segunda-feira, julho 06, 2009

E se eu fosse cinco vezes mais rico que o Belmiro de Azevedo?

Sheldon Emry:

"Democratas, Republicanos e eleitores independentes sempre se perguntaram porque é que os políticos gastam sempre mais dinheiro do que aquele que recebem dos impostos… Quando se começa a estudar o nosso sistema monetário, apercebemo-nos rapidamente que estes políticos não são agentes do povo mas sim agentes dos banqueiros, para quem fazem planos para colocar as pessoas ainda mais endividadas."

"Os nossos dois principais partidos tornaram-se seus servos (dos banqueiros), os vários departamentos do governo tornaram-se as suas agências de despesas, e o Serviço da Receita Federal (IRS) é a sua agência de recolha de dinheiro."


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O Grupo Financeiro-Mediático-Construtor

Como muitos sabem, Belmiro de Azevedo é o único português a figurar na famosa lista da revista Forbes, com uma fortuna avaliada em 1,6 mil milhões de euros.

Vamos supor que o Euromilhões continuava a não ter limites para jackpots e, que na sequência de várias semanas sem totalistas, o 1º prémio atingia o valor de 8 mil milhões de euros (mil e seiscentos milhões de contos).

Imaginemos que nessa semana eu ganhava sozinho o 1º prémio: 8 mil milhões de euros e alguns trocos – cinco vezes a fortuna estimada de Belmiro de Azevedo.


Depois de estoirar os trocos na inevitável comemoração, compra de alfinetes, prendas aos amigos e viagem às Canárias, sentir-me-ia na obrigação de investir o capital tão afortunadamente ganho.

Começaria por comprar ou fundar um poderoso banco em Portugal, a que daria o nome de Banco Samaritano, por um valor que poderia rondar os 5.000 milhões de euros. Em termos de comparação, o famoso banco americano Bear Stearns valia cerca de 7.000 milhões de euros antes de estalar a "crise financeira". Depois disso foi vendido ao JP Morgan Chase por 236 milhões de dólares.


Depois de me tornar um banqueiro, dono e único accionista do Banco Samaritano, ainda me sobrariam 3.000 milhões de euros dos 8.000 milhões originais.

Algum tempo depois, já com o Banco Samaritano a funcionar em pleno, e uma muito razoável carteira de clientes, chegaria a altura de abordar os Meios de Comunicação Social (os Media). Trataria de comprar ou fundar um canal de televisão a que daria o nome de TV-TGV – "TeleVisão da Transparência, Globalização e Verdade". A aquisição deste canal televisivo dever-me-ia custar qualquer coisa como 500 milhões de euros (a SIC foi avaliada em 468 milhões de euros).


Ainda no campo mediático, a par da TV-TGV – TeleVisão da Transparência, Globalização e Verdade, também compraria ou fundaria dois jornais diários: "O Autónomo" e "O Fidedigno", e um semanário: "Progresso". Estas três operações deveriam somar cerca de trinta milhões de euros.


Por último, e ainda em termos empresariais, negociaria a compra ou criava de raiz uma sólida empresa de construção civil a que daria o nome de MegaObra. Este investimento custar-me-ia cerca de 200 milhões de euros.


A Intelligentsia

Após a edificação deste meu grupo Financeiro-Mediático-Construtor, constituído por um Banco, um Canal de Televisão, dois Jornais Diários, um Semanário e uma Empresa de Construção Civil, era chegada a fase de Relações Públicas.

Para tanto, fundaria um Instituto da Democracia e Desenvolvimento, um Think Tank da sociedade civil portuguesa que congregasse pessoas independentes e outras com filiação em partidos de todo o espectro político e que promovesse o debate sobre temas de importância nacional sobre assuntos relacionados com política, infra-estruturas, comércio, indústria, estratégia, ciência, tecnologia, educação, saúde, justiça ou mesmo assuntos militares.


