quarta-feira, maio 21, 2008

Governo e Galp exultam com as subidas de preço do petróleo


Jornal de Notícias - 21 de Maio de 2008

«O presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, admitiu, ontem, na apresentação de resultados trimestrais da empresa, que a única alternativa para baixar os preços dos combustíveis é reduzir o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP). "Não há nada que a Galp possa fazer", garantiu o gestor, lembrando que a petrolífera está exposta às cotações internacionais do petróleo e a uma carga fiscal "gigantesca".»

«(…) Para Ferreira de Oliveira, o actual nível de preços é uma "realidade preocupante, mas contra a qual nada há fazer". "A Galp não fixa os preços do petróleo, do gasóleo e da gasolina. É um simples tomador de preços", frisou.»

«(…) De acordo com o presidente da Galp, a inflação do petróleo levou a que a margem de refinação da Galp tenha diminuído para metade, no primeiro trimestre deste ano, causando uma redução de lucros de 8,4%, para 109 milhões de euros. "A indústria quer que os preços baixem, mas não podemos alhearmo-nos da situação internacional", afirmou.»

«(…) O gestor refutou ainda as críticas de que a empresa tem sido alvo pela alegada formação de preços especulativa. De acordo com dados avançados na apresentação, os preços de combustíveis antes de impostos aumentaram menos em Portugal do que na Europa, nomeadamente Espanha.»

«(…) Ferreira de Oliveira concluiu que a indústria petrolífera nacional é um mercado "aberto, competitivo e eficiente", garantindo não temer os resultados da investigação da Autoridade da Concorrência.»




Correio da Manhã - 21 Maio 2008

«A Galp Energia registou um lucro no primeiro trimestre deste ano de 109 milhões de euros, ou seja, 1,2 milhões de euros por dia. Os resultados foram apresentados ontem pelo presidente da petrolífera, Ferreira de Oliveira, que aproveitou o encontro com os jornalistas para explicar que não é a empresa que faz os preços. "A Galp é um tomador de preços", sublinhou.»

«'São excelentes resultados', admitiu o presidente da Galp, apesar das contas revelarem uma queda nos lucros de 8,4 por cento face a igual período de 2007, que só não foi maior devido às vendas de exploração e aos resultados da venda de gás.»



TSF Online - 20 de Maio 08

O ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos recusa políticas populistas

Teixeira dos Santos considera que qualquer medida do Governo para fazer face à escalada dos preços dos combustíveis não passaria de meros cuidados paliativos para a economia portuguesa.

«O momento externo que atravessamos, nomeadamente a turbulência nos mercados financeiros internacionais e a subida dos preços das matérias-primas podem suscitar pressões para a implementação de algumas medidas discricionárias que seriam meros paliativos para transformações estruturais que são necessárias», disse o ministro durante um almoço na Câmara de Comércio e Indústroa Luso-espanhola.

«A evolução económica está sujeita a flutuações e embora o recurso paliativo possa parecer mais simples, a criação de uma cultura de mudança de exigência e disciplina é a longo prazo mais eficiente», reforçou.


Comentário:

1 - Preços de combustiveis sem impostos e com impostos em portugal superiores aos preços praticados na maioria dos países da união europeia:

Os preços dos combustíveis não dependem apenas dos preços do petróleo. Na sua transformação nas refinarias portuguesas existem muitos outros custos. Por exemplo, custos com salários. E os salários portugueses são, em média, cerca de metade dos salários médios da União Europeia. Apesar disso, os preços dos combustíveis em Portugal são superiores aos da maioria dos países da União Europeia, nomeadamente aqueles com custos salariais muito mais elevados.

Em relação a todos os combustíveis, o ISP em Portugal é superior ao da média da UE15 em 1,3%, e o IVA em 5,3%. A partir de Jun2008, o IVA será superior em 0,3%. Em % do PVP, o peso das taxas em Portugal representa, em relação a todos os combustíveis, 54% do PVP, que é igual à média da UE15. Em relação ao gasóleo: Portugal 48%, UE15: 49%; e à gasolina: Portugal: 60%, UE15: 59%.


