Academia da Língua Francesa: «esta companhia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os "homens de letras" dos ignorantes e das mulheres simples...»
Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis»
Provavelmente, em vez de um Acordo Ortográfico, precisávamos de uma Revolução Ortográfica. A seguir, um excelente excerto do livro «A EUROPA DAS LÍNGUAS», de Miguel Siguan, que nos mostra as incongruências ortográficas das principais línguas europeias:
A par das diferenças nos sinais do alfabeto, o segundo tipo de diferenças que encontramos nos sistemas de escrita das línguas europeias são as diferenças nas regras de transcrição fonética, ou seja, o que em geral conhecemos como as regras de ortografia. Dadas as diferenças que há entre os repertórios de sons utilizados por cada língua é evidente que as regras de transcrição não podem ser as mesmas em todas as línguas da Europa. Mas a verdade é que as diferenças nas regras ortográficas vão muito mais além do que seria necessário pelas diferenças entre os sons das diferentes línguas. Menos justificação há ainda para as regras, no interior da mesma língua, não serem nem sistemáticas nem coerentes.
Um primeiro tipo de incoerência é que numa mesma língua um mesmo som ou fonema se represente com grafias diferentes segundo os casos. Assim, em alemão o fonema [f] pode ser representado por um «f» (form), por um «v» (vorn) ou por um «ph» (phosfor), sem que haja alguma regra que regule estes diferentes usos. Em francês, o fonema [є], «[e aberto») pode representar-se de catorze maneiras diferentes sem que tão-pouco haja alguma regra que justifique por que é que num casos se utiliza uma em vez de outra. Eis aqui alguns exemplos: «e» (fer), «è» (mère), «ê» (fête), «ë» (Noël), «ei» (peine), «ep» (sept), «e» (internet)... Ainda, em francês, o fonema [k] pode ser representado de nove maneiras diferentes: «k» (klaxon), «c» (corps), «q» (coq), «qu»(quand), «cc» (accord)...
Os exemplos em inglês não são menos frequentes. Assim, o fonema [i] pode ser representado de dez maneiras diferentes: «ea] (sea), «ee» (bee), «ie» (field), «ei» (ceiling), «eo» (people)...
A incongruência é ainda maior quando com uma mesma letra ou combinação de letras se representam sons diferentes. Assim, em inglês a letra «a» representa segundo. os casos, seis fonemas diferentes: (account), (arm), [ei] (lake), [a] (ask), [o] (fall), [e] (many), [i] (language), e pode ser muda como o segundo «a» de (arrival). O grafema ou combinação de letras «ai» pode representar quatro sons diferentes segundo os casos, por exemplo: (wait), (aisle), (said), (plaid). E o grafema «au», outros quatro: (claw), (laugh), (gauge), (mauve).
A primeira consequência destas incongruências é que frequentemente quando ouvimos uma palavra não temos a certeza de como se escreve correctamente e, por outro lado, quando vemos uma palavra escrita nem sempre sabemos como se pronuncia. Esta ambivalência pode chegar ao ponto de duas palavras que se escrevem exactamente da mesma forma se pronunciarem de maneira diferente segundo o significado e, pelo contrário, palavras que se pronunciam da mesma forma terem grafias diferentes também segundo aquilo que significam. Exemplos do primeiro caso de homografia com heterofonia, em inglês, são: (read), que se pode pronunciar [rid] ou [red], e (bow), que se pode pronunciar [bou] ou [bau]. E em francês a palavra (portions), onde a letra «t» se lê [t] ou [s] segundo o significado que se dá à palavra. Quanto ao segundo caso, homofonia com poligrafia, limitar-me-ei a um exemplo simples: a ortografia francesa distingue cuidadosamente em muitos casos de adjectivos entre masculino e feminino: (vrai-vraie), (égal-égale), (aigu-aigue), (cher-chère)... quando na linguagem oral não se dá pela diferença.
Não é necessário insistir tanto no ponto a que estas incoerências do sistema ortográfico dificultam a aquisição da língua escrita (quanto tempo e quanta energia se têm de dedicar a uma tarefa que começa na primeira infância e nunca se pode considerar terminada). Como no ponto a que a distinção social, muitas vezes gratuita e injusta, se estabelece entre aqueles que escrevem sem erros de ortografia e os que os cometem. Acrescentemos as dificuldades que uma ortografia irracional acrescenta à tarefa de aprender línguas estrangeiras, algo que hoje pretendemos estender a toda a população. Todas estas considerações são tão evidentes, que é natural que em todas as línguas se tenham feito e se continuem a fazer propostas para racionalizar a ortografia. Que esperanças há de que estas reformas se levem a cabo?
