar a mais impressionante resposta à ética do entretenimento. É cíclico: quando a anestesia parece geral há sempre uma reacção.


Internet próxima da TV no horário nobre

Portugal diário - 2007/10/22

Um inquérito realizado em seis países europeus revelou que 67 por cento dos cidadãos laboralmente activos consultam a Internet durante o chamado horário nobre. Este número aproxima-se da televisão, que lidera, com 75 por cento.

Segundo noticia a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, o estudo feito pela OPA Europa - uma organização que integra marcas líderes na web -, revela um enorme aumento da utilização da Internet no prime time (das 20:00 às 23:00, na hora portuguesa), já que nos últimos três anos cresceu 23 por cento.

Mais significativos são os números relativos à parte da manhã, em que Internet lidera desde 2004, com perto de 84 por cento das pessoas entrevistadas a dizerem consultar a rede durante esse período.


Comentário:

Como diz, e bem, o professor venezuelano Luiz Brito Garcia: os meios de comunicação têm donos. A informação tem proprietários. Existem latifúndios, monopólios, impérios mediáticos. A propriedade ilimitada da informação de uns pressupõe a ilimitada desinformação de todos. Somente há comunicação entre iguais.

Com o advento da Internet a "comunicação entre iguais" tem vindo a crescer de forma sustentada e exponencial. A «informação privada» e a «desinformação ilimitada de todos» está a ser crescentemente curto-circuitada pela Internet.

Os «jornalistas», os nossos representantes mediáticos (funcionários dos monopólios da informação), especialistas na omissão, na distorção, na mentira, no exagero, na inexatidão, na subjectividade, na fabricação e na manipulação das «notícias», que nos fazem chegar via «mass media», estão a ser consistentemente substituídos pela informação directa, «boca-a-boca», peer-to-peer, via Internet – informação imensamente mais autêntica, que não passa pelo crivo deturpador dos latifúndiários mediáticos.

Esta revolução nos Media está também a chegar à política. As palavras de Luiz Brito Garcia aplicam-se textualmente ao poder político: "Os partidos políticos têm donos. O poder político tem proprietários. Existem latifúndios, monopólios, impérios políticos. A propriedade ilimitada do poder de uns pressupõe a ilimitada sujeição de todos. Somente há democracia entre iguais".

Já se começou timidamente com as petições online. Os temas políticos já são discutidos entre muitos milhares de cidadãos em fóruns e Blogs. Não faltará muito para que a decisão política seja tomada na base da democracia directa. Os «representantes políticos eleitos», meros funcionários dos monopólios do poder, bem podem começar a fazer as malas.


DIRECT DEMOCRACY AND THE INTERNET - Dick Morris

"The Internet offers a potential for direct democracy so profound that it may well transform not only our system of politics but also our very form of government."

"A internet oferece um potencial tão profundo para a democracia directa que pode muito bem transformar-se não apenas no nosso sistema político mas igualmente no nosso sistema de governo".
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8 comentários:

Anónimo disse...

O voto pela internet vai mudar tudo. Até lá, a maior parte das pessoas não vai compreender como é estupenda a democracia directa.

contradicoes disse...

Exactamente caro Diogo por todos andarmos a constatar isso já há algum tempo ou seja que os profissionais da comunicação social estão cada vez mais ao serviço do patronato e sempre com a preocupação de não o desgostar com as suas crónicas e abordagens. Como a blogosfera duma maneira geral não está ao serviço de nenhum grupo económico, os seus autores uns melhor que outros expõem as suas opiniões fazem as suas críticas sem temer despedimentos. Curiosamente outros há que fazem muita pesquisa e já nos proporcionam abordagens que também são aproveitadas pela própria comunicação social. Sinais dos tempos.

Castanheira disse...

O problema é que a democracia directa não será fácil de obter, os poderes actuais não vão deixar que o poder e o controlo lhes fuja.

augustoM disse...

Gostava de acreditar, mas o mais certo é tomarem conta da Internet, esta ilusória liberdade não vai durar sempre. Vi a televisão anunciar que um simples aparelho que pode ser adquirido por todos e, nem muito caro, é capaz de nos permitir escutar todas as conversas dos telemóveis e da rede fixa. Controlar a net, não me parece coisa muito difícil.
Um abraço. Augusto

xatoo disse...

pois é
todas estas intenções são louváveis. Mas preparem-se porque vem aí uma tentativa de imposição de regras para os bloggers - nomeadamente a sua inscrição obrigatória junto da entidade reguladora como uma espécie de "profissionais de informação" por forma a que se obriguem a cumprir certas regras impostas pelo mainstream politico e, caso não o façam possam vir a ser responsabilizados por isso.
Aqui ao lado em Espanha e no Brasil já começou,,

Diogo disse...

Augusto,

Controlar a NET é a coisa mais difícil que há. A única forma é destruí-la. E destruí-la seria destruir a base do novo paradigma económico. Eles não o conseguem fazer.


Xatoo,

Não me podias dar os links desses arremedos de ditadura?

xatoo disse...

Diogo
isto começa sempre tudo pelo mesmo sítio, :
"now Congress is being pushed to abandon the First Amendment of the Internet"
http://action.freepress.net/campaign/savethenet
e depois vem por aí abaixo, consoante a importância dos paises e dos diversos Comissários que os regem - afinal do que se trata é de garantir também o monopólio da informação na Rede
http://www.alg-a.org/spip.php?article192

se googlares "save the internet" vais obter montes de informação
aqui tens um video e um link para o site principal da campanha
faz um post sobre isso, pq eu já não ando com muita pachorra. Já estou como o outro - às primeiras regras que impuserem fecho blogue e acabou-se

contradicoes disse...

Vim responder-lhe ao comentário que me deixou. Não caro Diogo as suas abordagens sobre o holocausto não me incomodam minimamente mas porque de certo modo têm concentrado a sua atenção neste tema eu embora na visita que faço diariamente não costumo deixar qualquer comentário pela simples razão de que a vitimização dos judeus a mim tal como a si não convence. Mas insisto. Esta abordagem não me incomoda.