2 - O aumento do custo do petróleo para as petrolíferas portuguesas é muito inferior ao que pretendem fazer crer:

Os órgãos de informação divulgam normalmente a variação do preço do petróleo em dólares, mas para as petrolíferas portuguesas que vendem os combustíveis em euros, o que interessa é o preço na moeda europeia pois possuem euros que depois trocam em dólares. E com a desvalorização continua do dólar este vale cada vez menos e, consequentemente, o custo do petróleo para as empresas a funcionar em Portugal é muito mais baixo.

Entre 2006 e 2007, o preço médio do barril de petróleo aumentou 11,4% em dólares e apenas 1,5% em euros, ou seja, o aumento em euros foi inferior em 7,6 vezes à subida em dólares.

Se considerarmos um período mais recente – Dezembro de 2007 a Março de 2008 – o aumento em dólares atingiu 13,9% e em euros apenas 7%, portanto a subida em euros foi praticamente metade do aumento registado em dólares. Se a análise for feita, não em percentagem, mas em unidades monetárias, conclui-se que, entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, o preço do barril aumentou 12,69 dólares o que correspondeu a uma subida de 4,39 euros, portanto o aumento em euros correspondeu quase um terço da subida em dólares.

É surpreendente que tanto Sócrates como o seu invisível ministro da Economia, Manuel Pinho, só agora tenham detectado o escândalo dos preços dos combustíveis em Portugal (em Portugal, não existe concorrência pois os preços praticados pelos diferentes vendedores são praticamente sempre iguais), mas será ainda mais surpreendente, e prova da conivência deste governo com os grandes grupos económicos petrolíferos, se a análise dos preços que a Autoridade da Concorrência vai fazer após tantos anos de actuação selvagem das petrolíferas conclua que não existe nada de anormal nos preços que praticam, como parecem já sugerir as declarações de Manuel Pinho.

(Ver o desenvolvimento aqui: Sala dos Professores)

(Agradeço ao Apache a chamada de atenção para taxa fixa do ISP)


Não é pois de admirar que a Galp tenha apresentado lucros no valor de 119 milhões de euros em 2007 e de 109 milhões de euros em 2008. E, também, que o Governo tenha arrecadado em 2007 a quantia 3.395 milhões de euros só em ISP.

Donde, as posições responsáveis, serenas e adultas de «governantes e gestores»:

Teixeira dos Santos recusa políticas populistas (baixar os impostos) e considera que qualquer medida do Governo para fazer face à escalada dos preços dos combustíveis não passaria de meros cuidados paliativos.

Ferreira de Oliveira considera que o actual nível de preços é uma "realidade preocupante, mas contra a qual nada há fazer.


Posto isto, e dada a constante subida do preço do crude, não há nada que a Galp possa fazer a não ser embolsar centenas de milhões de euros. Quanto ao Governo, recusa tomar políticas populistas e cuidados paliativos por forma a arrecadar vários milhares de milhões de euros. E o povo português resigna-se por lhe levarem couro e cabelo para um curto passeio de tristes.
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11 comentários:

Canal Daniel Simões disse...

"E o povo português resigna-se"

Por isso eu digo que há urgência em organizar palestras públicas sobre a Nova ordem Mundial.

Tantos bloguistas com tanta informação: não devem ficar pela virtualidade, mas divulgar, esclarecer o povo sobre as verdadeiras manobras e intensões por trás do dia-a-dia.

Eu organizo palestras em repúblicas estudantis, atelier's, casas particulares, auditórios, etc.
Não é muito difícil, não se gasta quase dinheiro algum e a motivação e o esclarecimento crescem. Nascem movimentos de debate, grupos organizam-se para criar acções de divulgação.
Para onde vamos?
Só Deus sabe.
Não podemos é ficar na virtualidade: existe um mundo físico e social e é aì que as coisas acontecem, mesmo quando se iniciam na internet.

Bem haja a todos.

Zorze disse...

Tiro certeiro, caro Diogo. Gerem o Estado como se fosse uma coisa deles, quando, o Estado somos todos nós.
Excelente o argumento final do post.
Como nota final concordo em absoluto com o Nicolaias.

Um abraço,
Zorze

Anónimo disse...