A ortografia francesa foi fixada no séc. XVIII pela Academia da Língua com critérios arqueológicos e arcaizantes que já no seu tempo se aproximavam do pedantismo - «esta companhia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os "homens de letras" dos ignorantes e das mulheres simples...» - e que desde então se tem mantido inalterada apesar das frequentes denúncias. «Esta ortografia criminosa, uma das fabricações mais grotescas do mundo» (Paul Valéry, Varieté III, 1936).
Têm sido frequentes também as propostas de reforma, mas ao contrário da Academia Espanhola, que por duas vezes ao longo da sua história modificou as normas ortográficas em nome de uma maior racionalidade, a Academia Francesa não aceitou nunca nenhuma. Nos últimos anos, as vozes a favor de uma reforma têm-se feito ouvir mais. O conhecido linguista Martinet, consciente das dificuldades que apresenta a ortografia para a aquisição da língua escrita, propôs há algum tempo (1977) um sistema estritamente fonético, o «alfonic», que se utilizaria para ensinar a ler e a escrever antes de, numa etapa posterior, se dar o salto para a ortografia «oficial», embora seja evidente que assim só se complica o problema. Numa perspectiva mais radical, Chervel e Blanche Benveniste (1978) propuseram substituir a ortografia francesa por um sistema de transcrição exclusivamente fonético. Mais recentemente ainda, a Academia da Língua, em resposta às fortes pressões recebidas, negou-se a tomar em consideração qualquer das propostas, mesmo as mais suaves.
A par do francês, o inglês é outro caso. O sistema ortográfico inglês é provavelmente o mais incoerente de todos os sistemas ortográficos que utilizam o alfabeto latino, isso porque manteve intacta a grafia correspondente ao inglês falado no séc. XVI ou mesmo, segundo certos autores, ao inglês medieval, apesar das mudanças fonéticas ocorridas desde então. No caso do inglês, o conservadorismo da ortografia contrasta com a notável flexibilidade da língua em todos os aspectos, do vocabulário à sintaxe, e deve ser atribuído, como em França, ao respeito reverencial de que sempre desfrutou a língua escrita transmitida academicamente e privilégio de uma minoria, no fundo a mesma motivação que faz com que se mantenha na China a escrita tradicional.
Não é que tenham faltado críticas ou propostas para a modificar. No século passado, Pitman, o inventor da estenografia, dedicou muito do dinheiro que tinha ganho com a sua invenção a promover uma ortografia simplificada do inglês. E, já no séc. XX, é conhecida a cruzada que Bernard Shaw levou a cabo na mesma direcção e à qual deixou em testamento a maior parte da sua fortuna. A «Simplified Spelling Society», dedicada ao mesmo objectivo, contou entre os seus membros com ilustres linguistas e um neto de Pitman divulgou um método fonético para as escolas semelhante ao que Martinet propôs em França. Tudo em vão. Paradoxalmente, o facto de a ortografia inglesa não depender de uma autoridade com poder decisório como aquele que a Academia Francesa constitui, apoiando-se só no peso da tradição, faz com que a reforma seja ainda mais difícil.
Referi-me ao francês e ao inglês porque são os exemplos mais patentes de incoerência ortográfica. Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis». Na verdade, também a ortografia do alemão e do espanhol apresentam incongruências, apesar de tudo. Quase todas as línguas escritas as apresentam. Para encontrar exemplos de escritas completamente racionais. sem contar com o esperanto, temos de pensar nalgumas línguas siberianas que nunca tinham tido um uso escrito quando linguistas soviéticos as codificaram nos anos trinta. Porque mesmo línguas que nunca tinham tido um uso académico ou oficial e que, no século passado ou mesmo mais recentemente, foram codificadas, quando lhes foi atribuída uma norma escrita não foram seguidos totalmente os critérios da racionalidade. Às vezes, o exemplo da língua mais forte fez com que se adoptassem as suas soluções na transcrição fonética. É o que acontece hoje quando se propõem normas escritas para línguas autóctones da América em países onde o espanhol é, desde há séculos, a língua dominante. Embora noutros casos aconteça o contrário.
