Miguel Sousa Tavares
Expresso 29/11/2008
«Um desabafo: um só euro que o Estado venha a gastar no BPP - seja através de dinheiro das Caixas ou do Fundo de Garantia, seja sob a forma de aval dado a empréstimos de outras entidades - será um euro roubado aos contribuintes. É perfeitamente legítimo, embora talvez não muito prudente, deixar que se instale um banco unicamente dedicado a gerir fortunas investindo no mercado mobiliário. E, se tudo correr bem, parabéns a quem arriscou confiar as suas economias aos gestores do banco e parabéns a estes que as souberam valorizar. Até é legítimo que o presidente do banco fale em “caso de sucesso” e que lance um livro a enaltecer os seus méritos de gestor (embora fique a ironia irrepetível de a aceleração da crise ter feito coincidir o dia do lançamento do auto-elogio literário com o dia em que se ficou a saber que ele estava desesperadamente a tentar que o Banco de Portugal lhe emprestasse 500 milhões de urgência para evitar a falência do “caso de sucesso”...). Mas se as coisas acabam por correr mal, se a grande visão estratégica da evolução dos mercados e das bolsas se revela absolutamente errada, por que é que aqueles que andaram a poupar para pagar impostos e sem a ambição de enriquecerem rapidamente e sem esforço, devem ser chamados a pagar os prejuízos dos outros?
Se já para o BPN pouca verdade havia no argumento de salvaguardar as poupanças dos clientes ‘inocentes’ (mas que escolheram o BPN porque lhes pagava anormalmente mais...), no caso do BPP esse argumento não resiste a nenhum critério de verdade ou de justiça social. Se os prejuízos dos investimentos de risco no BPN devem ser cobertos pelo Estado, então também terão de o ser os prejuízos de todos os que, noutros bancos ou individualmente, tinham acções ou obrigações cujo valor a crise varreu. E todos aqueles a quem a vida correu mal e a crise não ajudou. E com que dinheiro se fará essa monumental operação de resgate nacional? Sobe-se o IRS dos camelos para 45% e acrescentam-se mais uns anos e uns milhões aos encargos com a dívida pública que vamos deixar às gerações seguintes?»
Expresso 29/11/2008
«Um desabafo: um só euro que o Estado venha a gastar no BPP - seja através de dinheiro das Caixas ou do Fundo de Garantia, seja sob a forma de aval dado a empréstimos de outras entidades - será um euro roubado aos contribuintes. É perfeitamente legítimo, embora talvez não muito prudente, deixar que se instale um banco unicamente dedicado a gerir fortunas investindo no mercado mobiliário. E, se tudo correr bem, parabéns a quem arriscou confiar as suas economias aos gestores do banco e parabéns a estes que as souberam valorizar. Até é legítimo que o presidente do banco fale em “caso de sucesso” e que lance um livro a enaltecer os seus méritos de gestor (embora fique a ironia irrepetível de a aceleração da crise ter feito coincidir o dia do lançamento do auto-elogio literário com o dia em que se ficou a saber que ele estava desesperadamente a tentar que o Banco de Portugal lhe emprestasse 500 milhões de urgência para evitar a falência do “caso de sucesso”...). Mas se as coisas acabam por correr mal, se a grande visão estratégica da evolução dos mercados e das bolsas se revela absolutamente errada, por que é que aqueles que andaram a poupar para pagar impostos e sem a ambição de enriquecerem rapidamente e sem esforço, devem ser chamados a pagar os prejuízos dos outros?
Se já para o BPN pouca verdade havia no argumento de salvaguardar as poupanças dos clientes ‘inocentes’ (mas que escolheram o BPN porque lhes pagava anormalmente mais...), no caso do BPP esse argumento não resiste a nenhum critério de verdade ou de justiça social. Se os prejuízos dos investimentos de risco no BPN devem ser cobertos pelo Estado, então também terão de o ser os prejuízos de todos os que, noutros bancos ou individualmente, tinham acções ou obrigações cujo valor a crise varreu. E todos aqueles a quem a vida correu mal e a crise não ajudou. E com que dinheiro se fará essa monumental operação de resgate nacional? Sobe-se o IRS dos camelos para 45% e acrescentam-se mais uns anos e uns milhões aos encargos com a dívida pública que vamos deixar às gerações seguintes?»
The Game-Called-Bailout
9 comentários:
Diogo
Que posso eu acrescentar senão que Miguel Sousa Tavares está coberto de razão, isto é um roubo, nada mais que um roubo, legalizado.
Num país onde as classes baixas são espremidas até ao tutano, onde as condições de vida se degradam, onde os serviços publicos estão a ser aniquilados, rouba-se ainda assim a esses para engordar a corja de ladrões de casaca.
um beijo
É uma especie de Robin dos Bosques ao contrário...
Ana,
O monopólio bancário possui todos os bancos, tal como cada banco tem os seus balcões. As «crises» de alguns bancos nada mais é que transferência de dinheiro do balcão A para o balcão B. Ou mudar o dinheiro de um bolso para o outro. O dinheiro não se «perdeu». Os contribuintes de todo o mundo estão a ser espoliados com a ajuda generosa dos «democratas eleitos».
Beijo
Diogo,
É o que está a acontecer e em 2009 a vergonha vai ser ainda maior.
Já agora, quando a Caixa "emprestou" os 200 milhões ao BPN, na 1ª fase levaram do BPN os quadros de Miró. Isto da confiança tem muito que se lhe diga.
Abraço,
Zorze
é preciso ter a história presente: os impostos eram uma colecta dos senhores sobre os camponeses que estes senhores protegiam doutros senhores.
Nestas sociedades como a nossa com sistema que imita uma democracia e actores herdados dum sistema feudal, essa ideia persiste - os impostos são algo que o povo paga para sustentar os senhores.
Portanto, aplicar o dinheiro dos impostos na salvaguarda do dinheiro dos senhores é o que há de mais legítimo...
O Ribeiro Teles dizia que viviamos na ilusão de que eramos «cidadãos» mas que não passavamos de «súbditos».
Boa Alf! Absolutamente de acordo.
Bom dia amigo Diogo
Eu até um pouco mais longe , mas para o passsado..no tempo da escravatura os escravos queriam ser livres, mas , tinham onde comer e onde dormir...pergunto-me se há alguma comparação com os tempos de hoje, onde se pensa que a escravatura foi abolida...
Também assisti ao que M.S.Tavares falou...não sei que Sociedade é esta em que vivemos!
Bom Domingo e proveitoso feriado
Beijos
Ashera
Em relação ao BPP não há nenhuma justificação plausível que possamos aceitar do governo para ter apoiado este Banco na sua má gestão do dinheiro dos afortunados, pelo que pura e simplesmente deveria ter sido ignorada a sua situação de crise. Quanto à nacionalização do BPN julgo ser mais aceitável dada a possibilidade do Estado poder de alguma forma reaver o dinheiro investido recuperando-o nos bens sonegados ao Banco pela família de Oliveira e Costa.
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