A propósito de aumentos, o cartel dos combustíveis - máfia estatal está a aumentar todas as marcas, mas descompassadamente. Neste momento, os aumentos SÃO DIÁRIOS, com oscilações de postos para postos.

Creio que já chega de sermos roubados de todas as formas e feitios, e que só resta uma forma de corrigir isto...

Apache disse...

Só uma correcção, Diogo, se me permite, mas que nada altera o sentido do seu “post”. O ISP não é uma percentagem, tem um valor fixo: 0,62 € por litro, para a gasolina sem chumbo e 0,3644 € por litro para o gasóleo. No entanto, como o IVA é uma percentagem, Estado lucra bastante com cada aumento de preços.
Ontem, antes dos aumentos de hoje, deixei este comentário no “Blasfémias”…

Preços (médios) de 2002:
Petróleo em dólares – 63,5 por barril;
Petróleo em euros – 66,61 por barril;
Gasolina (em Portugal, obviamente) - 0,91 euros por litro;
Gasóleo – 0,58 euros por litro.

Preços de hoje:
Petróleo em dólares – 128, 89 (aumento face a 2002 – 103%);
Petróleo em euros – 82,42 (aumento de 23,8%);
Gasolina – 1,48 (aumento de 62,6%);
Gasóleo – 1,39 (aumento de 140%).

E já agora…
Preço do petróleo, em euros por litro (EUA) – 0,59; Custo de produção <0,02 euros
Custo estimado da produção da gasolina (EUA) - <0,03 euros

P.S. Não há nenhum erro no número de zeros.

Anónimo disse...

A sua proposta é que o estado deixe de receber tanto em impostos? Propõe um imposto fixo em vez de em percentagem.

E porque não propõe um lucro fixo da Galp em vez da auto-determinação do preço?

j. manuel cordeiro disse...

Defender a auto-determinação do preço só faz sentido num mercado concorrencial, o que não é o caso português.

Golpe na energia

xatoo disse...

Assim que começou a guerra pelo petróleo (vulgo guerra do iraque) um pequenissimo grupo de cidadãos em 2003 avisou para o facto que os custos da guerra iriam ser pagos pelo aumento concertado dos juros do crédito e pelos impostos cobrados nos combustiveis.Mas o que é que se há-de fazer - somos todos uma cambada de "esquerdistas e comunistas"!. Já vai na especulação com o custo dos alimentos - e mesmo assim ainda há quem pense que se trata de um simples problema de mercado.
Bem podem fazer as greves que quiserem, a quem quiserem (Galp, Repsol,Shell, BP, etc) pelo tempo que quiserem - nada se resolverá enquanto não houver uma ampla mobilização do movimento anti-guerra. Mas o que se vê é justamente o contrário: nos EUA o movimento contra a guerra está praticamente moribundo, enquanto os activistas anda empenhadissimos na campanha do Obama (precisamente um dos que já garantiu que não faria regressar os soldados)
Assim sendo caríssimos, vão pagando!; os preços altos vieram para ficar (porque os custos com a NATO, tb não diminuem, olhem só para a quantidade de generais a quem temos de dar palha!)
e sorriam, porque é democrático
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xatoo disse...

e já agora, leiam esta análise deveras acuidada: depois do golpe de marketing de comunicação sobre os combustíveis, será a própria Galp a reconverter o negócio

Diogo disse...

Xatoo: «Bem podem fazer as greves que quiserem, a quem quiserem (Galp, Repsol,Shell, BP, etc) pelo tempo que quiserem»


Concordo contigo. A Galp é apenas uma sucursal de uma das quatro irmãs petrolíferas. Que, afinal, são apenas uma.

Anónimo disse...

http://resistir.info/e_rosa/precos_combustiveis_2008.html
E vejam este estudo feito pelo economista Eugénio Rosa.
Quando é que a palhaçada de economistas que vão palrar para a TV se dispõe a fazer estudos e a divulga-los?Não podem,ou pq não sabem,ou pq são bem pagos para dizer maravilhas do charco em q maior parte do povo vive!

contradicoes disse...

Isto é uma consequência
da liberalização de preços
concedida pela incompetência
do autor Durão Barroso