Do que foi dito até aqui se conclui que se as reformas ortográficas das línguas europeias são necessárias e urgentes, a probabilidade de que se introduzam a curto prazo são pequenas. Acerca do sentido destas reformas falta ainda fazer uma observação, aquela que mais tem a ver com o espírito deste livro.
Até meados do séc. xx, as propostas de reforma ortográfica fizeram-se no seio de uma determinada língua e pensando só nos seus habitantes nativos e nos alunos que tinham de a aprender. Actualmente, dada a necessidade crescente de aprender línguas estrangeiras e o peso crescente dos sistemas informáticos, não só convém que o sistema ortográfico de cada língua seja o mais simples e racional possível, como também que os sistemas das diferentes línguas sejam coerentes e não contraditórios entre si. Ou seja, convém que uma mesma letra ou uma mesma combinação de letras não signifique sons totalmente diferentes segundo a língua considerada, e ao contrário, que um som igual ou parecido não seja representado de formas completamente diferentes em diferentes línguas. Todavia, é um facto que este objectivo não é fácil de alcançar.
Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis»
Provavelmente, em vez de um Acordo Ortográfico, precisávamos de uma Revolução Ortográfica. A seguir, um excelente excerto do livro «A EUROPA DAS LÍNGUAS», de Miguel Siguan, que nos mostra as incongruências ortográficas das principais línguas europeias:
A par das diferenças nos sinais do alfabeto, o segundo tipo de diferenças que encontramos nos sistemas de escrita das línguas europeias são as diferenças nas regras de transcrição fonética, ou seja, o que em geral conhecemos como as regras de ortografia. Dadas as diferenças que há entre os repertórios de sons utilizados por cada língua é evidente que as regras de transcrição não podem ser as mesmas em todas as línguas da Europa. Mas a verdade é que as diferenças nas regras ortográficas vão muito mais além do que seria necessário pelas diferenças entre os sons das diferentes línguas. Menos justificação há ainda para as regras, no interior da mesma língua, não serem nem sistemáticas nem coerentes.
Um primeiro tipo de incoerência é que numa mesma língua um mesmo som ou fonema se represente com grafias diferentes segundo os casos. Assim, em alemão o fonema [f] pode ser representado por um «f» (form), por um «v» (vorn) ou por um «ph» (phosfor), sem que haja alguma regra que regule estes diferentes usos. Em francês, o fonema [є], «[e aberto») pode representar-se de catorze maneiras diferentes sem que tão-pouco haja alguma regra que justifique por que é que num casos se utiliza uma em vez de outra. Eis aqui alguns exemplos: «e» (fer), «è» (mère), «ê» (fête), «ë» (Noël), «ei» (peine), «ep» (sept), «e» (internet)... Ainda, em francês, o fonema [k] pode ser representado de nove maneiras diferentes: «k» (klaxon), «c» (corps), «q» (coq), «qu»(quand), «cc» (accord)...
Os exemplos em inglês não são menos frequentes. Assim, o fonema [i] pode ser representado de dez maneiras diferentes: «ea] (sea), «ee» (bee), «ie» (field), «ei» (ceiling), «eo» (people)...
A incongruência é ainda maior quando com uma mesma letra ou combinação de letras se representam sons diferentes. Assim, em inglês a letra «a» representa segundo. os casos, seis fonemas diferentes: (account), (arm), [ei] (lake), [a] (ask), [o] (fall), [e] (many), [i] (language), e pode ser muda como o segundo «a» de (arrival). O grafema ou combinação de letras «ai» pode representar quatro sons diferentes segundo os casos, por exemplo: (wait), (aisle), (said), (plaid). E o grafema «au», outros quatro: (claw), (laugh), (gauge), (mauve).
A primeira consequência destas incongruências é que frequentemente quando ouvimos uma palavra não temos a certeza de como se escreve correctamente e, por outro lado, quando vemos uma palavra escrita nem sempre sabemos como se pronuncia. Esta ambivalência pode chegar ao ponto de duas palavras que se escrevem exactamente da mesma forma se pronunciarem de maneira diferente segundo o significado e, pelo contrário, palavras que se pronunciam da mesma forma terem grafias diferentes também segundo aquilo que significam. Exemplos do primeiro caso de homografia com heterofonia, em inglês, são: (read), que se pode pronunciar [rid] ou [red], e (bow), que se pode pronunciar [bou] ou [bau]. E em francês a palavra (portions), onde a letra «t» se lê [t] ou [s] segundo o significado que se dá à palavra. Quanto ao segundo caso, homofonia com poligrafia, limitar-me-ei a um exemplo simples: a ortografia francesa distingue cuidadosamente em muitos casos de adjectivos entre masculino e feminino: (vrai-vraie), (égal-égale), (aigu-aigue), (cher-chère)... quando na linguagem oral não se dá pela diferença.