Este grupo da sociedade civil incluiria políticos, editores, colunistas, gestores, sacerdotes, figuras prestigiadas de diferentes ordens profissionais, professores universitários, consultores, escritores, dirigentes sindicais, comentadores de televisão e rádio, etc.

Estas pessoas, algumas independentes e outras com filiação partidária, seriam financiadas pelo Instituto da Democracia e Desenvolvimento (por sua vez financiado pelo Banco Samaritano) para fomentar o diálogo e, de alguma forma, influenciar as várias instituições nacionais por forma à realização de objectivos considerados cruciais para o desenvolvimento e modernização do país.

Os elementos deste Think-Thank, dada a indeclinável excelência das suas teses, receberiam por norma o elogio dos jornalistas dos dois diários - "O Autónomo" e "O Fidedigno", e dos vários colunistas do semanário: "Progresso". Seriam, também, presença assídua no canal televisivo TV-TGV, que difundiria incessantemente o pensamento, as ideias, a reflexão e as concepções avançadas pelas distintas personalidades que integravam o Instituto da Democracia e Desenvolvimento.

Não seria, portanto, de estranhar que algumas destas individualidades com filiações partidárias, e dado o seu elevado grau de divulgação mediático, viessem a ocupar altos cargos na governação do país, alcançando, quiçá, posições ministeriais, de Primeiro-Ministro ou de Presidente da República. Outros chegariam, certamente, a presidentes e administradores de empresas públicas ou outras, onde o Estado Português possuísse uma posição accionista significativa.



A Obra

Tendo o Instituto da Democracia e Desenvolvimento posicionado alguns dos seus elementos em posições estratégicas tanto na governação como em instituições de peso na vida económica e social de Portugal, estariam reunidas as condições para levar a cabo a construção de determinadas infra-estruturas que, segundo julgo, seriam estruturantes para o país.

Assim, em minha opinião (e na do Instituto (e na do Governo, entretanto eleito)), seria de avançar com a máxima urgência com duas linhas ferroviárias de Alta velocidade (TGV), cobrindo todo o país em duas diagonais, tendo por objectivo dinamizar e prevenir a desertificação do interior, criar milhares de postos de trabalho, dotar o país de infra-estruturas e equipamentos modernos e limitar as emissões de CO2 e o Aquecimento Global.

As duas linhas de alta velocidade (TGV) a serem construídas teriam os seguintes trajectos:

Linha 1: Sagres, Monchique, Odemira, Grândola, Montargil, Abrantes, Sertã, Covilhã, Guarda, Mogadouro, Bragança.

Linha 2: Caminha, Braga, Amarante, Castro Daire, Viseu, Penacova, Sertã, Castelo de Vide, Estremoz, Mértola e Vila Real de Santo António.


Na vila da Sertã, situada no cruzamento das duas linhas de TGV, seria construído um grande aeroporto internacional, que serviria de plataforma giratória intercontinental com ligações não apenas às Américas do Norte e do Sul, mas também a África, Ásia e Oceânia.

Ponto central na estratégia ferroviária de Alta Velocidade (TGV), a vila da Sertã necessitaria de uma complexa malha de auto-estradas, umas radiais, outras circulares, que permitissem o acesso rápido e seguro por estrada de, e para qualquer ponto do país.

Esta densa malha de auto-estradas obrigaria à construção de diversos túneis e viadutos, alguns deles com vários quilómetros de comprimento, sobretudo no maciço Montejunto-Estrela, e nas serras dos Alvelos, Montemuro, Lousã e Gardunha.

Em face do exposto, faria igualmente todo o sentido a construção de uma linha ferroviária de Alta Velocidade (TGV) da Sertã à linha que liga a Madrid, com uma única paragem intermédia em Marvão.


Os Dividendos

A adjudicação destes empreendimentos, que incluiriam três linhas de alta velocidade (TGV), auto-estradas, túneis e viadutos, seria efectuada pelos ministros das Finanças e das Obras Públicas, à empresa de construção civil MegaObra, dadas as boas relações e o clima de confiança que existiria entre governantes e os altos quadros da empresa.