Não é necessário insistir tanto no ponto a que estas incoerências do sistema ortográfico dificultam a aquisição da língua escrita (quanto tempo e quanta energia se têm de dedicar a uma tarefa que começa na primeira infância e nunca se pode considerar terminada). Como no ponto a que a distinção social, muitas vezes gratuita e injusta, se estabelece entre aqueles que escrevem sem erros de ortografia e os que os cometem. Acrescentemos as dificuldades que uma ortografia irracional acrescenta à tarefa de aprender línguas estrangeiras, algo que hoje pretendemos estender a toda a população. Todas estas considerações são tão evidentes, que é natural que em todas as línguas se tenham feito e se continuem a fazer propostas para racionalizar a ortografia. Que esperanças há de que estas reformas se levem a cabo?
A ortografia francesa foi fixada no séc. XVIII pela Academia da Língua com critérios arqueológicos e arcaizantes que já no seu tempo se aproximavam do pedantismo - «esta companhia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os "homens de letras" dos ignorantes e das mulheres simples...» - e que desde então se tem mantido inalterada apesar das frequentes denúncias. «Esta ortografia criminosa, uma das fabricações mais grotescas do mundo» (Paul Valéry, Varieté III, 1936).
Têm sido frequentes também as propostas de reforma, mas ao contrário da Academia Espanhola, que por duas vezes ao longo da sua história modificou as normas ortográficas em nome de uma maior racionalidade, a Academia Francesa não aceitou nunca nenhuma. Nos últimos anos, as vozes a favor de uma reforma têm-se feito ouvir mais. O conhecido linguista Martinet, consciente das dificuldades que apresenta a ortografia para a aquisição da língua escrita, propôs há algum tempo (1977) um sistema estritamente fonético, o «alfonic», que se utilizaria para ensinar a ler e a escrever antes de, numa etapa posterior, se dar o salto para a ortografia «oficial», embora seja evidente que assim só se complica o problema. Numa perspectiva mais radical, Chervel e Blanche Benveniste (1978) propuseram substituir a ortografia francesa por um sistema de transcrição exclusivamente fonético. Mais recentemente ainda, a Academia da Língua, em resposta às fortes pressões recebidas, negou-se a tomar em consideração qualquer das propostas, mesmo as mais suaves.
A par do francês, o inglês é outro caso. O sistema ortográfico inglês é provavelmente o mais incoerente de todos os sistemas ortográficos que utilizam o alfabeto latino, isso porque manteve intacta a grafia correspondente ao inglês falado no séc. XVI ou mesmo, segundo certos autores, ao inglês medieval, apesar das mudanças fonéticas ocorridas desde então. No caso do inglês, o conservadorismo da ortografia contrasta com a notável flexibilidade da língua em todos os aspectos, do vocabulário à sintaxe, e deve ser atribuído, como em França, ao respeito reverencial de que sempre desfrutou a língua escrita transmitida academicamente e privilégio de uma minoria, no fundo a mesma motivação que faz com que se mantenha na China a escrita tradicional.
Não é que tenham faltado críticas ou propostas para a modificar. No século passado, Pitman, o inventor da estenografia, dedicou muito do dinheiro que tinha ganho com a sua invenção a promover uma ortografia simplificada do inglês. E, já no séc. XX, é conhecida a cruzada que Bernard Shaw levou a cabo na mesma direcção e à qual deixou em testamento a maior parte da sua fortuna. A «Simplified Spelling Society», dedicada ao mesmo objectivo, contou entre os seus membros com ilustres linguistas e um neto de Pitman divulgou um método fonético para as escolas semelhante ao que Martinet propôs em França. Tudo em vão. Paradoxalmente, o facto de a ortografia inglesa não depender de uma autoridade com poder decisório como aquele que a Academia Francesa constitui, apoiando-se só no peso da tradição, faz com que a reforma seja ainda mais difícil.