Por seu lado, o primeiro-ministro da altura consideraria que a adjudicação de todas estas obras seria "um acto de justiça e solidariedade para as pessoas que vivem no interior e que já esperaram tempo demais por acessos ferroviários e rodoviários dignos".


O primeiro-ministro afirmaria igualmente que "essa seria uma altura histórica para o país e que a construção destas linhas de alta velocidade associadas às auto-estradas significaria promover igualdade territorial, e dar a dar às pessoas do interior as mesmas condições e as mesmas oportunidades que todo o resto do território nacional que já possui Alta Velocidade e Auto-Estradas". Salientaria ainda o primeiro-ministro que "o interior ficaria mais atractivo e competitivo".

Sabendo-se que a linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Caia que ligará Lisboa a Madrid representará um investimento de cerca de 3,3 mil milhões de euros, e que a linha de alta velocidade ferroviária Lisboa-Porto está orçada em 3,8 mil milhões de euros, não será difícil prever que estas duas linhas: Sagres-Bragança e Caminha-Vila Real de Santo António, não deverão ficar por um custo inferior a 20 mil milhões de euros.

Se somarmos a este valor o troço de linha ferroviária de alta velocidade da Sertã até à fronteira (em direcção a Madrid), mais as auto-estradas radiais e circulares, os túneis, os viadutos e o aeroporto, verificamos que o custo total dos empreendimentos rondará os 30 mil milhões de euros. Como a média das derrapagens financeiras em obras públicas, segundo o Tribunal de Contas, é normalmente superior a 100%, o custo final para o contribuinte português poderá variar entre os 60 e os 70 mil milhões de euros.

O modelo de financiamento - uma parceria público-privada - agradaria à minha construtora MegaObra, cujos administradores considerariam este modelo "muito interessante, realista, e que seria, provavelmente, o melhor possível para Portugal".

A construtora MegaObra iria suportar cerca de 40 por cento do investimento global, cabendo à União Europeia (UE) comparticipar com 20 por cento do total, ficando os restantes 40 por cento a cargo do Estado.

A construtora MegaObra receberia uma taxa de uso, uma espécie de 'portagem' ferroviária, por cada comboio que passasse, acrescida de uma taxa do Estado, equivalente à diferença entre a receita assim obtida e o valor em falta para manter a capacidade máxima instalada (cash-flow).

Este modelo de negócio que tem proporcionado, e proporciona, aos bancos e aos grupos económicos, milhões em lucros, em adjudicações, em parcerias público/privadas, garantem sempre a privatização da receita e do lucro e a nacionalização do prejuízo e da factura.

Como a contribuição dos fundos comunitários para o investimento total seria de 20%, o Estado português, tendo de pagar a "taxa de uso" mais a "taxa de Estado", financiaria, de facto, os restantes 80 por cento, necessitando para o efeito de pedir o dinheiro emprestado ao Banco Samaritano, valor que teria de amortizar ao longo de muitos anos acrescido dos respectivos juros.



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Opinião de Miguel Sousa Tavares - Expresso 07/01/2006:

«Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»
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12 comentários:

Anónimo disse...

Caro Diogo
Para o espaço e tempo, está muito bom, muito bom mesmo.
Carlos

Anónimo disse...

:)

E o outro reformado do BCP com direito a jacto e 40 seguranças. Estarão a ficar com medo?

;)

Optio

Ana Camarra disse...

Diogo

Está tão bem explicado que aflige!

Beijos

Diogo disse...

Carlos, obrigado pelo elogio.


Optio, não precisamos de falar com deus se temos anjos de segunda categoria à mão de semear.


Ana, tentei explicar através de uma situação hipotética (boa parte do texto é autêntico, retirado dos jornais) como os «nossos representantes eleitos» entregam os nossos impostos à gatunagem que os patrocina. Beijo.