Referi-me ao francês e ao inglês porque são os exemplos mais patentes de incoerência ortográfica. Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis». Na verdade, também a ortografia do alemão e do espanhol apresentam incongruências, apesar de tudo. Quase todas as línguas escritas as apresentam. Para encontrar exemplos de escritas completamente racionais. sem contar com o esperanto, temos de pensar nalgumas línguas siberianas que nunca tinham tido um uso escrito quando linguistas soviéticos as codificaram nos anos trinta. Porque mesmo línguas que nunca tinham tido um uso académico ou oficial e que, no século passado ou mesmo mais recentemente, foram codificadas, quando lhes foi atribuída uma norma escrita não foram seguidos totalmente os critérios da racionalidade. Às vezes, o exemplo da língua mais forte fez com que se adoptassem as suas soluções na transcrição fonética. É o que acontece hoje quando se propõem normas escritas para línguas autóctones da América em países onde o espanhol é, desde há séculos, a língua dominante. Embora noutros casos aconteça o contrário.
Do que foi dito até aqui se conclui que se as reformas ortográficas das línguas europeias são necessárias e urgentes, a probabilidade de que se introduzam a curto prazo são pequenas. Acerca do sentido destas reformas falta ainda fazer uma observação, aquela que mais tem a ver com o espírito deste livro.
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21 comentários:
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O inglês e o francês adoptaram uma ortografia mais atenta à origem e história escrita das palavras, à sua etimologia, do que à fonética. É por isso que em francês algo que se diz "uázô" se escreve "oiseaux", algo que se diz "ô" se escreve "eau" e "pré" se escreve "prêt". E é por isso que palavras inglesas tão diferentes como "dou" e "taf" se escrevem "though" e "tough", respectivamente, é por isso que "tchec" se escrever "czech" enquanto que "china" não se diz "caina" mas sim "tchaina", entre muitas, muitas outras rasteiras que a língua inglesa nos reserva.
Esta abordagem tem a vantagem de exigir mudanças na ortografia mínimas e espaçadas no tempo, embora tenha a clara desvantagem de ir tornando a escrita crescentemente incoerente, de modo que ao fim de algum tempo acaba à mesma por ser preciso fazer reformas ortográficas, a menos que se queira continuar a escrever numa língua que na prática é uma língua diferente daquela que se fala.
O português apresenta as mesmas incoerências que o inglês e o francês porque, não só a fala se vai afastando da escrita, como as diferentes pronúncias regionais e individuais não permitem que haja uma justaposição generalizada.
Embora cada vez mais as línguas tendam para a establização e para a uniformização da escrita e da pronúncia, mesmo assim os deslizamentos vão acontecendo e as diferentes pronúncias mantêm-se.
Mas ainda que o português pretendesse fazer a tal revolução ortográfica com a desejada coincidência fonema/grafema - como é quase a situação da língua espanhola europeia - quantas grafias teriam que existir? Ou a optar por uma, qual?
Escreveríamos 'continente' ou 'contenente', como se diz na Madeira?
Escreveríamos 'eu não sei' ou 'ê na sai', como nos Açores?
'Pão' ou 'põ/pon/pom', como no Porto?
Poderíamos esquecer que o 'ch' se pronunciava inicialmente 'tch' e adoptar o 'x' como grafia única para o mesmo som (x), mas como se escreveria em Trás-os-Montes e em certas zonas da Beira Alta que mantêm a pronúncia 'tchapéu' e 'catchopa'?
A confusão e a colisão com outros vocábulos seriam incontroláveis.
Não é nada fácil voltar atrás nos séculos para refazer o que o normal funcionamento da língua desfez.
ML,
Um grupo de especialistas determinaria «o português falado correcto», atendendo à maioria de falantes que adoptaram uma determinada entoação e à correcção gramatical. De seguida aproximava-se ao máximo a escrita da fonética. Não tenho dúvidas que os erros nos ditados nas escolas primárias sofreriam uma redução drástica. A aprendizagem da leitura e da escrita tornavam-se bastante mais fáceis.