Anónimo disse...

Caro Diogo
Espero que veja este vídeo. Andava perdido lá pela tasca. Não ligue muito ao titulo.
http://video.google.com/videoplay?docid=-7373201783240489827
Carlos

alf disse...

Está giro, mas não deixa de ser uma argumentação construida para servir uma ideia feita.

O ponto fraco é que se pode construir um enredo alternativo satisfazendo os mesmos factos mas representando a ideia oposta.

e tem um aspecto maligno: com estes raciocínios, nunca se construiria nada. E esta é a reacção sistemática dos portugueses a tudo o que se queira fazer.

Não é por acaso que há um século o pais estava mais atrasado do que no tempo dos romanos - nós cá não queremos que se faça nada e queremos que nada mude! Esta é a nossa cultura e a cultura de um povo tão antigo é para ser respeitada. Nada mudar, bater na mulher e cuspir no chão.

Ainda há dias estive a explicar a uma professora que as ideias dela para o ensino eram, afinal, as mesmíssimas do Salazar... não admira que esteja contra a Lurdes...

Mas não deixo de lhe dar os parabéns pelo post. Está bem imaginado e construído e diz muitas verdades, (bem, é preciso dizer umas verdades para ganhar credibilidade para a acusação final, não é? rsrsrs .. eu também conheço estas técnicas... cá o Tulito já anda a observar os humanos há algum tempo...)


SE você ficar só pela primeira parte, eu ainda lhe dou algum dinheirito para fundar o banco Samaritano... Um abraço, não concordo com a conclusão mas foi divertido ler este post!

Sérgio_alj disse...

Caro Diogo!

Fiquei bastante chateado consigo!!

Então mas o TGV não passa por Aljezur? Pela minha santa terrinha?

Cumprimentos!!!

Diogo disse...

Caro Carlos, vou ter de esperar até à noite para ver o vídeo.


Alf, a questão não é fazer ou não fazer. A questão é fazer aquilo que realmente é necessário às pessoas e a país e não aquilo que serve exclusivamente para encher os bolsos a banqueiros e empreiteiros. É esta destrinça que você ainda não foi capaz de atingir. A sua divisa é fazer, fazer sempre, mesmo que seja merda e mesmo que nos arruíne a todos. Abraço.


Sérgio, como sou dono da empresa vou sugerir a construção de um shuttle a ligar Aljezur a Monchique. Estou certo que tanto os meus gestores como os meus governantes não se vão opor. Abraço.

Anónimo disse...

Diogo disse:"...É esta destrinça que você ainda não foi capaz de atingir. A sua divisa é fazer, fazer sempre, mesmo que seja merda e mesmo que nos arruíne a todos."

Ás vezes dá-me mesmo vontade de mandar o alf p'ró c... Tem qualquer coisa de esperteza saloia com ele, unida a uma mentalidade novo-rica. Uma espécie de americanismo-esquerdista-evolucionista de que amanhã vai ser sempre melhor.
E na verdade esta gente é perigosa, não porque faça algo mas porque justifica e, sofisticamente bem, a porcaria, a merda.

Optio

manuel gouveia disse...

Não percebi o que é que o Belmiro tem a ver com isto tudo... e depois o MST!

De qualquer forma não falaste em off-shores o que demonstra que estás muito verde nestes assuntos... embora tenha encontrado muitas aproximações à realidade portuguesa, o que seguramente é coincidência. A ideia do nó da Sertã parece-me muito boa.

Nuno Alexandre Pinto disse...

Está fantástico! Parabéns! Isto faz a ligação entre as várias ideias que tinha, mas faltava-me uma sequência. Vou recomendar o seu blogue.

simon disse...

Cum carago, é ter visão.
E se me saem os milhões, ainda cá venho apresentar-lhos, Diogo, numa chapada à cambada de impostores, que mos empregue em tal obra de salvação nacional.