Também não tenho dúvidas de que uma língua fonética facilita muito a aprendizagem, mas não nos é possível aproximar o nosso sistema linguístico do espanhol, por exemplo, em que a cada fonema corresponde um só grafema e cada grafema tem uma única leitura, seja vogal ou consoante (com algumas excepções, claro). Temos palavras, como por ex. 'associação', que podem escrever-se de ene maneiras.
associassão
assossiação
assossiassão
açociassão
açossiação
açossiassão
assoxiação
açoxiação
assoxiassão
açoxiassão
Não sei se me falta alguma variante. Isto é realmente um problema, mas não vejo grande solução.
Esse grupo de especialistas é o que determinou agora no novo acordo ortográfico qual a pronúncia correcta para a supressão ou não das consoantes mudas. E o critério foi 'a norma culta'.
Se fosse como o Diogo propõe, milhões de portugueses nunca escreveriam em conformidade com a fala. E nem refiro sequer às regras gramaticais, essa é uma questão independente da pronúncia, mas sim à ortografia.
Teríamos que decidir entre escrever 'sem' ou 'cem', por ex., para as duas homófonas, dilema que os espanhóis não têm porque lêem o 'c' e 's' de maneira diferente. Até nos plurais um 's' é sempre 's', enquanto que nós pronunciamos 'plantaxe', 'ramoxe'.
Como ficaria? Até as regras gramaticais teriam que mudar e passaria a dizer-se que os plurais em português terminam em '-xe'.
Isto é apenas um exemplo. A língua ficaria irreconhecível e afastar-se-ia irremediavelmente da etimologia, com consequências opostas àquelas que o artigo que transcreve advoga: o afastamento e não identificação sequer das línguas da família do português.
En inglés y francés se escribe de una manera y se lee de otra (se escribe "Lady Di" y se pronuncia "Leidi Dai"........)
Diogo
gostei daquela "para patriotic act, patriotic act e meio"
bora, é tempo de nos deixarmos apenas de conversa e passarmos à acção, tu que tens mais visibilidade faz um post a apelar à participação de mais gente; precisamos de muitos, mas,
se fizermos isso seremos acusados de "devassa à vida privada" dos figurões;
mas nós, certamente, que constamos das bases de dados do tal de SISI
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=299277&visual=26
.
A língua que deveria servir para unir serve, na verdade, para diferenciar, principalmente, determina status sociais e origem da educação.
O post está muito, bem como, os comentários.
Abraço,
Zorze
Muito interessante o post e muito bem complementado pelos comentários.
Eu penso que a lingua deve simplesmente continuar a evoluir. E que cabe sobretudo aos escritores a responsabilidade de o fazer. Independentemente de acordos ortográficos.
e cabe aos escritores porque quando um escritor manda passear uma consoante que não se lê já se sabe que não é por ignorância que o faz.
Quanto ao português, a ortografia não me parece um grande problema, tirando a questão dos "ss" e, às vezes, do "x" ou "ch". E isto porque têm sido introduzidas várias "racionalizações", por exemplo, acabar com o "y" (na altura houve quem protestasse muito porque a palavra "lágryma" perderia a sua sugestiva estética)ou o "ph"
e também não me parece que os poucos casos existentes em português de discrepância ortográfica sejam realmente um problema. O problema do Francês ou do Inglês é muito mais grave.
Sabes que mais? Todos a aprendero esperanto e acaba-se com esta das ortografias.
Um abraço. Augusto
Também acho que a ortografia do inglês é hoje mais arbitrária, especialmente se considerarmos as muitas variantes quanto a pronúncia não só dentro do Reino Unido como por esse mundo fora.
Mas os problemas do português não se resumem à leitura dos 's' finais ou ao 'x', que até tem quatro leituras diferentes (exército/óxido/taxa/máximo).
O mesmo acontece com as vogais, o 'e' pronuncia-se de cinco maneiras, o 'a' de três, o 'o' de três e o 'i' por vezes é mudo. Só o 'u' escapa, apesar de uma certa nasalação antes de 'm' ou 'n'.
Por isso penso que não adianta muito tentar uma reforma mais profunda do que a meramente cosmética. Tapava-se um lado e destapavam-se muitos mais. Como vai acontecer com este acordo ortográfico. A ideia pode nem ser descabida à partida mas, não só nos afasta do étimo comum às outras línguas, nomeadamente o espanhol, francês, inglês e alemão - por ex. em actuação/actuación/actuation/Aktuation - como vai criar um sem número de grafias duplas.
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- porque os sinAis ortográficos em francês não fixam quando inseridos? l
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